Símbolo do Jus.com.br Jus.com.br

Inventário de bens: como fazer?

Agenda 20/11/2023 às 17:52

Este é um guia completo sobre inventário, que cobrirá todos os assuntos. O inventário é um processo complexo que envolve prazos, riscos, custos e tipos diferentes, com regras sobre herdeiros e distribuição da herança.

Sumário: 1. O que é inventário? 2. Prazo do inventário. 3. Riscos da falta de inventário. 4. Tipos de inventário. 5. Inventário judicial. 6. Inventário extrajudicial. 7. Inventário negativo. 8. Custos do inventário. 9. Quem paga os custos do inventário?. 10. ITCMD. 11. Como fazer o inventário. 12. Quem pode dar entrada no processo de inventário. 13. Tipos de herdeiros. 14. Todos os herdeiros precisam assinar o inventário?. 15. Ordem de vocação hereditária (distribuição da herança).


Introdução

O inventário surge da necessidade de formalizar a transferência dos bens de um falecido para seus herdeiros. Conforme disciplina o Direito brasileiro, quando um ente familiar morre e deixa patrimônio, todos os seus bens conquistados e adquiridos ao longo da vida formam um acervo, conhecido como herança. Esses bens são imediatamente transferidos para seus herdeiros, por meio da chamada sucessão.

Mas isso não significa que os herdeiros podem dispor dos bens de forma livre e imediata. É antes necessária a realização do chamado inventário: um procedimento que irá reunir todos os bens existentes, pagar eventuais dívidas do falecido, quitar impostos (ex. ITCMD) e custos da transferência para os herdeiros e, após o resultado final apurado, fazer a partilha (divisão) entre os beneficiários da herança.

No Brasil, existem duas formas de sucessão: a legítima e a testamentária. A sucessão legítima ocorre quando o falecido não deixa testamento ou quando o testamento é nulo ou revogado. Nesse caso, a herança é transmitida aos herdeiros legítimos, que são definidos pela lei.

A sucessão testamentária ocorre quando o falecido deixa testamento. O testamento é um ato praticado por uma pessoa em vida, cuja intenção é estabelecer qual será o destino de um bem quando vier a falecer.

Portanto, o objetivo deste artigo é apresentar ao leitor de forma ampla e simples o que pode juridicamente ser feito quando do falecimento de um familiar, descrevendo como fazer o inventário a depender de cada caso em específico. Também esclarecemos termos jurídicos e dúvidas comuns.


O que é inventário?

Como dito, o termo inventário se refere a um procedimento previsto em lei que tem como objetivo apurar e transferir o patrimônio de uma pessoa falecida para seus herdeiros. O inventário é obrigatório em todos os casos em que o falecido deixou bens, sejam eles móveis ou imóveis.


Objetivos do inventário

Os principais objetivos do inventário são:


Prazo do inventário

O inventário deverá ser iniciado em até 60 dias da data do falecimento. A ausência da sua abertura gerará multa de 10% a 20% sobre o valor que deve ser pago no imposto de transmissão causa mortis e doação (ITCMD). Este imposto será explicado mais abaixo.


Riscos da falta de inventário

A ausência de inventário pode implicar diversas consequências para os herdeiros. Dentre elas, vale ressaltar:


Tipos de inventário

Existem por lei dois tipos de inventário: o inventário judicial e o inventário extrajudicial. Além deles, existe a figura do inventário negativo, reconhecida por doutrina (estudiosos do direito) e jurisprudência (entendimentos dos Tribunais). 

Assine a nossa newsletter! Seja o primeiro a receber nossas novidades exclusivas e recentes diretamente em sua caixa de entrada.
Publique seus artigos

A escolha do tipo de inventário adequado dependerá da análise de cada caso em específico. É fundamental que sejam observados tanto os aspectos fáticos (realidade de cada família) quanto os critérios definidos em lei, doutrina e jurisprudência.


Inventário judicial

É aquele realizado no Poder Judiciário (Justiça). Ele é imprescindível quando houver conflito de interesses entre os herdeiros (desentendimentos), existir menor de idade ou pessoa incapaz (sem discernimento) e/ou quando o autor da herança (falecido) deixou testamento pendente de decisão judicial.


Inventário extrajudicial

Conhecido popularmente como inventário em cartório, é realizado em Cartório de Notas perante um tabelião, com a assistência de um advogado. É mais rápido e de menor custo, mas exige que os herdeiros sejam pessoas maiores, capazes e que não haja nenhum desacordo (contrariedade) sobre o acervo patrimonial e sua divisão na herança. Pode, inclusive, haver testamento, desde que tenha sido registrado em Juízo (Poder Judiciário) e haja uma autorização judicial. (Pode, inclusive, haver testamento, desde que tenha uma autorização judicial).


Inventário negativo

Representa uma modalidade que pode ser judicial ou extrajudicial, sendo utilizada quando o falecido não deixou bens a serem inventariados. Importante frisar que ele é facultativo (não obrigatório), porque o ente familiar falecido não deixou nenhum ativo (bens móveis ou imóveis).

Todavia, seu uso se justifica, por exemplo, quando um herdeiro está sendo processado por dívida deixada pelo falecido e precisa provar que não recebeu nada como herança e, portanto, não é obrigado a pagar pela dívida que não assumiu.


