4. PRISÕES BRASILEIRAS QUE ADOTARAM O SISTEMA PARCERIAS PÚBLICAS – PRIVADAS (PPP)
As PPP constituem contratos de colaboração entre o Estado e o particular, por meio dos quais, nos termos estabelecidos em cada caso, o ente privado participa da implantação e do desenvolvimento de obra, serviço ou empreendimento público, bem como da exploração e da gestão das atividades dele decorrentes, cabendo-lhe contribuir com recursos financeiros, materiais e humanos e sendo remunerado, segundo o seu desempenho na execução das atividades contratadas. (Lei 14.868/03).
Nesse sentido a administração pode prestar serviços públicos diretamente, ou através de delegados (concessionárias e permissionárias), sempre através de licitação conforme o art. 175. da CR/88 regulamentado pela lei 8.987/95.
Dois Estados brasileiros já iniciaram processos para a construção de presídios em parceria com a iniciativa privada.
O Estado de Minas Gerais deu um grande avanço no sistema Carcerário, através de uma licitação para construção de uma penitenciaria, por meio de parceria público-privada (PPP).
Em Minas Gerais e Pernambuco, os contratos de PPP preveem que o consórcio vencedor de licitação tem de fazer o projeto, construir o complexo prisional e se responsabilizar pela gestão do presídio quando a unidade entrar em operação. O Estado, por sua vez, fica responsável pela segurança das muralhas, o transporte dos detentos e a diretoria da prisão.
O consórcio de Gestores Prisionais Associados (GPA) foi o vencedor e responsável por construir o novo complexo, que será composto por cinco unidades, três de regime fechado e duas de regime semiaberto, em que irá administrar o complexo, obedecendo 380 indicadores de desempenho definidos pelo governo mineiro, por meio de um contrato de concessão, com prazo de 27 anos, gastando em torno de 300 milhões.
O Complexo Prisional Público Privado fica em Ribeirão das Neves, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), e foi inaugurado em 28 de janeiro de 2013, a construção foi feita com dinheiro privado sem nenhum dinheiro público.
Existe uma diferença alarmante no Complexo Prisional Público Privado de Ribeirão das Neves com os demais presídios brasileiros, onde a estrutura é totalmente correta e segura, tendo sido pensada a segurança dos presos, funcionários e familiares.
Na chegada ao presídio é fácil se observar o tratamento diferenciado dos familiares dos presos, respeitando sua dignidade, onde há uma sala coberta, para que os familiares fiquem abrigados do sol e da chuva a espera, para se cadastrarem e visitarem os presos. É bem diferente dos atuais presídios brasileiros, onde os familiares ficam na rua, expostos ao sol e chuva e sem nenhuma segurança.
Todos os visitantes, sem nenhuma restrição, passam por uma revista rigorosa para impedir a entrada de objetos proibidos no Complexo. Tudo é feito antes do acesso dos visitantes aos presos, cujos bens pessoais são passados em uma máquina de “Raios-X” e os visitantes revistados em uma sala, com revista íntima, com um detector de metal, e, também, em “Raios-X”.
Já a Bahia mantém cinco unidades prisionais em cogestão com a iniciativa privada.
O Paraná teve uma experiência de terceirização nos presídios estaduais semelhante à baiana. Seis unidades funcionaram neste regime entre 1999 e 2006, iniciado durante o governo de Jaime Lerner e findado no governo de Roberto Requião.
No Paraná, na cidade de Guarapuava foi inaugurada a primeira Penitenciaria Industrial do País, em parceria com a iniciativa privada, destinada a homens presos condenados em Regime Fechado, com capacidade para abrigar 240 internos. Em Guarapuava, foram terceirizadas várias atividades: alimentação, vestuário, higiene, assistência médica, psicológica e odontológica, bem como a segurança interna e a assistência jurídica. Estas incumbências ficaram a cargo da Humanitas Administração Prisional S/C, subsidiária da empresa Pires Serviços de Segurança. O governo do Paraná ficou encarregado da nomeação do diretor, do vice-diretor e do diretor de disciplina, que supervisionam a qualidade de trabalho da empresa contratada e fazem valer o cumprimento da LEP. Devido ao grande sucesso com o modelo de cogestão em Guarapuava, o governo estadual optou por ampliar para outros cinco estabelecimentos penais: a Casa de Custódia de Curitiba, a Casa de Custódia de Londrina, a Penitenciária Estadual de Piraquara, a Penitenciária Estadual de Foz do Iguaçu e a Penitenciária Industrial de Cascavel. As seis unidades terceirizadas chegaram a abrigar 2.638 detentos, ou seja, 29,2% da população carcerária do Paraná, totalizando 9.033 pessoas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O sistema carcerário é um problema que vem se arrastando a milhares de anos, sendo difícil achar qual sistemática possível para não mais prender os criminosos, mas também ressocialisá-los. Diante de tal análise verifica-se que a prisão poderia ser a chance desse ser humano se ressocializar, mas para isso deve ter apoio tanto dentro da prisão como também fora dela, pois aquele indivíduo que volta a delinquir é por que só conhece aquele meio de vida, não tem profissão, estudo, os familiares e amigos já possuem uma conduta fora do padrão.
Portanto, quando se fala em privatizar pensa-se em transferir a organização que era do Estado para particular, e é exatamente isso que talvez seja necessário. Mas para que isso ocorra tem que haver a fiscalização do Estado.
Nesse sentido o presente estudo buscou trazer uma abordagem das questões relacionadas à privatização do sistema carcerário brasileiro, considerando as situações de alguns presídios, cujo método inovador busca resolver o grande problema das prisões superlotadas, que não permitem realizar o objetivo da pena que é ressocializar o preso.
Abordou-se o novo modelo de administração prisional que tem sido de competência da iniciativa privada, em conjunto com Estado, trazendo para a discussão os enfoques positivos e negativos da privatização para o Estado, sociedade e preso.
Ainda demonstrou-se que o atual sistema prisional brasileiro está totalmente falido, onde os presos são submetidos a condições desumanas de encarceramento, e que a execução da pena prisional no Brasil está ficando aquém, pois, de acordo com a Lei 7.210/1984 (Lei de Execução Penal) estabelece, em seu artigo primeiro, o objetivo de “efetivar as disposições da sentença criminal e proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado e do internado”.
Assim, a execução penal não trata apenas das questões relacionadas com o cárcere privado, mas se preocupa com a reabilitação do condenado para que este possa retornar ao convívio com seus familiares e a sociedade.
Por esta visão, pode-se observar que o sistema prisional brasileiro está necessitando de uma reforma urgente, o Estado precisar assumir sua responsabilidade, e a sociedade precisa estar mais atuante e cobrar a responsabilidade pertencente ao Estado. É óbvio que o Estado ficou omisso por anos deixando o caos tomar conta dos presídios. Assim, diante do apresentado neste enfoque, a melhor solução é a privatização do sistema prisional, visto que tal condição irá trazer benefícios para a sociedade brasileira, pois o atraso a qual se encontra o sistema carcerário só acarreta o adiamento do processo de desenvolvimento e recuperação da atual situação carcerária, mas cabe observar que para isso ocorra, teria que ter uma reforma política e legislativa, visando uma parceria entre a administração pública e a iniciativa privada.
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