Prezados colegas de discussão,

Trago uma sugestão bibliográfica e, ao mesmo tempo, um tema para debate: a perspectiva do meio ambiente que cada um de nós tem. Para isto, trago referência que debate o aparentemente indiscutível "desenvolvimento sustentável" (sobre o qual já visei introduzir dúvidas através de meus artigos publicados neste Jus Navigandi).

Para termos um ponto de partida ao possível debate, trago para conhecimento de todos uma interessante resenha ao livro não menos importante de Guillermo Foladori, professor da Universidade Federal do Paraná, "Limites do Desenvolvimento Sustentável".

Espero opiniões daqueles que tenham lido o autor e de todos que se interessam por estes temas.

Um abraço,

Sérgio Coutinho

http://www.unilivre.org.br/centro/resenhas/Fola.htm

"Foladori, Guillermo 2001. Limites do desenvolvimento sustentável (tradução de Marise Manoel). Editora da Unicamp/Imprensa Oficial. São Paulo. ISBN: 85-268-0533-9. P. 221

Guillermo Foladori, ainda pouco conhecido do leitor brasileiro, é um dos intelectuais mais instigantes da nova geração uruguaia. Formado no México, em Antropologia, e doutor em Economia, pela UNAM (Universidade Nacional Autonoma de México), autor de vários livros e artigos na interface entre economia, sociologia e ecologia, é atualmente professor do Doutorado em meio Ambiente da Universidade Federal do Paraná e por vários anos tem sido membro da editoria da revista Trabajo y Capital.

Seu último livro, Los límites del desarollo sustentable, é, para dizer o mínimo, profundamente inquietante. É impossível ao leitor passar por suas páginas sem ter questionadas algumas noções acerca do universo, dos homens, e da relação dos homens com a natureza que, até agora, tínhamos como seguras e inquestionáveis.

Seu primeiro capítulo já faz um 'estrago' nas opiniões mais aceitas: a teoria do Big Bang, segundo a qual a atual forma do universo se originaria a partir da explosão de um 'Ovo Cósmico' (corpo celeste que concentraria toda a matéria/energia existente), teria, segundo Foladori, uma contrapartida necessária na afirmação da finitude da matéria.

Tal finitude, por sua vez, torna imprescindível a existência de um Deus enquanto fundamento da gênese do cosmos, pois não seria possível que a matéria finita não tivesse uma origem. Argumenta, neste sentido, que as evidências empírico-científicas a favor da finitude da matéria (e, portanto, da validade da hipótese do 'Big Bang') são tão insuficientes e inconclusivas quanto aquelas que respaldariam a tese oposta, que afirma a infinitude da matéria. A preferência pela hipótese do 'Big Bang', portanto, não seria uma escolha 'científica', mas sim uma escolha condicionada pela concepção de mundo dominante (burguesa) na qual a figura de Deus exerce um papel fundamental.

Isto posto, Foladori passa a argumentar que a evolução das espécies biológicas, homo sapiens incluso, não se dá apenas, como querem os darwinistas, pela transmissão da base genética. Mas, ao lado desta transmissão, cada geração herdaria também o meio ambiente em que vive transformado pela ação da geração precedente, de tal modo que a evolução das espécies incorporaria dois elementos determinantes: a transmissão do material genético em um ambiente crescentemente transformado pelos seres vivos.

Tal processo genético/ambiental, com os homens, alcança sua expressão máxima conhecida. E é também neste contexto que deveremos examinar a relação do homem com o seu ambiente: a sobrevivência da espécie homo sapiens é um processo muito mais que biológico, é também um processo pelo qual a transformação do meio ambiente cria novas condições (melhores ou piores, esta é a questão) para a reprodução das gerações futuras.

