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Finalmente, advocacia ou concurso público? Como vencer este dilema

Agenda 04/01/2017 às 17:04

Diante da multiplicidade de variáveis a enfrentar, risco a correr, como, efetivamente, decidir-se entre exercer a advocacia privada ou seguir-se pela via do concurso público? O que de mais importante há de influenciar neste processo de escolha? Avistemos.

Não é com pouca frequência que se veem tantos advogados recém-formados logo desistindo da advocacia em busca de um cargo público. Ainda na faculdade, a ideia de que ser advogado hoje em dia é sinônimo de ganhar pouco e de que os casos de sucesso demandam sorte ou uma carga insustentável de trabalho foram sendo incutidas na mente da maioria dos estudantes e numa espécie de consciência geral da sociedade.

O dilema “concurso x advocacia” não costumava existir tempo atrás. Nunca tivera havido uma proliferação tão descontrolada das faculdades de direito no país, muitas das quais completamente inabilitadas ao patrocínio, já que impulsionadas quase sempre por uma voracidade lucrativa muito além da preocupação com o ensino. Embora suspensa temporariamente a criação de novas instituições pelo Ministério da Educação até que seja deliberada uma nova política de regulamentação, determinação já tardia, aliás, ainda assim são, aproximadamente, 1.200 instituições que cumulam ao Brasil um número de faculdades maior que em todo o mundo. Consequentemente, para “angariar” alunos, a facilidade do ingresso alargou-se a níveis extremos, não existindo sequer um grau razoável de seleção, chegando-se a casos em que tampouco uma avaliação prévia é exigida. As mensalidades tornaram-se enormemente negociáveis, a qualificação do aluno também. Em que pese este não ser um quadro fixo, tornou-se uma infortuna regra geral. Exceção é deparar-se com o contrário.

Mas, que todos já saibam disso, é esperado. O que, na verdade, esse quadro mais influencia no processo de escolha é que seguir a advocacia ou o caminho público exige o mesmo comprometimento. Para maturar a decisão mais segura possível, é preciso considerar fatores, avaliar riscos, traçar, enfim, um planejamento profissional que se confunde com um planejamento da própria vida. Optar por uma profissão reclama preliminarmente este pensamento muitíssimo inteligente: Poderei ser feliz naquilo? Projete-se para o futuro e tente avaliar, por mais abstrato que se mostre, como estaria você daqui a 20 ou 30 anos naquela profissão. O maior equívoco, e talvez o responsável por presenciarmos tantos maus prestadores em qualquer área que seja, é se olvidar que uma definição profissional é também uma escolha pessoal, onde o profissional passará a maior parte dos seus dias, durante anos e anos. Parece lógico, é lógico, mas frequentemente o foco recai apenas sobre os ganhos, e essa é uma ação com péssimas consequências a longo prazo.

As suas habilidades também podem influenciar valiosamente nesse processo. Não que a sua decisão deva ser apenas motivada por esse critério, já que muito do que não é sabido se aprende, mas levar em conta aquilo que se faz bem e ter claramente delineado o seu perfil auxilia sobremaneira a ver-se numa ou noutra área. Quanto ao mito de que a advocacia demanda menos estudo, é um erro, além de ingênuo, fatal. A preparação contínua não é escolha, mas pré-requisito. Ambos os seguimentos, resguardados os devidos métodos e formas de estudo, sempre exigirão comprometimento com o conhecimento, do modo como aprofundamos em nosso último encontro. Portanto, tenha isso muito claro durante sua análise.

Em termos de vantagens, sim, a oferta de estabilidade, a considerável remuneração, auxílios fixos, um período certo para férias, são fatores que tornam sedutora a opção pelo serviço público, mas a advocacia tem muito de desejável. De inicio, a dinâmica das atividades, definitivamente, jamais permitirá monotonia. Advogar propicia ao profissional ultrapassar fronteiras, tonar do mundo o limite. A remuneração de um advogado não tem teto. Poucas ou uma única causa pode render-lhe um número na casa dos milhões. É claro que por trás deste ápice estarão anos de dedicação e trabalho duro, mas são possibilidades plenamente factíveis. Um jovem advogado não deve contentar-se com um mínimo que não supera muitas vezes o seu próprio gasto mensal, deve qualificar-se e perseverar em seu planejamento estratégico, tendo em mente que à proporção de seu desejo de ganho deve ser a de sua dedicação.

