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Holocausto: 10 questões relevantes a serem respondidas

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Agenda 26/01/2022 às 23:55

6 - Ocorreram outros genocídios semelhantes após o Holocausto?

Sim e vários. Apenas para citar um exemplo: em Ruanda (pequeno país do continente africano), ocorreu um genocídio contra a etnia tutsi em 1994. Um grupo radical da etnia hutu que estava no poder, organizou uma política de extermínio por meio de sua milícia chamada Interahamwe contra os tutsis. O resultado foi a morte de cerca de 800.000 a 1.000.000 de pessoas em aproximadamente 100 dias.

Genocídio em Ruanda em 1994 provocou uma terrível crise humanitária

[ Foto: El País]


7 - Quais são alguns entendimentos equivocados sobre o nazismo?

- Os nazistas defendiam a superioridade da raça branca:

Judeus europeus, poloneses, ucrânios, russos e eslavos em geral (povos do leste europeu) eram predominantemente de pele branca e foram perseguidos e alvos de extermínio. Assim, essa declaração é equivocada.

- Os nazistas defendiam a superioridade das pessoas loiras de olhos claros:

Entre os poloneses, ucranianos, russos e eslavos há muitas pessoas loiras de olhos claros. No entanto, elas eram consideradas inferiores pelo regime nazista e, conforme já afirmado acima, foram alvo de perseguição e extermínio. Assim, o fato é que dezenas de milhares de pessoas loiras dos olhos claros foram exterminadas pelo nazismo. Desta forma, essa declaração também é equivocada.

Menina polonesa em trajes típicos de sua cultura.

Pela política racista nazista, os poloneses eram considerados racialmente inferiores e foram duramente perseguidos.

[Foto: SignificadosNomes.com]

Então o que os nazistas defendiam?

Defendiam a superioridade da raça ariana. Os nazistas desenvolveram uma teoria de que os arianos eram um povo que teria supostamente se originado a milhares de anos na Ilha Atlântida (a qual não tem existência comprovada), e migrado para a Europa Nórdica. Seriam puros e superiores, e os povos germânicos (como os alemães e os austríacos), seriam descendentes dos mesmos. Adolf Hitler não nasceu na Alemanha, mas na Áustria, porém tinha cidadania alemã. Os historiadores consideram a Ilha Atlântida e a suposta origem da raça ariana um mito, sem fundamento histórico.

- Os nazistas perseguiram os judeus porque eles eram ricos:

Apesar de os nazistas constantemente acusarem os judeus de prejudicarem a economia alemã, não é possível afirmar que este foi o único motivo da perseguição. Havia uma questão eugênica e racial no ataque aos judeus. Eles foram considerados uma ameaça a suposta pureza da raça e do sangue ariano, assim como os ciganos. Também deve-se lembrar que entre os seis milhões de judeus mortos no Holocausto, haviam pessoas de todas as classes sociais, o que demonstra sua motivação racista, assim como ocorreu com os ciganos e outros.

Nazistas com cartazes atiçando o boicote aos estabelecimentos comerciais de judeus, na cidade de Berlim.

O cartaz diz: "Alemães! Defendam-se! Não comprem de judeus!"

[Foto: Museu do Holocausto de Washington (EUA)]

- Os nazistas eram ateus:

Entre os nazistas haviam pessoas de diversas formações e convicções. Haviam ateus no regime. Também é evidente que a teoria evolucionista moldou a forma de ver o mundo de Hitler e do regime nazista. A matança no Holocausto foi a implementação do que muitos chamam de darwinismo social. No entanto, no partido haviam pessoas religiosas também. O próprio Hitler acreditava numa espécie de Providência Divina. Assim não é correto dizer que os nazistas eram ateus.

