O texto se propõe fazer uma ligação entre o filme Matrix, fenômeno da indústria cinematográfica, baseado na publicação do filósofo francês Jean Baudrillard, Simulacros e Simulação, Iluminismo e a busca da verdade.
A autora vai demonstrando através de diálogos dos personagens e passagens do filme as ligações entre o que seria um filme hollywoodiano e o teor filosófico estabelecido na obra de Baudrillard, analisando questões como a teoria da ideologia de Marx, o dualismo antropológico, a filosofia da técnica de Heidegger, o argumento sobre o gênio maligno de Descartes entre outras questões implícitas na trilogia.
O interessante no texto é exatamente essa ligação entre a história do filme e toda a análise filosófica por traz do enredo ou norteador do roteiro, a influência direta de Baudrillard nos idealizadores do projeto Andy e Larry Wachowsky, é esmiuçada no decorrer do texto.
As influências filosóficas são sugeridas quando diz que os autores devem ter lido Lacan ou que Matrix seria a personificação extrapolada da Kulturindustrie, a substância social reificada e alienada (do capital) diretamente dominando tudo, colonizando nossa própria vida interior, usando-nos como fonte de energia.
Ponto interessante é a ligação entre o mundo real e a Matrix e o Deserto do Real, a fábula de Borges citada no livro de Baudrillard como a mais bela alegoria da symulação que dizia que cartógrafos do império esforçaram-se por não ser minuciosos no mapa que este acaba por cobrir exatamente o território, que com a ruína do império, resta apenas o mapa, como um modelo do real sem origem nem realidade: Hiper-real.
A ideia de simulacro vem da Grécia, remetendo a Platão e sua caverna, seria assim o simulacro uma ligação entre realidade e ilusão, no caso do filme o personagem Neo se iguala aos prisioneiros da caverna, no entanto, a volta à realidade é diferente, onde o real se encontra destruído, ainda nessa análise sobre aceitação da realidade, a autora cita ainda a liberdade e a não aceitação da realidade, pois para o livre agora, aquela nova realidade não seria a verdadeira, nesse ponto a ligação com o filme é estabelecida através de diálogos entre Cypher e o Agent Smith, onde o primeiro prefere a ignorância e a volta para a Matrix.
A busca pela verdade real, ou a definição de realidade é estabelecida no texto citando passagens como Morpheus apresenta a Neo: O que é real? Como você define o real? Essa definição de realidade, da verdade é um quesito filosófico que sempre foi presente e continua sendo ponto de questionamento e debate.
Baudrillard diz que não é mais uma questão de imitação, nem de duplicação, nem mesmo de paródia. É uma questão de substituir a realidade pelos signos da realidade, chega assim à conclusão que a própria cultura contemporânea é artificial, é fruto da fabricação de uma civilização hiper-real que constrói cenários ilusórios, nesse quesito a autora faz ligação com a questão do programa Big Brother e a Disneylândia como formas de domínio do hiper-real e da simulação.
A ligação entre mapa e território e a Matrix do filme é demonstrada quando diz que os seres humanos conectados a esse programa de simulação só conhecem os fatos da sua cultura e “realidade” por intermédio de um programa de computador, pois a realidade em que esse se baseou de início não mais existe. Num sentido bem literal, então, “o território não precede o mapa, nem sobrevive a ele”. O que os humanos sempre conheceram foi só o mapa, ou o modelo.
Nesse sentido é a ilusão de vivência da realidade do ser humano, nesse aspecto estaríamos vivendo uma ilusão onde a verdade não é conhecida e há muito perdida ou que nunca mesmo existira. O texto ainda traz o Iluminismo para o debate afirmando que os teóricos do último prometem liberação de vários tipos de autoridade externa: familiar, religiosa e política, mas uma conseqüência não pretendida com a implementação das teorias do Iluminismo é a eliminação da liberdade, Hibbs fala da eliminação da liberdade quando acreditamos apenas naquilo que é verificável através das ciências naturais, matemáticas e mecânicas.
Essa busca da certeza objetiva, altamente racional é questionada, principalmente na pós modernidade, onde a busca pelo entendimento do pensamento humano vem aos poucos sendo mais constante no campo social-filosófico, com a aceitação de outros modos de pensar e de estabelecer um questionamento a toda imposição de pensamento préfabricado.
A busca pela liberdade é bem exposta no texto, quando diz que Morpheus quer libertar os humanos da Matrix e de sua pseudo-liberdade que não passa de ilusão, Cypher quer se libertar da Nabucodonosor e de Morpheus, e o Agente Smith que libertar os computadores, essa liberdade norteia todo o pensamento, mas no entanto a presença de simulacros é presente, nesse sentido o texto tem seu encerramento fazendo analogia entre o Reality Show e a Matrix, dizendo que o primeiro seria uma hiper-realidade consciente, onde somos cúmplices do simulacro criado, bem fundamentado e de audiência garantida. Inseridos na Matrix, somos ignorantes da nossa condição de “baterias” – a não ser, claro, que Morpheus cruze o nosso “destino”.
A busca por uma liberdade e a procura pela verdade é basicamente a ideia norteadora do texto, criticando a condição atual de aceitação das imposições nos dadas, até mesmo por ignorância, que vem há muito passada por gerações e hoje caracteriza-se como hábito, cultura ou até mesmo uma pseudo-realidade.