Em 2021, descobri um cisto no ovário esquerdo. Marquei uma consulta com a médica do posto de saúde para acompanhar. A médica disse ter discutido o resultado do exame com a ginecologista da unidade e decidiram que eu deveria fazer uma cirurgia.

Hoje, ao revisar o laudo do ultrassom, percebi que o exame sugeria uma ressonância magnética da pelve para investigar melhor o caso. Mas esse exame nunca foi solicitado.

Na consulta pré-operatória, fui atendida por outra ginecologista do hospital público onde eu faria a cirurgia, ela apenas preencheu os papéis da cirurgia e não me explicou nada. Não recebi nenhuma explicação sobre a cirurgia, os riscos, alternativas ou o que seria feito.

Assinei o termo de consentimento acreditando que seria uma cirurgia normal com apenas a retirada do cisto. Só descobri que poderia ser retirado o ovário sozinha em outro momento quando pesquisava sobre o assunto e lia os papeis. Em nenhum momento me informaram que o ovário poderia ser retirado também e o porque seria retirado, já que nem todo caso precisa retirar o ovário, só o cisto. No termo de consentimento dizia que poderia ter riscos, que algo a ser realizado na cirurgia poderia ser mudado, mas jamais mencionou quais eram esses riscos ou essas mudanças (como algo tão grave como retirar o ovário).

Na época eu nao sabia, mas hoje eu sei que o tipo de cisto que eu tinha poderia ser removido sem precisar retirar também o ovário.

A cirurgia foi realizada em janeiro de 2022. Meses depois, em uma consulta de rotina no posto de saúde, perguntei se, por ter retirado um ovário, eu deveria fazer acompanhamento com a ginecologista. A médica disse que não era necessário. Mesmo assim, pedi um ultrassom e fiz em uma clínica particular — o exame não deu nada. Também deixei o pedido no SUS e entrei na fila de espera pra fazer o exame pelo SUS quando saísse também.

Como fui orientada que não precisava de acompanhamento, realmente não acompanhei frequentemente, mas o exame de ultrassom de 2022 que eu deixei agendado na fila do SUS saiu agora em 2025 e com ele descobri um novo cisto, agora no ovário direito — o único que me restou.

Na época não refleti sobre tudo que tava acontecendo, mas hoje com a descoberta do novo cisto, comecei a olhar para trás, e ver que a forma como tudo foi conduzido foi cheia de falhas. Não pediram a ressonância que o laudo sugeria. A cirurgia foi decidida com pressa, sem investigar mais. E eu nem tinha muitas dores para justificar tanta urgência. Não me explicaram que o ovário podia ser retirado — só descobri isso depois, por conta própria. Perdi um ovário sem ter participado de verdade da decisão, sem poder escolher, sem saber o porque estava sendo tirado de mim. Depois, ainda fui orientada de que não precisava fazer acompanhamento do único ovário que me restava.

Sempre sinto uma tristeza profunda de saber que perdi um ovário, o que me consolava é saber que ainda tenho o outro, mas que agora pode estar comprometido dependendo do tipo de cisto que ele tem (que ainda nao foi descoberto o tipo). Estou com medo de que também precisem retirar esse ovário, o que me levaria a uma menopausa precoce, com todas as consequências: infertilidade, sintomas da menopausa, riscos de outras doenças, baixa autoestima e tantos outros impactos.

Diante de tudo isso, gostaria de saber se posso entrar com um processo contra as médicas envolvidas ou contra o sistema público de saúde? Tenho chances legais de responsabilizar alguém por isso e pedir indenização?