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O poder da propaganda política eleitoral sobre a opinião pública

O poder da propaganda política eleitoral sobre a opinião pública

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O presente artigo tem como finalidade explanar a respeito da propaganda política eleitoral, seus principais aspectos e evolução na história da sociedade.

Resumo: O presente artigo tem como finalidade explanar a respeito da propaganda política eleitoral, seus principais aspectos e evolução na história da sociedade, a importância em um Estado Democrático coadunando o progresso da democracia representativa, mas primordialmente sobre seu poder influenciador do processo eleitoral. Pretende-se, assim, trazer à tona, principalmente, a questão da representatividade dessa publicidade, seja difundida no rádio, televisão, jornais e outros meios, na decisão do público eleitor para a escolha de partidos e candidatos. É intentado, também manifestar as conseqüências desse induzimento por meio da difusão de ideais, e informações, e as formas utilizadas para se chegar aos lares e à opinião de cada cidadão. Almeja-se, portanto o aprofundamento no âmbito eleitoral, especificamente, na relação entre à mídia, às eleições e as convicções e princípios dos seres políticos como um todo, de forma a refletir a respeito da utilização dessas técnicas mais como uma manipulação da opinião pública, do que, efetivamente, um meio de levar o indivíduo a formar, pelo raciocínio, o seu juízo.

Palavras-chave: Propaganda Política Eleitoral. Poder de influência. Eleições. Opinião Pública. Voto.

INTRODUÇÃO

A propaganda eleitoral é hábil em realizar um importante papel no processo de decisão do voto. Aprofundando o conhecimento acerca da publicidade política eleitoral, seus principais aspectos,se procura apresentar uma metodologia para identificar o efeito agregado desta na intenção de voto e, sobre tal óbice, analisar a campanha eleitoral brasileira.

Nesse artigo, então, observa-se,fundada em análises conceituais e históricas da propaganda, as estratégias discursivas e persuasivas nas campanhas eleitorais e seus efeito, contribuindo para a compreensão da formação e comportamento político dos eleitores e suas relações com o processo eleitoral,examinando-se como processam as mensagens divulgadas pela propaganda política e qual o resultado dessas mensagens na decisão do voto. Examina-se também através de observações exemplificativas o cenário eleitoral do Brasil.Explanam-se os efeitos agregados da propaganda política, avaliando o posicionamento estratégico dos candidatos em relação ao cenário eleitoral e à percepção de mundo da maioria do eleitorado. Vale destacar que a utilização dos recursos que os meios de comunicação nos oferecem hoje, mais do que divulgar a propaganda age de forma a desenvolve certa intimidade entre os candidatos e partidos e o público eleitor, o que acaba valorizando as personalidades e as aparências. O candidato passa, então a ser analisado pelo que semelha ser, e não pela suas propostas, causando uma influência tão intensa que é capaz de alterar subitamente as opiniões do eleitor seja através de seu pronunciamento ou frases escrita ou mesmo por uma expressão fisionômica num cenário decisivo como o que se forma no período eleitoral.

Logo, este trabalho contribuir para uma reflexão sobre persuasão mútua entre os meios de propaganda e a política, bem como a influência do poder da propaganda política eleitoral na opinião pública, de forma a despertar uma análise crítica sobre essa situação.

1 O CONCEITO E EVOLUÇÃO DA PROPAGANDA

Uma atividade humana quase tão antiga quanto os registro de uma das primeiras civilizações, é a propaganda. Os escritos de romanos como Lívio são considerados obras-primas da propaganda estatal. Já o termo origina-se da Sagrada Congregação Católica Romana para a Propagação da Fé, um departamento da administração pontifícia encarregado da expansão do Catolicismo e da direção dos negócios eclesiásticos em países de outras religiões.

