CONSIDERAÇÕES FINAIS
De plano percebemos uma gritante mudança de comportamento dos alunos, quando saímos de um modelo tradicional de ensino, para um modelo mais participativo, que agregou uma série de ferramentas da mediação e da comunicação como um todo. O formato circular das cadeiras favoreceu de forma surpreendente a horizontalização do conhecimento de forma que a hierarquia professor aluno fosse minimizada.
Confessamos que os longos períodos em que os alunos se submeteram as práticas tradicionais de ensino no âmbito jurídico, contribuíram para as dificuldades iniciais e tornaram inviável para muitos dos alunos uma participação maior na construção conjunta de conhecimento em especial um grande receio de falar e ser repreendido com julgamentos quanto a estar certo ou errado ou até mesmo uma reprovação do grupo por ter algum posicionamento que destoe da maioria.
Em um panorama geral avaliamos como muito positiva as mudanças implementadas e todo o esforço para agregar ramos do conhecimento distintos (filosofia, mediação, didática) em um único propósito (comunicação inclusiva).
Para encerrarmos este artigo, remetemos a uma imagem simples: a de uma brincadeira, normalmente encontrada nos livros de palavras cruzadas ou nas últimas páginas do jornal, a brincadeira se chama ligar pontos; neste jogo vamos ligando pontos numerados e, ao final, se tivermos sucesso, forma-se no papel uma imagem.
Neste artigo apresentamos alguns pontos que, em resumo, seriam: a plataforma discursiva habermasiana, a mediação e a comunicação em sala de aula; narramos a experiência que vem se desenvolvendo, que nos serve de laboratório, de alguma espécie de incubadora para uma nova proposta de mediação. O desafio agora é juntar esses pontos montando uma nova dinâmica comunicativa.
Acreditamos que essa comunicação inclusiva em sala de aula, que ousamos chamar de uma nova perspectiva para a mediação, deve se pautar pelos princípios éticos habermasianos, que em suma se traduziriam em pensamento, fala e ação alinhados e voltados para o entendimento intersubjetivo, que chamamos de agir comunicativo. Nesse passo, todos os esforços do mediador devem vir nesse sentido, o que se traduziria em um profissional com duas preocupações: a primeira dela é de fazer uma investigação da situação para identificar se existe o alinhamento entre pensamento, fala e ação, sendo este o nosso comportamento nas primeiras aulas, que revelaram uma falta de atenção dos alunos. A segunda preocupação do mediador é a de realinhar a ética discursiva e despertar o interesse dos concernidos para um agir comunicativo, sendo este o desafio que estamos enfrentando no momento. E chamamos este primeiro esforço de uma experiência de mediação com diretrizes teóricas de inspiração habermasiana/discursiva.
Agora, com um nome predefinido, fica mais claro que os primeiros pontos já foram unidos; será que ao final teremos um belo desenho, ou apenas um garrancho sem sentido? Quem saberá? O importante é que começamos algo, estamos em sala de aula trabalhando Habermas, sua plataforma discursiva e mediação. A cada comentário carinhoso, a cada olhar interessado e história partilhada acreditamos estar no caminho certo.
A mediação nos moldes propostos pode não ter tocado cada um dos alunos sob nossa batuta, mas com certeza já conquistou esses três mediadores, que lhes escrevem, de uma forma profunda; hoje um pouco mais apaixonados pela filosofia habermasiana e pela mediação, tiramos nossa ideia da incubadora acadêmica e levamos para o mundo a Mediação Habermasiana. Não sabemos se ela está pronta para ganhar o mundo, talvez ela precise de ajuda para se moldar, se aperfeiçoar. Enfim, a sorte está lançada e o futuro dessa experiência de mediação com diretrizes teóricas de inspiração habermasiana/discursiva também.
REFERÊNCIAS
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BRASIL, Projeto de Lei do Senado n. 517. de 25 de agosto de 2011. Dispõe sobre a mediação entre particulares como meio alternativo de solução de controvérsias e sobre a composição de conflitos no âmbito da Administração Pública. Disponível em: <https://legis.senado.leg.br/mateweb/arquivos/mate-pdf/143547.pdf> acesso em 18 out. 2014.
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FISCHER, Roger. URY, William. PATTON, Bruce. Como chegar ao sim: a negociação de acordos sem concessões. Tradução: Vera Ribeiro e Ana Luiza Borges – 2ª Ed. Revisada e ampliada. Rio de Janeiro: Imago Ed, 2005.
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LÉVI, Pierre. Inteligência coletiva: Para uma antropologia do ciberespaço –5.ed. São Paulo: Edições Loyola, 2007. Disponível em: <https://books.google.com>acesso em 20 out. 2014.
LIMA, Ana Paula. Mediação: Construção de pontes para melhor compreensão das margens. Lisboa: 2006. Disponível em: <https://www.multiculturas.com/textos/mediacao_construcao_pontes_Ana-Paula-Lima.pdf > acesso em: 17 out. 2014.
MEDEIROS, Carlos Frederico Maroja de. Ação Comunicativa na Família. Dissertação Mestrado em Ciências Jurídicas e Sociais. Rio de Janeiro: UFF, 2011, p. 83.
REESE-SHÃFER,Walter.CompreenderHabermas. Tradução de Vilmar Schneider. Rio de Janeiro: Vozes,2008.
Notas
1 Escravos de Jó é uma cantiga de roda de origem, africana. Formada a roda, as crianças (ou jogadores) permanecem paradas, podendo inclusive ficar sentadas, com um objeto igual para todos (pedrinhas, copo, caneca, etc), na mão direita. Ao ritmo da música, marcando os tempos fortes, iniciam a brincadeira de passar o objeto que têm na mão direita para o vizinho da direita, e receber com a mão esquerda o objeto do vizinho da esquerda (se estiver de pé), trocando-o rapidamente de mão. Disponível em <https://pt.wikipedia.org/wiki/Escravos_de_J%C3%B3> acesso em 17 out. 2014.
2Em termos de fala damos a interpretação mais abrangente possível incluindo a linguagem verbal e a não verbal além da comunicação paralela,através da leitura e de comunicação virtual de todos os tipos.
3 Presentemente, esta é a numeração das artes mais consensual, sendo, no entanto apenas indicativa, onde cada uma das artes é caracterizada pelos elementos básicos que formatam a sua linguagem e foram classificadas da seguinte forma: 1ª Arte - Música (som); 2ª Arte - Dança/Coreografia (movimento);3ª Arte - Pintura (cor); 4ª Arte - Escultura/Arquitectura (volume); 5ª Arte - Teatro (representação);6ª Arte - Literatura (palavra);7ª Arte - Cinema. Adaptado do verbete virtual do sitio conhecido como Wikipédia Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Numera%C3%A7%C3%A3o_das_artes> acesso em 19 out. 2014.