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A violência como ela é e como a população julga ser

De acordo com pesquisa nacional sobre atitudes, normas culturais e valores em relação à violação dos direitos humanos e violência - 2010, a sensação de crescimento da violência pela população diminuiu.

A Pesquisa Nacional, por amostragem domiciliar, sobre atitudes, normas culturais e valores em relação à violação dos direitos humanos e violência - 2010, realizada pelo Núcleo de Estudos da Violência da USP, na qual foram ouvidos habitantes de onze capitais brasileiras, apontou que 73% dos entrevistados sentem que a violência vem crescendo no país (18,9% sentem que ela não cresce e 8,3% sentem que ela diminuiu).  

Isto significa que a sensação de crescimento da violência pela população diminuiu. Em 1999, 93,37% dos entrevistados afirmaram que sentiam que a violência vinha crescendo no país (enquanto que 5,42% sentiam que ela não crescia e apenas 1,21% sentiam que ela diminuía), ou seja, percentual maior que o verificado em 2010.

Importante é sublinhar que não houve uma alteração tão relevante na taxa de mortes: em 1999 ela era de 26,2 a cada 100 mil habitantes, enquanto que, em 2010, ela alcançou 27,3 mortes por 100 mil, colocando o Brasil em 20º colocado dentre os países mais violentos do mundo. De qualquer forma é um paradoxo ter havido aumento na taxa de mortes (de 26,2 para 27,3) e diminuição na sensação de crescimento da violência (de 93,37% para 73%).

Dois fatores devem ser considerados: (a) a sensação de crescimento da violência não está ligada exclusivamente aos homicídios; (b) essa mesma sensação está intimamente conectada com a postura da mídia (que é a grande responsável pela construção da realidade criminal).

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Em números absolutos a taxa de mortes intencionais (que faz parte do PIBEx: Produto Interno Bruto de Violência, Criminalidade e Extermínio) cresceu 22%, já que em 1999 haviam 42.914 homicídios e, em 2010, 52.260 mortes violentas foram contabilizadas no país (Datasus (Ministério da Saúde) e do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Um outro fator relevante para a sensação de que a violência vem diminuindo no Brasil é o econômico: afinal, somos a 6ª economia do mundo. A vida de muitos brasileiros mudou para melhor e isso pode contribuir para uma tendência de bem-estar. Como as coisas aparentemente caminham bem por aqui, então, torna-se possível aceitar (ter a sensação) que vivemos num país menos violento.

Sobre os autores
Mariana Cury Bunduky

Advogada e Pesquisadora do Instituto de Pesquisa e Cultura Luiz Flávio Gomes

Luiz Flávio Gomes

Doutor em Direito Penal pela Universidade Complutense de Madri – UCM e Mestre em Direito Penal pela Universidade de São Paulo – USP. Diretor-presidente do Instituto Avante Brasil. Jurista e Professor de Direito Penal e de Processo Penal em vários cursos de pós-graduação no Brasil e no exterior. Autor de vários livros jurídicos e de artigos publicados em periódicos nacionais e estrangeiros. Foi Promotor de Justiça (1980 a 1983), Juiz de Direito (1983 a 1998), Advogado (1999 a 2001) e Deputado Federal (2019). Falecido em 2019.

Como citar este texto (NBR 6023:2018 ABNT)

BUNDUKY, Mariana Cury; GOMES, Luiz Flávio. A violência como ela é e como a população julga ser. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 17, n. 3346, 29 ago. 2012. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/22511. Acesso em: 25 nov. 2024.

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