Uma subespécie de campanha foi movida, nos tempos antigos, por Demóstenes, e seu poder de oratória contra Filipe, da Macedônia.Ainda nas civilizações antigas, explana José Jairo Gomes sobre a propaganda:

Na Grécia e em Roma, era usada largamente em festas populares e ações estatais. Reiteradas vezes, a Igreja dela lançou mão para difundir a doutrina e a fé cristãs, e, ainda, condicionar o comportamento dos fieis. No plano sociopolítico, foi instrumento decisivo da burguesia liberal na peleja contra a monarquia absolutista, bem assim dos regimes autocráticos que marcharam o século XX. (GOMES, 2006)

Também, consciente dos processos que tornam amados os chefes, Napoleão entendeu que um Governo deve obter o assentimento da opinião pública, revelando que para ser considerado justo, o bem que se faz não satisfaz, é necessário que os administrados estejam convencidos. Bastante utilizada foi a propaganda desde a primeira metade do século XX,provocando grandes acontecimentos até este dia, como a revolução comunista e o fascismo.Grande parte devido a ela, foi instaurado o bolchevismo, o nazismo e as invasões de 1940. Hitler e Lenin foram dois grandes gozadores da propaganda,proclamando sua supremacia.A agitação e a propaganda em todas as camadas do povo eram pregadas por este e a conservação do poder por meio de propaganda era para Hitler a possibilidade de conquista do mundo. Logo, a propaganda estava adiante da polícia ou exército, lhes facilitando a ação.

Da mesma forma, na Segunda Guerra Mundial a propaganda também precedeu os exércitos, por exemplo, na Espanha, onde as brigadas internacionais dispunham de comissários políticos. Havia na Rússia, “companhias de propaganda”. Caso a Resistência francesa não houvesse empenhado esforço para difundir folhetos e volantes de conteúdo muitas vezes diminuto, jamais conseguido tantos homens. Ainda, a propaganda fez mais para a conversão da China ao comunismo do que Mao-Tsé-Tung. No Japão, prisioneiros naturais foram devolvidos após a conversão ao comunismo, onde tiveram uma educação política, foram aguardados, com Bíblia em mãos, por pregadores de outra doutrina para que fossem submetidos à reeducação democrática. Os Estados Unidos, na figura de Kennedy um presidente da era da televisão, por meio de seus gestos, venceu Richard Nixon num debate, foi um dos maiores difusores dos meios de comunicação e propaganda eleitoral, na década de 60.

No Brasil, um dos primeiros políticos a se utilizar de recursos como comícios foi Prudente de Moraes no ano de 1864. Posteriormente em 1930, Getúlio Vargas foi o primeiro presidente a ter um profissional de propaganda a seu serviço, o jornalista Lourival. Do mesmo modo, um fato explicita a influência da publicidade, foi nas eleições presidenciais de 1989, cujos protagonistas foram Luís Inácio da Silva, que teve episódios negativos, amplamente divulgados pelos meios de comunicação, e Fernando Collor de Mello obteve vitória desse pleito com o grande apoio da mídia.

Portanto, desde que existem competições políticas, ou seja, desde o início dos homens, a propaganda existe e desempenha seu papel. Seja por rádio, jornal, filme, folhetos, discursos e cartazes, a propaganda opõe as idéias umas às outras, sendo reflexo dos fatos. Assim defende Rafael Garza Livas:

Atos de simples exteriorização de um estado de ânimo, como o riso ou a exclamação, ou ainda a expressão do pensamento com o único propósito de identificação do seu ponto de vista, não constituem atos de propaganda, pois está requer o desejo de que, mediante a própria expressão, alguém modifique em certos sentido algum dos aspectos de sua conduta, em consonância com o desejo da pessoa que nesse sentido se manifestou. (GARZA LIVRAS, 1971)

A propaganda é uma tentativa de influenciar a opinião e a conduta da sociedade, de tal modo que as pessoas adotem uma opinião e uma conduta determinada, uma linguagem destinada à massa, a qual emprega palavras ou outros símbolos veiculados, especialmente, pelos meios de comunicação. O propagandista tem o papel de influenciar na atitude das massas no tocante a pontos submetidos ao impacto da propaganda, objetos da opinião. Assim, afirma o professor de Comunicação de Massa e Relações Públicas e editor do Journal of Promotion Management, Richard Alan Nelson:

De forma neutra, propaganda é definida como forma propositada e sistemática de persuasão que visa influenciar, com fins ideológicos, políticos ou comerciais, às emoções, atitudes, opiniões e ações de públicos-alvos através da transmissão controlada de informação parcial (que pode ou não ser factual) através de canais diretos e de mídia. (ALAN NELSON, 1996)

