Este texto foi publicado no Jus no endereço https://jus.com.br/artigos/79009
Para ver outras publicações como esta, acesse https://jus.com.br

A Web 3.0 e os Serviços Jurídicos

A Web 3.0 e os Serviços Jurídicos

Publicado em . Elaborado em .

A Web 3.0 está mudando a prática da advocacia, com usuários exigindo serviços personalizados e soluções rápidas e acessíveis. A modernização já aconteceu, mas a adaptação dos fornecedores ainda está a caminho.

Resumo: Este artigo trata das influências que a Web 3.0 tem nos serviços jurídicos, em especial na prática da advocacia, e as exigências da geração que nasceu com a internet exercem nos advogados e profissionais do futuro.


A inovação dos serviços legais e formas de acesso à justiça foram uma consequência da recente onda de digitalização que atingiu o mercado de todas as profissões. É natural que os profissionais jurídicos fossem afetados também pela Web 3.0. A Web 3.0 Implica em fornecer serviços cada vez mais relevantes, seja aplicado ao marketing, às redes sociais ou ao Direito, seguindo a demanda dos usuários por serviços personalizados. Esses usuários da Web 3.0 são da geração que já nasceu com a internet estabelecida e desbravada, fazendo parte de sua realidade sem necessidade de adaptação, gerando demandas inéditas e novos valores.

As demandas por serviços jurídicos na internet não são as mesmas dos anos 1990 e início de 2000. Essas buscas eram em sua maioria feita por profissionais do direito, pois a Internet era formada basicamente de sites institucionais e de empresa, com pouca ou quase nenhuma possibilidade de interagir com o conteúdo.

Na transição para a Web 3.0, os usuários não só criaram a necessidade de interagir com o conteúdo, como impuseram a exigência que esse conteúdo esteja preparado para resolver o seu problema. E é nesse quesito que os serviços jurídicos são mais afetados pela onda de digitalização.

A interação com os clientes nos escritórios de advocacia era feita pela seguinte dinâmica: Cliente busca Escritório que aciona Advogado que vai ao Tribunal. Porém, os potenciais clientes e usuários de serviços jurídicos da atualidade não seguem mais esse padrão. As novas gerações querem redução nos custos, na burocracia e no tempo de resolução de seus problemas, pois não há mais a visão do advogado como um guardião do conhecimento jurídico secreto. O cliente, quando procura um advogado nos dias de hoje, já sabe quanto vai custar, quanto tempo demora, e qual legislação o advogado deve utilizar. O advogado é visto como a ferramenta para solucionar um problema.

O cliente quer a possibilidade de não sair de casa. Então ele busca na Internet a causa e a solução do seu problema, comparando com casos parecidos. Ele vai buscar profissionais especializados em casos similares ao seu, pesquisar e julgar a atividade profissional desse especialista pela internet, descobrir maneiras de diminuir o custo dos serviços, tentar evitar a via judicial, e ponderar técnicas alternativas de solução de conflito. Tudo isso sem o conhecimento do advogado, que ainda espera aquele cliente que saiu na rua, viu a placa escrito escritório de advocacia e entrou.

A modernização dos serviços jurídicos já aconteceu. Há sites que oferecem busca jurisprudencial gratuita a qualquer um, o que faz com que o advogado não seja o único detentor do conhecimento jurídico, porque o potencial cliente detém tanto quanto ele a chance de resolução dos litígios. Há sites que oferecem busca nacional de certidões e guias, serviços de correspondentes e despachantes, então o advogado já não é o único meio para solução de problemas jurídicos à distância. Há sites que elencam formas de contato de advogados e escritórios, então o escritório físico já não é o único meio de encontrar clientes. Repete-se: A modernização dos serviços jurídicos já aconteceu, porém, a adaptação dos fornecedores de serviços ainda está a caminho.

Com o surgimento de diversas Lawtechs criou-se grande oferta de novos serviços e sistemas de tecnologia para escritórios. As Lawtechs utilizam tecnologias como Inteligência Artificial, tratamento e gerenciamento de dados, chatbots, sistemas preditivos de decisões judiciais entre outras para auxiliar os escritórios e profissionais a lidar com o avanço da quantidade de dados gerados pelas mais diversas fontes. Muitas pesquisas são feitas nesse sentido e há mais tecnologia disponível para o profissional da advocacia a cada dia. A tecnologia é pensada em diminuir as perdas de tempo profissional dos advogados em tarefas burocráticas e repetitivas, dando mais tempo ao profissional para se dedicar ao cerne da advocacia, o trabalho intelectual.

Se os clientes já estão mais instruídos, e há ferramentas diminuindo a robotização do advogado, então qual é a peça que falta para o mercado jurídico entrar na era da Web 3.0? A resposta segundo Richard Susskind, grande autor de livros voltados para a prática legal, é a mentalidade do advogado:

“Existe uma grande lição para advogados. Operadores do Direito mais experientes, quando ponderando o futuro de seus negócios, tendem para uma mentalidade incisiva. Eles se perguntam, ‘O que estamos fazendo hoje em dia?’ (resposta: serviço de auxílio jurídico, cara-a-cara, geralmente cobrado por hora) e então, ‘Como podemos fazer esse mesmo serviço, mais barato, mais rápido, ou de alguma forma melhor?’ Muito raramente, eles dão um passo para trás e perguntam a si mesmos, por analogia, sobre o problema no mercado jurídico. Que valor, que benefícios, os clientes realmente buscam quando eles acionam seus advogados?”

(SUSSKIND, Richard, 2017, Tomorrow’s Lawyers, tradução própria)1

Os advogados devem repensar a oferta de serviços, ou serão vistos como meros consultores de conhecimento num mundo extremamente dinâmico e exigente. Há de se projetar a oferta de soluções além da via judicial, de estímulo aos meios alternativos de solução de conflito, de um modo mais sustentável de se praticar advocacia. Pois, a disputa pela preferência dos usuários de serviços jurídicos só aumenta, e cada vez mais aparecerão quesitos de escolha. Um exemplo disso é a procura por escritórios “verdes”, que procuram diminuir ou até abolir o uso de papel. Também há grande procura por escritórios digitais, que atendem de forma virtual, sem perdas de tempo e custo de deslocamento.

Cada vez mais dinâmica e conectada, a geração da Web 3.0 criou uma miríade de exigências para o mercado jurídico e caberá aos profissionais se transformarem no Advogado do futuro.


Autor

  • Rafael Borges

    Advogado com experiência focada em Direito Civil, Consumidor e Propriedade Intelectual. Especializações em Direito do Consumidor, Direito Civil e Processual Civil e Propriedade Intelectual. Sócio da Produtora Laranja Vulcânica, atuante em assessoria, produção e pós-produção para o setor audiovisual.

    Textos publicados pelo autor

    Fale com o autor

    Site(s):

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelo autor. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi.