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Síndrome de Burnout: A Síndrome do Esgotamento Profissional

Agenda 08/08/2018 às 18:28

O artigo em questão tem como objetivo o estudo da Síndrome de Burnout, a qual é atualmente classificada pelo Ministério do Trabalho como uma doença ocupacional.

A Síndrome de Burnout, também conhecida como a Síndrome do Esgotamento Profissional, está relacionada ao mau comportamento desenvolvido pelo empregado no ambiente de trabalho em decorrência da exaustão, despersonalização - caracterizada pela insensibilidade emocional do profissional, com prevalência de condutas cínicas e de dissimulação afetiva (CARVALHO, Magalhães; 2010, p. 203) - e diminuição da realização profissional. Para Cristina Nabuco (2015, p. 3) "é um mix de fatores pessoais, profissionais e sociais" que juntos levam a estafa zero do empregado que antes exercia sua função com motivação e felicidade.

Com os primeiros relatos surgidos na década de 1950 por Schwartz e Will no famoso caso "Miss Jones", o qual "abordou os problemas de uma enfermeira em decorrência do trabalho (SCHMITZ, 2015 apud CARLOTO & Câmara, 2008)", atualmente, a Síndrome de Burnout está relacionada às doenças laborais e possui registro no Grupo V da CID-10, também conhecida como Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde.

Segundo estudiosos, ela atinge, principalmente, os profissionais que se doam, intensamente, aos cuidados de outras pessoas, a exemplo de advogados, professores, profissionais da área da saúde, policiais, bombeiros, jornalistas e encarregados do setor de Recursos Humanos. Ou ainda, nas palavras de Camila Schorr Miná (2011, p. 1), "profissionais envolvidos com qualquer tipo de cuidado relacionado com a atenção direta, contínua e altamente emocional".

Psicólogos, carcereiros, oficiais de justiça, assistentes sociais, atendentes de telemarketing, bancários, executivos e arquitetos (NABUCO, 2015, p. 3), também estão na lista dos profissionais mais atingidos pela síndrome. Percebemos que a lista é enorme, e com certeza, com o passar dos anos, ela só deve aumentar.

Segundo Cristina Nabuco, as mulheres são as que mais sofrem e as que são mais afetadas pela Síndrome de Burnout. Ou, em suas palavras (2015, p. 3) "num grupo de mil profissionais, há 540 mulheres para 460 homens com Burnout".

Para Nabuco, "elas são mais afetadas porque não se lembram de seguir a orientação das aeromoças: colocar em si mesmas a máscara de oxigênio antes de ajudar os outros". Além disso, ainda há, no próprio ambiente de trabalho, o tal do serviço doméstico do escritório, onde a mulher, além de exercer as atividades inerentes ao seu cargo, ainda realiza tarefas como atendimento telefônico, apontamento de notas, servir/oferecer café, entre outras, "sem serem recompensadas por isso".

E, tendo em vista a necessidade que sentem em ajudar o próximo, de se colocarem no lugar do outro, de se mostrarem mais úteis, acabam se tornando incapazes de dizer não a esses desvios e abraçam mais obrigações, o que as sobrecarregam de uma forma até que chegam a um ponto crítico da Síndrome de Burnout (NABUCO, 2015, p. 3).

Apesar de os primeiros relatos da Síndrome de Burnout terem surgido nos anos de 1950, fora somente em 1974 que ela ganhou grande conhecimento ao ser a primeira produção sobre Burnout atribuída à Herbert Freudenberger, psicólogo alemão, mas naturalizado americano, que dedicou-se ao estudo da Burnout e de seus sintomas, iniciando sua prática de psicologia em Nova Iorque, nos Estados Unidos, país onde faleceu em 1999, aos 73 anos de idade. No Brasil, entretanto, "a primeira publicação que discorria sobre a Síndrome de Burnout foi feita por França (1987) na Revista Brasileira de Medicina" (SCHMITZ, 2015, p. 17).

Além de sua atividade na prática clínica, Freudenberger foi também o autor cuja contribuição para a compreensão e para o tratamento do estresse, sobretudo a Síndrome de Burnout e também para a abordagem terapêutica do abuso de substâncias, foram marcadamente notáveis.

Como resultado desse estudo, concluiu-se que os trabalhadores afetados pela síndrome costumam ser, inicialmente, diagnosticados com depressão, tendo em vista serem os sintomas parecidos.