2 MECANISMOS DE FUNCIONAMENTO DAS PROPAGANDAS ELEITORAIS

A cada período de eleições, adentra nos lares o alerta acerca da propaganda eleitoral que se seguirá, causando as mais variadas reações na população. Por outro lado, os políticos ostentam discursos bem organizados por auxiliares ou especialistas na arte de convencer o eleitor apresentando a mais perfeita imagem do candidato, embora que para isso signifique camuflar seus defeitos e ações pregressas ou, até mesmo desvirtuar o máximo a figura da oposição. Que a propaganda política desempenha algum resultado sobre a intenção de voto dose leitores é indubitável. A questão sobrevém a ser de que forma e com qual proporção a propaganda política compartilha da edificação da vontade eleitoral.Nesse contexto, a propaganda eleitoral ganha cada vez mais destaque, notadamente, com o advento dos meios de comunicação que facilitam essa persuasão dos eleitores.

Cada programa recebe sua identificação especificando o espaço geográfico da disputa eleitoral em questão,o período de veiculação em rede aberta de televisão e o intervalo de tempo em que foi ao ar, para qual cargo, de qual candidato e partido, e com apoio de qual coligação.Em seguida, afere-se a linguagem dos programas. São, então,catalogados os segmentos, trechos do programa televisivo que tem autonomia discursiva.Ainda que, comumente, os indícios mais vivos de alteração de segmento sejam feches de som e imagem, muitas vezes um conjugado de formas interpostas somente versa profissionalmente, uma mesma peça discursiva. Como ocorre em um pronunciamento de candidato em que, a cada ponto do discurso, a imagem do candidato é suprida por uma ilustração listando as propostas, lidassem gravação, para em seguida retornar ao candidato. Outros exemplos de unidade discursiva seria uma mensagem musicada de propaganda intercalada de manifestações públicas favoráveis ao candidato,ou um trecho jornalístico em que não se abstraem as interferências do âncora.

A quantidade de segmentos, analisada de acordo com a permanência de cada programa, já admite ressaltar algo sobre o ritmo dos programas, seu modo rápido, impaciente, ou mais pausado.São considerados segmentos de campanha os que assinalam problemas sociais e sugerem sua solução, promovem a imagem do candidato, seu partido e seus aliados em termos fascinantes ao eleitor,investem contra concorrentes,candidatos ou não. Debate-se a rixa substantiva, do conteúdo de propaganda. Os segmentos de meta campanha são aqueles em que, além do candidato, apresentam-se suas propostas, o presente ou as expectativas porvindouras, sua viabilidade e êxito em comícios e números de intenção de voto, chamando o eleitor para a aliciação.

A “categoria auxiliar" seria os elementos de ligação do programa, especialmente as vinhetas, mas também mensagem musicada ou imagens em que não seja presumível a identificação do apelo de campanha como no caso do jingle que se ativesse a consagração da livre preferência, ou seja, diz respeito às mensagens cujo propósito fundamental é adequar o discurso político dos programas à coerência comunicativa da televisão. Estes segmentos, contudo é minoria.

Quanto à forma, cada segmento admite uma aproximação inicial com a espécie de interlocução procurada pelo candidato com seus possíveis eleitores, se mais direta ou intercedida, por quem, e se em um formato mais circunspeto, legitimista, ou lúdico e emblemático, como através da declaração do candidato, documentário, reportagem ou outro, entrevista ou debate, vinheta, ilustração, publicidade e chamada.

Posteriormente, ainda discutindo a linguagem do programa, estimar-se se o candidato se exibe com uma interferência de imagem e voz, apenas de imagem, exclusivamente de voz, se é tão-somente mencionado ou se não surge no segmento tratado fornecendo uma extensão da centralidade particular do candidato na campanha, completada pela assimilação do orador predominante de todo segmento, que pode ser o candidato, seu causídico político,personalidade, mestre de cerimônias do programa,chefe partidário, populares, etc.

Referente ao objetivo, cada segmento pode ter o fito de investir contra, proteger-se, instalar ou desinstalar certo elemento, ou ainda instruir o ato de votar ou atrair para a continuação do programa ou outros fatos da campanha. A diferença entre ofensiva e desconstrução se dá pela apresentação identificada do competidor. Enquanto no ataque o adversário tem o endereço, na desconstrução são exibidas as mazelas sociaisem uma dada área, sem que ocorra a direta responsabilização de alguém.

