A linguística é o estudo científico da linguagem humana. Desde a antiguidade clássica até o início do século XIX a pesquisa linguística estava inserida em outras ciências, tais como a lógica, psicologia e filosofia, não sendo reconhecida como ciência autônoma. Em 1916 Ferdinand Saussure publica seu Curso de Línguística Geral e a linguística passa a ser estudada como ciência autônoma, tendo como objeto de estudo a langue. Identificamos, assim, que ao proporem novos parâmetros os estudiosos permitem a evolução científica, como ocorreu com a linguística, e que a “proliferação de versões téoricas e de paradigmas concorrentes” se faz necessária no cenário científico, visto que “é a comunidade ciêntifica que propõe os parâmetros, que escolhe e determina se uma teoria ou experiência é válida ou não” (apud CORACINI, 2007).
O estudo da linguística passa por diversos períodos históricos e, percebe-se que a mudança de parâmetros se faz necessária para a evolução científica. Saussurre torna a linguística uma ciência autônoma, realizando recortes da realidade para a análise observacional da langue, de modo imparcial-neutro. Assim, houve uma mudança de paradigma, na medida em que se abandona o histórico comparativo do século XVIII e o estruturalismo desponta no século XIX. Segundo Kuhn (apud CORACINI 2007), períodos de estabilidade ou “ciência normal” sucedem transformações, marcadas por rupturas, e geram períodos de ciência extraordinária”, visto que paradigmas são quebrados ou alterados e novas estruturas despontam no cenário para discussão e estudo, assim como ocorreu com a linguística.
Para se fazer ciência não se pode ter um único parâmetro, ou paradigma, pois isso levaria a uma estagnação social e impediria a evolução da ciência, ou de qualquer campo do conhecimento humano, visto ser no momento em que o paradigma concorrente entra em crise é que o conhecimento científico desponta de modo extraordinário.
É o que ocorre novamente no campo científico da linguística, na segunda metade do século XIX, quando Chomsky apresenta sua teoria gerativista, que, sob uma perspectiva “biologizante”, considera como ponto central o falante. A linguística deixa de ser analisada como sistema e passa a ser analisada como competência. Segundo Kuhn, citado por Coracini (2007): “são os períodos de crise, que precedem as chamadas revoluções científicas, que provocam o aparecimento de novas teorias e de paradigmas concorrentes, com o intuito de criar uma alternativa mais adequada”.
Saussure e Chomsy buscam a cientificidade, pois ambos consideram a linguística uma ciência autônoma e homogênea. Porém, possuem olhares diferentes sob o objeto de estudo, sendo que o primeiro estuda apenas a langue, o segundo inclui a parole. Saussure dedica-se ao estudo da langue, independente dos falantes e do meio social. Por sua vez, Chomsky considera que a estrutura não é estática, amplia o objeto de estudo e realiza a análise do ponto de vista do falante e o considera ouvinte ideal, pois, apesar deste estar diante de uma estrutura complexa e homogênea, conhece a sua língua perfeitamente e não é afetado pelas limitações de memória, distrações, desvios de atenção ou erros. Logo, a linguística se adapta à realidade ou personalidade do observador-pesquisador, que se assemelha a um camaleão, como afirma Tarallo (1986).
Na segunda metade do século XX, Labov (1966), em continuidade ao estruturalismo e gerativismo, propõe um olhar pautado no aspecto social, a sociolinguística variacionista, realizando uma abordagem integrativa, em que a linguística passa a ser estudada no seio do contexto social. Percebe-se um novo paradigma despontando no cenário científico, trazendo benefícios ao estudo e aperfeiçoamento da ciência.
Essa virada pragmática que surgiu com Labov nos faz refletir sobre a variação de paradigmas no cenário linguístico, pois percebemos que a análise científica não pode se pautar em uma única teoria ou parâmetro, pois no estudo científico não identificamos algo pronto para ser investigado; é necessário construir-criar o seu objeto de estudo de acordo com a realidade em que está inserido para ser investigado.
O fato de os paradigmas dos estudos científicos da linguagem na área da linguística terem sido definidos pelo Estruturalismo de Saussure, pelo Gerativismo de Chomsy e pelo Sociolinguístico de Labov, sugere que a pluralidade teórica é indispensável para o avanço científico, como afirma Kunh, visto favorecer o desenvolvimento da ciência e possibilitar que os recortes da realidade sejam analisados de modo mais profundo, sendo que uma nova análise considera a anterior e dá continuidade ao ciclo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARROS, L. Curso Básico de Terminologia. São Paulo. Editora da Universidade de São Paulo, 2004.
BEVILACQUA, C. R. A Fraseologia jurídico-ambiental. Dissertação (mestrado). Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Curso de Pós-Graduação em Letras, Porto Alegre, 1996.
SAUSSURE, F. Curso de Linguística Geral. São Paulo, Cultrix, 1973.