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Luta de classes na eleição de 2014

Agenda 19/10/2014 às 15:11

Não será dessa vez que o Brasil será redescoberto.

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O Brasil luta e chora! Refiro-me, basicamente, a duas questões: a luta de classes exposta na eleição, especialmente no segundo turno, além da contradição capital versus trabalho, separou amigos, famílias, trabalhadores e empresários. Isso não tem novidade, é certo; porém, a visibilidade alcançada chama a atenção. Perfis de “amigos”, por exemplo, foram descredenciados do Facebook; empresários que apoiam o PT são marginalizados. Houve grande atrito entre estudantes de uma mesma sala, como ocorrido na Universidade Nove de Julho (UNINOVE – São Paulo), até que o senador Eduardo Suplicy (PT/SP) atuasse como mediador político e, ao final, tirasse “selfie da paz” com alunos apoiadores de Aécio. Por isso, não houve violência. Como diria Carl Schmitt, impera a lógica “amigo X inimigo”; um pouco mais e teremos lutas combinadas pela rede, como fazem as torcidas organizadas. É o reino da barbárie política sem conhecimento, argumento lógico ou análise clínica. O segundo ponto trata do futuro: o que ocorrerá, depois da eleição de um dos mineiros?
Se for eleita Dilma/PT, a econômica vai claudicar, porque os empresários continuarão a guardar dinheiro no colchão ou no exterior, como vêm fazendo ao menos desde 2013 e, é óbvio, teremos muitos problemas sociais. Vencedor em 2014, o Partido dos Trabalhadores terá de se reinventar, descolando-se do “mar de lamas” que construiu ou lhe foi imposto. Terá quatro anos para provar que a pré-falência da Petrobrás não foi invenção sua. Evidentemente, tudo no Judiciário. Pela lógica do “Partido de Poder”, além do ex-presidente Lula, não terá quadros para 2018. Suplicy, por exemplo, não conseguiu a reeleição ao Senado Federal e deve abandonar a política. Gradativamente, o PMDB deixará as bases do governo, porque quer lançar candidato próprio à Presidência da República. Fará oposição de dentro. Forte “fogo-amigo”.
Se for eleito Aécio/PSDB o dilema será com os direitos sociais já consagrados e as prerrogativas trabalhistas conquistadas historicamente – quando definharem. A expansão da Universidade Pública vai zerar. Vamos ter - ao que indica o "rebaixamento da maioridade penal" e as jaulas para adolescentes hediondos - problemas de civilização. Outra forma de definir o apodrecimento da teoria do Direito Penal, aquela que vem desde Beccaria. Pela nova teoria do Estado Penal brasileiro, hediondo é o adolescente e não o crime social. É um modo sutil de ironizar a desconstrução do direito. Outra dúvida cabe ao papel desempenhado por Marina em seu governo (e que já implodiu a Rede e o PSB: guinado à direita), pelo agro-negócio, financistas e, sobretudo, pelo PSDB do príncipe desconstruído.
O ex-presidente FHC, certamente, não vai chorar a falta de Ética da Convicção (a mesma que ensinava na USP), porque depois da posse do poder "as circunstâncias mudam". É uma lição invertida de Maquiavel: o florentino sabia lidar com Príncipes de virtude ou príncipes de verdade ("virtù"), mas detonava os "políticos profissionais" (tolos, vaidosos, corruptos). Quantos bebês serão jogados com a água suja? E São Paulo, em que a SABESP não fez racionamento por causa da campanha do PSDB, vai ter água para tomar banho? Pelo visto, teremos de aguardar as Águas de Março! Até lá, contudo, São Paulo principesco irá querer separar o Nordeste do Brasil – porque carreia muitos votos dos aglutinados na ignorância febril do Bolsa Família. O problema é que o Brasil nasceu no Nordeste, lá em Porto Seguro/Bahia e, então, separado, deverá ser chamado de Brasil e o restante, talvez forme um novo Principado. Para isso, príncipes da sociologia nós temos de sobra. Não será dessa vez que o Brasil será redescoberto.
 

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Sobre o autor
Vinício Carrilho Martinez

Pós-Doutor em Ciência Política e em Direito. Coordenador do Curso de Licenciatura em Pedagogia, da UFSCar. Professor Associado II da Universidade Federal de São Carlos – UFSCar. Departamento de Educação- Ded/CECH. Programa de Pós-Graduação em Ciência, Tecnologia e Sociedade/PPGCTS/UFSCar Head of BRaS Research Group – Constitucional Studies and BRaS Academic Committee Member. Advogado (OAB/108390).

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