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A busca por justiça na obra Deus e o diabo na terra do sol

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A busca por justiça leva os personagens da obra cinematográfica a um caminho de vingança, violência e fanatismo, influenciados pelas difíceis condições sociais e de ambiente retratadas.

Resumo: “Deus e o diabo na terra do sol” é um filme brasileiro do ano de 1964 dirigido e escrito por Glauber Rocha. O longa-metragem retrata as desventuras dos personagens Manoel e Rosa no sertão brasileiro no final da década de 1930, época e local marcados pelo banditismo, movimentos messiânicos, latifúndios e sede de justiça social. O objetivo desse artigo é demonstrar como a busca por justiça leva os personagens da obra cinematográfica a um caminho de vingança, violência e fanatismo, influenciados pelas difíceis condições sociais e de ambiente retratadas. Como resultados e discussões, é possível perceber que a narrativa do filme parte de uma situação de violação de preceito de justiça corretiva e contratual. Foi um profundo sentimento de aviltamento que levou o personagem Manoel a envolver-se em uma luta que termina em homicídio, obrigando-o a fugir, com sua esposa, Rosa, para uma comunidade religiosa de culto fanático. Os membros desse culto estão unidos ao redor de um líder carismático e profético, o Santo Sebastião, que promete a instituição de um reino de justiça social, onde os humildes teriam terra para lavrar. A situação de pobreza, seca e ausência do Estado retratada na obra reforça a autoridade desse líder messiânico. Ao mesmo tempo em que pregam a religião e a justiça, os cultistas praticam saques e assassinatos para purgar seus pecados e garantir o sustento da comunidade. O culto do Monte Santo desperta a ira das autoridades locais, que contratam um matador de aluguel, Antônio das Mortes, para assassinar o Santo Sebastião. O pistoleiro dizima todos os seguidores do profeta, mas o encontra já morto por outra pessoa, sendo perceptível que o próprio matador é movido por um sentimento de justiça individual. Manoel e Rosa tem seu caminho cruzado por um bandido, Corisco, que também se vê como injustiçado. Esse fora-da-lei reafirma uma guerra contra fazendeiros, políticos e policiais para consertar o sertão nordestino e se vingar da morte do seu colega de bando, o famoso Lampião. Percebe-se aí a representação do cangaço-vingança, onde os bandoleiros se posicionavam como corretores das injustiças sociais por meio da força, de saques, assassinatos e estupros. Manoel e Rosa se filiam a esse grupo violento, na persistente busca por justiça, promovida, desta vez, por um líder que não usa artifícios para camuflar suas ações violentas. A vingança como imperativo de justiça leva Corisco ao seu fim pelas mãos de Antônio das Mortes, mas sem se entregar jamais. Manoel é o único que escapa com vida. À guisa de considerações finais, percebe-se que o ideal de justiça é o que move toda a obra. A busca por justiça motiva os personagens a atos de vingança, cada um movido por sua percepção individual do que é justo. A luta por justiça social, necessária em um ambiente tão hostil, desempenha papel central para o enredo, movendo duas personagens importantes, Santo Sebastião e Corisco, Deus e o Diabo, a atos de grave injustiça na terra do sol.

Palavras-chave: Deus e o Diabo na Terra do Sol. Busca por Justiça Social. Justiça social e vingança social.


INTRODUÇÃO

O sertão brasileiro caracterizou-se, ao longo dos séculos, como região pobre e semiárida do país. Desde o início do processo de colonização, o Nordeste brasileiro foi marcado por conflitos sociais que tinham em comum a exploração do povo humilde por ricos latifundiários e as tentativas deste povo de quebrar o sistema, às vezes, com violência. Muitas obras de arte retrataram esses conflitos sociais nas mais variadas formas, como literatura, pintura, música e, claro, o cinema. Deus e o Diabo na Terra do Sol e o Diabo na Terra do Sol é um filme brasileiro de 1964 dirigido e escrito por Glauber Rocha. O longa retrata as desventuras dos personagens Manoel e Rosa no sertão nordestino no final da década de 1930, época e lugar marcados pelo banditismo, movimentos messiânicos, latifúndio e sede de justiça social.

Este trabalho tenta captar, através da arte, os marcantes conflitos sociais do interior de

Brasil, tendo como tema central a busca por justiça social para o povo do sertão nordestino por meio de movimentos que podem ser vistos como de vingança social, como o cangaço e os cultos messiânicos.

O artigo tem como objetivo demonstrar como a busca por justiça leva os personagens da obra cinematográfica em análise para um caminho de vingança, violência e fanatismo, influenciados pelas difíceis condições sociais e ambientais retratadas. Para alcançar esse objetivo geral, foi necessário, como objetivos específicos, apresentar o histórico e contexto político da obra retratada em decorrência de sua época; analisar os dois centros temas do trabalho, banditismo social e messianismo; e demonstrar como o messianismo e o banditismo social foram retratados no filme como instrumentos de promoção do bem-estar social e justiça individual. Para isso, utilizou-se, além do necessário contato com a obra cinematográfica da arte estudada, fontes bibliográficas (livros, ensaios, artigos) sobre os temas enfrentados no filme. Esta pesquisa permitiu estabelecer os conceitos básicos (messianismo, bandido social, vingança, justiça) que foram utilizadas para os resultados e discussões do processo de pesquisa.

Na primeira seção do artigo foram apresentadas notas de contextualização sobre o trabalho em debate e o momento social e político que o Brasil e o mundo atravessavam até o início da década de 1960. Além disso, o enredo do filme, seus personagens e conflitos são apresentados de forma sintética, tudo para dar ao leitor uma nota contextual importante sobre o assunto em discussão.

Na segunda seção deste artigo, os temas mais relevantes de Deus e o Diabo na Terra do Sol são construídos a partir de uma perspectiva sociológica e antropológica: messianismo e banditismo social. Destaca-se o movimento brasileiro conhecido como cangaço, caracterizada pela resistência violenta por parte de certos grupos às injustiças sociais que marcou o início do século XX no Nordeste brasileiro.

Na terceira seção deste artigo fica evidenciado como o trabalho cinematográfico representa os movimentos sociais do messianismo e do banditismo como instrumentos de vingança, ou de uma justiça particular ou pela justiça social generalizada - que leva ao cangaço como instrumento de vingança contra a sociedade, que perpetua a miséria.

Ao final, espera-se que o leitor tenha assimilado alguns das complexidades e muitas nuances presentes nos movimentos sociais populares que surgiram no Sertão brasileiro no passado. Este tema continua sendo um campo rico para discussões e questões sobre o papel do Estado, do Direito e da Justiça para as pessoas mais humildes e como podem combater situações de injustiça social. O filme “Deus e o Diabo na Terra do Sol” fornece uma representação artística historicamente importante de todas essas questões.

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“Tá contada a minha história, verdade, imaginação.

Eu espero que o sinhô tenha tirado uma lição:

que assim mal dividido esse mundo anda errado,

que a terra é do homem, não é de Deus nem do Diabo!”


ENREDO E CONTEXTO HISTÓRICO DA OBRA DEUS E O DIABO NA TERRA DO SOL

Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964) é uma obra cinematográfica do cineasta brasileiro Glauber Rocha que retrata as desventuras de Manoel e Rosa, nordestinos que, sobrevivendo à pobreza do Sertão brasileiro e à exploração dos menos favorecidos, acabam por se juntar a um grupo de cangaceiros em busca de vingança pelos seus anos de sofrimento e exploração.

Os versos lançados na epígrafe, escritos por Rocha, elucidam um dos objetivos centrais da obra: a dúvida e a mistura do que seria sagrado e satânico/certo e errado no cenário de extrema miséria demonstrada no sertão nordestino.


Resumo do enredo, personagens e conflitos

Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964) é visto como um marco do Cinema Novo brasileiro (BRAGA, 2001). Ambientado no sertão nordestino, o filme conta a história do sertanejo Manuel e sua esposa Rosa, que vivem miseravelmente em localidade imprecisa do Nordeste brasileiro (as locações se deram no estado da Bahia) e narra as desventuras pelas quais o casal passa, enfrentando dois fenômenos marcantes para a história do interior do Brasil no final do século XIX e início do século XX: o messianismo religioso e o banditismo social.

Logo nas primeiras cenas do filme, trata-se Manuel seguindo para a cidade com o propósito de apresentar um rebanho de vacas pertencentes ao Coronel Moraes para realizar uma divisão, já que a remuneração de Manuel por pastorear os animais seria a metade do rebanho. Durante o percurso, exatamente metade do gado morre e, ao chegar na cidade, o dito Coronel afirma que a metade das vacas mortas corresponderia aquela a que Manuel teria direito, negando-se a entregar qualquer animal ao vaqueiro como pagamento pelo seu trabalho. Diante disso, os dois discutem, vindo Manuel a perder o controle e apunhalar o Coronel, matando-o.