Entretanto, a "agressividade, isolamento, mudanças de humor, irritabilidade, dificuldade de concentração, falha da memória, ansiedade, tristeza, pessimismo, baixa autoestima, e ausência no trabalho" são sintomas que explicam e ajudam no diagnóstico correto da Síndrome de Burnout, e não no diagnóstico da depressão (____, 2016, p. 1).

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Tais sintomas, contudo, não são os únicos. Alguns pacientes ainda relatam a presença de sentimentos negativos, como a desconfiança e a paranoia. Há relatos também de constantes dores de cabeça, "enxaqueca, cansaço, sudorese, palpitação, pressão alta, dores musculares, insônia, crises de asma e distúrbios gastrointestinais, respiratórios e cardiovasculares", além de alterações no ciclo menstrual das mulheres (2016, p. 1).

O cinismo, o sentimento de fracasso, a onipotência, a dificuldade de confiar na competência de outras pessoas e a delegação de tarefas, são outros sintomas da doença, além de serem os mais observados em pacientes afetados pela síndrome (SCHMITZ, SOARES, 2015, p. 35 apud Freudenberger, 1974).

Para se ter uma ideia melhor de como os sintomas e as consequências da síndrome de Burnout afetam a vida de uma pessoa, seja ela pessoal ou profissional, segue a transcrição de um trecho de um dos artigos utilizados na elaboração deste trabalho:

É como se o corpo e a mente colocassem um ponto final: 'Agora chega!' Um cansaço devastador revela falta de absoluta energia. Todas as reservas estão esgotadas. No trabalho, a pessoa, antes competente e atenciosa, liga o 'piloto automático'. No lugar da motivação, surgem irritação, falta de concentração, desânimo, sensação de fracasso. Esses são indícios de uma doença cruel e de difícil diagnóstico que avança nos hospitais, nas empresas, escolas... [...] O termo em inglês significa estar chamuscado, queimado, calcinado por um fogo que se alastra como numa floresta. 'É quando a casa cai' (grifos nossos), resume o psiquiatra e clínico-geral Cyro Masci, autor do livro digital Bioestresse: Novos Caminhos para o Equilíbrio e a Saúde (Amazon) (NABUCO, 2015, p. 2).

Esse mesmo artigo ainda nos traz uma informação muito relevante. No Brasil, cerca de "30% dos profissionais apresentam esse grau máximo de pane no sistema, conforme pesquisa da filial nacional da International Stress Management Association (Isma)".

Nesta pesquisa foram avaliadas "mil pessoas de 20 a 60 anos entre 2013 e 2014", onde em 96% delas predomina o sentimento de incapacidade, segundo a Presidente da Organização no Brasil, Ana Maria Rossi, "o que provoca absenteísmo – para realizar exames e licenças médicas – e presenteísmo, quando se está fisicamente no posto, mas com a mente distante".

É de se observar que trabalhadores muito jovens, com cerca de 20 anos de idade, e que talvez estivessem em sua primeira experiência profissional, desenvolveram um quadro super avançado de estresse laboral, o que é lamentável.

Trabalhadores afetados pela síndrome, em resposta a um dos inúmeros sintomas, tendem a não delegar suas tarefas a terceiros, tendo em vista a enorme carga de responsabilidade que carregam em decorrência da profissão escolhida e por serem exigentes com si próprios. Dessa forma, e por já ter ocorrido queda na produtividade laboral, acabam dando mais de si e o cansaço e efetividade diminuem ainda mais, o que acaba se tornando "um ciclo vicioso" (Nabuco apud Ana Maria Rossi, 2015, p. 2).

Variáveis relacionadas ao ambiente de trabalho foram citadas como responsáveis pela Síndrome de Burnout, tais como trabalho intenso, onde o indivíduo apresenta dificuldade para desenvolvê-lo (Freudenberger, 1974); funcionamento da organização e trabalho monótono (Cherniss, 1980); má organização e falta de controle do ambiente de trabalho, falta de recompensa, falta de equidade e conflito de valores (Maslach e Leiter, 1999; Maslach, Schaufeli & Leiter, 2001) (SCHMITZ; SOARES, ___, p. 36).

