Desde o inicio do ano de 2020 a sociedade global enfrenta os desafios de uma PANDEMIA ocasionada pelo avanço no novo vírus causador da COVID-19, este fato trouxe ao planeta uma crise econômica, social, moral e psicológica. As relações capitalistas foram levadas ao limite e muitos países enfrentam recessões históricas, diversas empresas encerraram suas operações, milhares de empregos foram perdidos e as pessoas foram obrigadas a viverem dias em isolamento social ou até em confinamento em seus lares.
É justamente nesse cenário de caos hollywoodiano que o Ser Humano se revela. Em particular ganha destaque aqueles que detém o Poder, pois em situações como estas o povo precisa de líderes que coordenem suas ações para que o momento de crise seja superado e que a retomada social e econômica ocorra de forma organizada.
Nesse sentido valem as lições de Michel Foucault ao afirmar que o poder não é uma coisa em si, ou seja, que o poder é ato exercitado e assim ele não pertence ao Estado e só pode ser percebido em indivíduos reais, já que os únicos que exercem forças (poder) são as pessoas, gerando assim deveres e obrigações entre os indivíduos. Por isso há a necessidade de termos lideres honestos, éticos e incorruptíveis.
O exercício do poder gera uma dicotomia: a de domínio versus resistência, sendo que o dominador é que tem o poder, mesmo que provisoriamente, e o dominado será sempre a resistência. O poder será melhor exercido quando o individuo dominante possuir o controle dos dominados e quando estes não ofertarem resistência razoável e que questione o poder dominante.
Esse fenômeno do dominador controlar a resistência e esvaziar as forças do dominado é a alienação. Ou seja, a alienação é a colocação ou a imposição de força ideológica, intelectual e psíquica, com ou sem o uso da força. É a capacidade de fazer com o que outro acredite que ele não é ele e sim aquilo que o alienador determina que ele seja.
Do ponto de vista filosófico o sujeito alienado é aquele que não reconhece a si mesmo, que não compreende a sua força e portanto, acredita que não a possui individualidade suficiente para ele ter o poder, e sempre se coloca como subalterno de outrem. Ele passa a ver o mundo pela perspectiva do outro e não pela sua própria e por menos é independente. Esse sujeito acredita ser outra coisa que ele não é, já que o dominante o manipula.
Michel Foucault avança e menciona que uma possibilidade de estabelecer relação de poder é a confinação dos corpos, ou seja, além da mente do dominado ser cooptada pelo alienante-dominador; seu corpo, suas ações, seus movimentos e suas atitudes também passam a pertencer ao dominante.
A evidência de que Foucault estava certo era o movimento nazista-fascista que levou a 2ª Grande Guerra Mundial no qual os soldados dos regimes ditatoriais radicais acreditavam cegamente em seus lideres (Hitler e Mussolini) e em nome da alienação praticavam atrocidades e genocídios humanitários sem reagirem ou se indignarem, ou seja, a alienação realmente existia.
Na atualidade a alienação do homem é expressiva, sendo esta massiva, e é em parte exercida pelos meios de comunicações, sobretudo, pelas mídias sociais, que são controladas por grupos restritos e que propagam informações não reais de forma contínua e assim conseguem manter a alienação de um grupo significativo de pessoas.
Possível constatar pela observação social, sem conteúdo empírico, mas pelas evidências sociais que há um efetivo sistema de recompensas e punições pelo alienante ao alienado, que é justamente uma forma de se manter o Poder, como por exemplo distribuições de valores no momento de necessidade apelidando os recurso de “ajuda do governante x’” ou “o presidente pai dos pobres” e assim por diante.
Ademais , o sistema de alienação da massa está dividido no mínimo em três etapas (como se constata socialmente):
A primeira etapa é o estabelecimento da força soberana, ou seja, quem detém o poder pode quase tudo e este ser inclusive teria o poder sobre a vida de outrem (pois exerce o seu poder por meio de violência física ou moral, com total opressão do alienado);
Uma segunda etapa ocorre quando o corpo do alienado, do dominado, passa a obedecer de forma inquestionável as determinações do dominante, como se a massa corpórea do alienado fosse extensão do alienante, mas uma extensão vazia sem razão;
E uma terceira etapa, na qual há o apogeu da alienação é a etapa da “bio politica”, ou seja, quando o alienante consegue exercer sobre o alienado o total controle de sua mente de seu corpo sem violência e ainda opera efeitos no “agir”, fazendo com que a razão e a liberdade sejam mitigadas, e são exemplos reais: a) o fiel da seita “x que doa todos os seus bens a seita por acreditar fielmente nas palavras de seu líder religioso” ou b) “o soldado que cumpre as ordens do chefe sem questioná-la, mesmo sabendo que de tais haverá consequências e ainda que violam preceitos humanos”.
É possível verificar que na sociedade brasileira atual há pessoas alienadas em todas as etapas. Há aquelas que acreditam que o Poder do Estado opressor (estado que é representado por pessoas) irá persegui-las e massacrá-las, como de fato acontece quando temos violência policial imotivada e desproporcional (é o estado sendo opressor para o controle social e para impor a alienação da massa);
Há um outro grupo que deixa seu corpo servir ao processo de poder, por serem apáticos intelectualmente e objeto de manobra, acreditando fielmente em debates e discursos panfletários, e tudo por ignorância ou deficiência intelectual.
E ainda há outro grupo que por falta de reflexão, ou mesmo por não compactuar com a ideia de uma sociedade livre em que indivíduos possam exercer seu direito com autonomia e dentro de regras socais, preferem o caos em certo grau para tentarem obter vantagens já que estão a serviço do poder de outrem, de corpo e mente, agindo a favor do alienante, sem pensar e sem refletir e muitas das vezes esperando ou tendo vantagens do governante, como que recebendo prêmios diretos ou indiretos.
