Simulador de direção
Austrália, Nova Zelândia, Reino Unido, Índia, Canadá, EUA e Holanda usam simuladores de trânsito durante a formação dos futuros condutores de automotores. O governo australiano investiu cerca de US$ 17 milhões (dezessete milhões de dólares) ao longo de cinco anos, em um programa chamado Keys2Drive que utiliza simuladores como parte de seu programa de treinamento [1].
O simulador de trânsito é uma realidade mundial, e não exclusividade tupiniquim. Existem vários tipos de simuladores, para treinamento de soldados das forças armadas, alunos de autoescolas, tratamentos a pacientes com fobias. É necessário ter os simuladores de trânsito nas autoescolas, mas não ao custo absurdo e quase inviável para aquisição, pois muitos donos de autoescolas possuem apenas um estabelecimento comercial, o que inviabiliza a compra. E tanto é inviável, que o próprio CONTRAN permite o compartilhamento de simulador entre autoescolas. Todavia, tudo que é inovador, assusta e causa manifestações contrárias. Porém, a história humana sempre mostrou que a relutância humana é demonstração de medo às mudanças, pois, o ser humano, quando forçado a sair de sua zona de conforto psíquica, se sente desprovido de sua segurança habitual.
Acidentes de trânsito: carnificina sem o uso de armas bélicas
Em março de 2010, a Assembleia-Geral das Nações Unidas editou uma resolução definindo o período de 2011 a 2020 como a “Década de ações para a segurança no trânsito". A resolução foi elaborada depois que a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou cerca de 1,3 milhão de mortes em 178 países; essas mortes não eram de guerras bélicas, mas de acidentes de trânsito. Desse total de acidentes, a OMS contabilizou 50 milhões de pessoas vivendo com sequelas.
Em 21/09/2012, a presidenta da República, Dilma Rousseff, assinou ato de criação do Conselho Nacional pela Redução de Acidentes e lançou a campanha “Pela Consciência no Trânsito” do Pacto Nacional pela Redução de Acidentes. Desta maneira, para a efetivação do Pacto Nacional, o Governo Federal deve criar mecanismos que possam viabilizar o ingresso dos simuladores de trânsito nas autoescolas. Delegar tal responsabilidade e onerar os donos de autoescolas, os idôneos - que já são prejudicados pelas vendas (ilegalidade) de carteiras de habilitações - é tornar o Pacto Nacional em mais um lei de conforto psicológico, ou seja, só no papel.
Por sua vez, a Política Nacional de Trânsito visa: segurança; educação; mobilidade urbana; qualidade de vida e cidadania; e fortalecimento do Sistema Nacional de Trânsito (SNT).
Soluções
Não é impedir o uso dos simuladores nos Centros de Formações de Condutores - nova nomeclatura para autoescolas -, mas criar mecanismos para facilitar o ingresso desses equipamentos nos CFC’s. O Estado poderia subsidiar os CFC’s, para que estes comprassem os simuladores. Por quê? Porque o Estado é o responsável pela redução de acidentes de trânsito, e deve criar, também, medidas que favoreçam essa redução. Impor às autoescolas gastos além de suas capacidades orçamentárias, o que inviabiliza a compra de simuladores caríssimos, é tornar o Plano Nacional de Redução de Acidentes de Trânsito em mais uma lei de papel. Outra solução seria o Estado brasileiro incentivar e premiar os profissionais que desenvolvessem simuladores de direção de baixo custo. Há muitos jovens talentosos em cursos técnicos e universidades, que podem desenvolver simulador de direção Made In Brasil - o que favorecia também o desenvolvimento econômico. Além disso, o Brasil não dependeria muito de tecnologias produzidas por outros países. Infelizmente, apesar de alguns incentivos do Estado aos novos talentos profissionais, o Brasil carece, muitíssimo, de profissionais qualificados. E quando há bons profissionais formados no Brasil muitos vão trabalhar em outros países.
O pilar da educação civilizatória no trânsito terrestre
Não adianta ter bons instrutores de trânsito, se estes não têm condições plenas (bons livros didáticos, salas e carros seguros e confortáveis, simuladores de direção) de exercerem suas profissões com maestria. Também não adianta gastar bilhões de reais em infraestrutura viária, se os cidadãos agem com desprezo pela vida.
O instrutor de trânsito é a sapata para se edificar a civilidade no trânsito terrestre. Também é o concreto que será usado para preencher os pilares do comportamento civilizado dos usuários de vias terrestres. Enfim, o instrutor de trânsito é um professor que educa e se esforça para resgatar a civilidade no trânsito terrestre. Porém, para o instrutor agir com proficiência se faz necessário: piso salarial que atenda as suas necessidades básicas (art. 7°, IV, da CF); estabelecimentos com infraestruturas didáticas (livros, simulador de direção etc.); redução de jornada de trabalho [a maioria trabalha mais de 14 horas por dia, para conseguirem ganhar mais através das horas extras].
Se a sociedade organizada e os agentes políticos querem, realmente, diminuir a carnificinas nas vias públicas, se faz necessária uma Política Nacional de Redução da Morbimortalidade por Acidentes e Violência eficaz, no trânsito terrestre. A construção dessa eficiência começa nas salas de aulas, de instituições credenciadas pelos DETRAN's, para ensinar didáticas moral [civilidade] e intelectual [conhecimento das normas e regras de trânsito] aos futuros usuários de vias terrestres.
Referência:
[1] - Simulator Driver Training and Road Safety. Disponível em: <http://www.arrivealive.co.za/print.aspx?s=5&i=2986 >. Acesso em: 9 set. 2014.