O casal Manuel e Rosa começa a vagar pelo sertão, fugindo da perseguição dos homens do Coronel morto. Em busca de um sentido para a vida, Manuel começa a integrar o grupo de seguidores de Sebastião, um beato que prega a liberdade e assegura que um dia, o sertão irá progredir. Rosa segue o marido, mas sem se envolver tanto com o grupo messiânico. Seguindo as orientações do beato, Manuel se torna vítima de diversas formas de violência física e mental, totalmente iludido e crente das promessas de Sebastião.

Inconformados com a proporção que o movimento messiânico do beato Sebastião estava tomando em busca da luta pelos direitos dos pobres e reforma agrária, os ruralistas da região e membros da Igreja contratam um matador de aluguel, de nome Antônio das Mortes, para perseguir e dizimar o beato e seus seguidores.

Durante um ritual religioso, Rosa é hostilizada e Sebastião é induzido a matar uma criança recém-nascida como sacrifício pedido pelo beato. Revoltada, Rosa mata Sebastião.

O casal novamente parte sertão adentro. Manuel e Rosa encontram pelo caminho Corisco, o líder de um dos grupos cangaceiros da região. O sertanejo, novamente na procura de uma direção, manifesta sua vontade de participar do bando. Corisco aceita e batiza o novo integrante de “Satanás”. O grupo segue praticando crimes pela região. A narrativa gira em torno do conflito de Manuel entre seguir Deus (o líder messiânico Sebastião) ou o Diabo (o cangaceiro Corisco).

Com a morte do beato por Rosa, o novo interesse de Antônio das Mortes é assassinar Corisco, que, por sua vez, acredita que o mesmo matou Lampião, a quem considerava como seu padrinho. Manuel percebe as atrocidades realizadas pelo grupo e decide abandonar de vez os cangaceiros, seguindo novamente com Rosa pelo sertão nordestino.

Corisco tem seu fim nas mãos de Antônio das Mortes, que o assassina à queima roupa. Enquanto agoniza, o cangaceiro profere suas últimas palavras: “mais fortes são os poderes do povo”.

No final da obra, Rosa e Manuel correm desesperados ao som de “o sertão vai virar mar”. Rosa chega a cair no meio do caminho, ficando para trás, mas Manuel segue sua corrida com a sensação de infinito. Logo que o casal se separa, uma onda de mar aparece em cena, demonstrando que Manuel será mais um dos retirantes que vai para o litoral em busca de uma vida melhor.

Um dos pontos de destaque da obra é o impacto que a aridez da seca causa nos personagens, quando, na cena inicial do filme, aparecem imagens do chão rachado do sertão seguida da imagem de uma carcaça bovina e do rosto desamparado do personagem principal. Esta sequência relaciona elementos importantes da pobreza da região nordestina brasileira e o que eles representam (a seca, a morte e a fome), adiantando que será aquela a história tratada em grande parte do enredo.

Ao longo de sua jornada, Manuel passa por diversos momentos complicados que o conduzem para incessantes mudanças de comportamento. O filme leva o espectador a perceber a miséria absoluta de Manuel, um vaqueiro sertanejo simples, que, por causa de um desentendimento com um coronel, acaba matando-o e começa uma fuga com Rosa, sua mulher.

Apesar de Manuel ser um personagem central na narrativa, o tom documental da obra faz com que Manuel tenha muito mais a função de observador. Ele segue o fluxo dos acontecimentos e está presente em momentos cruciais de uma espiral decadente que acaba simbolizando o nordeste brasileiro. O desespero do personagem diante dos fatos é perceptível e sentido.

Rosa percebe as dificuldades pelos quais os dois passam e sabe que mesmo que Manuel insista ser capaz de trocar duas vacas por um terreno próprio, isso não seria possível. A previsão de Rosa se torna realidade, e com a fuga dos dois a qualidade de observador de Manuel fica mais evidente.