Este último grupo de pessoas alienadas é o mais perigoso socialmente, pois é formado por indivíduos que menosprezam o outro ser humano, que não reconhecem direitos e ainda advogam revogações ou supressões de direitos individuais e sociais, tudo para que o alienante mantenha o poder e ele alienado mantenha pequenos prêmios ou vantagens pessoais (diretas ou indiretas), quiçá há ainda aquele que age desta forma por puro ÓDIO ao outro Ser Humano.
Nesse momento de crise social, econômica, sanitária e política instituída pela COVID-19 é comum grupos de pessoas defenderem ideias como a supressão de direitos considerados de primeira e segunda gerações, respectivamente, direito à propriedade privada (não intervenção do Estado na propriedade, respeitando a liberdade e a igualdade) e direitos sociais (educação, saúde, segurança, lazer, previdência social, transporte), e por vezes estes indivíduos manipulados pelo alienante, defendem o extermínio de garantias históricas, sendo que a alienação é tamanha, que quem defende esta ideia não tem dimensão das consequências de viver em um estado sem direitos mínimos, em uma sociedade ditatorial e com ruptura do Estado de Direito, ou seja, é a o estado humano mais pueril e ignorante que existe (ser humano enquanto ser social), e geralmente o defensor desta ideia não estudou a historia e por menos refletiu sobre suas ações, pois ele já é vítima de uma alienação pelo Estado há tempos.
Parte do grupo de alienados (nos três graus acima) encontrou voz em discursos panfletários e simplórios do atual governante da nação, o Presidente da República[1] que defendeu o regime ditatorial de forma direta e pública (ao pregar o fechamento do Congresso Nacional e do STF e a supressão de direitos civis e sociais), ao se posicionar contra a Constituição Federal, ao menosprezar a saúde do povo e ainda ao ignorar o caos sanitário que o pais vive provocando aglomerações e desrespeitando regras da OMS.
Mesmo assim, um grupo fiel de pessoas continua a acreditar no discurso do Presidente da Republica. Percebesse que não é que as pessoas alienadas acreditam numa proposta de governo ou de um plano econômico ou mesmo em uma estratégia para solucionar a crise sanitária, pois ante a alienação delas elas não observam que estas são inexistentes, simplesmente estas pessoas acreditam nas ideias antagônicas ou mesmo como estão alienadas, não conseguem se emanciparem para verem que além da caverna há vida (aqui fazendo uma analogia ao MITO DA CAVERNA, de Platão), quiçá são movidas pelo ódio, importante destacar!
É comum ouvirmos seguidores do governo atual pedindo a ruptura do estado de direito e retorno ao estado ditatorial militar. Ora, a democracia brasileira passou por recentes evoluções que ainda caminham para uma emancipação efetiva e plena com a consagração de direitos da Constituição Federal de 1988 e com os fortalecimentos das instituições de políticas e econômicas, e mesmo assim, após menos de 35 anos da redemocratização nacional, as pessoas querem retornar a ditadura? Será que a historia não lhes ensinou nada? A resposta é simples: este grupo de pessoas que defende o retorno a um estado ditatorial está no grau máximo de alienação e não conseguem se emancipar.
O estado de alienação fica evidente ao acompanhar os noticiários e as falas de membros do atual governo em momento da COVID-19 ou mesmo nas redes sociais em que militantes alienados tentam defender o caos vivido. É certo que a mídia contribui para esse processo já que não noticia a verdade dos fatos para superar a alienação, e para piorar há as falsas informações propagadas pelas redes sociais, por meio de robôs ou de outra tecnologia, tudo para manter o domínio das massas. As ferramentas de controle são eficazes e certas e funcionam há anos.
Portanto, é certo e evidente aos olhos do observador social que a alienação das massas é continua e aguda, não há um movimento orgânico de superação, pois nesse momento de confinamento social e isolamento a primeira etapa do poder pelo Estado é exercida de forma sutil com a propagação do grito “fiquem em casa” para não se contaminarem e assim, a força do estado ditador funciona pregando e trabalhando o conceito de “medo” à morte de forma generalizada, e ao mesmo tempo há grupos submissos as outras duas etapas de alienação, que por ignorância e até má-fé não se emancipam.
Sendo que vale o recorte historico que há grupos a favor e contra o atual governo que se encaixam na terceira etapa de alienação, ou seja, a pior e a mais ignorante de todas, e que serve somente a quem está no poder ou o almeja, e por vezes não consegue perceber tal fato, e aqui vale a crítica direta aos extremismos de direito e de esquerda (na politica).
Como Paulo Freire ensinou somente pela educação é que se pode vencer a alienação. A educação formal, cultural e histórica das massas permitirá que a nação brasileira seja grande como já se sonhou um dia. A superação da alienação fará com que reine em paz o Estado de Direito e a Democracia, que são garantias constitucionais inafastáveis.
Por fim, vale lembrar a Musica de Renato Russo, “que pais é esse?”:
Que País é Esse?
Disco Mais do Mesmo
Nas favelas, no Senado
Sujeira pra todo lado
Ninguém respeita a Constituição
Mas todos acreditam no futuro da nação
Que país é esse?
No Amazonas, no Araguaia
Na Baixada Fluminense
Mato Grosso, Minas Gerais
E no Nordeste tudo em paz
Na morte eu descanso
Mas o sangue anda solto
Manchando os papéis, documentos fiéis
Ao descanso do patrão
Que país é esse?
Terceiro Mundo se for piada no exterior
Mas o Brasil vai ficar rico
Vamos faturar um milhão
Quando vendermos todas as almas
Dos nossos índios num leilão
[1] que em abril de 2020 é o Jair Messias Bolsonaro