Define-se, então, qual o tema basilar, afinalidade do segmento, escolhendo critérioentre segurança pública,economia e desenvolvimento,saúde e saneamento, política agrícola,problemas sociais, político-ideológico,educação, esporte, cultura e lazer, transporte, meio ambiente,imagem do governo, do candidato, ou do adversário,etc. Também é considerada a posição política dos candidatos diante doestado do atualgoverno, a cada segmento, analisando se revelar-se na oposição, a favor ou com uma combinação mista, ou se não é presumívelaferir um posicionamento político.

Os meios da retórica persuasiva na propaganda eleitoral se estendem à similaridade do estudo concretizado sobre os spots, em apelo, retórico e linguagem. Bem como as demais divisões,estas são excludentes, e nos obrigam, quando há múltiplas ajustadas no mesmo segmento, a nomear a dominante.

Posteriormente, considera-se a qualificação do teor.Primeiramente a extensão temporal e a legitimidade em que é ajustado o objeto do segmento, também, os predicadosocasionalmente versados no tratamento do objeto, quepodem ser positivos ou negativos e abranger aspectos subjetivos, políticos e administrativos. Vela-se, a elucidação de, a qual público se designa o segmento em particular, seja voltado para o público em geral ou específico.

Assinala-se, além disso, a presença ou ausência de outros recursos persuasivos, assim como uso da função, a autoridade ou feitos de cargos ocupados antes, alusão a partido ou coligação e referência a outras alianças políticas.

Finalmente, identifica-se no caso a constância nos programas, da utilização dos mesmos segmentos em várias edições de programas distintos.

Por conseguinte,o indivíduo, para formar uma opinião, passa por dificultoso processo, sendo raro que realmente deixe-se levar a um julgamento autônomo, pois,mesmo em domínios inteligíveis, ele principia por buscar referências no grupo social em que vive seja nos meios de comunicação, ou entre outros indivíduos.

3 A DISPOSIÇÃO DA MENTALIDADE DOS ELEITORES PARA A PROPAGANDA ELEITORAL

O juízo de alheamento político implica no momento de deliberação do voto. Os eleitores, partindo de determinada ideologia, confiam que os políticos no período de suas campanhas exibem uma série de compromissos a serem desempenhados, mas já não distinguem nas mesmas qualquer veracidade.

Cada indivíduo segue uma rotina sem usar muito do tempo em preocupações com assunto que exceda o imprescindível para a permanência deste cotidiano. Assim todo o pensamento e toda ação se revelam somente com efeito de uma demanda do dia-a-dia. A maioria dos homens comuns, ao compreenderem-se aliviados do procedimento decisório da política, não nota vantagem em catalogara política nos assuntos do seu dia-a-dia. Há ainda, aqueles que por escassez de conhecimentos, sentem dificuldades em discutir os assuntos da política. Nesse caso a falta de atenção é justificada pela ausência de certas contribuições cognitivas, que impedem que os telespectadores encontrem a compreensão. Desta forma, Raymond Boudon defende que quando há uma relação de comunicação entre uma opinião e um público, em que este não possui recursos de forma adequada e ideal, um efeito de autoridade ocorrerá naturalmente. Assim diz esse autor:

Em resumo, podemos endossar uma teoria assim como escolhemos um eletrodoméstico. Para comprar um aparelho de televisão, nenhum consumidor teria a idéia de sondá-lo para verificar se as peças são de boa qualidade e se estão corretamente montadas. É mais provável que se contente em verificar se a imagem é boa. Talvez também interprete a marca como sendo uma garantia de qualidade. Evidentemente, estas verificações e garantia não bastam para lhe dar a certeza de que o aparelho funcionará segundo o seu desejo, durante longos anos. Mas uma verificação mais cuidadosa e metódica não somente seria muito cara, mas suporia um saber que o consumidor muito provavelmente não domina. (BOUDON, 1989, p.110)

Nesse contexto, surge a percepção dos eleitores de certo conformismo como pouco que os políticos fazem, se empenhando então em escolher as alternativas que possa melhor atender às suas demandas gerais. É nesse liame que o fim persuasivo da propaganda eleitoral pode ser calculado. Logo que a capacidade que a publicidade do candidato ou partido tem de se comunicar positivamente com o eleitor, apresentando argumentos de simples, mais facilmente será a conquista do voto, pois os eleitores processam uma quantidade muito restringida de informações. Da mesma forma, em uma conjuntura em que informações são dificilmente assimiladas a reprodução de um discurso de campanha por outro indivíduo é comumente absorvida, facilitando o processo persuasivo, mesmo que de forma indireta.