Além de Herbert Freudenberger, autores como Cary Cherniss, Christina Maslach, Leiter, Wilmar B. Schaufeli e Benevides-Pereira, também dedicaram um tempo de suas vidas para o estudo da Síndrome de Burnout e de seus sintomas.


ESTUDO DOS SINTOMAS E COMPORTAMENTOS INERENTES À SÍNDROME DE BURNOUT

Após estudos e análises dos comportamentos relacionados à Síndrome de Burnout, cada autor pôde expor e documentar suas conclusões a respeito do tema. Enquanto Freudenberger, por exemplo, em 1974, relatava que sintomas como "fracasso e exaustão causado pelo excessivo desgaste de energia, força ou recursos de alguns profissionais" (SCHMITZ, 2015, p. 20) fazem parte da definição do que é a Síndrome de Burnout, Christina Maslach - psicóloga social americana e coautora do inventário psicológico conhecido como Maslach Burnout Inventory (MBI), feito em parceria com Susan E. Jackson - dava continuidade aos estudos sobre referida síndrome e se tornava responsável pela propagação e interesse no meio científico com a publicação de artigos na área (SCHMITZ, 2015).

Para Giliane Aparecida Schmitz (2015, p. 21) apud Benevides-Pereira (2002), a Síndrome de Burnout caracteriza-se pela presença de sintomas físicos, psíquicos, comportamentais e defensivos.

O primeiro tipo de sintoma abrangeria, dentre outros, "a sensação de fadiga constante e progressiva, distúrbios do sono, dores musculares e gastrointestinais, imunodeficiência, transtornos cardiovasculares, distúrbios do sistema respiratório e disfunções sexuais".

Entre os sintomas presentes no que Benevides-Pereira chamou de 'sintomas de ordem psíquica', estão desde a falta de atenção e concentração, alterações de memória até desconfiança e paranoia (SCHMITZ, 2015, p. 20).

Já os sintomas definidos como 'sintomas comportamentais', como o próprio nome diz, são aqueles que influenciam no comportamento do trabalhador, e de acordo com Schmitz (2015, p. 20):

Se expressam pela falta ou excesso de escrúpulos, irritabilidade, agressividade, incapacidade para relaxar, dificuldade de aceitação de mudanças, perda de iniciativa, aumento do consumo de substâncias, por exemplo, o tabaco e o álcool, entre outros.

Como quarto e último tipo de sintomas, Benevides-Pereira classificou-os como 'sintomas defensivos', onde relata existir a "tendência ao isolamento, sentimento de onipotência, perda do interesse pelo trabalho ou pelo lazer e cinismo" (SCHMITZ, 2015, p. 20 apud BENEVIDES-PEREIRA, 2002. P. 30), sendo que a onipotência, de acordo com Herbert Freudenberger, é um sintoma bem comum em pessoas que sofrem com a Síndrome de Burnout, pois estas "apresentam dificuldades para confiar na competência de outras pessoas e delegar tarefas" (SCMHITZ, 2015, p. 21).

Freudenberger ainda define a Síndrome de Burnout "como um estado e não como um processo", onde ela "é resultado de um trabalho intenso do indivíduo, trabalho este que não atende às suas necessidades" (SCHMITZ, 2015, p. 23 apud FREUDENBERGER, 1974). Enquanto que para Assis (2006) citado por Schmitz (2015, p. 23), fundamentado por Cherniss (1980), enfatiza as características da empresa como sendo o fato gerador da Síndrome de Burnout no indivíduo.

Ou seja, a identificação da síndrome pode se dar tanto como algo individual, quanto como algo externo, que não faz parte do indivíduo como pessoa, mas sim do seu cotidiano e que, de certa forma, influencia em seu comportamento.

De acordo com Giliane Aparecida Schmitz (2015, p. 39), "os comportamentos, sejam eles problemas ou não, são aprendidos por meio de uma história de reforço única nas relações com o ambiente físico e social". E continua:

Assim, uma avaliação funcional das condições que produzem e mantêm certo tipo de comportamento-problema pode contribuir para sua prevenção e tratamento (Chiesa, 1994; Skinner, 1970). Em uma perspectiva Analítico-Comportamental, o comportamento ocorre sempre em um contexto, faz parte de uma relação entre ambiente e organismo, que não pode deixar de ser considerada quando se pretende compreendê-lo (Lopes, 2008).

