As transformações advindas da era da informática e das redes sociais estão mudando a maneira de se fazer política em todo o mundo. A disseminação descentralizada, não hierárquica e altamente pulverizada de informações (através de ferramentas como Twitter, WhatsApp e Facebook, dentre outras), propicia aos cidadãos novas formas de se ver, avaliar e fiscalizar as ações praticadas pelos agentes que atuam em nome do estado.
Nessa nova dinâmica, o cidadão deixa de ser apenas um cliente da Administração Pública e passa a ser mais um elemento de fiscalização da estrutura das organizações públicas, o que sinaliza uma necessidade inequívoca de adaptação do setor público aos anseios da população, que cobra maior transparência.
A resposta que o governo dá a tais demandas e a forma como utiliza os recursos arrecadados estão diretamente associadas à ordem democrática.
Esse controle que o cidadão exerce sobre os atos do governo não é novidade, já que faz parte do sistema de freios e contrapesos elaborado pelos federalistas norte-americanos, por meio do qual as atribuições são divididas entre os poderes de estado (executivo, legislativo e judiciário), que, por sua vez, atuam em um ambiente limitado pela Constituição e pela vontade popular (exercida, dentre outros meios, através do voto).
A discussão sobre a forma de controle a ser exercida sobre esses atores está diretamente ligada ao conceito de accountability, segundo o qual agentes públicos devem prestar contas e se responsabilizar pelos atos e decisões tomadas na condição de gestores, o que inclui também o compromisso ético e legal de responder pelo poder que lhes é delegado.
A maioria dos autores distingue duas formas de accountability: a vertical, decorrente do controle que a sociedade exerce sobre o estado (a exemplo dos eleitores, que podem trocar ou reconduzir os mandatos de seus dirigentes e representantes) e a horizontal, exercida pelos mecanismos e órgãos de controle interno e externo (como os Tribunais de Contas).
Assim como ocorre com o controle vertical - modernizado pelos instrumentos de informática - o controle horizontal também busca uma atuação mais efetiva, eficiente e eficaz, por meio de novas tecnologias e formas de ação. Exemplo disso é o Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCESP), que instituiu mecanismos como a fiscalização concomitante, as auditorias operacionais e a apuração de índices de gestão dos 644 municípios a ele jurisdicionados.
A maior inovação, contudo, reside na aproximação da Corte de Contas paulista com as entidades da sociedade civil (por meio da capacitação de membros dos conselhos municipais de saúde) e com os cidadãos em geral (por intermédio da disponibilização dos aplicativos 'IEGM Mobile' e 'Fiscalize com o TCESP'), o que cria uma nova dimensão de controle.
Tomando emprestado um conceito da física, esta accountability é a soma da força vertical (sociedade civil) com a horizontal (mecanismos de controle), o que se traduz em uma resultante diagonal ou transversal, cuja intensidade é maior do que cada uma das forças individuais que a compõe.
Está configurada, assim, uma nova dinâmica no controle da Administração Pública, que apresenta uma inequívoca capacidade de motivar indivíduos a superar as barreiras existentes para o pleno exercício da cidadania, tudo em benefício da própria sociedade.