Todo ser humano é possuidor de um corpo, mente, alma, psique, caráter, temperamento, intelecto, ou seja, são vários aspectos objetivos e subjetivos que compõem um sujeito, que é possuidor de direitos fundamentais, entre eles a preservação da integridade física e psíquica. Mas e quando as relações de trabalho abalam nossa integridade?
Sabemos que posturas verticais não cabem mais nas relações de trabalho, sejam elas em setores públicos ou privados. Na atualidade a participação das pessoas é esperada e valorizada, ou pelo menos deveria. Não estamos na era do apertador de parafusos, onde as pessoas apenas cumprem seus deveres sem refletir criticamente sobre o seu fazer laboral. No entanto, muitos gestores continuam adotando posturas autoritárias, usando-se da relação hierárquica, constrangendo, humilhando, exilando, até chegar ao adoecimentodo do espaço coletivo de trabalho, acarretando inúmeros prejuízos, seja de ordem moral, psíquica ou orgânica, dos que trabalham naquela dada empresa ou setor público.
Precisamos debater a questão das violências presentes no contexto do trabalho, pois, pouco se ousa a falar delas, mas elas estão presentes no cotidiano das reuniões, dos corredores, das brincadeirinhas constrangedoras, mas especialmente, nas salinhas dos chefes, ou “cantinho do pensamento”, nesses espaços, palavras ofensivas e humilhantes são despejadas contra as vítimas, sem que as mesmas tenham qualquer testemunha para caracterizar a violência, que neste caso, em função da hierarquia, se configura em ASSÉDIO MORAL.
O fato de escamotearmos ou negligenciarmos as violências no ambiente do trabalho também perpassa pelo desconhecimento dos limites dos cargos hierarquicos e pela omissão dos demais colegas de setor.
Segundo pesquisadores do assunto, o assédio moral é bem democrático, atingindo o serviço público e o privado, profissionais de diferentes formações e níveis hierarquicos. Teem em comum ações repetitivas que visam afetar a auto estima dos trabalhadores com trabalhos inexpressivos, situações vexatórias, colocando o profissional de lado, exigindo metas inatingíveis, ou, ao contrário, diminui suas tarefas para afetar sua autoestima, dá ordens confusas ou contraditórias, sobrecarrega de trabalho ou impede a continuidade de alguma tarefa, negar informações, ser delegado a executar tarefas acima ou abaixo do seu conhecimento, dar cargos para pessoas recém chegadas e sem conhecimento do trabalho já desenvolvido como forma de desqualificar o trabalho já em execução, espalhar entre os colegas boatos sobre sua moral e saúde psiquica, entre outros, acabando por desestabilizar emocionalmente e causar sérios danos psicológicos às vítimas. A coisa é tão seria que a própria vítima pensa e repensa os fatos, se revitimizando, mas sem acreditar que vai ser possível configurar tal atitude lesiva por parte de seu superior como assédio.
Segundo especialistas e levantamento feito pela Organização Mundial do Trabalho (OIT) e pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o assédio também é sentido no corpo da vítima, com sintomas como cansaço exagerado, nervosismo, dores de cabeça, insônia, falta de concentração e ou memória, tristeza profunda, entre outros danos físicos e psiquicos, relacionados à forma de gestão na organização do trabalho, comprometendo a dignidade, as relações afetivas e sociais e a própria condição laboral, que podem levar à máxima fuga: o suicídio.
O assediador pode agir com comparsas do setor, especialmente com aqueles funcionários que procurando poder, cargos ou manter-se neles, ou ainda aqueles que buscam ocultar sua incompetência, tornam-se parceiros do agressor. Há ainda aqueles que para omitir-se do problema, calam-se e compartilham a anulação do colega de trabalho que sofre o assedio, ignorando-o, não lhe cumprimentando, estigmatizando-o, tratando-o com sarcasmo, tornando a vítima invisível ou cochichando com outros “como seria melhor se ele se mudasse de setor”, ou simplesmente sumisse.
Infelizmente, para piorar a situação de violência, o senso comum de que a culpa é sempre da vítima que se recusa a aceitar o novo ou a nova posição hierarquica é repetidamente utilizado como arma para escamotear a violência e continuar mantendo as ações assediadoras que desumanizam o trabalhador.