É natural que pareça agradável a nós, jovens advogados, especialmente quando todos os produtos de nossas conquistas foram alcançados somente pelo esforço do trabalho e do estudo mútuos, sem favorecimentos pessoais, a ideia de que essas benesses de um concurso viessem muito a calhar sobre o cansaço dessa exaustiva luta diária. Mas, acredite, este não é o melhor caminho. Basta pensar que nada que é fácil dura por muito tempo. Pense em alguma grande vitória de sua vida e veja se ela foi fácil de ser conquistada. Tenho certeza de que nenhuma.

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Da maneira como preparar-se para vencer em um certame público exige inteiro empenho e disciplina do aluno, assim também o é para o jovem advogado que almeja grandes resultados. As horas de estudo exclusivo do “concurseiro” são mescladas com a intensidade do trabalho e da preparação do jovem advogado; os meses, anos sem retorno financeiro são comparados aos primeiros anos da advocacia, quando a remuneração é baixa e o trabalho maior; o planejamento de aulas substituído pelo planejamento estratégico de trabalho e de formação da personalidade profissional. E, em todo caso, paciência. O retorno demanda tempo. Ao findo, os resultados chegarão exitosos para um e outro, porquanto tenham feito o que lhes coubera realizar.

Aos poucos, vamos tomando conhecimento de que não é a advocacia que está em crise, são aqueles que a exercem com pouco rigor que se vão inserindo numa situação muito aquém àquela em que poderiam estar. Do contrário, porque veríamos ainda tantos advogados bem-sucedidos? Não é mistério, nem sorte. É real: Trabalho estratégico, exatamente isso que fazemos em nossos encontros semanais.
É somente passando por este processo de auto-avaliação que se pode decidir seguramente, mas é um o maior fator que distancia qualquer dúvida, que abate a insegurança e frustração: A paixão, aquele intenso ardor que fez Confúcio proclamar, milênios atrás, quão feliz é aquele que escolhe um trabalho que ama, porque a este nunca será dado um dia de trabalho sequer.

A advocacia não é palco para homens e mulheres “mais ou menos”, assim como nenhuma profissão o é, seja em ares públicos ou privados. Mas, em justa verdade, é preciso que se diga, aos advogados é dado um dever cunhado na mais pura coragem e avidez. E é compartilhando das mesmas incertezas da juventude profissional que posso assegurar-lhes com absoluta certeza, queridos leitores, não ser a ausência de medo e nem a intensidade dos desafios que nos colocam entre nos melhores ou não, porquanto existam para todos. É senão a forma como reagimos a eles, parando no caminho ou, ousado, e mesmo cambaleantes, prosseguindo até o final. Não queira menos que esta linha de chegada.

Sobre a autora
Cinthia Greyne

Advogada do Escritório Paulo Quezado Advocacia; Pós-graduanda em Direito e Processo Tributário pelo Instituto Brasileiro de Estudos Tributários - IBET, cursando Master of Laws (LL.M) em Direito Empresarial pela FGV/Direito Rio; Colunista da Revista Jurídica "Direito Ce" sobre Advocacia Empreendedora; Ministrante de cursos pela Escola Superior de Advocacia do Estado do Ceará; Conselheira Titular do Conselho Consultivo Jovem da OAB/CE desde 2015; Membro da Comissão de Defesa das Prerrogativas dos Advogados e Valorização da Advocacia da OAB/CE; Incentivadora e fomentadora da gestão empreendedora na advocacia através de cursos, encontros e redes nacionais de integração e network.

Informações sobre o texto

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