Palavras suas> “Vou me aposentar por invalidez, e minha doença é transtorno psicotico."
transtorno psicotico
Definições da Web
Psicose é um quadro psicopatológico clássico, reconhecido pela psiquiatria, pela psicologia clínica e pela psicanálise como um estado psíquico no qual se verifica certa "perda de contato com a realidade". .
http://pt.wikipedia.org/wiki/Transtorno_psicótico
O DOENTE MENTAL E A CONVIVÊNCIA COM A SUA FAMÍLIA: NOTAS DA LITERATURA
É tido como significado tradicional do termo psicose a perda do teste de realidade e comprometimento do funcionamento mental, expressos por delírios, alucinações, confusão e comprometimento da memória. Além desta conceituação pode se dizer que, na psicose, acontece comprometimento na convivência pessoal e social, caracterizado por retraimento e incapacidade para desempenhar os papéis domésticos e ocupacionais cotidianos. Outra manifestação é uma regressão do ego (KAPLAN et al, 2003).
Para os mesmos autores, as alucinações - uma das características de transtornos psicóticos - são caracterizadas por comprometer o teste da realidade. Já os delírios, outra importante manifestação, podem ser definidos como “falsa crença baseada em interferência incorreta sobre a realidade externa, inconsciente com a inteligência em antecedentes culturais do paciente, que não pode ser corrigida pela argumentação” (p. 294).
1 – As dificuldades do familiar na convivência com o doente mental
Alguns entrevistados se reportaram a convivência cotidiana com o doente mental como geradora de dificuldades. Para os entrevistados, quando da agudização dos sintomas da psicose, a pessoa doente não conseguia ficar em casa e dar conta das atividades cotidianas, exigindo da família a disponibilidade de ir busca-la todas as vezes que saía de casa e de realizar as tarefas domésticas, como mostra as falas abaixo:
“quando ela ficava bem fora ela só queria ficar fora de casa, só queria sair (...) quantas vezes fui buscar ela na rodoviária que ela fugia, trazia ela para casa e ela ia nos vizinhos (...) não fazia fazer almoço, janta, não se interessava em nada (...) quando dá as crises nela não tem vontade de as coisas” (E 1).
“ela saía, ninguém via, saia pelos vizinhos, a gente tinha que sair atrás e ela não queria vir, queria ficar lá” (E 2).
“(...) ela saía na rua, não comia, não se alimentava (...) quantas vezes ela saiu, isso antes, ia para a rua, saía, eu tinha que ir atrás, ia lá ‘mãe vem para casa’, tu acha que ela vinha, pegava pelo braço assim ‘vem mãe, vem para casa, vem comer, vem tomar banho’, queria ficar lá na esquina, lá ela ficava, ou ela saía não voltava, aí tu tinha que sair atrás, tu não imagina” (E 5).
Outras situações são relatadas por alguns sujeitos do estudo quando colocam das mudanças de comportamento do doente mental com sintomatologia manifesta, de acordo com seus depoimentos:
“(...) ele não dorme, caminha a noite inteira, daí ele sai para a rua, fica caminhando, deita, levanta (...) e vive se olhando no espelho e depois diz que eu fiquei botando as coisas no rosto dele (...) (E3).
“(...) ela estava fora da realidade, fora da realidade, era muito difícil (...) sabe o que ela fazia, aquelas mortadela, presunto fatiado, ela atava, botava um negócio daqueles aqui (abdome) ou aqui (braços) ou aqui (coxas), um pão com manteiga em cima, em vez de comer, a gente contando não acredita, ou pegava um bife, em vez de fazer um bife atava ou no braço ou na perna, na barriga, a gente fala pensam que é invenção, isso ficou na mente. A comida, faziam rancho uma vez por mês, pegava pacotes de arroz, feijão, abria tudo, jogava no meio da rua, isso ficou na mente, farinha, açúcar, voava assim, vocês não imaginam o que era ela em crise” (E 5).
“quando deu nele, esses terrenos tudo ele corria, ele enlouqueceu, corria por tudo, não dava para pegar ele, pulava de um terreno para o outro, não dava para pegar, dormia na capoeira, mato (...)” (E4).
Considerando os depoimentos dos atores sociais do estudo, percebemos que há uma sobrecarga da família em especial diante da agudização dos sintomas. Fica evidente nas falas as mudanças de comportamentos dos doentes mentais, situação essa de difícil entendimento tanto para a família como para a sociedade em geral. Essas idéias são reforçadas por Oliveira & JORGE (1998, p. 381) quando afirmam que “o desgaste, tensões e conflitos causados por uma pessoa mentalmente perturbada constituem os maiores problemas que a família enfrenta. A imprevisibilidade do paciente é outra fonte de tensão em casa”.
Por outro lado, o arrefecimento dos sintomas ao até mesmo a ausência dos mesmos torna a convivência familiar mais tranqüila. As manifestações abaixo denotam esses aspectos:
“(...) a convivência é muito boa, é maravilhosa porque ela está bem hoje (...). A convivência hoje eu acho normal, uma convivência boa, hoje, isto o atual, o passado foi muito difícil, muito sofrido, vocês não imaginam a situação que foi” (E 5).
O que se percebe no depoimento acima é que, na medida que a pessoa reduz sintomatologia, a convivência familiar fica muito próxima da normalidade cotidiana de qualquer família. Toda a mudança de comportamento, decorrente da psicose, mobiliza muito os familiares, até porque há um certo desconhecimento dos mesmo em relação ao que fazer e como cuidar de uma pessoa com tais características.
https://revistas.ufg.br/fen/article/view/799/906