O personagem de Sebastião simboliza o fundamentalismo religioso e a personificação de um ideal. Nem mesmo no grupo do beato o povo encontra a paz que procura, pois a esperança de se chegar a uma terra prometida, plena de paz, e o discurso do Beato, prometendo que os ricos ficarão pobres e os pobres, ricos, mostram-se controversa à prática dos seguidores de Sebastião, que chegam a realizar saques e espancamentos contra aqueles que não seguem o grupo.

Levado pelo comportamento coletivo, Manuel também se entrega à esperança que o Beato representa. Rosa, por outro lado, mantém-se com dúvidas quanto ao caminho trilhado pelo marido. Num dos pontos marcantes para a narrativa, Manuel testemunha e participa de um sacrifício humano, a morte de uma criança. O Beato Sebastião insiste que apenas pelo sangue dos inocentes os pecados serão expiados. O religioso vira assassino.

Em paralelo a esses eventos, o filme narra outra demonstração de violência motivada pela religião. A Igreja Católica Romana mostra-se preocupada com o movimento messiânico do Beato Sebastião, a ponto de encomendar a morte do líder religioso e do seu grupo ao assassino Antônio das Mortes. O matador de aluguel vai cumprir com sua incumbência, encontrado Manuel e Rosa na situação do sacrifício narrado anteriormente. Antônio das Mortes dizima os seguidores do Beato mas o encontra sem vida, morto pelas mãos de Rosa.

Deus e o Diabo na Terra do Sol de duas formas de resposta social ao descaso das autoridades, à desigualdade social, à concentração de terra que afetam as condições de vida dos sertanejos: o movimento messiânico e o cangaço, que representam, respectivamente, Deus e o Diabo.


Contexto histórico da obra

Gravado em 1963 em Monte Santo, região onde viveu e pregou Antônio Conselheiro no conhecido movimento de Canudos, o filme estreou nos cinemas três meses depois do movimento de tomada de poder no Brasil realizado por um golpe militar, em Abril de 1964. A temática do conflito pela terra e busca por reforma agrária provocaram impacto. A obra foi aclamada no Festival de Cannes e premiada em diversos outros festivais, como no Festival de Cinema Livre na Itália, em 1964 (BRAGA, 2001). Algum tempo depois, veio a ser censurada pelo regime antidemocrático que o Brasil estava vivendo.

Deus e o Diabo na Terra do Sol foi gravado durante a agitação política que o Brasil viveu entre 1963 para 1964, e lançado nesse país apenas em três cinemas do Rio de Janeiro-RJ, no dia 10 de julho de 1964. Suas primeiras sessões, privadas, foram realizadas meses antes da estreia nacional, já provocavam espanto nos convidados do jovem diretor, Glauber Rocha, que tinha seus 25 anos. (JUNIOR, 2013).

Apesar de ter estreado em um momento de convulsão política para o Brasil, o enredo da obra volta-se mais à identidade do brasileiro do que ao contexto político que o país vivenciava então. O filme traz como uma de suas referências a peça ateia-existencialista O Diabo e o Bom Deus”, de Jean-Paul Sartre, traçando uma profunda e inteligente análise sobre as relações entre religião e poder no sertão e sua relação com o uso da violência, a serviço de um, de outro ou de ambos. (XAVIER, 2002).

Glauber Rocha e o Cinema Novo

Na década de 1950, um grupo de jovens brasileiros começou a debater a ideia de um novo cinema nacio­nal, que construísse uma identidade político-cultural. Posteriormente, criou-se o movimento chamado Cinema Novo. O ponto de partida seria uma imersão na realidade sócio-político-cultural brasileira, da mesma forma que fez o movimento modernista cerca de trinta anos antes. (SIMONARD, 2003).

O Cinema Novo pode ser visto como uma ligação entre a revolução de uma esquerda contestadora nas décadas de 1910, 1920 e 1930 e o avanço crítico que o cinema nacional vem vivenciando desde a década de 1990. A cultura de resistência dos cineastas engajados com a política nacional garantiu um cinema brasileiro de qualidade nos anos 1960 e impactando a realidade do período de crise ideológica e política. (REINA, PEREIRA, 2017).

Glauber Rocha é considerado um nome de relevo no cinema brasileiro. Suas obras contribuíram para o desenvolvimento da linguagem cinematográfica do século XX e se destacou pelo discurso nunca antes exposto no cinema ou mesmo nas artes em geral do Brasil. Como um intelectual que trouxe à tona discussões sobre um cinema imitador e alienante praticado no Brasil, seu discurso possibilitou uma nova análise sobre o cinema nacional. A técnica utilizada refletia o pensamento de Rocha e os filmes estavam sempre apresentando um brasileiro inconformado com o extrativismo cultural do seu país. (JUNIOR, 2013).