Segundo Mary Sandra Carlotto (2002, p. 23) apud Maslach, Schaufeli e Leiter (2001), tal síndrome é definida em três dimensões, sendo elas: exaustão emocional, despersonalização e diminuição da relação pessoal no trabalho.

Ainda conforme Carlotto (2002, p. 23) esta é a definição mais aceita sobre Burnout, e é fundamentada na perspectiva social-psicológica de Christina Maslach e de seus colaboradores, sendo o processo de desenvolvimento de tal síndrome, algo individual (CARLOTTO, 2002, p. 23 apud RUDOW, 1999).

Além de que, ainda conforme o entendimento de Maslach, apesar das inúmeras definições a respeito da Síndrome de Burnout, "embora com algumas questões divergentes, todas encontram no mínimo cinco elementos comuns" (CARLOTTO, 2002, p. 23 e 24).

Antes de mais nada, repara-se que, tanto Freudenberger quanto Maslach compactuam com a mesma opinião.

Os cinco elementos comuns seriam: a) a predominância de sintomas relacionados à exaustão mental e emocional, fadiga e depressão; b) a ênfase nos sintomas comportamentais e mentais e não nos sintomas físicos; c) os sintomas são relacionados ao trabalho; d) os sintomas manifestam-se em pessoas 'normais' que não sofriam de distúrbios psicopatológicos antes do surgimento da síndrome e, por fim; e) a diminuição da efetividade e desempenho no trabalho ocorre por causa de atitudes e comportamentos negativos.

Ainda a respeito da perspectiva analítico-comportamental, Schmitz (2015, p. 40) faz algumas considerações.

Segundo a autora, ao citar Britto (2012), "o comportamento não é entendido como autônomo e independente, como sintoma de evento mental ou algo que uma pessoa possua", sendo que "a preocupação básica da Análise do Comportamento é o "estudo do comportamento a partir do próprio comportamento, compreendido a partir da sua relação com o ambiente, sem qual a investigação se dirija à identificação de estruturas mediadoras entre estes eventos"" (apud Micheletto, 2001, p. 33). 


Referências

MORENO, Fernanda Novaes, et al. Estratégias e intervenções no enfrentamento da Síndrome de Burnout. In: Universidade Estadual do Rio de Janeiro, UERJ, Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, jan./mar. 2011. Disponível em: <http://www.facenf.uerj.br/v19n1/v19n1a23.pdf> .

MINÁ, Camila Schorr. Psicossomática e Síndrome de Burnout. In: Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS. Disponível em: <https://www.ufrgs.br/psicopatologia/wiki/index.php?title=Psicossom%C3%A1tica_e_S%C3%ADndrome_de_Burnout> .

NABUCO, Cristina. Burnout: os sinais da síndrome que é causada pelo esgotamento profissional. In: Claudia. Disponível em: <https://claudia.abril.com.br/saude/Burnout-os-sinais-da-sindrome-que-e-causada-pelo-esgotamento-no-trabalho/ > .

SILVA, Flávia Pietá Paulo da. Burnout: um desafio à saúde do trabalhador. v.2, n.1, Jun/2000. In: Universidade Estadual de Londrina - UEL. Disponível em: <http://www.uel.br/ccb/psicologia/revista/textov2n15.htm>

MUNARETTO, Karina. A síndrome de Burnout como assédio moral no trabalho. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Direito) – Faculdade Arthur Thomas – FAAT. Londrina, Pr. 2013.           

SCHMITZ, Giliane Aparecida. Síndrome de Burnout: uma proposta de análise sob enfoque analítico-comportamental. Dissertação (Mestrado em Análise do Comportamento) – Universidade Estadual de Londrina – UEL, Centro de Ciências Biológicas, Programa de Pós Graduação em Análise do Comportamento, 2015. 

CARLOTTO, Mary Sandra. A Síndrome de Burnout e o trabalho docente. In: Revista em Estudo, Maringá, v. 7, n. 1, p. 21-29, jan./jun. 2002. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/pe/v7n1/v7n1a03.pdf.>

Sobre a autora
Fabriciana Saperas

Advogada. Pós graduada em Direito e Processo do Trabalho.

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

Mais informações

Artigo Científico elaborado para a obtenção do título de Pós Graduada em Practice of Labor Law pela Universidade Positivo de Londrina - PR.

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