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Paralelo entre a revolução mercantil x revolução industrial

Agenda 21/04/2015 às 15:48

Análise antropológica comparativa entre a Revolução Mercantil e a Revolução Industrial.

A antropologia tem como objeto de sua pesquisa o homem, a humanidade e tudo o que lhes diz respeito, isto é, em todas as suas dimensões, ou seja, nos seus aspectos religiosos, econômicos, políticos, sociais, geográficos, físicos, e outros.

O ser humano não vive de forma estagnada durante a sua existência, mas sim, persegue um caminho de progresso constante. Para isso, estuda, inventa, busca um aperfeiçoamento através de sua experiência de vida buscando sempre se superar. Por isso, ao analisar a história da humanidade, constata-se vários períodos de transição entre um período de revoluções e uma posterior mudança. Como nos relata Darcy Ribeiro: (...) movimento histórico de mudança dos modos de ser e de viver dos grupos humanos, desencadeado pelo impacto de sucessivas revoluções tecnológicas (...) sobre sociedades concretas, tendentes a conduzi-las à transição de uma etapa a outra, ou de uma a outra formação sociocultural. (RIBEIRO,  p. 29).

Esses acontecimentos viram objeto de análise comparativa da antropologia.

 Dentre os estudos antropológicos, ganha motivo para análise neste trabalho o processo evolutivo humano durante o período de transição entre o feudalismo e o capitalismo, denominado mercantilismo. E, no meio desses “ismos”, buscar-se-á fazer um paralelo entre os aspectos da Revolução Mercantil e da Revolução Industrial. É obvio que não é intenção deste texto expor tudo sobre as diferenças e semelhanças entre os dois períodos, mas, tão somente destacar de forma sintética e comparativa esses aspectos.

Em primeiro lugar, haverá uma exposição sobre a Revolução Mercantil, destacando os pontos principais para a ocorrência dessa mudança, os motivos pelos quais se originou. Logo após, a Revolução Industrial será o objeto de explanação e, em seguida, dar-se-á prosseguimento a uma análise comparativa entre esses dois períodos.

REVOLUÇÃO MERCANTIL

O mercantilismo foi um período de transição compreendido entre o feudalismo e o capitalismo. Para se entender as mudanças mercantilistas, é necessário voltar para, aproximadamente, o século XII e XIII, onde houve a organização e formação dos Estados Modernos. Desde então, os ideais renascentistas e comerciais foram se fortalecendo. Com a queda do Império Turco-Otomano, a igreja deixou de centro da terra e passou a ser questionada de várias formas, como exemplo tem-se a Reforma protestante.  Porém, antes de haver a reforma formal, muitas mudanças já haviam acontecido na ideologia tanto dos fieis quanto da burguesia e dos líderes políticos, os reis se tornaram mais autônomos, assim como a burguesia também pode comercializar com mais liberdade. Todos esses aspectos fez crescer o comércio sobremaneira que o empurrou para além das fronteiras européias. Assim, tiveram início as grandes navegações a fim de encontrar outros mercados para os produtos europeus, assim como novos fornecedores de matéria prima. Com isso, aconteceram os grandes “descobrimentos” ou a exploração de “novas terras”, seus povos e seus produtos. Esse fator de explorar novas terras e povos e o acúmulo dos metais provenientes das colônias proporcionavam à metrópole o status de potência mercantilista.

Portanto, o mercantilismo, segundo Falcon:

Deve ser entendido como um conjunto de idéias e práticas econômicas que caracterizam a história econômica européia e, principalmente, a política econômica dos Estados Modernos europeus durante o período situado entre os séculos XV, XVI e XVII. (FALCON, p. 11)

Não é o feudalismo nem o capitalismo, portanto possui características próprias, como relata Falcon:

Esta época possui uma especificidade própria, resultante do fato de que suas formações sociais concretas existem estruturas econômico-sociais, políticas e ideológicas que nem são feudais, nem podem ser já chamadas exatamente de capitalistas, são de transição. (FALCON, p. 21 – 22)

Essas especificidades que serão foco de análise comparativa com os aspectos da Revolução Industrial, mas, como aconteceu essa mudança? O que se pode destacar desse período? Esses questionamentos serão expostos de forma sintética a seguir.

REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

A dinâmica, o acúmulo de capitais (dinheiro, máquinas, bens de consumo, construções) e a complexidade da sociedade mercantilista não comportará em si. Assim, as exigências de um mercado em constante crescimento, somado ao interesse de uma burguesia insaciável por poder e capital, darão origem à Revolução Industrial, a princípio com máquinas a vapor e, posteriormente com outras mais modernas a cada tempo vindouro.

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A Revolução Industrial teve origem na Inglaterra. Neste país já acontecia um comércio muito forte, com sua capital Londres muito consumista, o que exigia uma produção mais rápida. Por outro lado a sua situação geográfica também patrocinou essas mudanças, já que, o país se constitui de uma imensa ilha e, portanto, afastada do resto da Europa, sentindo a necessidade de fabricar seus produtos. Outrossim, foi a proibição da venda do algodão inglês para o exterior e o subsídio aos produtores rurais de algodão. Isso fez com que surgisse a indústria têxtil.

No entanto, a análise da Revolução Industrial, apesar de ter acontecido a priori na Inglaterra, não pode se resumir apenas a esse país. Havia neste período uma rede de relacionamentos e contratos econômicos entre os países europeus e, consequentemente, com suas colônias, a exemplo disso, têm-se Portugal e o Brasil.

Alguns fatores para que a Revolução Industrial ocorresse na Inglaterra foram o clima que favorecia a plantação do algodão, a geografia que proporcionava muita facilidade de acesso ao mar e os bons rios, a mudança biológica na população e outros provenientes do exterior, mas não só, soma-se a esses, os fatores de ordem econômica, ideológica, social, política e institucional.

Esse período é de fundamental importância para a humanidade porque a partir daí surgiram várias formas de aumentar a produção, através de máquinas e proporcionar uma qualidade de vida melhor à humanidade. Por outro lado, transformou quase tudo em mercadoria, até mesmo a força de trabalho do operário. O trabalhador não é mais um homem livre, dono do seu próprio trabalho, agora ele tem um patrão e outros aspectos que diferencia esse período daquele exposto anteriormente. Isso é o que se exporá a seguir.

REVOLUÇÃO MERCANTIL X REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

O mercantilismo, pode-se dizer que abriu o caminho para que acontecesse a Revolução Industrial. Cabe aqui ressaltar alguns aspectos peculiares a cada uma dessas mudanças.

Na Revolução Mercantil existiam aspectos tecnológicos que se caracterizavam pela expansão marítima e o que girava em torno dessas exigências que eram fábricas, principalmente para a construção de armamentos para a artilharia naval, já que eles iam explorar terras nunca antes visitadas, enfrentar possíveis perigos desconhecidos e, também, existia a tipografia. Referindo-se aos aspectos relacionados ao sistema associativo existiam os Impérios Mercantis Salvacionistas que eram predominantemente islâmicos; o Capitalismo Mercantil que era composto pelas potências das navegações da época como a Holanda, Inglaterra e França. Por outro lado, havia os desassociados ou os insatisfeitos com toda essa situação como os assalariados, as colônias (escravistas mercantis), as áreas de saque e exploração (hemisfério sul), mais precisamente a África, a Ásia e as Américas e a massa escravizada.

O mercantilismo gerou muitas mazelas nas sociedades da época, houve rural exacerbado, o que resultou num inchaço das zonas urbanas, o acumulo de capital por uns em detrimento dos subjugados, aumentando a desigualdade social, o saque de dezenas de povos, milhões arrancados dos braços dos escravos e o tráfico negreiro.

No que diz respeito às ideologias, o Renascimento cultural, artístico, ideológico marcará este período e ganhou força com a Reforma. Havia nesta época um ideal de que a alfabetização chegasse a todos, buscavam um retorno ao mundo Greco-romano. Além disso, surgiram os teólogos reformistas com o ideal de enobrecer o enriquecimento, tendo como instrumento de riqueza das metrópoles, as colônias, consideradas como as culturas espúrias. Também havia neste período um ideal de despersonalização das relações de trabalho.

Em contrapartida, na Revolução Industrial se depara com um sistema tecnológico bem mais desenvolvido com a descoberta da energia inanimada para mover dispositivos mecânicos, em três etapas (máquinas a vapor, motores elétricos e motores a explosão); uma tecnologia agrícola e pastoril voltada para a produção industrial e um incremento demográfico.

