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Areté: a busca da excelência

A Areté traz uma visão mais moderna ou até extremista da concepção o homem médio, tão requisitado em códigos e leis nacionais como patamar de referência para a aplicação da lei.

SUMÁRIO: 1 Introdução; 2 Areté e a educação; 3 Relação nobreza e Areté; 4 Areté: separação entre o corpo e alma; 5 Conclusão

RESUMO

O presente artigo objetiva tratar acerca das perspectivas de interpretação de um homem com Areté. Demonstrando em um lapso temporal e ideológico as vertentes e os significados que uma mesma palavra alcançou para representar uma ideal de homem. O sujeito excelente. Busca-se na visão grega principalmente, trazer a baila o assunto proposto, focando a questão da educação, a sua a nobreza e a alma do indivíduo como pontos decisivos para conceituar o objeto de estudo do presente artigo, o homem com Areté, a excelência.

Palavras chaves: excelência, educação, transformação, nobreza, alma.


1 INTRODUÇÃO

Dentro de uma perspectiva filosófica do Direito, na raiz do seu conhecimento, do seu estudo, uma palavra surge como sinônimo de um homem excelente, aquele que deve ser seguido pela sociedade, o homem com a Areté, ou em uma visão mais moderna ou até extremista da concepção o homem médio tão requisitado em códigos e leis nacionais como patamar de referência para a aplicação da lei. Logo, entender o que significa Areté torna-se necessário para uma possível compreensão da ideia de mediania, ou ao menos, a simples noção da ideia por traz deste simples termo, mas repleto se significados.

Tentando trazer para os nossos tempos a palavra Areté, a mesma assume o significado de virtude, (BARROS, 2007.p.1) ou mesmo pode assumir a ideia de ponto máximo de aperfeiçoamento que um ser pode alcançar sua excelência, finalidade última e essencial (TSURUDA, 2007.p.1), não só dos indivíduos mais como também dos seres vivos em geral além dos deuses (JAEGER, 2001.p.26). Também representa a Areté o entendimento de Homero, no qual considera como sendo as qualidades espirituais e morais do indivíduo, sua força e destreza, o seu heroísmo onde a moral e força se interagem. (Ibid.p.27)

Citações estas típicas do pensamento grego acerca da Areté, mas que foram se modificando, alterando-se ao longo do tempo sempre se moldando de acordo com mutações sociais bem como do pensamento intelectual da sociedade.

Neste caso, vale observar, tais mudanças e fazer um aponte sobre a mesma para que assim se busque uma resposta acerca do verdadeiro significado da palavra Areté.


2 ARETÉ E A EDUCAÇÃO

Até o início do século V, Areté é apontada como sendo uma forma de educação, que seria dada apenas aos nobres, trazendo consigo a ideia de um homem guerreiro, pronto para toda e qualquer batalha e capaz de intervir no meio político e social, fazendo de tudo para deixarem os seus feitos ao longo da história, tudo sem deixar de ser um homem eticamente justo como dizia Platão em seu livro a República.

Uma educação voltada para a formação de um homem cidadão, que possui um amor pelo saber (PILETTI, C; PILETTI, N., 2001 p.58) a sabedoria e o poder teriam que ser alcançados por aqueles que eram livres (PILETTI, C; PILETTI, N. 2001, p.59) onde a razão deveria ser superior aos desejos e as paixões. Dentro do mundo dos espartanos a perfeição física junto à coragem era a principal parte da educação imposta aos gregos daquela região sem deixar de lembrar da obediência às leis, tudo para se chegar ao homem perfeito, o ideal de guerreiro, um soldado ideal (Ibid.p.60). Para os atenienses, no entanto o corpo deveria ser tão importante como à razão, ambos deveriam ser exercitados devendo assim o ateniense participar da escola de música e da de ginástica.

Todos estes aspectos estão muito bem representados nos poemas de Homero "Ilíada e Odisséia" que serviam como base para toda a formação educacional daquela época. Os heróis deveriam seguir os modelos de seus personagens como Telêmaco, Ulisses, Aquiles entre outros seguindo assim as suas características respectivas, a educação, a sagacidade, a agilidade atlética entre outros.

Com os sofistas, tem-se uma ruptura com as ideias de homem postas por Homero. Os deuses não deveriam ser mais o centro de tudo, e os homens passam a ocupar um lugar de destaque (BITTAR, 2007, P.73) e Apolítico, passa a ser o ponto de alvo dos nobres ficando assim os sofistas encarregados de ensinar, àqueles que queiram um dia assumir o governo, os saberes do mundo e a oratória (JAERER, 2001, p.340-341). Elementos que passam a ser a composição de um homem com Areté, aquele que tem conhecimentos e sabe se expressar bem.

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Já na visão de pensadores como Platão e Aristóteles têm as seguintes percepções de homem com Areté: para Platão, é aquele que é filósofo, o que possui o conhecimento, é o justo, não se deixando levar pelos prazeres (DIAS, 2007, p.6). Já para Aristóteles o homem não basta ser nobre, ter uma boa situação social, tem que saber fazer suas escolhas, pois é nisto que está à virtude do homem, o saber usar o meio termo entre as ações e as paixões (DIAS, 2007, p.13).


3 RELAÇÃO NOBREZA E ARETÉ:

A visãogrega de Areté estava diretamente voltada a educação que por sua vez é proporcional a nobreza. Moviam-se sobre o ideal de guerreiro imposto pelos poemas de Homero do período arcaico da Grécia, no qual existia o temor da vergonha (o fim do prestígio, perda da honra, o ridículo) e a necessidade pela superioridade (vitórias em batalha e em competições) (DIAS, 2007, p.2), tal postura de guerreiro, conquistador e vitorioso representaria, segundo a percepção grega, a postura ética, excelente do homem nobre.

Visão que condicionava a ideia de Areté a laços de família, laços de sangue (CHAUI, 2002, p.156) no qual somente os nobres poderiam tê-la, quem não pertencesse àquele mundo não poderia possuir valores (BARROS, 2007, p.2) estavam fora da definição de qualidades.

Seguindo o transcurso histórico grego, do período arcaico até o período clássico da história grega, é perceptível a mudança da formação social. Os jogos atléticos até então de exclusividade dos nobres, o ponto de destaque para a Areté, passou a ser também praticado por pessoas do povo, com a exceção de alguns exportes (BARROS, 2007, p.4) o homem guerreiro não mais seria apenas o nobre. .

O surgimento da polis completa as mudanças sociais e de percepção acerca da Areté. O indivíduo perde espaço para o cidadão, a sociedade passa a ser composta por cidadãos, no entanto este ainda se sente discriminado, pois, apesar de possuir diversas qualidades, a mentalidade da época ainda se voltava para ideia de que somente os nobres possuíam a Areté. Visão que só poderia ser quebrada por meio de uma nova forma de educação, e assim a incorporação da ideia de cidadão como sendo a todos aqueles que fossem homens livres, conscientes de suas funções políticas e também capazes de lutar por sua cidade (JAEGER, 2001.p.336).

A ideia de cidadão começa a formar um novo modelo de homem com Areté, estamos assim substituindo a "Areté guerreira" como diz Dias (2007, p.1) pela "Areté política" afirmada por Jaeger (2001, p.337), pois mesmo que precisassem de bons guerreiros nas cidades para defendê-las, passa-se a ter agora acima de tudo a necessidade de se ter bons cidadãos (CHAUI, 2002, p.157).

A antiga excelência é substituída, o homem corajoso agora também tem que ser piedoso, justo e sábio (BARROS, 2007, p.4) não bastava mais exercitar somente o corpo, a mente também tem que ser preparada.

A formação da polis, traz mais um ponto de destaque, a lei e a justiça, que assume uma nova posição, criam-se as normas escritas retirando completamente o domínio daqueles poucos que ditavam as regras para deixar nas mãos dos legitimados pelo povo a tal função. Fica os nobres em igual posição perante o restante da polis, pois as leis passaram a ser iguais para todos. A Areté não é mais somente daqueles que possuem riquezas mais sim dos que sabem se comportar para não violar as normas postas (DIAS, 200, p.4).

Areté passaria por uma terceira transformação, deixando de ser guerreira para ser além de política e também ser a da "Sophrosyne", ou seja, a troca da coragem e da alta afirmação pelo controle do indivíduo sobre si, para não infligir às leis e consequentemente prejudicar a polis (DIAS, 2007, p.4), pois já como dizia Hesíodo em pleno século VII a.Cque "A injustiça é amiga do ócio, da preguiça" Barros (2007, p.5) o novo homem excelente passa a ser um homem que respeita as leis, e é um homem justo.


4 ARETÉ: separação entre o corpo e alma

Observando a ideia de homem com Areté de Homero, percebe-se que ele dá muito valor para o corpo, pois para este o guerreio para alcançar a excelência, deve estar preparado fisicamente, além de mentalmente e racionalmente pronto para agir, até o fato deste dever ser nobre importa para alcançar a referida excelência. Homero preocupa-se com o corpo e os títulos, mas se esquece da alma a deixando de fora de sua visão de homem com Areté.

Pensamento condizente com o período histórico de Homero no qual a concepção de ser humano da época era de um sujeito formado por um corpo e um espírito, sendo que o espírito não passava de uma "sombra sem força" (TSURUDA, 2007, p.2). O indivíduo ao perder sua vida, sofreria a separação do corpo com o espírito, ficando este fadado à inutilidade no mundo dos mortos (TSURUDA, 2007, p.2).

