Em 'O que é Conservadorismo?', Roger Scruton tateia a base principiológica necessária para uma Ciência Política Conservadora.
Estou lendo 'O que é Conservadorismo', de Roger Scruton, na tradução de Guilherme Ferreira Araújo, publicada pela 'É Realizações'.
Desde que foi lançado o texto sofreu algumas revisões de conteúdo (o escritor se disse excessivamente raivoso na primeira versão), o que não desmerece a reflexão mater cuja consistência certamente contribuiu ao BREXIT, a debandada inglesa da União Européia.
O leitor é brindado com um texto simples e objetivo, principalmente compromissado em distinguir-se da ideologia liberal (confesso que desconhecia o apego dos conservadores por instituições 'de Estado'), a despeito das fáceis críticas ao marxismo.
Em Scruton, a tradição e o papel da aristocracia inglesa são marcas registradas da preservação da cultura superior. O autor desqualifica o oportunismo político contemporâneo alçado pelas urnas, afinal, provisoriedade e corporativismo não costumam combinar com políticas pretensamente universais e atemporais. Daí a perpetuidade da monarquia bretã surgir quase que espontânea, realçada pela funcionalidade da Câmara dos Lordes e alguns comentários providenciais a respeito da república estadunidense.
O livro é particularmente importante para o momento histórico brasileiro, já que por aqui tanto o socialismo light como o calórico têm logrado êxito em escassear o oxigênio que ressucitaria a expressão majoritária nacional.
É benfazeja a lembrança do filósofo sobre a desconstrução da teoria econômica de Marx por Von Mises e a turma de Viena, bem antes da queda do Muro de Berlim e da Perestroika. O ensaio sobre a interação social dos valores é especialmente caro aos juristas, descortinando a fonte do poder constituinte originário. O Direito Consuetudinário de uma Constituição não escrita (ou escrita pelo acúmulo secular da sabedoria jurisprudencial), em oposição ao frenético Civil Law, é apontado como derradeiro fundamento de incompatibilidade do sistema político inglês ao estatuto multinacionalista europeu.
Em suma, um ótimo compêndio de "pás e britadeiras" para a exumação da saúde mental de qualquer pátria.