O Cinema Novo criou uma nova aparência para a arte brasileira, tendo como foco um universo ambientado em sertão, favela, subúrbio, vilarejos do interior, dentre outros que estão presentes na filmografia nacional até hoje. O diálogo girava em torno de questões coletivas sobre lutas de classe, religião, política, anticolonialismo e a libertação do oprimido. A grande relevância do Cinema Novo foi mostrar as inúmeras possibilidades de se fazer e ver o cinema, sem partir de uma realidade importada, mas sim de uma realidade vivenciada.

Contexto político do Brasil em 1964

No ano de 1961, Jânio Quadros tomou posse como Presidente da República no Brasil. Pouco tempo depois, renunciou ao mandato na esperança de que pudesse aplicar um autogolpe, saindo para depois voltar ao poder por meio de um pedido da população, pedido este que somente aceitaria diante de uma proposta de poderes absolutos. Isso não funcionou, e seu vice-presidente, João Goulart, assumiu a presidência. João, mais conhecido como Jango, representava um ideário progressista relacionado a pautas de esquerda, e, por ser considerado uma ameaça, foi acusado pelos militares de ser comunista. (TOLEDO, 2004).

Os principais fatores que influenciaram e permitiram a ocorrência do Golpe Militar brasileiro em abril de 1964 foram a instabilidade política durante o governo de João Goulart, o alto custo de vida enfrentado pela população, a promessa de reformas de base como a reforma agrária, o medo que a classe média tinha da implementação do socialismo no Brasil e o apoio que os militares brasileiros receberam da Igreja Católica, dos setores conservadores, da classe média e dos Estados Unidos. (TOLEDO, 2004)

A conspiração contra o governo de João Goulart foi resultado do temor dos grupos conservadores com a ascensão dos movimentos sociais. A sociedade brasileira estava rachada ideologicamente entre direita e esquerda. Assim, em abril de 1964, o golpe foi, então, plenamente vitorioso.

As forças políticas vitoriosas por meio do movimento político-militar trataram, desde a primeira hora, de mostrar a que vinham: sustaram a democracia e desencadearam uma verdadeira razia política (suspensão de direitos políticos, cassação de mandatos, intervenção em sindicatos e outras organizações, invasão e depredação de sedes de uniões estudantis, perseguições, prisões, assassinatos, tortura). O regime ditatorial, sob o invólucro militar, procurou a legitimação do movimento autoproclamando-se “revolução”. (SEGATTO, 2014).

Inúmeras revistas acadêmicas e não acadêmicas, semanários e jornais difundiam correntes teóricas e ideológicas contra o golpe de 1964. O Cinema Novo colocou as camadas populares como protagonistas centrais de suas narrativas. Assim, os primeiros filmes de Glauber Rocha, por exemplo, se tornaram possíveis a partir desse novo contexto político e ideológico que se constituía no país. (TOLEDO, 2004).

Sobre os autores
Lissa Furtado Viana

Professora do curso de direito da Faculdade Anhanguera - Campus Juazeiro do Norte-CE. Advogada OAB/CE n46.143. Mestre em Direito Constitucional e Teoria Política pela UNIFOR (Conceito: CAPES 6). Especialista em Direito Constitucional (URCA) e especialista em Ciências Criminais (CERS). Bacharela em Direito pela Universidade Regional do Cariri (URCA). Pesquisa nos temas: direitos humanos, feminismo, tráfico de pessoas e migração, trabalho análogo à escravo e tecnologia aplicada ao direito; com artigos e capítulos de livros publicados.

Luan Victor de Souza Luna

Bacharel em Direito (UNIFap). Mestre em Direito Privado (PUC-MG). Membro da Associação Brasileira de Filosofia do Direito (ABRAFI) e da Academia Brasileira de Direito Civil (ABDC). Professor e advogado militante.︎

Como citar este texto (NBR 6023:2018 ABNT)

VIANA, Lissa Furtado; LUNA, Luan Victor Souza. A busca por justiça na obra Deus e o diabo na terra do sol. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 28, n. 7471, 15 dez. 2023. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/107647. Acesso em: 28 dez. 2024.

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