ALUNA BRASILEIRA DE DIREITO GANHA CONCURSO MUNDIAL DE REDAÇÃO

BRASILEIRA GANHA CONCURSO MUNDIAL DE REDAÇÃO

Clarice Zeitel Vianna Silva, 26 anos, estudante de direito, dançarina do Caldeirão do Huck.

UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro - Rio de Janeiro/RJ


PÁTRIA MADRASTA VIL

Onde já se viu tanto excesso de falta? Abundância de inexistência... Exagero de escassez... Contraditórios??

Então aí está! O novo nome do nosso país! Não pode haver sinônimo melhor para BRASIL..

Porque o Brasil nada mais é do que o excesso de falta de caráter, a abundância de inexistência de solidariedade, o exagero de escassez de responsabilidade. O Brasil nada mais é do que uma combinação mal engendrada - e friamente sistematizada - de contradições. Há quem diga que 'dos filhos deste solo és mãe gentil.', mas eu digo que não é gentil e, muito menos, mãe.

Pela definição que eu conheço de MÃE, o Brasil está mais para madrasta vil.

A minha mãe não 'tapa o sol com a peneira'. Não me daria, por exemplo, um lugar na universidade sem ter-me dado uma bela formação básica. E mesmo há 200 anos atrás não me aboliria da escravidão se soubesse que me restaria a liberdade apenas para morrer de fome. Porque a minha mãe não iria querer me enganar, iludir. Ela me daria um verdadeiro Pacote que fosse efetivo na resolução do problema, e que contivesse educação + liberdade + igualdade. Ela sabe que de nada me adianta ter educação pela metade, ou tê-la aprisionada pela falta de oportunidade, pela falta de escolha, acorrentada pela minha voz-nada-ativa. A minha mãe sabe que eu só vou crescer se a minha educação gerar liberdade e esta, por fim, igualdade. Uma segue a outra.... Sem nenhuma contradição! É disso que o Brasil precisa: mudanças estruturais, revolucionárias, que quebrem esse sistema-esquema social montado; mudanças que não sejam hipócritas, mudanças que transformem! A mudança que nada muda é só mais uma contradição. Os governantes (às vezes) dão uns peixinhos, mas não ensinam a pescar. E a educação libertadora entra aí. O povo está tão paralisado pela ignorância que não sabe a que tem direito. Não aprendeu o que é ser cidadão. Porém, ainda nos falta um fator fundamental para o alcance da igualdade: nossa participação efetiva; as mudanças dentro do corpo burocrático do Estado não modificam a estrutura. As classes média e alta - tão confortavelmente situadas na pirâmide social - terão que fazer mais do que reclamar (o que só serve mesmo para aliviar nossa culpa)... Mas estão elas preparadas para isso? Eu acredito profundamente que só uma revolução estrutural, feita de dentro pra fora e que não exclua nada nem ninguém de seus efeitos, possa acabar com a pobreza e desigualdade no Brasil.

Afinal, de que serve um governo que não administra? De que serve uma mãe que não afaga? E, finalmente, de que serve um Homem que não se posiciona?

Talvez o sentido de nossa própria existência esteja ligado, justamente, a um posicionamento perante o mundo como um todo. Sem egoísmo. Cada um por todos... Algumas perguntas, quando auto-indagadas, se tornam elucidativas. Pergunte-se: quero ser pobre no Brasil? Filho de uma mãe gentil ou de uma madrasta vil? Ser tratado como cidadão ou excluído? Como gente... Ou como bicho?

Premiada pela UNESCO, Clarice Zeitel, de 26 anos, estudante que termina faculdade de direito da UFRJ em julho, concorreu com outros 50 mil estudantes universitários. Ela acaba de voltar de Paris, onde recebeu um prêmio da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) por uma redação sobre 'Como vencer a pobreza e a desigualdade'.

A redação de Clarice intitulada `Pátria Madrasta Vil´ foi incluída num livro, com outros cem textos selecionados no concurso. A publicação está disponível no site da Biblioteca Virtual da Unesco.

Respostas

3

  • 0
    ?

    Wander_1 Quinta, 28 de maio de 2009, 17h07min

    Não me canso de dizer, o maior problema que atinge os inscritos para o exame da OAB, tem sim haver com os cursos de Direitos, más também e principalmente corrobora com isso a má formação no ensino básico. A maioria dos inscritos não consegue ler e compreender textos de alta complexidade, como é que serão aprovados, se o mínimo para o exercicio da profissão de advogado, que é a boa compreensão de textos, muitos não possuem e , isso alia-se o conhecimento mínimo das matérias. A prova da ordem é um mix de interpretação e exclusão se o candidato lê, entende e tem uma noção do tema, fatalmente acertará porque sabe, ou por eliminação é assim que funciona. Agora, caso não domine, mesmo que parcial essas duas ferramentas essenciais, enquanto não se convecerem disso continuarão sendo reprovados.

  • 0
    R

    reginaldo mazzetto moron Segunda, 22 de junho de 2009, 6h51min

    É Wander vc tem toda razão. Tenho três estagiários que passaram nesta prova de 2009 e todos comentaram isso. Então resta provado que falta preparo aos candidatos, porque os bons sempre passam e os ruim sempre patinam. Essa regra é natural em tudo o que se faz!

  • 0
    ?

    Wander_1 Segunda, 22 de junho de 2009, 9h34min

    Enquanto isso comemoremos!!! Quanto menos inflacionado o mercado, melhor para os advogados da ativa. Muitos fazem direito com pelo glamour da profissão e não por vocação. Direito não é para quem quer, não basta querer, é necessário ter vocação, haja vista o curso de administração que ficou na moda por muito tempo. A ciência jurídica atualmente é o curso da moda, universidades abriram muitos cursos, pois enxergaram isso, formaram bachareis sem aptidão, é uma mina de dinheiro´e é assim que enxergam os vestibulandos. Hoje o resultado é esse, milhares não são aprovados no exame da OAB. Não sabem o quanto é dificil iniciar na profissão, a prova da OAB é só a ponta do ice-berg. A OAB faz o certo, separa o joio do trigo, não pode exercer a profissão sem ao menos ler e entender um bom, complexo e bem escrito texto.

    Abçs

    Wander

Essa dúvida já foi fechada, você pode criar uma pergunta semelhante.