- Os nazistas eram cristãos:

Entre os nazistas haviam pessoas religiosas que professavam serem cristãs. No entanto, a ideologia nazista desprezava os valores cristãos e judaicos, como a crença da origem comum de todas as raças da humanidade (Adão e Eva no Gênese da Bíblia), bem como a defesa dos considerados mais fracos (como, por exemplo, as pessoas deficientes). Da mesma forma, os nazistas defendiam e promoviam os cultos e deidades míticas pagãs dos antigos povos germânicos, em oposição ao cristianismo. O nazismo estava fazendo de si mesmo uma espécie de religião estatal. A própria suástica (principal símbolo do nazismo) tem origem mística. No partido havia pessoas que não eram religiosas, bem como ateus. Assim também não é correto afirmar que os nazistas eram cristãos.

A suástica nazista (ao centro da bandeira) tem origem mística.

[Foto: Superinteressante]

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- Os nazistas eram comunistas:

Essa confusão ocorre porque o nazismo e o comunismo soviético adotaram regimes totalitários de repressão com métodos parecidos. Mas os nazistas não eram comunistas e são classificados pela própria historiografia alemã como politicamente de extrema-direita. Na realidade, eles dissolveram o Partido Comunista em 1933 e lançaram seus membros em campos de concentração. O stalinismo soviético é classificado pela historiografia tradicional como politicamente de extrema-esquerda. O nazismo hitlerista e o comunismo stalinista eram ideologias rivais, ainda que ambas fossem totalitárias e genocidas.

Stalin. Genocida de extrema-esquerda.

[Foto: Superinteressante]

Hitler. Genocida de extrema-direita

[Foto: BBC]

Então o que eram os nazistas?

O nazismo era uma ideologia política que tinha como adeptos e simpatizantes pessoas dos mais diversos círculos sociais, incluindo ateus, religiosos, agnósticos, não religiosos, ocultistas, médicos, advogados, engenheiros, operários, empresários, dentre outros. Sua ideologia era eugenista, racista, antissemita, militarista, expansionista e totalitária. Enfim por mais redundante que possa parecer os nazistas eram adeptos do nazismo.


8 - Como a Alemanha lida com o passado nazista?

Os alemães estudam o passado nazista com muita seriedade. O governo alemão tomou a iniciativa de indenizar as vítimas sobreviventes do Holocausto. Os principais campos de concentração foram conservados e se transformaram em Memoriais e Museus que contam a história do Holocausto. Os jovens são rotineiramente levados pelas escolas aos referidos Memoriais. Negar o Holocausto na Alemanha é crime. Os crimes do nazismo são considerados imprescritíveis e os criminosos nazistas, quando descobertos, são levados a julgamento. Chamar um alemão de nazista simplesmente por sua nacionalidade é falta de informação e preconceito.

Memorial do Holocausto de Berlim (Alemanha).

[ Fonte: MundoVastoMundo.com.br]

Digno de nota que a Alemanha se tornou um dos países mais abertos do mundo, e acolheu um dos maiores números de imigrantes e refugiados nas últimas décadas. Estudos indicam que de cada 9 pessoas que residem na Alemanha, uma é estrangeira. Existe por parte da sociedade alemã uma constante vigilância e preocupação com movimentos neonazistas ou extremistas.


9 - O Brasil tem alguma ligação histórica com o Holocausto?

Sim. No período de 1930-1945 Getúlio Vargas era presidente no Brasil. Ditador, de inclinação simpática ao nazismo e ao fascismo, sofreu pressão por parte dos EUA e em 1942 declarou guerra à Alemanha, após ataques nazistas a submarinos brasileiros.

Durante a Era Vargas houve um programa de cooperação com o governo nazista para a investigação, delação e entrega de militantes comunistas. O caso mais conhecido foi o de Olga Benário, que foi retratado em filme pelo cinema nacional. Depois do ingresso do Brasil na guerra, o Governo Vargas passou para o outro extremo. Passou a reprimir os imigrantes alemães, japoneses e italianos, proibindo até mesmo o uso de tais idiomas em escolas.

