Muitos são os mitos criados sobre o Bullying. A expressão, que delimita uma parte da violência escolar, além de estrangeira (diferente para nós), é, de certa forma, recente.
De origem inglesa, o Bullying (do verbo to bully, que significa "ameaçar, amedrontar, intimidar") representa tanto a violência escolar física como a verbal. Não se trata de fenômeno inédito (ora, violência no âmbito escolar sempre existiu!), a diferença é que apenas recentemente a prática passou a ser estudada com maior afinco [01], resultando em pesquisas internacionais e nacionais.
São estudos e pesquisas que desmistificam muitas falácias populares. Como, por exemplo, a ideia mais errônea e corriqueira: "Os Estados Unidos é o país que mais contém vítimas de Bullying". Errado!
Embora sejam os Estados Unidos os principais responsáveis pela epidemia de ataques às escolas na década de 90 (com destaque especial para o "massacre em Columbine"), bem como os maiores produtores de filmes, séries e propagandas que evidenciam o Bullying, não é ele o país com maior número de vítimas deste fenômeno, tão pouco com maior número de Bullies (ou seja, de agressores).
Foi o que revelou a pesquisa internacional realizada pela OECD - Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (entre crianças e adolescentes de 11 a 15 anos), divulgada em 29/04/09.
Surpreendentemente, é a Turquia que se destaca em 1º lugar no ranking mundial de países com maior número de vítimas, (28,7% dos alunos disseram sofrer Bullying), enquanto que a Grécia ocupa também a 1ª colocação mundial, mas no que diz respeito ao número de bullies (28,3% dos estudantes assumiram que praticam esta agressão escolar).
São índices elevadíssimos, quando comparados com a média mundial: 12,1% entre os meninos e, 9,8% entre as meninas (faixa etária pesquisada: de 11 a 15 anos).
Os próprios Estados Unidos, na 10ª posição do ranking, não obtiveram índices tão acentuados como a Turquia e a Grécia, assemelhando-se à média mundial, ou seja, 14,4% de seus alunos foram vítimas de Bullying e 12,3% assumiram ser Bullies.
Além desse, outros mitos são costumeiros, como a falsa impressão do local onde o Bullying é mais frequente. Não, o assédio escolar não ocorre preponderantemente em corredores ou áreas com supervisão adulta mínima ou inexistente.
Os dados da pesquisa nacional, ONG PLAN 2009 demonstram que as práticas do Bullying acontecem justamente nos locais mais visíveis a docentes e funcionários da escola, exatamente onde tais autoridades deveriam ser mais eficientes: salas de aula e pátio.
Isto mesmo, o estudo esclareceu que 21,5% das agressões ocorrem dentro da sala de aula e 7,9% no pátio dos colégios. Já os espaços de pouca visibilidade, como os banheiros e corredores, são pouco citados, cerca de 1,5% e 5,3%, respectivamente. Justamente o oposto do que se acreditava.
Daí a necessidade, a importância de pesquisas e estudos sobre o tema. São dados e esclarecimentos como estes que contribuem para uma melhor compreensão sobre o fenômeno Bullying e a gravidade desta agressão escolar.
De outra forma, o tema é banalizado, chegando às mais infelizes conclusões: "Bullying é brincadeira de criança/adolescente, não passa de uma grande bobagem". Cuidado, não é!
Recente estudo americano constatou que 87% dos ataques e tiroteios em escolas no mundo (foram analisados os 66 casos entre 1966 a 2011) tiveram como causa o Bullying (matéria divulgada pelo Jornal Estado de São Paulo, em 16/04/11).
Ou seja, de brincadeira o Bullying não tem nada. Este fenômeno é sério, grave e exige a atenção e planos de ação da sociedade como um todo. Mãos à obra, desmitificar é só o começo.
Nota
- Conforme esclarece o relatório da Unesco sobre "Violência nas escolas: "As pesquisas sobre Bullying são recentes e ganharam destaque a partir dos anos 1990, principalmente com Olweus, 1993; Smith & Sharp, 1994; Ross, 1996; Rigby, 1996".