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O nazismo, a psicologia das massas e os bodes expiatórios

Agenda 11/02/2022 às 18:35

O nazismo defendia a purificação da Alemanha para o retorno de sua glória.

Resumo: O presente trabalho tem como objetivo analisar a correlação entre alguns acontecimentos da segunda guerra mundial e os fenômenos da psicologia das massas e do bode expiatório. Para tanto, analisamos o cenário existente no pós-primeira guerra mundial, especialmente na Alemanha, que veio a culminar a na ascensão do nazismo e de Adolf Hitler, ocasionando diversos crimes contra a humanidade pautados na segregação de raças e nas ideologias nazistas.

Palavras-chave: Massas. Nazismo. Segregação. Bode expiatório.


INTRODUÇÃO

A Europa viveu um cenário de grande instabilidade no início do século XX, tanto em conflitos externos entre nações soberanas como também em conflitos internos em diversos países que viviam a beira de uma guerra civil.

Neste cenário, eclodiu em 1914 a Primeira Guerra Mundial, a qual se arrastou até 11 de novembro de 1918 e deixou, além de um cenário de destruição na Europa, um espólio de milhões de mortos.

Embora o Tratado de Versalhes tenha selado momentaneamente a paz, a Alemanha teve de aceitar termos duríssimos em sua rendição, como perder colônias, pagar multas elevadas e dispor de uma infantaria de exército extremamente reduzido e limitado, condições estas que humilharam os alemães e os fizeram alimentar um sentimento de inconformismo.

Neste contexto, tem início uma grande movimentação social em toda a Europa e especialmente na Alemanha. Em um cenário de muita instabilidade, surge na Alemanha o Nacional Socialismo, popularmente conhecido como Nazismo, que em 1933 consegue finalmente chegar ao governo do país.

Pautado no governo totalitário, na supremacia da raça ariana e, em contrapartida, na alegação de inferioridade das demais raças, especialmente a dos Judeus, o Regime Nazista deu origem à Segunda Guerra Mundial enquanto colocava em prática suas ideologias.

Assim, neste artigo, analisaremos os fenômenos que ocorreram de forma concomitante ao conflito, com base nos estudos da Psicologia das massas, de Sigmund Freud; O bode expiatório, de René Girard; e A parte obscura de todos nós, de Elisabeth Roudinesco.


1 O NAZISMO E A PSICOLOGIA DAS MASSAS

Em um primeiro momento, é importante destacar o aspecto político e social em que vivia a Alemanha após a primeira guerra mundial. No fim da primeira grande guerra, com a rendição da Bulgária, Áustria e do Império Otomano, a última nação desta aliança, a Alemanha, optou por um armistício, pondo fim ao conflito e conduzindo à assinatura do tratado de Versalhes.

Embora este tradado tenha encerrado momentaneamente a primeira guerra, serviu como um estopim para o futuro e grande conflito armado que estava por vir, visto que a Alemanha teve de aceitar termos duríssimos em sua rendição, como perder colônias, pagar multas elevadas e dispor de uma infantaria de exército não superior a cem mil homens.

Neste sentido, ensina Mazzucchelli (2009):

As discussões de Versailles, como se sabe, foram marcadas pela revanche e pela humilhação. A tônica foi a tentativa de descarregar sobre os derrotados a responsabilidade pela eclosão do conflito e a eles impor a totalidade do ônus, através de duras sanções e de reparações despropositadas. Retaliar os inimigos recentes parecia ser a única política concebível para as nações vitoriosas (2009, p. 39).

Roudinesco (2008, p. 117) por sua vez, explica que o cenário na Alemanha pós-primeira guerra era de uma nação sem forças e devastada por disputas internas, havia apenas destroços do antigo exército do Kaiser e se acumulavam pelas ruas desempregados, aventureiros, miseráveis e medíocres.

Entre novembro de 1918 e novembro de 1923, a Alemanha viveu um período de enorme instabilidade econômica e política, estando à beira de uma revolução social entre extremistas de direta e comunistas de esquerda. Do ponto de vista econômico, Mazzucchelli (2009, p. 120) ensina:

[...] é possível identificar três momentos claramente definidos na República de Weimar: o turbulento período que se estendeu do final da guerra até a estabilização da moeda em novembro de 1923; a fase de expansão dos anos 1924-28, que parecia anunciar um prospecto de estabilidade e otimismo para a Alemanha, e a dramática crise de 1929-33, que vitimou a sociedade alemã e minou as bases da democracia parlamentar.