Custos do inventário

O valor do inventário pode variar de acordo com diversos fatores, como o tipo de inventário utilizado, o valor dos bens a serem partilhados, a complexidade da herança, a necessidade de contratação de outro profissional, além do advogado, entre outros. Em geral, os custos do inventário podem ser divididos em duas categorias:

Custos fixos

São aqueles necessários para o ingresso de inventário judicial, ou extrajudicial, ou ainda negativo, cujos pagamentos remuneram as atividades do Estado para a sua realização, como, por exemplo, pagamentos das custas do processo ou despesas pagas ao Cartório. 

Custos variáveis

São devidos conforme o valor dos bens a serem partilhados, assim como na avaliação dos bens, no registro dos imóveis, na transferência de veículos, entre outros.

No caso do inventário judicial, os custos incluem as custas processuais e os honorários advocatícios, além dos encargos (despesas) relativas ao patrimônio que está sendo inventariado.

Na hipótese de inventário extrajudicial, os custos incluem os emolumentos (despesas) devidos ao Cartório de Notas, os honorários advocatícios, além dos impostos que deverão ser pagos de acordo com o patrimônio que compõe a herança.

Quanto ao inventário negativo, a depender da via eleita (judicial ou extrajudicial), incidirão as mesmas despesas, exceto sobre o patrimônio (porque é inexistente).


Quem paga os custos do inventário?

Em geral, quem arca com os custos do inventário são os herdeiros. No entanto, existem casos em que o falecido pode deixar um testamento estabelecendo que os custos do inventário sejam arcados por um herdeiro específico ou por um terceiro.

É importante mencionar ainda que, caso os herdeiros não tenham condições de, no momento da morte, pagar o inventário, existe a possibilidade de viabilizar seu início. Para isso, podem utilizar o benefício da assistência judiciária e gratuita. E, posteriormente, pedir autorização judicial para vender um bem do falecido para pagar as despesas e tributos necessários, visando à transferência de propriedade dos bens que compõem a herança.


ITCMD

O ITCMD (Imposto de Transmissão Causa Mortis e Doação) é um imposto cobrado sobre a transmissão de bens e direitos por causa mortis (herança) ou doação. A alíquota do ITCMD varia de acordo com o estado da federação. Em geral, a alíquota do ITCMD é de 4% a 8% sobre o valor venal (estabelecido) dos bens transmitidos (ex. Rio de Janeiro é de 4%).

Portanto, o valor do inventário, como dito, exige a análise de vários elementos, variando de 10% a 20% do patrimônio recebido. Apesar do valor expressivo, vale ressaltar que nenhum herdeiro terá que arcar com os custos com recursos próprios. Com a partilha dos bens, cada qual abaterá da sua parte da herança os valores exigidos para receber sua nova propriedade.


Como fazer o inventário

Inicialmente, os herdeiros deverão ajustar a melhor forma para a realização do inventário, sendo muito importante o consenso de todos, o que seguramente o fará mais rápido e menos oneroso.

Portanto, contratar um advogado especialista e de confiança é o primeiro passo na direção certa. Esse profissional com conhecimento e sensibilidade indicará o melhor caminho e orientará todos da melhor maneira, inclusive quanto à documentação exigida.

Os principais documentos necessários para a realização de um inventário são:


Quem pode dar entrada no processo de inventário

A ação de inventário pode ser iniciada por uma série de pessoas ou entes. São eles:


Tipos de herdeiros

Os herdeiros legítimos dividem-se em herdeiros necessários e herdeiros facultativos.


Todos os herdeiros precisam assinar o inventário?

Em regra sim, porque, como dito, o inventário é um procedimento que formaliza a transferência dos bens do falecido para os herdeiros e as assinaturas o validam e garantem que todos concordam com a partilha dos bens.

No entanto, existem algumas exceções a essa regra. Por exemplo, se um dos herdeiros for menor ou incapaz, ele pode ser representado por um tutor ou curador. Nesse caso, a assinatura do tutor ou curador é suficiente para validar o inventário.


Ordem de vocação hereditária (distribuição da herança)

Importante ressaltar que a chamada ordem de vocação hereditária se refere aos critérios definidos por lei, que estabelecem como será feita a partilha dos bens do falecido, conforme a existência de herdeiros na família.

Significa dizer, então, que dependendo do caso nem todos herdarão, pois ao verificar o que a lei descreve, haverá a divisão do patrimônio em ordem de preferência de classes (ex. descendentes herdam igualmente), conforme exposto abaixo.


Conclusão

É fundamental que os herdeiros, após o falecimento de um ente familiar ou de alguém que realizou um testamento, procurem o quanto antes um advogado especializado para dar abertura ao processo de inventário. O advogado do inventário verificará todos os aspectos fáticos e jurídicos (o que aconteceu e o que deve ser feito) e apontará o melhor caminho a ser percorrido. O objetivo deve ser transferir a propriedade dos bens deixados pelo falecido aos seus herdeiros e beneficiários, da forma mais adequada (de acordo com a lei), célere (rápida) e com menor custo (mais barata).

Sobre o autor
Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

Publique seus artigos Compartilhe conhecimento e ganhe reconhecimento. É fácil e rápido!