A partir daí, evolui Foladori questionando as teorias ecológicas dominantes, que na sua diversidade igualmente reduzem a questão ecológica a um problema 'técnico' da manipulação da natureza pelo homem. Com precisão e de forma convincente, argumenta nosso autor que nem a finitude da matéria (em suma, a finitude dos recursos materiais) nem a infinitude da mesma (a infinitude dos recursos materiais) são argumentos a partir dos quais podemos resolver este grave problema, tanto teórica quanto praticamente. Pois tais argumentos deixam de lado o aspecto decisivo do problema: a relação dos homens com a natureza é, em primeiro lugar e acima de tudo, um problema da relação dos homens entre si. É na esfera das relações sociais, e não em nenhuma outra instância, que temos a gênese do 'problema ecológico' e, por conseguinte, apenas nela podemos encontrar a sua 'solução'.

Não mencionando várias mediações e argumentos importantes, é neste conjunto categorial que Foladori se apoia para realizar uma crítica contundente das propostas da economia neoclássica e da economia ecológica (Lipietz) para as políticas ambientais, demonstrando que, na melhor das hipóteses, possuem um pressuposto que se 'esquecem' de demonstrar: que é possível haver um capitalismo não destruidor das condições ambientais necessárias à reprodução dos homens. No máximo, o que conseguiriam realizar seria aperfeiçoar o mecanismo de classe, já em vigor, que faz das políticas ambientais uma mediação para a manutenção de uma relação dos homens com a natureza na qual apenas as condições de reprodução da classe dominante ficam asseguradas. Nesta medida e sentido, pensar em uma nova relação dos homens com a natureza implica nada mais nada menos que pensarmos em uma nova forma de relação entre os homens: para sermos breves, implica na superação do capitalismo por uma sociedade socialista.

Nada mais natural que um livro com tal fôlego, e com um horizonte tão amplo, tenha também aspectos polêmicos. Seria válido, por exemplo, discutir a finitude ou infinitude da matéria a partir da sua adequação ou não à concepção de mundo burguesa? Seria esta uma questão que poderia ser resolvida na esfera filosófico-ideológica? Outras questões da mesma ordem poderiam ser levantadas com igual pertinência. Contudo, elas exigiriam algo que o livro não se propõe, isto é, uma investigação tópica, de caráter algumas vezes quase metodológico, de algumas questões muito específicas. E, por outro lado, tais questões em nada diminuem o seu profundo impacto questionador sobre algumas de nossas concepções acerca do mundo em que vivemos. Se não por outros méritos, apenas por isso é um livro da maior relevância para o debate contemporâneo: é uma investigação que, de forma sólida, conseqüente, bem redigida recoloca a questão ontológica de uma perspectiva socialista.

Sergio Lessa Professor da UFAL"

Respostas

1

  • 0
    ?

    roberto Domingo, 21 de dezembro de 2003, 20h02min

    Eu sou quinto anista de direio.. e estou estagiando em um escritorio que presta assessoria ambiental...

    O tem que o Sr.apresentou no presente para o debate, tenho que é por demais interessante...no entanto... utilizar uma unica obra, tanto o Dr. quanto eu sabemos os riscos de tal empreendimento.

    O termo "desenvolvimento" por si só congrega uma farta cadeia de definiçoes... quando conjugado com o termo "sustentado", abarca o grande dilema que vive o direito ambiental.Afinal, a sustentabilidade de uma região, area, imovel deve conter no minimo a preservação permanente e a reserva legal ou seja, partes do imovel intocáveis, mesmo que a lei autorize sua utilização e aí estamos falando da RFL, as autoridades ambientais nao liberam autorização.
    A grande dificuldade para eles nao esta em dizer o que seja desenvolvimento sustentado, mas sim, em fiscalizar esse desenvolvimento que ha muito ultrapassou os orgaos da administração.
    Nao se trata de esplanar a ira contra tais orgãos, mas sim de trazer situações fatica vivenciada dia-a-dia.

    O desenvolvimento sustentado passa além das mesas de escritorios, alcança a geração de empregos, a adequada qualidade de vida, o aproveitamento racional, a vocação do imovel, abarca emfim um conjunto de ações, estas que os orgãos ambientais sao incapazes de gerenciar.

    Dai a dificuldade em trazer para realidade o que seja Desenvolvimento sustentado.

    Essa é minha posição.

    Caso queira responder... obrigado.

Essa dúvida já foi fechada, você pode criar uma pergunta semelhante.