O desejo de enriquecer rapidamente trouxe os colonos portugueses ao Brasil e levou seus descendentes do litoral para o interior do país. Já escrevi algumas palavras dobre o El Dorado http://www.jornalggn.com.br/blog/fabio-de-oliveira-ribeiro/el-dorado-ontem-e-hoje-amanha-talvez-nao. Agora serei um pouco mais específico.
O ouro negro no fundo do mar de Pindorama, que já começou a ser explorado pela Petrobrás, é avaliado em U$ 15 trilhões de dólares http://www.fne.org.br/noticia.html?id=819 ou R$ 48,3 trilhões levando em conta a cotação atual do dolar. Isto equivale mais de 10 vezes o PIB brasileiro de 2013, que foi de R$ 4,844 trilhõeshttp://pt.wikipedia.org/wiki/Evolu%C3%A7%C3%A3o_do_PIB_do_Brasil . O controle desta riqueza desencadeou uma nova “corrida do ouro” e isto nos remete à história de nosso país.
A descoberta de ouro na região onde hoje fica Cuiabá em 1722 provocou um alvoroço em São Paulo.
“A fama das lavras cuiabanas chegaria “the os fins do Orbe, passando os Limites do Brazil e Portugal e daly aos Reynos extrangeiros”. Corriam coisas prodigiosas acerca da riqueza sem par daqueles sertões. Dizia-se, por exemplo, que à falta de chumbo, eram empregados granitos de ouro nas espingardas de caça; que eram de ouro as pedras onde se punham as panelas nos fogões…
As centenas de paulistas e adventícios - “frausteiros” ou emboabas - que chegavam continuamente ao arraial cuiabano, embaraçavam, no entanto, e cada vez mais, a ação do velho guarda-mor Pascoal Moreira, com notório prejuízo da justiça e do fisco. Vivia aquele povo entregue inteiramente às suas paixões, sem forma alguma de ordem política e de governo econômico, embora se tivesse ensaiado entre eles uma espécie de senado, onde tomavam parte o guarda-mor, um escrivão, o meirinho e doze colatários eleitos, com o pomposo título de deputados.” (Monções, Sérgio Buarque de Holanda, Coleção de Estudos Brasileiros, Rio de Janeiro, 1945, p. 75).
A descoberta de ouro e o deslocamento de tanta gente para as lavras deveria enriquecer o vilarejo que deu origem a Cuiabá, mas não foi isto o que ocorreu:
“Os gêneros que em 1723 chegaram de São Paulo estavam quase todos deteriorados devido ao mau acondicionamento nas canôas. Os moradores, além disso, com a clássica imprevidência do sertanejo, tinham empregado a maior parte de sua escravatura nas lavras de ouro, descuidando-se das lavouras de mantimento.
A conseqüência foi que, nos meses de maio e junho, quando costumam quebrar-se as espigas, o milho colhido não chegou para o sustento dos habitantes. A mandioca, se plantada logo depois da descobertas as lavras do Sutil, o que é bem duvidoso, ainda não estaria, por sua vez, em condição de produzir. Assim a caça e, um pouco menos, a pesca tornaram-se recurso ordinário e obrigatório de quem quisesse sobreviver.” (Monções, Sérgio Buarque de Holanda, Coleção de Estudos Brasileiros, Rio de Janeiro, 1945, p. 76/77)
O ouro descoberto naquela região quase ao nível do chão, porém, acabou rapidamente e a mineração se tornou trabalhosa e cada vez menos proveitosa:
“Muitos, efetivamente, desertaram, como o próprio Sutil, descobridor das lavras, que, aliás, desde princípios de 1724 já se achava de regresso a sua cidade natal. Fernando Dias Falcão também não terá ficado por muito mais tempo; a partir de 1727 desaparece seu nome das crônicas cuiabanas e vai surgir ulteriormente em Sorocaba. Nesse mesmo ano de 1727 e no seguinte, o êxodo dos moradores de Cuiabá chega a assumir proporções de verdadeira avalanche. Mais de mil pessoas deixam então a vila e ora regressam para o planalto paulista, ora se encaminham para as minas de Goiás, já descobertas e prósperas.
