O autor judeu-austríaco Stefan Zweig, fez muito sucesso na primeira metade do século XX. Ele chegou ao nosso país em 1940 fugindo do nazismo. Aqui ele escreveu o livro “Brasil, País do Futuro”, obra que rapidamente se tornou um bem sucedido produto editorial. Criticado por seu ufanismo o livro caiu no esquecimento.
O título do livro, entretanto, foi recuperado pela Ditadura de 1964/1985. Quando não estava moendo adversários nas Casas da Morte, o “país do futuro” construía estradas na floresta amazônica, pontes imensas no Rio de Janeiro, usinas hidrelétricas mastodonticas na fronteira com o Paraguai e ganhava Copas do Mundo no México. O futuro da ditadura, porém, seria interrompida pela crise do petróleo, do mesmo precioso petróleo que a oposição quer agora entregar aos estrangeiros. Mas não é disto que quero falar.
Stefan Zweig estava errado. A ditadura também. O Brasil não foi, não é e nunca poderá ser o país do futuro. Desde que foi invadido por portugueses Pindorama tem sido a “terra das ilusões”. As primeiras delas trouxeram os colonos ao nosso litoral e os levaram do litoral ao interior. A mais conhecida e difundida das ilusões brasileiras foi o mito do El Dorado http://jornalggn.com.br/blog/fabio-de-oliveira-ribeiro/el-dorado-ontem-e-hoje-amanha-talvez-nao .
As ilusões políticas tem sido várias. D. Pedro acreditou que o pomo estava maduro e se iludiu. Pouco tempo depois de transformar a colônia em reino independente teve que abdicar e ir disputar seu trono português. O segundo imperador também se iludiu ao acreditar que os alicerces do Império não ruiriam com a abolição da escravatura. De ilusão em ilusão entramos numa república que não aboliu os títulos nobiliárquicos e conservou o poder político e econômico dos barões.
Os Tenentes se iludiram em 1925 e foram indo do nada a lugar algum até 1927. Em 1935 os militares de esquerda se iludiriam uma vez mais, dando a Getúlio Vargas o pretexto que ele queria para um golpe dentro do golpe. Menos de duas décadas depois, o próprio Vargas seria iludido por seu segurança pessoal. Acuado ele iludiu a oposição com um tiro no próprio peito. Em 1964 foi a vez da esquerda ser iludida pelo invencível aparato militar de Jango que o traiu sem dar um só tiro. Os militares também se iludiram. Primeiro eles perderam o controle da economia do país por causa da crise do petróleo, depois perderam o comando dos seus subordinados encarregados da matança ilegal. E então a ilusão começou a explodir na OAB do Rio de Janeiro e, finalmente, no colo dos imbecis fardados que queriam explodir uma festa popular.
A campanha das diretas foi uma grande ilusão. O povo saiu às ruas contra a ditadura e rapidamente foi convencido a se conformar com uma disputa no Colégio Eleitoral. Tancredo venceu Paulo Maluf, mas não foi capaz de iludir a morte. Por algum tempo, enquanto a oposição acertava os ponteiros para garantir a posse de Sarney, o povo foi iludido de que Tancredo estava vivo e bem. Se bem me lembro, uma fotomontagem do presidente sentado ao lado dos médicos foi muito discutida na oportunidade.
O mérito de Sarney foi não ter ilusões. Ele sabia que era um governante fraco de um país economicamente enfraquecido. O grande ilusionista daquele período foi Ulisses Guimarães, que nos deu uma Constituição Cidadã. A mesma que a oposição agora quer rasgar. O poderoso Ulisses Guimarães, contudo, também seria iludido pelas urnas. Ao disputar a presidência teve menos votos que o desconhecido Enéas, que com alguns segundos na TV conseguiu iludir milhões de eleitores brasileiros.
Fernando Collor foi a última grande ilusão manufaturada pela Rede Globo. O Presidente da Câmara dos Deputados que conduziu o processo do Impedimento de Collor também era um ilusionista fadado a cair em desgraça. Ninguém mais o cita como exemplo de dedicação à coisa pública.
Lula não decepcionou ninguém. Com ele ganhou o povo, ganharam os banqueiros, os industrias e donos de empresas aéreas também. O petista teve o mérito de derrotar as ilusões criadas pela imprensa. Desde então os jornais, redes de TV afundam na ilusão de que podem destruir o povo que o petista resgatou da fome, da miséria, do desemprego e do subconsumo. Dilma Rousseff trilha o mesmo caminho que Lula, mas enfrenta contextos internos e internacionais mais delicados. Contudo, nossa presidenta vem sendo fortalecida por causa das auto-ilusões da imprensa e da oposição. Durante o primeiro mandato de Dilma, o PSDB acreditou que poderia impedir ela de governar e sua ilusão foi sendo desfeita pelo STF. Após uma disputa acirrada, o derrotado Aécio Neves pensou que poderia tomar posse no cargo atribuído pelo povo a Dilma e o TSE rapidamente desfez a ilusão dele.
O suposto clamor público contra sua posse não iludiu Dilma. A presidenta acertou em cheio ao mencionar o “povo forte” no seu discurso pouco antes das manifestações de março/2015 http://jus.com.br/artigos/37665/para-entender-dilma-rousseff . FHC acreditou que o povo dele seria ainda mais forte e se iludiu. As manifestações de domingo passado foram um fracasso. Serviram apenas a três propósitos: confirmar a virtude da antipsiquiatria (soltos os malucos fazem menos mal à sociedade e ao Estado do que se estivessem confinados), fortalecer a situação e demonstrar o poder ilusório dos veículos de comunicação que instigaram o povo a derrubar a presidenta eleita.
Dilma Rousseff segue mais e mais fortalecida, pois um “povo forte” não se deixa iludir por jornalistas tendenciosos, anti-éticos, maldosos e, sobretudo frustrados e auto-iludidos. O mesmo não se pode dizer da esquerda. Aqui e ali é possível ver o temor de um golpe de estado iludir alguns intelectuais e seus leitores. O avanço do fascismo é uma falácia desmentida pelo fracasso das passeatas de domingo. Os casos de violência que ocorreram não configuram um fenomemo político relevante. São apenas “casos de polícia” que como tal devem ser tratados.
Os prognósticos da situação são bons. Os da oposição nem tanto. Há alguns anos um sociólogo francês disse que FHC está decadente. Acertou na mosca. O ex-presidente não conseguiu ajudar Aécio Neves a ser eleito e errou ao acreditar que o seu povo seria mais forte que o “povo forte” referido por Dilma Rousseff em discurso que certamente será considerado histórico. Frustrada e histérica, a imprensa brasileira continua seguindo os vaticínios daquele zumbi político e caminha inevitavelmente para uma nova e maior derrota eleitoral em 2018. Assim seja. Afinal, os jornalistas são livres para se auto-iludir mesmo quando não conseguem iludir mais ninguém.