Seria assim o corpo o mais importante, pois é ele que pode levar o indivíduo e os seus frutos à forma eterna.

Com o passar dos tempos a separação do corpo e espírito vai tomando outras conotações. O indivíduo passa a ser separado em corpo e alma, o que também começa a ser mais bem acompanhado pelos pensadores dando uma maior importância aos espíritos, agora compreendido como alma, e esta toma novas proporções na busca da excelência.

Sócrates vai dizer que a alma é a razão do homem, e por tal ela deve ser cuidada para que não seja corrompida com a prática do mal, pois mesmo que nosso corpo seja atingido por algum tipo de enfermidade, com uma alma forte nada o abalará, ficando assim forte a Areté no autodomínio para não enfraquecer a alma.

Platão vai um pouco além, diz que é a alma que governa o corpo, devendo assim primeiramente a alma possuir a Areté (BARROS, 2007, p.2), pois a sua função específica "superintender, governar, deliberar e todos os demais atos da mesma espécie" (PLATÃO, 2006.p.42).

Como já afirmado, a justiça passou a ser a Areté do homem, e logo passou a ser a virtude da alma (BARROS, 2007, p. 2) levando o homem a ser feliz, pois era justo e tinha alcançado a sua excelência (PLATÃO, 2006, p. 43).

Os maus atos também prejudicariam a alma, (BARROS, 2007, p.3) e uma alma má terá sua punição no além, sendo castigado até que complete seu ciclo, para chegar finalmente à outra vida (BITTAR, ALMEIDA, 2007, p.104-106), ou seja, a alma deixa de ser uma mera "sombra sem força".

Eurípides reforça o valor da alma em seus poemas, destacando a ideia de que mais vale um pobre de boa alma do que um rico de coração ruim (BARROS, 2007.p.6).


5 CONCLUSÃO.

Percebe-se assim que a ideia de Areté foi sofrendo diversas alterações ao longo dos anos, passando da ideia de um guerreiro perfeito que deveria deixar seu legado de glória para as demais gerações, sem de alguma forma ou momento fosse desonrado, pois perderiam todo e qualquer tipo de valor que poderia ter.

A nobreza também se caracterizou inicialmente como elemento primordial para se alcançar a Areté. O tempo foi mudando, assim como a sociedade e os pensamentos da época, o homem idealizado por Homero em seus poemas perde lugar por um cidadão da polis, a alma até então sem importância para o corpo, apenas uma "sombra sem força" (TSURUDA, 2007.p.2) passa a ser parte importante na busca da excelência do homem o conduzindo ou mesmo, sendo um sinal de um corpo fraco que não tem domínio sobre si.

Tem-se assim que a Areté apesar de suas diversas interpretações, sempre representou a busca por um determinado ideal de homem, ideal ditado pela sociedade de sua época, ditando como este deveria agir para conseguir sua excelência, sua qualidade máxima e ser reconhecido por toda a história.


REFERÊNCIA

BARROS ,Gilda Naécia Maciel de. Areté  e cultura grega antiga: pontos e contrapontos  Disponível em < http://www.hottopos.com/videtur16/gilda.htm > Acesso em: 16mar. 2007

BITTAR, Eduardo C. B.; ALMEIDA, Guilherme Assis de. Curso de Filosofia do Direito  5ed. São Paulo:Atlas, 2007

CHAUI, Marilena. Introdução a História da filosofia: dos pré-socráticos a Aristóteles. 2 ed. São Paulo:Companhia das Letras, 2002

DIAS, Kleber Eduardo Barbosa. Justiça e areté como horizonte ético no pensamento de Aristóteles Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/9729>Acesso em: 10mai.2007

JAEGER, Wener Wilhelm Paidéia: a formação do homem grego. Trad.Artur M Parreirra. 4 ed. São Paulo:Martins Fonte, 2001.

PLATÃO. A República: Texto integral. Trd. de Pietro Nassetti. São Paulo: Martin Claret, 2006. Col. A Obra-Prima de Cada Autor.

PILETTI,Claudino;PILETTI,Neson. Filosofia e Historia da Educação. 15ed.São Paulo:Atica,2001.

TSURUDA, Maria Amalia Longo. Apontamentos para o Estudo da Areté. Disponível em: <http://www.hottopos.com/notand11/amalia.htm> Acesso 22 fev.2007

Sobre os autores
Adenilson Maramaldo Ribeiro

Estudante do curso de Direito da Unidade de Ensino Superior Dom Bosco - UNDB

Vivianne Lima Ribeiro

Aluna do curso de Direito da Unidade de Ensino Superior Dom Bosco - UNDB

Como citar este texto (NBR 6023:2018 ABNT)

RIBEIRO, Adenilson Maramaldo; RIBEIRO, Vivianne Lima. Areté: a busca da excelência. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 16, n. 3028, 16 out. 2011. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/20199. Acesso em: 23 nov. 2024.

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