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Greve:Contagem, Minas Gerais, em 1968

Agenda 21/09/2015 às 13:43

Texto que trata da greve havida em Contagem, Minas Gerais, em 1968 e que refletiu em outros estados do Brasil.

Pouco ou nada se fala no Brasil sobre o ano de 1968. Conhecido como o ano que não acabou, muito há falar ainda hoje. O que interessa para este breve texto é a greve ocorrida na cidade de Contagem, Minas Gerais, e que mobilizou dezesseis mil dos vinte e um mil trabalhadores das indústrias da região.

A greve nasceu nas fábricas. “Às 7 horas da manha do dia 16 de abril de 1968, os operários da trefilaria da Siderúrgica Belgo-Mineira pararam as máquinas e ocuparam a fábrica. Logo, 1.600 metalúrgicos estavam em greve, a primeira da história da empresa”. Três dias após os metalúrgicos da Sociedade Brasileira de Eletrificação (SBE) aderiram ao movimento e, no dia seguinte, os quatro mil e quinhentos empregados da Mannesman pararam, trazendo junto de si, pela ordem, os trabalhadores da RCA, Pohlig Haeckel, Industram, Cimec entre outras (MIRANDA, Nilmário. A cidade operária símbolo. In Teoria e Debate, ano 21 maio de 2008, p. 21).

Os metalúrgicos tinham vencido o medo. Nada adiantaria a intervenção no movimento sindical. A greve surgiu dentro das fábricas e ali se instalou. O coronel-ministro Jarbas Passarinho, ao analisar o movimento, pôs em prática a “guerra” que prometeu frente aos grevistas. Disse que a atitude dos trabalhadores era ilegal, além de um desafio ao governo, e que os grevistas poderiam ser despedidos e enquadrados na lei de segurança nacional. Acertou o não-pagamento dos salários dos dias parados com o patronato e a caça de um por um dos trabalhadores em suas casas. O parque industrial foi ocupado por mais de mil e quinhentos policiais militares e as assembléias foram proibidas, assim como a distribuição de panfletos e manifestos. No dia 26 de abril, os últimos grevistas voltavam ao trabalho, em uma vitória aparente dos patrões (MIRANDA, Nilmário. A cidade operária símbolo. In Teoria e Debate, ano 21 maio de 2008, p. 22).

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Mas qual foi o saldo real da “campanha” de Contagem? O saldo foi que este movimento tornou-se um marco. Introduziu no Brasil um novo modelo de organização de trabalhadores. Recusou a lei anti-greve e combateu o arrocho salarial de mais de 12% contado desde a tomada do poder pelos militares. Levou o governo a conceder primeiro aos operários de Contagem e, depois, a todos os operários brasileiros, um aumento salarial de 10%, primeiro desde 1964. Mais: o patronato viu-se impedido de evitar a greve, perdendo também o controle sobre a massa trabalhadora (MIRANDA, Nilmário. A cidade operária símbolo. In Teoria e Debate, ano 21 maio de 2008, p. 22). Dependia ele (patronato), agora, do poderio do Estado para combater o movimento paredista. Os trabalhadores se fizeram ouvir de verdade.

O que se pode dizer é que os trabalhadores de Contagem, em quem se inspirariam os de Osasco, São Paulo para um movimento posterior, mostraram com clareza que são eles (trabalhadores) os verdadeiros construtores da sociedade. Suas lutas definiram uma identidade ativa, não mais moldada ao bel prazer das elites, mas sim na atividade viva da massa trabalhadora, sem qualquer paternalismo que levaria à sua domesticação (como muito ocorre hoje). Os trabalhadores comprovaram, como principais agentes da mudança social (agora conscientes disso), que podem sim evitar a miséria e a alienação extremas, através dos movimentos de massa bem organizados, manifestações estas que atingem em cheio a cultura burguesa posta e que fazem com que a classe dominante tenha que ceder, em proveito também do homem trabalhador (CATTANI, Antônio David. A ação coletiva dos trabalhadores. Editora SMCultura – Palmarinca, Porto Alegre, 1991, 36/40).

A greve de 1968 em Contagem jamais foi ou será esquecida. Ela significou a novidade na organização e resistência dos trabalhadores. É o embrião de movimentos de bairros, favelas e moderna organização sindical. Fez com que os militares sentissem o poder da classe operária, poder este que lhes é nato, como principal agente de transformação e emancipação social. De contagem surge Osasco. De Osasco a Democracia floresce.

Sobre o autor
Rafael da Silva Marques

Juiz do Trabalho titular da Quarta Vara do Trabalho de Caxias do Sul; Especialista em direito do trabalho, processo do trabalho e previdenciário pela Unisc;<br>Mestre em Direito pela Unisc; Doutor em Direito pela Universidade de Burgos (UBU), Espanha; Membro da Associação Juízes para a Democracia

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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Trata este texto da greve havida em Contagem, Minas Gerais em 1968.

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