Destarte, a permuta de exposições sobre um assunto com outra pessoa é o fator mais importante no momento da elaboração da opinião, independente do grau de conhecimento do indivíduo. Este conceito é fundado em um aspecto de interação dos fenômenos de grupo, nos quais os indivíduos que estão dispostos em circunstância social análoga, por compartilharem de realidades de vida semelhantes, precisões e preocupações equivalentes. Assim, tendem a fornecer interpretações assemelhadas às experiências comuns.

Nesse contexto há duas teorias remotas, porém importantes sobre a persuasão das propagandas eleitorais sobre o público, as teorias da Espiral do Silêncio e da Agenda Setting. A teoria da Espiral do Silêncio de Noelle-Neumann propõe que quando um candidato ostenta intensa posição pública por um extenso período, os indivíduos que corroboram com o partido concorrente se tornam cada vez mais bloqueados, e os eleitores titubeantes se posicionam favoráveis ao candidato que lhes semelha mais fortaleza, gerando um alinhamento das intenções de voto de acordo com as perspectivas, que emanam crescimento ao longo do tempo, de quem será a conquistada eleição. Já a teoria da Agenda Setting, de McCombs e Shaw, afirma que a imprensa seleciona os temas que despertam a atenção dos eleitores e que influencia o governo que sugere que os meios de comunicação ditam o pensamento, como optar e como dar preferência aos temas sobre os quais se pensa.

4 A INFLUÊNCIA DA PROPAGANDA ELEITORAL E AS ELEIÇÕES BRASILEIRAS

A opinião, em geral, não tem esse autenticamente pessoal, mas é concernente a um grupo ou a muitos grupos. Ela, também não reflete espontaneamente a realidade, mas dá uma visão deformada pelos interesses comuns ao grupo. Nesse âmbito, procurar analisar as inúmeras possibilidades nas quais a propaganda política fez recair sobre espantosa ameaça por meio de epidemias psicológicas, as quais produziram indivíduos de mentalidade teleguiada.

Nesse jogo de influências, é interessante se analisar desde a reabertura democrática, em 1985, na qual o Brasil passou por cinco campanhas eleitorais nacionais no rádio e na televisão que marcaram época e comprovaram a influência marcante da propaganda eleitoral na opinião pública.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi o candidato que mais pleiteou eleições. O tucano José Serra, utilizou a atriz Regina Duarte como garota-propaganda das eleições de 2002.

Fernando Collor, e Fernando Henrique Cardoso, durante as eleições de 1989, figuram em debates televisivos nos programas gratuitos.

Enéas Carneiro, no horário eleitoral de 1989 dispunha de quinze segundos para produzir e reproduzir a frase que o deixou famoso, “Meu nome é Enéas”, e contribuiu para conquistar 361 mil votos. O candidato utilizava um estilo peculiar que intrigava eleitores a ponto de conquistá-los. O candidato atraiu também os fãs de sua oratória veloz e concisa, notoriamente conservadora. Enéas voltou a se candidatar em outras oportunidades mantendo a maioria de suas características até a morte e fez da frase um lema para todos os outros componentes de seu pequeno partido.

Uma grande surpresa ocorreu na eleição de 1989, com a candidatura do apresentador Silvio Santos, supostamente impulsionado por José Sarney, na campanha já em curso. Por essa razão, sequer seu nome estaria disposto na cédula eleitoral. Collor, que era o candidato mais cotado, sentiu sua candidatura ameaçada. Enquanto os esquerdistas Lula e Leonel Brizola estariam fora de um possível segundo turnos. Nada obstante, Silvio foi compelido a abandonar a candidatura, pois haveria problemas com registros do partido pelo qual estaria filiado e devido às insistentes investigações da imprensa sobre seus negócios.

Nas primeiras eleições para presidente da República, os candidatos podiam apresentar trechos editados dos debates durante o horário eleitoral gratuito. Contudo as imagens do Debate de Paulo Maluf e Leonel Brizola acabaram sendo editadas e ganharam um narrador com depoimentos de eleitores favoráveis ao candidato que exibe as imagens. A célebre discussão entre Maluf e Brizola na emissora TV Bandeirantes recebeu cores peculiares no programa malufista. Dessa forma, Brizola não disputou segundo turno.

