Este texto foi publicado no Jus no endereço https://jus.com.br/artigos/34396
Para ver outras publicações como esta, acesse https://jus.com.br

Educação também dá dinheiro!

Educação também dá dinheiro!

Publicado em . Elaborado em .

O presente artigo tem como objetivo introduzir a discussão da magia do dinheiro responsável por induzir o senso comum à desconfiança no modelo educacional como garantia de futuro, convivência e respeito à diferença.

A questão talvez seja estabelecer como chegar a considerações como essa, em que a educação também se torna capaz de favorecer às condições da desigualdade entre esclarecidos e ignorantes, entre identidades onlines e multidões de desconectados, contrariando perspectivas garantidoras de futuro, de convivência e de respeito à diferença.

É perceptível, no senso comum, desconfianças provocativas do tipo “escola não dá futuro”, que, ao invés de estudar, seria melhor optar por jogar futebol ou seguir carreira artística. Não que todos os esportistas e artistas possam ser enquadrados como iletrados, sem escolaridade ou desprovidos de educação. Não se trata disso.

Uma explicação muito simples para o que ocorre nesse particular nos remete ao fato de que o mesmo senso comum superestima como raro e único o que assiste ou ver acontecer através da magia do dinheiro que cerca minorias do esporte e da arte.

No final, essa supervalorização desemboca em desconfianças de que educação não dá futuro, de que apenas alguns poucos lucram e no mais: que nos comportamos como reféns de um discurso de que a escola que temos dispõe de uma solução mágica para tudo.

Porém, no terreno das opções pessoais e dos valores socialmente compartilhados, o dever de observar quem realmente merece razão (se os que confiam na educação ou os que não escondem a decepção com a escola que temos) não deixa de ser uma preocupação menos nobre àqueles mais resistentes a um senso comum também refém da autopreservação de seus próprios preconceitos.

De fato, se existe a disposição de fundar uma nação inteira com base em uma cultura do conhecimento racional, objetivo e verdadeiro, transmitida pela educação escolar, parece imperativo desdizer os argumentos que insinuam que o modelo adotado de educação fracassou ou que não garante futuro.

A questão problema parece ser exatamente saber por onde começar essa tarefa: se confrontando esses que desconfiam do modelo educacional adotado; ou, se reunindo os que confiam, a fim de envolvê-los em uma revolução que independeria da própria magia do dinheiro.

Por outra parte, na intermediação entre a propaganda e a pátria do futuro, essa magia do dinheiro, na contramão de uma revolução sem capital, faz aumentar a desconfiança em receituários mágicos, enriquecidos pela aparência, pela virtualidade, pela distância da realidade.

Em resumo, na sociedade atual, o noticiário dos cachês e das contas de nomes milionários da arte e do esporte faz aumentar as provocações e desconfianças do senso comum contra o modelo educacional e suas perspectivas de futuro, de convivência e de respeito à diferença.

Contudo, em paralelo ao tema da (des)confiança em questão, parece passar despercebido que o empenho orçamentário da política oficial de bolsas, vigente no país, pode significar uma variante inquestionável da defesa de que a educação também dá dinheiro, além do retorno financeiro garantido a outras minorias igualmente invejáveis.



Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelo autor. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi.