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A prosa jurídica em Machado de Assis

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Agenda 29/10/2024 às 13:59

[1]  O sociólogo Roger Batiste francês também considera que para Machado a paisagem  não pode funcionar como um mero enfeite, ela tem que ser personagem do  enredo, ter significação própria. A paisagem, na obra do escritor, está em toda  parte, mesmo onde não aparece à primeira vista: “está nos conflitos do homem,  no íntimo das almas”.

[2] Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908) é considerado o maior  nome da literatura brasileira de todos os tempos. Sua obra foi e ainda é objeto  de estudo dentro e fora do Brasil. Um dos temas mais relevantes acerca da  obra do escritor carioca é a questão da nacionalidade. Este assunto passou a  ser relevante, principalmente no Romantismo, época em que o Brasil deixou de  ser colonizado e sentiu a necessidade de se afirmar como pátria independente.

[3] Segundo romance de Machado de Assis, A mão e a luva, com base no novo conceito de “pessimismo galhofeiro”. O objetivo é argumentar que o narrador se apropria do pessimismo schopenhaueriano para fazer galhofa do suicídio romântico como tentativa de fugir da dor da vida. Reivindicamos que o romântico personagem Estêvão, ao sentir a “voluptuosidade da dor”, estabelece um horizonte próprio de discussão sobre o pessimismo oitocentista, com a pena da galhofa, numa simbiose entre o sério e o cômico.

[4] Lafayette Rodrigues Pereira, mais conhecido como Conselheiro Lafayette, foi um jurista, proprietário rural, advogado, jornalista, diplomata e político brasileiro. Foi primeiro-ministro do Brasil, de 24 de maio de 1883 a 6 de junho de 1884. Graduado em Filosofia pela Faculdade de São Paulo em 1857. Promotor Público em Ouro Preto; Senador pela Província de Minas Gerais (1879); Membro extraordinário do Conselho de Estado. Exerceu a Presidência do Ceará em 1868, Maranhão em 1869 e o cargo de Ministro da Justiça (1878-1880). Em 1883 acumulou a Presidência do Conselho e o cargo de Ministro da Fazenda. Seu programa baseou-se no combate ao déficit e à progressão dos empréstimos. Foi Ministro em Missão Especial (do Imperador); Árbitro nas relações europeias pela guerra do Pacífico, em 1885; Chefe da Delegação à Primeira Conferência Panamericana, em Washington, cargo que largou em 16 de novembro de 1889.

[5] A loucura é uma ilha perdida no oceano da razão. Machado de Assis. Trecho adaptado do conto O Alienista (1882)

[6] Ouça-me este conselho: em política, não se perdoa nem se esquece nada. Machado de Assis   Quincas Borba (1892).

[7] Na compreensão de Nietzsche, a origem dos conceitos morais aceitos na modernidade remonta à transvaloração ou transmutação dos valores. Inicialmente, determinou-se como “bom” aquilo que estava ligado ao nobre, aristocrático, espiritualmente bem-nascido, ao passo que o “ruim” designava a baixa estirpe dos plebeus . Com a transmutação conceitual posterior essa ordem foi invertida: através da revolta dos escravos judeus na moral, o “bom” passou a equivaler ao miserável, pobre, sofredor, necessitado. Desse modo ocorreu dentro da tradição judaica uma modificação de conceitos, pois houve uma inversão de valores com o início do cristianismo. Por conseguinte, esse grupo aboliu a moral dominante dos senhores e da nobreza, passando a exercer a moral escrava cristã e dos “homens do ressentimento”.

[8] Montaigne fez de sua vida o objeto específico dos Ensaios, estuda-se a si  mesmo. Revela seus sentimentos e idiossincrasias numa criação difícil de ser  classificada, pois, enquanto os filósofos hodiernos sentem pela falta de  sistematização e “certeza”, os críticos literários encontram uma orientação  demasiado filosófica .  Entretanto, além de ser considerado o criador  do gênero ensaio no Ocidente, gênero caracterizado pela “reflexão e beleza  estilística", Montaigne fez uso de outros procedimentos  considerados literários nos Ensaios, como a citação, a livre associação de  ideias, a narração de casos ou episódios e análise psicológica

[9] Afrânio Coutinho (1959) discute a formação filosófica de Machado de Assis,  apontando a filiação desse escritor a Pascal e a Montaigne. Sua reflexão sobre a constituição  de um espírito “clássico” em Machado é aproveitada neste trabalho para a realização de  algumas aproximações entre os Ensaios, de Michel de Montaigne, e as crônicas da série “Bons  dias!”, de Machado. Nesse intuito, são pensados os gêneros em que esses escritores  desenvolvem seus projetos de escrita: o ensaio e a crônica. Verificou-se que Montaigne se faz  presente de várias formas em “Bons dias!”, entre elas a confluência temática. Constatou-se,  também, que o papel de Montaigne na formação machadiana não se restringe à atitude  espiritual, passando necessariamente pela criação literária.