Por outro lado, a disputa pelo Palácio do Planalto foi concorrida entre Fernando Collor e Sarney. Collor era, na época, um bem conceituado governador de Alagoas que tinha sustentáculo de uma família local financeiramente bem-sucedida. Terminou eleito por influência de sua campanha que aliou pesquisas quase diárias sobre a atitude imprescindível para o candidato, estratégias de marketing e fortes investidas contra Sarney. Essas eleições de 1989 foram as primeiras em que um candidato atacava veementemente o ocupante do Palácio do Planalto. Collor ainda investe contra Silvio Santos. A trajetória de promoção de Collor proporcionou uma maior discussão na política brasileira sobre a necessidade de repensar a nova afinidade entre a política e a publicidades e seu resultado para o processo de decisão do voto.

O jingle mais conhecido das eleições brasileira se o famoso “Lula lá”, que foi empregado primeiramente no segundo turno das eleições pelo Palácio do Planalto também em 1989, como a primeira produção que apostava no apelo de famosos para defender o candidato, quando Lula foi derrotado por Fernando Collor de Mello. Porém, em 2002, a campanha petista repaginou o jingle e o aproveitou novamente no segundo turno, vencendo o candidato Serra.

Aproximadamente um ano antes das eleições de 1994, o Partido da Social Democracia Brasileira cogitava formar uma aliança com o Partido dos Trabalhadores para eleger Lula presidente e Tasso Jereissati vice após a renúncia de Collor, e quando Itamar Franco não tinha candidato para sucedê-lo. Até que nasceu o Plano Real e um dos seus autores, Fernando Henrique Cardoso surgiu como candidato do prosseguimento. O tom positivo da campanha com o slogan “Levanta a Mão”, contrariava as paralisações de conservadores e progressistas nas eleições de 1989. A influência também proveio do abuso de comerciais nos quais aparecia trabalhando no escritório, Bill Clinton dos Estados Unidos, eleito em 1992.

A propaganda eleitoral gratuita marcou a concretização do governo de Lula, que esteve próximo de conquistar no primeiro turno e, também, a disputa ferrenha entre José Serra e Ciro Gomes pelo segundo lugar. Contudo, em 2002, as pesquisas indicavam muito antes da votação de outubro que Luiz Inácio Lula da Silva seria o presumível presidente do Brasil a partir do ano 2003. Com a extensa vantagem do petista no primeiro turno e a conquista se sugerindo por larga margem no segundo, a campanha de José Serra se voltou contra ela própria, mostrando a atriz global Regina Duarte, com a frase “Eu tenho medo”, comparando Lula à conjuntura da Argentina, que se encontrava rodeada de panelaços do governo de Fernando de la Rúa. Quase instantaneamente a campanha petista com a frase “A Esperança vai Vencer o Medo” foi apresentada pela atriz Paloma Duarte acabou contribuindo com a vitória do candidato.

Como a vitória por pouco não ocorria no primeiro turno, Duda Mendonça criou a peça “eleitor quase Lula”, para atrair o marketing. Usou o tema da campanha com indicações que a vez do petista tinha chegado após de três fracassos e incluiu os ex-adversários Ciro Gomes e Anthony Garotinho, para sugerir o isolamento político de Serra, sendo uma das alusões de propaganda para os petistas, por ser desvestida de críticas à circunstância do país e se avigorar para provocar apenas emoções positivas no público eleitor.

O jingle de José Maria Eymael foi usado pela primeira vez nas eleições paulistanas de 1985, quando Gilberto Kassab era vice do Partido Democrata Cristão. Usou a música com a frase “Ey, Ey, Eymael” para candidaturas a deputado federal e, finalmente, para a Presidência da República, em 1998,voltando ainda a se candidatar em 2006, repetindo a música como sua principal característica.

As privatizações não tinham sido um objeto de discussão durante o primeiro turno da campanha presidencial de 2006. Mas quando o tucano Geraldo Alckmin surpreendeu empenhando uma segunda votação. No segundo turno a campanha de Lula explorou a percepção popular de que as privatizações de empresas públicas foram bastante negativas ao Brasil. Depois de essa peça ser exposta na propaganda eleitoral, Alckmin fez uso deu ma vestimenta repleta de símbolos de estatais para exonerar-seda hipótese de privatização, o que não influiu mais nas decisões de voto.