Observa-se aqui, um sistema associativo com uma mão-de-obra assalariada, mesmo a que era considerada escrava. A forma de imperialismo agora é industrial, econômica, financeira (o neocolonialismo). A Inglaterra, pioneira no processo de industrialização, junto com a França, a Holanda e os Estados Unidos espoliam os países subdesenvolvidos, estes se transformam em centro de dominação. Esta acontece tanto com a exportação de manufaturados, com os produtos industrializados quanto com a exportação de capitais.

Com subsidiárias espalhadas pelos países subdesenvolvidos as potências detêm o controle do mercado e as outras nações ficam sem conseguir ser independentes financeiramente. Isso faz com que os países subalternos fiquem sempre em condições de atraso em todos os sentidos, degradados pela aculturação e impedidos de desenvolver sua própria tecnologia. Dentro desse contexto é que surgem os países socialistas que rompem com esse modelo capitalista degradante.

Com o surgimento do socialismo revolucionário, devido à exploração capitalista e a crescente desigualdade social derivados do progresso da industrialização, ocorreram muitas tensões no cenário mundial. Este movimento prevê uma nova etapa da evolução humana e de projeto intencional de reordenação das sociedades segundo os interesses da maioria da população através da socialização  dos meios de produção, onde se torne impraticável a opressão econômica, a desigualdade social, a oposição campo contra a cidade e trabalho físico contra trabalho intelectual.

Outros aspectos diferentes também giram em torno das ideologias. No período revolucionário industrial aparecem os socialistas evolutivos que são aqueles provenientes dos países nórdicos, França, Inglaterra e outros. Ideias liberais e anti-místicas pessimistas também são desenvolvidas, assim como ideais socialistas revolucionários que defendem valores de igualdade entre todos os homens e pregam uma mística libertária utópica.

CONCLUSÃO

Pode-se observar que apesar das duas revoluções terem acontecido na Europa e de haver muitas semelhanças entre si, muitos aspectos diferenciam os dois movimentos. Enquanto o mercantilismo procurava se expandir com a exploração das colônias, dos escravos e acumular metais, ocasionando assim a alta dos preços, salários, etc., dando origem à “teoria quantitativa da moeda”.

Na Revolução Industrial, embora tenha permanecido as concepções metalistas, a seguir vem um desenvolvimento dos trabalhos sobre as finanças públicas a administração dos Estados absolutistas, aparecendo, finalmente, o elemento mais importante, que foi o desenvolvimento da chamada “teoria da balança comercial”. Nesse contexto as colônias têm um papel importantíssimo, pois, elas garantem os meios para as suas metrópoles obterem uma balança comercial favorável nas trocas com outros países.

Outrossim, é que a Revolução Industrial tornou os métodos de produção mais eficientes. Os produtos passaram a ser produzidos mais rapidamente, barateando o preço e estimulando o consumo. Por outro lado, aumentou também o número de desempregados. As máquinas foram substituindo, aos poucos, a mão-de-obra humana. A poluição ambiental, o aumento da poluição sonora, o êxodo rural e o crescimento desordenado das cidades também foram conseqüências nocivas para a sociedade. Tudo isso, pode-se observar, até mesmo, na atualidade, ou seja, o desemprego como um dos grandes problemas nos países em desenvolvimento. A geração de empregos tem se tornado um dos maiores desafios de governos no mundo todo. Os empregos repetitivos e pouco qualificados foram substituídos por máquinas e robôs. As empresas procuram profissionais bem qualificados para ocuparem empregos que exigem cada vez mais criatividade e múltiplas capacidades. Mesmo nos países desenvolvidos têm faltado empregos para a população.

REFERÊNCIAS

FALCON, Francisco J. C. Mercantilismo e Transição. Coleção Tudo é História. São Paulo. Editora brasiliense, 1985.

HOBSBAWM, Eric J. Da Revolução Industrial Inglesa ao Imperialismo. Tradução de Donaldson Magalhães Garschagen. Rio de Janeiro. Editora Forense Universitária, 2003.

 RIBEIRO, Darcy. O Processo Civilizatório: etapas da evolução sócio-cultural. Rio de Janeiro. Civilização Brasileira, 1875.

Sobre o autor
Alexandre Dias Carneiro

licenciado em letras com língua espanhola e bacharel em direito pela UEFS; bacharelando em teologia pelo CETAD; e especializando em direito processual penal pela Candido Mendes.

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Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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