Então, em 30 de janeiro de 1933, Adolf Hitler é nomeado Chanceler da Alemanha, levando pela primeira vez o nacional socialismo ao poder, alterando consubstancialmente a política econômica do Estado Alemão.

Segundo Barkai (1990, p. 10) os nazistas proclamaram sua rejeição ao liberalismo econômico, sendo que para eles, a regulação da economia deveria ser ditada pela supremacia do Estado, e que este tem o direito de intervir em todas as esferas da sociedade.

Por sua vez, Mazzucchelli (2009 p. 245) arremata dizendo que o a busca pelo fechamento dos sindicatos, extermínio dos comunistas, perseguição aos judeus e o controle sobre a economia convergiam-se no mesmo processo, qual seja, de busca pelo reerguimento econômico e moral da Alemanha.

Assim, o que se vislumbra entre 1933 e 1936, foi uma política de rearmamento e consequente aceleração da indústria, que veio a gerar uma grande quantidade de empregos e movimentar a economia Alemã, atingindo inicialmente os objetivos acima elencados, pois houve uma grande melhora do ponto de vista econômico e também na moral do povo alemão que voltava a prosperar.

Do ponto de vista social, conforme citado anteriormente, após o fim da primeira guerra, a Alemanha estava dividida entre extrema esquerda e extrema direita, com grande desemprego e uma grande massa de alemães pelas ruas, sem emprego e sem projeção de futuro.

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Neste cenário, observa-se que Hitler já era representante de uma parcela da massa (anticomunista) e passou a direcionar seu discurso aos alemães considerados de centro, que tinham em comum naquele momento uma situação social deplorável e um anseio por melhores condições de vida.

Quanto a essa massa, Freud (2010, p. 25) explica:

A condição para que se forme uma massa, a partir dos membros casualmente juntados de uma multidão, é que esses indivíduos tenham algo em comum, um interesse partilhado num objeto, uma orientação afetiva semelhante em determinada situação e (eu acrescentaria: em consequência) um certo grau de capacidade de influenciar uns aos outros [...] Quanto mais fortes essas coisas em comum (this mental homogeneity), mais facilmente se forma, a partir dos indivíduos, uma massa psicológica, e mais evidentes são as manifestações de uma alma coletiva. O mais notável e também mais importante fenômeno da formação da massa é o aumento de afetividade provocado no indivíduo.

Freud (2010, p. 18) continua argumentando que a massa é influenciável e crédula, é acrítica e vai prontamente a extremos, transformando uma leve suspeita imediatamente em certeza indiscutível, um germe de antipatia se torna um ódio selvagem.

Por outro lado, Freud (ibid, p. 19) ensina que as massas são também capazes, sob influência da sugestão, de elevadas provas de renúncia e devoção a um ideal, e Hitler soube apropriar-se muito bem disso.

No decorrer da ascensão do nazismo e de Hitler especialmente, ficou clara sua habilidade com as palavras e com os discursos, os quais reunião multidões em todas as regiões da Alemanha. O próprio Hitler passou a se intitular como o Fuhrer (em alemão, líder) do povo alemão.

E neste contexto, Freud (2010, p. 20) discorre que a massa está sujeita ao poder mágico das palavras, que tanto podem provocar as mais terríveis tormentas na sua alma e também apaziguá-las. Proferindo-se as palavras certas diante da massa, imediatamente os rostos se tornam respeitosos e as cabeças se inclinam.

Assim, Hitler encontrou uma massa que clamava pela reconstrução econômica e moral da Alemanha, que alimentava raiva do Tratado de Versalhes, e que necessitava de um líder. O autointitulado Fuhrer aproveitou a oportunidade e soube se posicionar como tal, além de proferir as palavras que a massa queria ouvir.

Esse fenômeno é explicado por Freud (2010, p. 21):

Assim, as necessidades da massa a tornam receptiva ao líder, mas este precisa corresponder a ela com suas características pessoais. Ele próprio tem de estar fascinado por uma forte crença (numa ideia), para despertar crença na massa; ele tem de possuir uma vontade forte, imponente, que a massa sem vontade vai aceitar.

E desta forma, em analogia à psicologia das massas de Freud (2010), podemos entender de certo modo como Adolf Hitler conseguiu mobilizar de tamanha forma o povo alemão, a ponto de ser saudado com tanto entusiasmo por parte da massa e fazer com que tantos alemães por ele perdessem a vida cegamente.