[10] A Operette morali é uma coletânea de vinte e quatro composições em prosa, divididas entre diálogos e contos de estilo médio e irônico, escritas entre 1824 e 1832 pelo poeta e estudioso Giacomo Leopardi. Eles foram finalmente publicados em Nápoles em 1835,[1] após duas edições intermediárias em 1827 e 1834. A Opereta é o local de pouso literário de quase todos os Zibaldone.  Os temas são os caros ao poeta: a relação do homem com a história, com seus pares e, em particular, com a Natureza, da qual Leopardi amadurece uma visão filosófica pessoal; a comparação entre os valores do passado e a situação estática e degenerada do presente; o poder das ilusões, da glória e do tédio. Esses temas são repropostos à luz da mudança radical ocorrida no coração do escritor: a razão não é mais um obstáculo à felicidade, mas a única ferramenta humana para escapar do desespero.

[11] Poeta e filósofo Leopardi escreveu artigos filosóficos, manifestos e poesias, como Pompeo in Egitto, L'appressamento della morte, Inno a Nettuno, e Le rimembranze. Uma de suas últimas obras foi a Operette morali, uma coleção de reflexões filosóficas escritas com ironia. Os principais temas das obras de Leopardi envolviam reflexões profundas sobre a existência humana, patriotismo e amor não correspondido, sendo ele um dos precursores do Existencialismo.

[12] Francesco De Sanctis foi um crítico literário, intelectual, escritor, historiador, filósofo e político italiano. É geralmente considerado como o mais importante especialista da língua italiana do século XIX. Foi ministro da instrução pública por várias ocasiões.

[13] Arthur Schopenhauer foi um filósofo alemão do século XIX. Ele é mais conhecido pela sua obra principal "O Mundo como Vontade e Representação", em que ele caracteriza o mundo fenomenal como o produto de uma cega, insaciável e maligna vontade metafísica.

[14] No Rio de Janeiro, lecionou filosofia no Colégio Pedro II entre 1881 e 1910. Estava entre os intelectuais que fundaram a Academia Brasileira de Letras (ABL), em 1897. Um ativo polemista, contribuiu de modo significativo para que a Escola do Recife — denominação que lhe deve ser atribuída — viesse a ser conhecida em todo o país. Em 1882 publicou a Introdução à História da Literatura Brasileira, atualmente em edição de cinco volumes. Com o livro Últimos Harpejos, em 1883, sua carreira de poeta se encerra. Como resultado de pesquisas sobre o folclore brasileiro escreveu O elemento popular na literatura do Brasil e Cantos populares do Brasil, tendo realizado para este, em 1883, uma viagem a Lisboa a fim de publicá-lo. Em 1888 foi publicada a História da Literatura Brasileira em 2 volumes. Em 1891 produziu artigos sobre ensino para o jornal carioca Diário de Notícias, dirigido por Rui Barbosa. No mesmo ano, foi nomeado membro do Conselho de Instrução Superior por Benjamim Constant.

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[15] Madame Bovary conta a história de Emma, uma moça criada no campo mas com sonhos burgueses. Inspirada pelo que lê nos livros, Emma quer uma vida melhor, cheia de mimos e coisas que só os ricos podem comprar. Pensando que poderá alcançar o que tanto quer, Emma casa com Charles Bovary, um médico também do interior.

[16] Essa obra retrata a história do casal Jorge e Luísa, pertencentes à burguesia portuguesa do século XIX. A trama passa-se em Lisboa, na capital portuguesa. Jorge, marido de Luísa, vai viajar a trabalho e ela recebe a visita de seu primo Basílio. Nesse ínterim, eles que já tiveram uma relação anterior, acabam por consumar o desejo latente. Vale notar que a relação de Jorge e Luísa estava mais baseada no interesse, uma vez que, de fato, eles não viviam uma vida feliz juntos. Jorge era um excelente marido que sempre estava preocupado em agradar sua bela esposa. Lhe dava diversos presentes e sempre estava disposto a lhe oferecer conforto. No Primo Basílio, Eça de Queirós faz um panorama da sociedade portuguesa da época. Suas críticas sociais à burguesia e aos atos humanos são expostas, por exemplo, na análise psicológica de seus personagens, dos estereótipos e de seus comportamentos. A obra está dividida em 16 capítulos. Temas como o adultério, a hipocrisia, o caráter, a mediocridade e os valores morais são as principais características do romance realista-naturalista português.

[17] A razão não é suficiente a si mesma, ela tem limites, e Pascal reconhece esses limites. Estabelece que a ética, a vida social e a religião é que definem o mundo humano real e esse mundo real em grande parte foge das possibilidades da razão. O conhecimento científico é independente dos conhecimentos da fé que são imutáveis, a fé nos faz dizer creio, e a ciência, sei. O conhecimento científico para ter credibilidade tem que estar baseado em um método, mas nenhum método é capaz de nos dar uma verdade científica completa. Pascal acreditava que uma das prioridades do nosso pensamento é pensar a nós próprios e não somente as coisas exteriores a nós. A tarefa principal do homem é conhecer a si mesmo, mas para cumprir esse empreendimento a razão não nos pode ajudar muito, pois ela é fraca, desnecessária e imprecisa e cai constantemente na fantasia, no sentimentalismo e no hábito. Para conhecer-nos o melhor caminho é o do coração.

[18] Blaise Pascal (Clermont-Ferrand, 19 de junho de 1623 – Paris, 19 de agosto de 1662) foi um matemático, escritor, físico, inventor, filósofo e teólogo francês. Prodígio, Pascal foi educado por seu pai. Os primeiros trabalhos de Pascal dizem respeito às ciências naturais e ciências aplicadas. Contribuiu significativamente para o estudo dos fluidos. Ele esclareceu os conceitos de pressão atmosférica e vácuo, estendendo o trabalho de Evangelista Torricelli. Pascal escreveu textos importantes sobre o método científico. Na literatura, Pascal é considerado um dos autores mais importantes do período clássico francês e é lido hoje como um dos maiores mestres da prosa francesa. Seu uso da sátira e do humor influenciou polemistas posteriores. O conteúdo de sua obra literária é mais lembrado por sua forte oposição ao racionalismo de René Descartes e a afirmação simultânea que a principal filosofia de compensação, o empirismo, também era insuficiente para determinar verdades importantes. Na filosofia, a influência de Pascal foi ampla, influenciando grande parte dos filósofos franceses subsequentes. Para além dos franceses, destacamos autores como Friedrich Nietzsche e Søren Kierkegaard, filósofos influenciados por Pascal.

[19] “Há mais coisas no céu e na terra do que sonha nossa filosofia”, disse Hamlet para seu amigo Horácio. Intimamente, poderia ser o personagem Vilela avisando para Camilo seu destino, ao final deste  conto de Machado de Assis. A escolha pela complexa intertextualidade com Hamlet, pontos de convergência com a obra famosa de Shakespeare, não se valem necessariamente pelos paralelismos ou referências. Numa interpretação mais pessoal, sem apelar para uma crítica com fervores acadêmicos, a correlação das obras se vale pela inversão dramática, pelo tão aclamado realismo de Machado que com sua literatura torna a moral a religião de uma sociedade mais viva que nunca. A verdade de “A Cartomante” é a ironia fervilhante que Assis torna a frase de Hamlet para Horácio em uma ameaça, tornando a parte “coisas na terra” como algo ainda mais relevante. Porque o suspense e a vingança vão além da filosofia, mas no caso de Camilo, as coisas do céu se tornaram mais próximas de sua filosofia como alívio da sua moralidade confrontada. Entre cartas, três ou quatro anônimas, e as da cartomante, Camilo vai do realismo ilógico ao romance lógico do leitor, uma verdadeira febre que Assis abaixa para escorrer sangue frio. Por isso o inverso de Hamlet, em que o corpo frio traz a crença que revela, enquanto em “A Cartomante” o corpo frio é o esconderijo da imoralidade da crença que esconde.

[20] Entre o pensamento religioso e a prática capitalista, no mundo moderno, e a escrita irônica de Machado de Assis, no romance Dom Casmurro. Se Karl Marx, em Sobre a questão judaica, identificou  a propagação do pensamento reificado do judaísmo pelas relações político-econômicas do mundo capitalista, Machado de Assis mostrou como o pensamento burguês do protagonista do romance citado se manifesta nos momentos em que ele trata da imagem de Deus e das próprias práticas religiosas.

[21] A palavra ceticismo vem do grego “sképsis” que significa “exame, investigação”. Atualmente, a palavra designa aquelas pessoas que duvidam de tudo e não acreditam em nada. Podemos afirmar que o ceticismo: defende que a felicidade consiste em não julgar coisa alguma; mantém uma postura de neutral em todas as questões; questiona tudo o que lhe é apresentado; não admite a existência de dogmas, fenômenos religiosos ou metafísicos. Portanto, se estivermos dispostos a aceitá-lo, alcançaremos a afasia, que consiste em não emitir opiniões sobre qualquer tema. Em seguida, entramos no estado de ataraxia (despreocupação) e somente assim, poderemos viver a felicidade.

[22]  Matamos o tempo, o tempo nos enterra. Machado de Assis  Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881).

[23] Foram encontradas semelhanças entre a filosofia Schopenhauriana e o pensamento pessimista apresentado por Machado de Assis na figura da personagem Brás Cubas. Uma personagem pessimista como esta nada mais é do que a personificação da ideia proposta por Schopenhauer. Além disso, a obra também oferece outros conceitos do filósofo, como miséria, esperança, vontade e, sobretudo, a vida sem outra possibilidade além do sofrimento. A literatura machadiana constitui fonte de pesquisa para as mais profundas filosofias, uma vez que nela constatamos um trânsito da mitologia ao existencialismo e aspectos claros dos pensamentos acerca do Ser e sua vivência na circumundaneidade. Em Machado de Assis é possível corroborar esse entendimento de Schopenhauer acerca da moralidade ao se encontrar personagens egoístas, maldosos e alguns poucos compassivos. Dentre os egoístas, talvez o representante mais significativo seja Brás Cubas, de Memórias Póstumas de Brás Cubas, guiado constantemente por seu amor pela glória, sem se deixar afetar pelos sofrimentos morais.

[24] Em "Memorial de Aires" também é possível encontrar personagens cujo caráter virtuoso é ressaltado pelo narrador. D. Carmo é exemplo de pessoa amorosa, totalmente dedicada ao bem-estar de seus filhos postiços, Tristão e Fidélia. Ao mesmo tempo, os personagens de Memorial de Aires são caracterizados pela ausência das contradições morais, o que os distingue substancialmente dos personagens de Quincas Borba, nos quais é possível identificar uma visão crítica sobre o ser humano enquanto sujeito moral egoísta e auto-interessado. Lá, ao referir-se ao Palha, o narrador o descreve como uma “colcha de retalhos”, além de afirmar que “moralmente as colchas inteiriças são tão raras”.

 

[25] Curiosidades sobre Machado: Machado de Assis, considerado o maior escritor brasileiro, guarda algumas curiosidades. Acompanhe: morreu de depressão aos 69 anos; era epilético e gago; tinha baixa autoestima, na infância, em função de sua ascendência negra; sofreu preconceito racial; escreveu mais de 600 crônicas, que são um retrato do Rio de Janeiro no século XIX; ganhou terceiro lugar no primeiro campeonato brasileiro de xadrez; ficou 35 anos casado com Carolina Augusta Xavier de Novais, sua grande companheira.

[26] Tendo em vista as circunstâncias históricas peculiares de sua produção literária, isto é, o período de transição da Monarquia para a República, no Brasil, ao final do século XIX. Aliado a esse ponto, busca-se, concomitantemente, pensar de que modo a presença da religião, na obra, contribui para a sua eficácia estética e também para os questionamentos e reflexões levantados pelo autor em relação à história e à realidade brasileiras. Mesmo que não apresente os elementos tradicionais do romance histórico europeu, o romance de Machado de Assis permite uma profunda análise do movimento da história nacional, revelando as singularidades históricas a partir da revelação dos nexos entre acontecimentos públicos e a experiência individual da realidade nacional, sobretudo pelo entrelaçamento entre o elemento humano e a história, trespassados pelo fio da religião, aqui entendido como fator determinante para a configuração da narrativa e da experiência histórica que ela revela.

[27] Machado de Assis falava francês, inglês e latim fluentemente. O francês, dizem, ele aprendeu com um padeiro imigrante; já o latim teria sido ensinado a ele por um padre. Sendo assim, além de escrever, ele também traduzia muitos livros. Se, no leito de morte, Machado de Assis recusou a presença de um padre, alegando não professar religião alguma, foi, no entanto, a um padre Silveira Sarmento (que o iniciou nas letras e no latim), que dedicou alguns dos poemas de seu primeiro livro ("Crisálidas").

[28] Era epilético e apresentava sinais de gagueira, o que contribuiu para formação de sua personalidade insegura e reclusa. Além disso, Machado de Assis, por ser mulato, enfrentou muito preconceito para conseguir reconhecimento. Com a morte da esposa, Machado entrou em profunda depressão. Numa carta ao amigo Joaquim Nabuco, ele lamenta: “foi-se a melhor parte da minha vida, e aqui estou só no mundo”.

[29] Quem popularizou esse epíteto foi Carlos Drummond de Andrade com o poema “A um Bruxo, com Amor”. O trabalho faz parte de Machado, a Cidade e seus Pecados e marca uma reavaliação do posicionamento de Drummond em relação a Machado de Assis, reconhecendo-o como um dos nossos maiores mestres. O poema foi publicado originalmente no Correio da Manhã em 1958. Embora muitos tenham atribuído a criação de epíteto a Drummond, o próprio poeta esclareceu que não cabe a ele a autoria do termo, conforme escreveu em uma crônica publicada em 1964 no mesmo Correio da Manhã: “Devo reconhecer (…) que não me cabe a paternidade da apelação ‘bruxo do Cosme Velho’, dada a Machado de Assis”. Ele nem mesmo foi o primeiro escritor a utilizar o apelido, já que o poeta gaúcho Augusto Meyer já havia feito isso. Outro gaúcho, o crítico literário Moysés Vellinho também já o tinha chamado de bruxo.

[30] Religiosamente, casou-se na igreja católica, à qual, na infância, serviu como sacristão. No entanto, a reputação de cético, agnóstico ou mesmo materialista (que ele sempre negou) o acompanhou ao longo da vida.

[31] O medo é um preconceito dos nervos. E um preconceito, desfaz-se; basta a simples reflexão. Machado de Assis  Helena (1876).

[32] Epitácio Lindolfo da Silva Pessoa foi um magistrado, diplomata, professor universitário, jurista e político brasileiro, filiado ao Partido Republicano Mineiro. Foi Presidente da República entre os anos de 1919 a 1922.Levi Carneiro, no "Livro de um Advogado", assinala que Epitácio Pessoa nunca foi voto vencido nos processos em que foi relator. Em 1912, elege-se senador pela Paraíba. Depois foi para a Europa e lá viveu até 1914. Retornou ao Brasil nesse ano e, logo após a morte de Pinheiro Machado, destacou-se no Congresso ao assumir o cargo de relator da Comissão de Verificação de Poderes. Com o fim da Primeira Guerra Mundial, chefiou a delegação do Brasil na Conferência de Paz de Versalhes, em 1919. Rui Barbosa, indicado chefe da delegação, renunciou, sendo substituído por Epitácio. A delegação brasileira, apoiada pelos Estados Unidos, obteve bons resultados quanto aos problemas que mais de perto interessavam ao Brasil: a venda do café brasileiro armazenado em portos europeus e os 70 navios alemães apreendidos pelo Brasil durante a guerra. Em 15 de novembro de 1898, Epitácio Pessoa, então com 33 anos de idade, é nomeado Ministro da Justiça e dos Negócios Interiores pelo Presidente Campos Sales. Ficaria no cargo até 1901. Logo depois, seria indicado ministro do Supremo Tribunal Federal. A Justiça era, naquela altura, um superministério, cujas atribuições abarcavam, para além dos habituais temas jurídicos e legislativos, toda a área de saúde e educação nacionais. Ao chegar no Ministério da Indústria, Viação e Obras Públicas, Epitácio encontrou, como secretário ministerial, ninguém menos do que Joaquim Maria Machado de Assis. O Bruxo do Cosme Velho já era um intelectual sexagenário que trazia no currículo os êxitos literários de Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881), Quincas Borba (1891) e Dom Casmurro (1899). A nova rotina era puxada: Epitácio costumava, pela manhã, dar expediente no Ministério da Justiça, onde dava conta de pautas como o projeto de novo código civil, a reforma do ensino e o combate à peste bubônica. À tarde, seguia para o Ministério da Indústria, onde o secretário Machado de Assis lhe fazia minuciosas exposições sobre cada tema da pasta, apresentando-lhe, em seguida, minutas literárias dos despachos. O hiperativo paraibano, veraneando em Petrópolis para fugir do infernal calor carioca, desde logo não se deu muito bem com o temperamento de Machado de Assis, demasiado meticuloso, reservado e cerimonioso. Enfadado, Epitácio queria sempre apressar e abreviar as exposições machadianas daquela interinidade, a fim de adiantar o serviço e não perder a barca que o levaria até a estação ferroviária de onde pegaria o comboio para Petrópolis. Algumas vezes perdeu a segunda barca, só tomando a terceira e chegando à residência pretropolitana já tarde da noite.

[33] Epitácio Lindolfo da Silva Pessoa(Umbuzeiro, 23 de maio de 1865 – Petrópolis, 13 de fevereiro de 1942) foi um magistrado, diplomata, professor universitário, jurista e político brasileiro, filiado ao Partido Republicano Mineiro. Foi Presidente da República entre os anos de 1919 aie3 1922. Seu governo foi marcado por revoltas militares que acabariam na Revolução de 1930, a qual levou Getúlio Vargas ao governo central. Anteriormente, foi deputado federal em duas oportunidades, ministro da Justiça, do Supremo Tribunal Federal, procurador-geral da República, senador três vezes, chefe da delegação brasileira junto à Conferência de Versalhes e juiz da então Corte Permanente de Justiça Internacional.

[34] Raymundo Magalhães Júnior Jornalista e biógrafo, nasceu no Ceará em 1907 e faleceu no Rio de Janeiro em 1981. Ingressou na Academia Brasileira de Letras em agosto de 1956, ocupando a Cadeira no 34, sucedendo a D. Aquino

Correia

[35] Existem palavras racistas na língua portuguesa. O que só reforça o racismo também é refletido nos aspectos culturais e linguísticos, como expressões e palavras com base discriminatórias  que se difundiram com os anos. Eis exemplos são palavras que se utilizam do termo “negro” para referir-se a algo negativo ou que têm origem nos ideais escravagistas, como: Denegrir; Lista negra; Mercado negro; Criado-mudo: tem origem nas pessoas escravizadas, que eram obrigadas a segurar objetos por horas sem fazer barulhos; Mulato: sua origem, da língua espanhola, refere-se ao cruzamento entre um cavalo e uma mula; "Meia tigela": tem origem nos negros escravizados que não conseguiam alcançar objetivos de trabalho e só recebiam meia tigela de comida; Macumba: termo pejorativo para religiões de matriz africana,  "escurinho", neguinho e, etc. Nas pesquisas do Censo feitas pelo IBGE, é apresentada uma relação com as cinco nomenclaturas utilizadas e as pessoas precisam indicar a qual cor pertencem. Segundo Petruccelli, cada pessoa tem liberdade para dizer a sua classificação. Ele explica que pretos normalmente são as pessoas que se enxergam com a cor mais escura. Mas em relação aos pardos não há consenso. “Normalmente são as pessoas que se classificam como ‘morenas’ ou ‘mulatas’, mas isso depende na região”, afirma. O pesquisador diz ainda que nas regiões Sul e Sudeste, a população que se declara parda normalmente é de origem africana. Porém, no Norte, muitos pardos são, na verdade, descendentes de indígenas. Ele ainda conta uma história curiosa sobre a situação no Distrito Federal. “A população local, por mais branca que seja a sua pele, se classifica como parda porque vê os brancos como os funcionários públicos que vieram de fora”. De acordo com o pesquisador do IBGE, a presença de pretos é menor no Brasil, por isso existe a tendência em reunir pardos e pretos em um grupo de negros.

[36] A guisa de esclarecimento, a classificação do IBGE estabelece que, além dos pardos, há outros quatro grupos étnicos compõem a população brasileira. São eles: Negros, Brancos, Indígenas e Amarelos.

Sobre a autora
Gisele Leite

Gisele Leite, professora universitária há quatro décadas. Mestre e Doutora em Direito. Mestre em Filosofia. Pesquisadora-Chefe do Instituto Nacional de Pesquisas Jurídicas. Possui 29 obras jurídicas publicadas. Articulista e colunista dos sites e das revistas jurídicas como Jurid, Portal Investidura, Lex Magister, Revista Síntese, Revista Jures, JusBrasil e Jus.com.br, Editora Plenum e Ucho.Info.

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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