Por fim, cabe relembrar a atuação da propaganda política nas últimas eleições Os candidatos à presidência líderes nas pesquisas, Dilma Roussef, do Partido dos Trabalhadores e José Serra do Partido da Social Democracia Brasileira, desde o início usaram para a emoção dos eleitores e a figura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O ex-presidente brasileiro foi a grande ênfase no programa da candidata de seu partido, o qual, com sua voz narrava parte de sua campanha, além de ser referido até mesmo na campanha do candidatado rival. A mensagem musicada de propaganda de José Serra dizia “sai o Silva”, “e entra o José”. Além disso, Dilma Rousseff expôs-se como mãe e mulher, estimando sua trajetória política e utilizando depoimentos de compartes de luta e prisão no período da ditadura brasileira. Com essa média, a candidata petista obteve, desde o início, ganhava nas pesquisas de intenção de votos. Enquanto José Serra tratou sua infância e sobre saiu seu conhecimento e suas atuações quando era Ministro da Saúde, Prefeito e Governador de São Paulo. A terceira candidata mais bem colocada nas pesquisas, Marina Silva do Partido Verde, preferiu usar o pouco tempo que tem na televisão e no rádio para falar do meio ambiente.

Ao se pesquisar sobre as eleições diretas de 1989, a nacionalização do sufrágio é elemento da conexão política da coletividade e que esta, agregada à complexidade social do público eleitor, determinando que a mensagem política e o apelo do pretendente à função política almeje elevar ao máximo o voto. Assim, a mídia, perpetua-se representando lugar e ator da política, ou seja, um formidável aparelho audiovisual, avaliado como um panorama extraordinário da política.

Conclui-se então que de modo semelhante ao marketing tradicional, o candidato é um produto que, por intermédio da propaganda eleitoral é vendido ao eleitor. Assim, a política, como no cenário brasileiro, precisa da mídia, da mesma forma que a espetacularização publicitária está sujeita política, e essa vinculação mútua eterniza-se, porém os elementos de comunicação excedem a capacidade tolerável dos indivíduos de assimilar o ininterrupto bombardeamento de informações, qualitativamente distinguidas.

CONCLUSÃO

A lei estabelece as maneiras de como o candidato deve relacionar-se com o eleitor através da propaganda. Na boa publicidade, o candidato ou partido deve obviamente prevalecer-se dos elementos legais para obter a aceitação do eleitor. Entretanto, mesmo com o desejo de uma campanha política séria e transparente, ainda vigora o poder econômico, os artifícios emocionais e a falsidade para conquistar votos, iludir milhares de eleitores nas propagandas.

Há, portanto a preocupação em entender os aspectos basilares da propaganda, sua evolução na história, a diferença da propaganda eleitoral das demais formas de publicidade, sua legitimidade nas normas, posteriormente analisar os mecanismos usados pelos candidatos para conquista o eleitor, e o que o eleitor faz com as mensagens que lhe são ofertadas, buscando compreender de que forma o público utiliza a propaganda no processo eleitoral. Assim também, procura-se explanar a propaganda política eleitoral com suas atuações estrategicamente delineadas para aproximar o público eleitor, dos candidatos e partidos conforme interesses peculiares que determinam o desenrolar do processo eleitoral, principalmente na adesão ao voto.

Logo, percebe-se que a utilização dos instrumentos de publicidade, como a propaganda eleitoral, nas relações públicas, partindo da abordagem da comunicação persuasiva, elemento comum entre esses instrumentos de marketing político são assuntos que merecem reflexão, especialmente na comunicação política do Brasil, onde têm se tornado cada vez mais fundamental.

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1Procurador Federal. Especialista em Direito Processual Civil pela Universidade Federal do Ceará – UFC.


Autor

  • Marden de Carvalho Nogueira

    Procurador Federal - Procuradoria Geral Federal - PGF<br>Especialista em Direito Processual Civil pela Universidade Federal do Ceará - UFC.<br>Como Procurador Federal atuou ou atua nas matérias de direito tributário, execução fiscal, execução fiscal trabalhista, contencioso trabalhista, contencioso previdenciário, ações civis públicas, ações de improbidade administrativa etc.

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