2 A RAÇA ARIANA E OS JUDEUS COMO BODES EXPIATÓRIOS

No título anterior, buscamos entender de que forma Hitler conseguiu tamanho domínio e liderança sobre o povo alemão, para que possamos posteriormente analisar todas as barbáries que foram cometidas em seu nome, especialmente sob a alegação de superioridade de raça.

Muito antes do nazismo, a raça ariana foi citada inicialmente por Arthur de Gobineau, o qual em seu livro Essai sur lInégalité des Races Humaines (1853) discorre que um povo antigo originado na Ásia Central e chamado Ariano, migrou para a Europa e deu origem a todas as raças brancas e puras. Gobineau (1853) identifica três raças, a branca (ariana) a amarela e a negra. Para o autor, a raça ariana é superior às demais e apenas ela é capaz de se desenvolver plenamente como civilização.

Aproximadamente trinta anos depois, seguindo esta tendência de exaltação da raça branca ariana, Poesche (1878, p. 12-13), caracterizou os arianos como futuramente passariam a ser também definidos pelos nazistas, sendo pessoas com grande estatura, corpo esguio, pele clara, cabelos loiros ou ruivos e olhos azuis.

Assim, vemos que antes mesmo da ascensão do nazismo ao poder, no final do século XIX já havia uma tendência europeia de racismo, de superioridade da raça ariana sobre as demais, e essa narrativa foi incorporada e ampliada de forma radical pelo partido nacional socialista de Adolf Hitler.

Em Mein Kampf (1926), além das características físicas do ariano, Hitler passou a citar permanentemente também o "espírito ariano", o qual era dotado de idealismo, cultura, um espírito construtor, trabalhador e respeitoso às tradições, em contraposição ao "espírito judeu", que seria questionador, destruidor, que prefere o comércio ao invés do trabalho produtivo.

Logo, além das características físicas, a ideologia nazista inseriu também a ideia de sangue e espírito ariano, ambos que se coadunavam com o próprio alemão, sendo que, em função disso, aquele que não era alemão consequentemente não era ariano.

Assim, de acordo com Evans (2011, p. 605), com a ascensão do nazismo ao poder e a consequente transformação de sua ideologia em política de Estado, ariano passou a ser sinônimo de alemão, e sangue ariano ou alemão era uma nítida contraposição a sangue judeu, e neste momento, os arianos efetivaram-se como sujeitos de Direitos e Prerrogativas enquanto os Judeus cada vez mais eram destituídos de qualquer direito e de qualquer atividade ligada ao Estado.

Mesmo antes da ascensão do nazismo, os Judeus em diversos outros momentos da história foram considerados culpados em determinadas situações, desde a morte de Jesus Cristo até a peste negra.

Quanto à eleição de um culpado, um bode expiatório, Girard (2004, p. 99) ensina:

O efeito de bode expiatório que se constitui sob nossos olhos reúne-se ao efeito de bode expiatório na origem dos sacrifícios judaicos. Caifás é o sacrificador por excelência, aquele que faz morrer vítimas para salvar os vivos. Relembrando-nos disso, João salienta que toda decisão verdadeira na cultura tem um caráter sacrifical (decidere, volto a dizer, é cortar a garganta da vítima) e, por conseguinte, remonta a um efeito de bode expiatório não desvelado, a uma representação persecutória de tipo sagrado.

Girard (2004, p. 22) ainda leciona que geralmente a vítima é escolhida como bode expiatório em virtude de um crime ou conduta que consegue causar reprovação geral dos membros da comunidade, o que o próprio autor define como crime indiferenciador. Ainda segundo Girard, o "bode expiatório" pode ser escolhido por um fator econômico, físico ou religioso.

Neste cenário, não faltaram argumentos para os nazistas elegerem o seu bode expiatório. Pautados no ódio particular de Adolf Hitler e na própria ideologia nazista, os Judeus foram culpados pela derrota na primeira guerra, pela recessão econômica e também por todas as dificuldades posteriores enfrentadas pela Alemanha e também incriminados por não possuírem características de raça ariana, por ser uma raça inferior.

Logo, vislumbra-se que a estratégia de eleger seu bode expiatório e de fazer com que ele obtenha a reprovação geral da comunidade alemã foi atingida pelos nazistas ainda no início de 1933.

Segundo Rafecas (2012, p. 41), em primeiro de abril de 1933, dois meses após assumir a Chancelaria Alemã, houve o primeiro ato contra os comerciantes judeus, sendo um episódio com grande repercussão, apoio da propaganda nazista e tolerância da polícia, onde diversas placas eram vistas com os dizeres: não comprem dos judeus.