O ouro cuiabano começara a perder muito do prestígio tão rapidamente conquistado. As minas só eram opulentas na superfície e nada se fizera para melhorar os processos empregados em sua exploração, os mesmos que tinham trazido da África os pretos escravos. Durante as secas freqüentes e demoradas, como aquela cujos efeitos Rodrigo Cezar de Menezes tivera ocasião de testemunhar, o serviço dos veios dos rios, conquanto penoso ainda era, provavelmente, o que melhor resultado prometia. Para o tratamento das grupiaras ou guapiaras - depósitos existentes nas vertentes -, também chamado, em Cuiabá, serviço de batatal, os mineiros viam-se forçados pela penúria de água a recorrer aos caxambús. Juntavam-se, nêsse caso, o cascalho extraído da guapiara, em um pequeno monte - o caxambú - e à medida que essas terras auríferas, lançadas do alto, rolavam pelas encostas, desprendiam-se as pedras, que facilmente se apanhavam. Em seguida lavava-se o cascalho mal “coado” - pois nas pedras sempre ficava muito ouro - em cuiacá, isto é, batiam-n’o em pequenos poços formados junto ao caxambú.” (Monções, Sérgio Buarque de Holanda, Coleção de Estudos Brasileiros, Rio de Janeiro, 1945, p. 84/85)
O ouro negro no mar de Pindorama reativou o sonho individualista da riqueza fácil obtida da terra conquistada aos índios. O problema é que ao contrário de Cuiabá, o ouro não está ao nível do chão, nem pode ser rápida e facilmente colhido por qualquer brasileiro. Vem dai a instabilidade política que esta nova “corrida do ouro” está provocando.
A única empresa capaz de explorar o Pré-Sal é a Petrobrás, mas ela é pública. Portanto, aqueles que querem se apropriar do ouro cuiabano sob o mar de Pindorama, tem que comprar a companhia. Os ataques sistemáticos feitos contra a mesma tem dupla finalidade: forçar sua privatização e; reduzir o preço de suas ações para que as mesmas possam ser compradas hoje e vendidas com lucros exorbitantes quando o petróleo estiver jorrando, pois é certo que ele não irá jorrar por muito tempo.
Em 1722, Miguel Sutil havia principiado uma roça próxima ao lugar onde seria descoberta a lavra de ouro. Ao fim de um dia de trabalho, ele mandou dois índios com machados e cabaças colherem mel de pau. Ambos voltaram de mãos vazias deixando Sutil muito irritado. Então um dos índios disse-lhe:
“- Vós viestes buscar ouro ou mel? - e metendo a mão no seu jaleco de baeta, tirou um embrulho com folhas. Ali estavam vinte e três granitos de ouro que pesaram cento e vinte oitavas.” (Monções, Sérgio Buarque de Holanda, Coleção de Estudos Brasileiros, Rio de Janeiro, 1945, p. 72)
A mesma pergunta pode ser hoje feita aos estrangeiros que vem ao Brasil. A resposta deles será a mesma. Eles vem buscar o ouro negro de Pindorama. É em razão disto, aliás, que estrangeiros tem “melado” a mão de políticos tucanos para que eles modifiquem legislação para permitir às petrolíferas estrangeiras explorar o nosso Pré-Sal pagando pouco ou muito pouco ao erário público e levando o lucro para casa.
José Serra, autor do projeto de Lei que modifica o sistema de exploração do Pré-Sal, pode ser chamados de traidor, verme, entreguista, serviçal de norte-americanos, bandido e venal, mas uma coisa é certa: ele não está traindo a História do Brasil. Ao dar aos estrangeiros o ouro negro que existe no fundo do mar de Pindorama, José Serra está fazendo a mesma coisa que aquele índio que presenteou Miguel Sutil com cento e vinte oitavas de ouro provavelmente em troca de maus tratos, um pouco de comida e abrigo precário. Para mim, que também sou descendente de índios, é impossível sentir ódio de outros índios. No máximo os antigos e novos indigenas de Pindorama só me despertam um sentimento: pena. Eles não tem futuro porque de fato não querem ter uma nação.