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Reserva legal e áreas de transição da Amazônia Legal

Agenda 03/03/2023 às 09:03

Em algumas ocasiões surgiu o questionamento a respeito do percentual da reserva legal em áreas de ‘transição’ do bioma amazônico, se seria 80% da área da propriedade ou menos, por se localizar em cima das coordenadas do meridional.

Primeiro vamos esclarecer para aqueles que estão acostumados com percentuais menores de reserva legal, o porquê destes 80%. E é importantíssimo lembrar que não se confunda Reserva Legal com APPs, sendo que as primeiras possibilitam utilização economicamente sustentável e são os percentuais definidos por lei que vamos comentar e a segunda são 11 modalidades de áreas que, normalmente, não podem ser utilizadas e devem ser mantidas as metragens estabelecidas em lei.

No caso da reserva legal, um percentual de toda propriedade rural, destinado à preservação de recursos naturais e uso economicamente sustentável, orienta o Código Florestal de 2012, no artigo 12 que para determinação do percentual da propriedade destinado a reserva legal, deve-se observar se se encontra dentro ou fora da região da Amazônia Legal.

Não estamos falando do estado do Amazonas ou da região amazônica sem qualquer referência, mas àquela criada por lei federal em 1953, atualizada pelos códigos florestais de 1965 e 2012, considerando como região da Amazônia Legal, aquela composta pelos Estados do Acre, Pará, Amazonas, Roraima, Rondônia, Amapá e Mato Grosso e as regiões situadas ao norte do paralelo 13º S, dos Estados de Tocantins e Goiás, e ao oeste do meridiano de 44º W, do Estado do Maranhão.

De acordo com o IBGE, a região possui superfície aproximada de mais de 501 milhões de hectares, correspondente a cerca de 58,9% do território brasileiro, composta por 772 municípios, sendo que dos 181 municípios do Maranhão situados ao oeste do Meridiano 44° W, 21 deles estão parcialmente integrados na Amazônia Legal.

Enfim, o artigo 12 do Código Florestal determina a manutenção de cobertura vegetal nativa para compor a reserva legal, quando dentro da Amazônia Legal, nos percentuais de 80%, quando se tratar de florestas amazônicas; 35%, quando se tratar de cerrado amazônico; e 20% quando se tratar de campos gerais amazônicos. Já para os imóveis rurais fora desta região de Amazônia Legal, a regra é única com o percentual de 20% independente da vegetação florestada ou não.

Quanto à dúvida sobre possíveis áreas de transição, a resposta jurídica é que não existem estas áreas para a legislação, nem sequer quando em áreas situadas sobre as coordenadas, pois foi necessário prever uma regra jurídica com clareza. Assim, o artigo 12 não deixa dúvidas no sentido de que ao discriminar as áreas de floresta e de cerrado, refere-se às formações vegetais florestadas e não florestadas, mas não aos biomas Floresta Amazônica e Cerrado.

Com esta interpretação, nas áreas de transição entre biomas, nos ecótonos e encraves, esse mesmo critério deve ser aplicado, pois, como dito, o código florestal não faz discriminação entre formações florestais da floresta amazônica e as matas existentes nas áreas de transição e nos limites do bioma Cerrado, na Amazônia Legal.

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Para melhor entendimento, a sugestão é consultar a classificação adotada pelo IBGE baseada na classificação em um sistema universal e que fornece as bases para os mapeamentos e levantamentos de cobertura vegetal mais atuais no Brasil.

Portanto, não ficam dúvidas de que a legislação encaminha para critérios que não permitem dúvidas a respeito das coordenadas ou dos biomas, caso contrário seria extremamente inseguro para leigos, juízes, advogados, promotores e outros aplicadores da lei, distinguir, sem conhecimento técnico, os conceitos de bioma, região ecológica e fitofisionomia.

E finalmente, cabe dizer que o Código Florestal, no artigo 12, considerou apenas duas exceções para a alteração do percentual das áreas de reserva legal, fazendo estas regras nos seus parágrafos quarto e quinto com o seguinte texto.

§ 4º [...] o poder público poderá reduzir a Reserva Legal para até 50% (cinquenta por cento), para fins de recomposição, quando o Município tiver mais de 50% (cinquenta por cento) da área ocupada por unidades de conservação da natureza de domínio público e por terras indígenas homologadas.

§ 5º [...] o poder público estadual, ouvido o Conselho Estadual de Meio Ambiente, poderá reduzir a Reserva Legal para até 50% (cinquenta por cento), quando o Estado tiver Zoneamento Ecológico-Econômico aprovado e mais de 65% (sessenta e cinco por cento) do seu território ocupado por unidades de conservação da natureza de domínio público, devidamente regularizadas, e por terras indígenas homologadas.

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Sobre o autor
Pedro Puttini Mendes

Advogado, Consultor Jurídico (OAB/MS 16.518, OAB/SC nº 57.644). Professor em Direito Agrário, Ambiental e Imobiliário. Sócio da P&M Advocacia Agrária, Ambiental e Imobiliária (OAB/MS nº 741). Comentarista de Direito Agrário para o Canal Rural. Colunista de direito aplicado ao agronegócio para a Scot Consultoria. Organizador e coautor de livros em direito agrário, ambiental e aplicado ao agronegócio. Membro fundador da União Brasileira da Advocacia Ambiental (UBAA), Membro Consultivo da Comissão de Direito Ambiental e da Comissão de Direito Agrário e do Agronegócio da OAB/SC. Foi Presidente da Comissão de Assuntos Agrários e Agronegócio da OAB/MS e membro da Comissão do Meio Ambiente da OAB/MS entre 2013/2015. Doutorando em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Socioambiental pela Universidade do Estado de Santa Catarina, Mestre em Desenvolvimento Local (2019) e Graduado em Direito (2008) pela Universidade Católica Dom Bosco. Pós-graduação em Direito Civil e Processo Civil pela Anhanguera (2011). Cursos de Extensão em Direito Agrário, Licenciamento Ambiental e Gestão Rural. PRODUÇÃO BIBLIOGRÁFICA: "Pantanal Sul-Mato-Grossense, legislação e desenvolvimento local" (Editora Dialética, 2021), "Agronegócio: direito e a interdisciplinaridade do setor" (Editora Thoth, 2019, 2ª ed / Editora Contemplar, 2018 1ª ed) e "O direito agrário nos 30 anos da Constituição de 1988" (Editora Thoth, 2018). Livros em coautoria: "Direito Ambiental e os 30 anos da Constituição de 1988" (editora Thoth, 2018); "Direito Aplicado ao Agronegócio: uma abordagem multidisciplinar" (Editora Thoth, 2018); "Constituição Estadual de Mato Grosso do Sul - explicada e comentada" (Editora do Senado, 2017).

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