Poucos dias depois, todos os funcionários públicos de origem judia foram expulsos de seus cargos e em 11 de abril de 1933 fora publicada uma nova Lei que proibia advogados Judeus nos Tribunais. Ainda, Rafecas (2012, p. 46-47) explica que em 10 de maio de 1933 Hitler ordenou a queimada de livros e erradicação de outras obras de arte do povo judeu.

Logo, tornava-se claro que todo o antissemitismo propagado pelos nazistas antes de chegarem ao poder, estava sendo posto em prática, os Judeus estavam oficialmente eleitos como bodes expiatórios de toda a ruína alemã até então e em função disso tinham de ser eliminados da sociedade.

Neste cenário, ficava claro também, que aqueles que não fossem inimigos dos Judeus seriam inimigos do próprio povo alemão e consequentemente perseguidos pelo governo. Tal fato levou a uma histeria coletiva na Alemanha de repulsa ao povo Judaico. Este fenômeno é explicado por Girard (2004, p. 203):

O melhor meio de fazer amigos, em um universo não amigável, é desposar as inimizades, é adotar os inimigos dos outros. O que dizemos a esses outros, nesse caso, nunca varia muito: Somos todos do mesmo clã, formamos apenas um só e mesmo grupo, pois temos o mesmo bode expiatório.

Portanto, o que era inicialmente uma ideologia nazista e de seu líder, passou a ser uma ideologia do povo alemão, os bodes expiatórios judeus tornaram-se oficialmente inimigos da Alemanha.

Então, conforme discorre Milman (2004, p. 43), em 1935, através das Leis de Nuremberg (Lei de Cidadania do Reich; Lei de Proteção do Sangue e da Honra Alemãs e o Primeiro Regulamento para a Lei de Cidadania do Reich) os judeus foram reduzidos praticamente a sujeitos sem Direitos.

Ainda, segundo Rafecas (2012), entre os anos de 1938 e 1939 foram emitidos diversos decretos proibindo atividades econômicas de judeus na Alemanha, entrega de seus bens ao Estado e início de envio de Judeus aos Campos de Concentração.

Neste momento do Terceiro Reich, estava consolidado na massa o conceito de supremacia da raça ariana e também de bode expiatório do povo judeu, culpado por todos os infortúnios anteriores da nação germânica.

Mas os nazistas não pararam apenas nos judeus, pautados na supremacia da raça ariana e na necessidade de purificação da Alemanha, iniciaram também a perseguição de outras raças consideradas inferiores, como ciganos, deficientes físicos e mentais, poloneses, testemunhas de Jeová e homossexuais, os quais podemos definir como perversos.

Neste cenário, Roudinesco (2008, p. 77 e 78) ensina que primeiro houve na Europa a grande fúria cirúrgica, no período entre 1850 e 1900, que atingia a criança masturbadora, a mulher histérica, o homossexual, e toda e qualquer pessoa considerada pelos médicos com alguma anomalia.

Porém, os nazistas não estavam interessados em corrigir cirurgicamente as anomalias dos perversos, sendo que desejavam unicamente a purificação da Alemanha com a eliminação das raças impuras e inferiores. Neste sentido, Roudinesco (2008, p. 72) ensina:

Nesse discurso de inspiração higienista já se desvela o princípio no qual irá repousar toda a nomenclatura de uma ciência criminal que permitirá distinguir uma pretensa boa raça de uma outra julgada ruim. E com isso, assim como as raças ditas inferiores, o povo dos perversos será estigmatizado. Entre eles, o homossexual, o maior dos perversos, biologicamente perverso.

Logo, era muito nítida a ideologia nazista de segregação racial, de proliferação da raça pura ariana e de extermínio das raças inferiores, especialmente os Judeus e os demais vistos como perversos, homossexuais, ciganos, deficientes.

Então, a solução encontrada pelo Terceiro Reich para acelerar essa segregação e realizar o extermínio das raças inferiores foi a emigração desses povos aos campos de concentração, sendo o mais famoso deles o de Auschwitz, conforme leciona Roudinesco (2008, p. 106):

O crime de Auschwitz pretendia efetivamente domesticar a seleção natural das espécies, a ponto de substituí-la por uma ciência da raça fundada numa suposta redefinição biológica da humanidade. Como consequência disso, os nazistas haviam se arrogado o direito de decidir quem devia ou não devia habitar o planeta Terra.

