Hoje, trago um tema atual e polêmico que tem sido amplamente discutido nas redes sociais e na mídia: a instauração de uma representação pelo Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar), de ofício, movida por queixa de consumidores, contra a propaganda da Volkswagen que conta com a presença da icônica cantora Elis Regina, "revivida" por meio de ferramentas tecnológicas e Inteligência Artificial.
As queixas de consumidores preocupados com a utilização da imagem da saudosa cantora em um contexto de anúncio automotivo e com a utilização de ferramenta de IA, alegam que este recurso pode induzir o consumidor ao engano. É importante destacar que, de acordo com as informações disponíveis, não houve danos aos consumidores, mas a questão gira em torno da possibilidade de confusão que tal recurso tecnológico pode gerar.
Em primeiro lugar, é crucial ressaltar que a propaganda em questão tem como público-alvo adultos. Certamente, de acordo com o planejamento de mídia direcionado pela empresa as veiculações foram direcionadas para pessoas com idade de 18+.
Portanto, as crianças e adolescentes não estão no foco dessa campanha publicitária, e é provável que, se forem impactados, estejam acompanhados de seus pais ou responsáveis. Neste cenário, os pais podem facilmente explicar que Elis Regina já faleceu e que a aparição da cantora na propaganda é fruto de uma recriação digital por meio de Inteligência Artificial.
Além disso, é importante considerar que a família da cantora Elis Regina e seus representantes legais, certamente, participaram ativamente da produção dessa propaganda. Com a participação da filha da cantora, Maria Rita, no filme. Obviamente foram obtidas todas as autorizações necessárias e celebrados contratos para regular a utilização da imagem de Elis Regina, bem como a licença dos direitos autorais relacionados à sua obra musical.
A tecnologia de recriar digitalmente figuras históricas e personalidades já falecidas tem sido uma prática crescente no mundo publicitário, e o uso da Inteligência Artificial para esse fim pode gerar discussões éticas e morais. Entretanto, é fundamental compreender o contexto e as salvaguardas tomadas pelos envolvidos para assegurar o respeito aos direitos de personalidade e aos legados das figuras envolvidas.
O Conar, ao abrir a representação ética, busca analisar todas as nuances desse caso, levando em consideração as preocupações dos consumidores, os aspectos éticos da publicidade e a proteção dos direitos envolvidos. É papel desse órgão regulador avaliar se a campanha publicitária respeita as normas e os princípios éticos do Conar, garantindo que não haja exploração indevida da memória de personalidades históricas.
É necessário aguardar o julgamento do Conar para entender melhor os desdobramentos dessa polêmica. Enquanto isso, cabe ao público refletir sobre a responsabilidade das marcas ao utilizar a imagem de figuras já falecidas e à sociedade como um todo discutir as diretrizes que regem a utilização ética da Inteligência Artificial em contextos sensíveis, como o da publicidade.
Enfim, colegas e clientes me questionaram a minha opinião sobre esta representação. Eu, sinceramente, acredito que a campanha foi muito bem feita, sem nenhum dano causado aos consumidores. A trilha sonora é maravilhosa e a mensagem publicitária é muito bonita. Por isso, opino pelo arquivamento da representação.