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MOBILIS IN MOBILI

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Uma carta as pessoas e aos Direitos Humanos

UMA CARTA PARA MIM E PARA VOCÊ

 

            Estou eu aqui lançado ao computador com a missão de escrever um texto sobre mim, as minhas opiniões sobre o que vem a ser a dignidade da pessoa humana, sendo que os que não a tem nem sempre são vistos como pessoas, ou humanas, e a noção de dignidade? Da qual sempre foi atribuída a heróis e nobres, afinal ser digno de algo por muito tempo foi privilégio dos grandes detentores do poder, o que de fato não mudou muito.

            Será que sou digno de aqui expor palavras sobre os problemas dos outros, ou que meus problemas são dignos de serem escritos? Será que sou pessoa? Ou sou humano? Ou que vivo além da materialidade da esteira de produção proporcionada pela modernidade?

            O certo é que meus problemas talvez sejam iguais aos seus, apesar do caminho que nos levou até esse exato momento, ou o momento que esteja lendo isso, serem completamente diferentes, talvez agora em tua vida você esteja a fim de chorar, de quebrar tudo ao teu lado, ou esteja lendo isso e pensando que a vida é completamente maravilhosa e que todos mereciam olha-la assim.

            Ou talvez nossos problemas nem se coincidam, talvez tu esteja ai sendo privada de amar por vocações morais idiotas da sociedade, ou privada de se alimentar, e tua barriga não deixe ao menos tu ler e entender o que eu esteja falando, talvez tu nem saiba ler e apenas está escutando, mas se de qualquer maneira esteja passando por essas palavras, quero que saiba que estou aqui, tenho problemas, não iguais aos seus, mas que saiba que somos humanos, pois não sei quem você é nem sabe quem eu sou, mas pensamos talvez no mesmo momento, na dor que algum outro passou, afinal “Somos necessários, somos um fragmento do destino, formamos parte do todo, estamos no todo; não há nada que possa julgar, medir, comparar e condenar nossa existência”[1]

            Dor essa que não é minha, não é sua, dor que generaliza a humanidade, e que ao mesmo tempo não é sentida de maneira igual por ninguém. Mas que por outros passam despercebidas, ou mesmo aqueles que te olham e riem delas, e saiba que nesse riso não há mais humanidade. Há também aqueles, que por sua dor, não são mais pessoas.           

            Seria fácil é até mais cômodo vir aqui e lhe apresentar jurisprudências e leis, mas elas só nos mostram que existem desigualdades, e que precisamos delas para proteger certos direitos, que na realidade muitos não são realmente humanos. E este texto não é sobre mim, este texto é pra todos que acreditam serem humanos, e que entendem e sentem a dor de cada pessoa, humana e digna e que percebam que “Não é de novos continentes que a terra precisa, professor, mas de novos homens!”[2]

 

 


{C}[1]{C} NIETZSCHE, Friedrich Crepúsculo dos Ídolos – 5°edição, Nova fronteira, página 54.

{C}[2]{C} VERNE, Júlio Vinte mil léguas submarinas – 4° edição, Martin Claret, página 147



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