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Yellow Blocs

Yellow Blocs

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Yellow Blocs querem green card.

            Yellow Blocs querem green card. Os Yellow blocs são representados pelos torcedores novos-ricos que vaiam os Hinos do Chile e outros adversários do Brasil nos jogos da Copa/2014. O green card é a famosa Carta de Residência Permanente nos EUA. No sonho de compras e ostentação, querem ser patricinhas e mauricinhos de Beverly Hills. Enquanto não conseguem, insultam todos que encontram à sua frente. As exceções não são tratadas aqui.

            Isso ainda expressa a realidade da política nacional – a oposição não pode ser resumida aos Black Blocs e aos Yellow Blocs. Os primeiros, jovens de suposta inspiração anarquista, parecem se contentar em agredir policiais, quebrar algumas agências bancárias e depredar revendas de carros de luxo. Isso, o crime organizado também faz, mas com algum lucro. Os amarelinhos, festivos na Copa, querem consumir com seus cartões de crédito sem limite. Nada contra esse tipo de “cartão sem-limites” – ainda que o cartão de professor seja bem limitado. O problema é que, tudo que é sem limites ultrapassa seu espaço e os direitos dos outros.

            Basta vermos que na torcida brasileira, especialmente nos jogos do Brasil, não há pobres ou negros, nem gente feia e maltratada pela lida do trabalho. O bronzeado que surge nas imagens de TV é apenas o de praia e caipirinha. Nunca aparece ninguém enrugado pelo sol da obra. Esses “feios” só constroem os estádios, para que os Yellow Blocs possam vaiar o Hino de outras nações. O pobre que só constrói o estádio não iria vaiar o que ele próprio edificou e investiu sua melhor energia.

Olha o Hino de Adoniran Barbosa: Si o senhor não "tá" lembrado / Dá licença de "contá" / Que aqui onde agora está / Esse "edifício arto" / Era uma casa véia / Um palacete assombradado / Foi aqui seu moço / Que eu, Mato Grosso e o Joca / Construímo nossa maloca / Mais, um dia / Nóis nem pode se alembrá / Veio os homi c'as ferramentas / O dono mandô derrubá / Peguemo todas nossas coisas / E fumos pro meio da rua...Ali nasceria o Itaquerão.

            De todo modo, oposição e situação estão no limite da incredulidade, à frente da crise de ilegitimidade político-institucional. Para o torcedor enrugado pelo sol da obra, tudo é farinha do mesmo saco. Basta lembrarmo-nos de que o mensalão do PT é uma cópia – mais sofisticada – do mensalão do PSDB de Minas Gerais.

            O torcedor enrugado pelo sol da obra gostaria de receber outra coisa, de ser governado por políticos honestos e de ter um Judiciário competente. Mas, o que lhe resta é lastimar a falta de vergonha de seus jogadores, treinadores e dirigentes. Amanhã, enquanto os Yellow Blocs dormirem o sono dos justos – independente da justiça ser feita ou não – e destilarem a ressaca pela vitória e perda de Neymar, com fratura na 3ª vértebra, o torcedor enrugado pelo sol da obra será o primeiro a chegar ao trabalho. E feliz (ou não), falará por meses do que só pode ver pela TV – e até indiferentemente ao que fizeram os Yellow Blocs, essa nova/velha elite que não o representa.

          

                                Vinício Carrilho Martinez

Professor Adjunto III da Universidade Federal de Rondônia – UFRO, junto ao Departamento de Ciências Jurídicas/DCJ.

            Marcos Del Roio

Prof. Titular de Ciências Políticas da UNESP – FFC.


Autor

  • Vinício Carrilho Martinez

    Pós-Doutor em Ciência Política e em Direito. Coordenador do Curso de Licenciatura em Pedagogia, da UFSCar. Professor Associado II da Universidade Federal de São Carlos – UFSCar. Departamento de Educação- Ded/CECH. Programa de Pós-Graduação em Ciência, Tecnologia e Sociedade/PPGCTS/UFSCar Head of BRaS Research Group – Constitucional Studies and BRaS Academic Committee Member. Advogado (OAB/108390).

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