Outro fato interessante, é que a professora de história Maria Luiza Tucci Carneiro da Universidade de São Paulo (USP), desenvolveu pesquisas em que constatou que durante a Era Vargas havia um forte sentimento de antissemitismo por parte da cúpula do governo brasileiro. Assim, o Brasil recusou a entrada de milhares de judeus que estavam desesperadamente tentando fugir dos territórios ocupados pelos nazistas.

Da mesma forma, após a II Guerra Mundial, vários criminosos nazistas fugiram da Europa por meio de documentos falsos fornecidos por autoridades do Vaticano e com a colaboração do Regime Peronista da Argentina. Depois, muitos destes chegaram ao Brasil. O regime militar sabia da existência destes nazistas em nosso território, mas não se incomodava com isso, desde que os mesmos não tivessem participação política. Assim, a América do Sul, incluindo o Brasil, se tornou rota de fuga para criminosos nazistas.

Mengele. Criminoso de guerra.

Mengele ficou conhecido como o Anjo da Morte de Auschwitz. Realizou monstruosos experimentos médicos, principalmente com crianças gêmeas. Fugiu para a Argentina. Viveu no Brasil e faleceu na cidade de Bertioga, litoral de São Paulo, na região de Santos (SP).

[ Foto: DW]

Pavelic. Criminoso de guerra.

F oi o ditador croata colaborador dos nazistas que em nome do catolicismo estabeleceu uma ditadura na região do que seria a antiga Iugoslávia e iniciou uma política de extermínio de judeus, ciganos e sérvios ortodoxos. Fugiu para Roma onde ficou disfarçado de monge. Depois foi refugiado na Argentina.

[ Foto: JHMF.org.uk]


10 Onde se pode buscar mais informações sobre o assunto?

Seguem abaixo fontes de pesquisas que foram essenciais para o desenvolvimento deste trabalho e que poderá fornecer maiores informações ao leitor.

10.1 - Sobre a temática geral do Holocausto e suas vítimas:

Museu Memorial do Holocausto de Washington (EUA). ushmm.org

Museu do Holocausto de Curitiba (PR). museudoholocausto.org.br

A Lista de Schindler.

​Amarga Sinfonia em Auschwitz.

10.2 - Sobre os colaboradores do Holocausto e do regime nazista:

Os aliados ocultos de Hitler. Super Interessante. super.abril.com.br/historia/os-aliados-ocultos-de-hitler

10.3 - Sobre o genocídio em Ruanda:

Entenda o genocídio de Ruanda em 1994: 800 mil mortes em cem dias. BBC. bbc.com/portuguese/noticias/2014/04/140407_ruanda_genocidio_ms

Hotel Ruanda.

10.4 Sobre a fuga de Criminosos Nazistas:

Odessa Al Sur: La Argentina como Refugio de Nazis Y Criminales de Guerra. Autor: Jorge Camarassa. Editora Aguillar, Buenos Aires (Argentina).

​ Nazistas Entre Nós. Autor: Marcos Guterman. Editora Contexto, São Paulo (SP).

10.5 Sobre o Antissemitismo na Era Vargas:

Rompendo o silêncio: a historiografia sobre o antissemitismo no Brasil. Autora: Maria Luiza Tucci Carneiro. periodicos.pucminas.br/index.php/cadernoshistoria/article/view/P.2237-8871.2012v13n18p79/3871

10.6 - Museus do Holocausto no Brasil para visitar:

Museu do Holocausto de Curitiba (PR): agenda.museudoholocausto.org.br/register

Memorial do Holocausto e da Imigração Judaica em São Paulo (SP): memorialdoholocausto.org.br

Sobre o autor
Bruno Marini

Professor de Direitos Humanos, Biodireito e Bioética na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), em Campo Grande (MS), Doutorando em Saúde (UFMS), Mestre em Desenvolvimento Local (UCDB) e Especialista em Direito Constitucional (UNIDERP).

Como citar este texto (NBR 6023:2018 ABNT)

MARINI, Bruno. Holocausto: 10 questões relevantes a serem respondidas. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 27, n. 6783, 26 jan. 2022. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/96111. Acesso em: 18 nov. 2024.

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