Os campos de concentração trabalhavam em ritmo acelerado, levando a um genocídio em massa através de câmaras de gás e outros meios sórdidos, sendo que nem mesmo quando a guerra mostrou-se perdida, o ímpeto de extermínio reduziu-se.

Roudinesco (2008) então arremata:

Pelas mesmas razões, antes da derrota final, os exterminadores tomaram o cuidado especial de assassinar suas vítimas com todo o vigor, preferindo deixar passar os trens da morte em vez de os de seus soldados. Em seguida, algumas horas antes da chegada das tropas aliadas, destruíram os instrumentos do crime crematórios e câmaras de gás , para finalmente destruírem-se a si próprios, como haviam destruído a Alemanha, seja desaparecendo no outro lado do mundo sob diferentes identidades, com o fim exclusivo de nunca reaparecer num mundo odiado suscetível de julgá-los, seja se suicidando.

Por fim, em seu testamento, Hitler explicava que a judalhada internacional era responsável pela deflagração da guerra e pela derrota alemã, e que seu suicídio dava-se para não viver no futuro nesse mundo dominado por uma judalhada bolchevizada. (Roudinesco, 2008, p. 112).

Portanto, tamanha era a crença nazista em sua superioridade racial e sua determinação em eliminar os Judeus e demais raças inferiores, que nem mesmo os revezes da guerra fizeram com que cessassem seu objetivo de segregação, e, ante a invasão eminente de Berlim, muitos dos líderes nazistas preferiram o suicídio ao invés de qualquer julgamento por outras nações consideradas judalhadas.


CONCLUSÃO

Diante do estudo aqui realizado, é possível constatar que a Europa vivenciou um cenário de grande instabilidade no início do século XX, acarretando a primeira guerra mundial em 1914, seu término em 1918, e um pós-guerra que trouxe muito sofrimento a várias povos e nações da Europa, especialmente a Alemã.

Neste cenário, o povo Alemão dividia-se em dois extremos políticos (nacionais socialistas e comunistas) além de uma grande massa da população que sofria com a fome e o desemprego e clamava por dias melhores. Adolf Hitler soube aproveitar-se desta situação e surgir como um líder perante esta massa, e, eliminando aqueles que a ele se opuseram (líderes comunistas e opositores políticos) e unificando o restante do povo alemão, tornou-se o Fuhrer da Alemanha.

Com a massa e o Fuhrer unidos em objetivos, fora implantada a ideologia da raça superior ariana e eleito o povo judeu como bode expiatório de todo o infortúnio alemão até então, argumentando-se que era necessária a purificação da Alemanha para o retorno de sua glória, eliminando não só os Judeus, mas também as demais raças consideradas inferiores e perversas, como ciganos, homossexuais e doentes físicos ou mentais.

Assim, a humanidade presenciou entre 1933 e 1945 diversas barbáries pautadas na crença de superioridade e necessidade de segregação de raças, e que só foram possíveis, pelo fato de que houve o domínio de uma massa (Freud) e a escolha aceita de um bode expiatório (Girard).


REFERÊNCIAS

BARKAI, A., Nazi Economics Ideology, Theory and Policy. New Haven and London: Yale University Press, 1990.

EVANS, Richard J. O Terceiro Reich no poder. São Paulo: Planeta, 2011.

FREUD, Sigmund. Psicologia das massas e análise do Eu. Porto Alegre: L&PM, 2010.

GIRARD, René. O bode expiatório. Traduzido por Ivo Storniolo. São Paulo: Paulus, 2004.

GOBINEAU, Arthur de. Essai sur linegalité des races humaines. Saguenay: Université de Québec à Chicoutimi, 2004. Disponível em: http://classiques.uqac.ca/classiques/gobineau/essai_inegalite_races/essai_inegalite_races .html. Acesso em: 28/07/2021.

MAZZUCCHELLI, Frederico: Os anos de chumbo: economia e política internacional no entreguerras. Campinas: UNESP-FACAMP, 2009.

MILMAN, Luis. Holocausto Verdade e Preconceito, Revista Espaço Acadêmico. n.43, 2004).

POESCHE, Theodor. Die Arier: ein Betrag zur historische Anthropologie. Jena: Hermann Costenoble, 1878.

RAFECAS, Daniel. Historia de la solución Final- Uma indagación de las etapas que llevaron al extermínio de los judíos europeus. Buenos Aires: Siglo Veinteuno Editores, 2012

ROUDINESCO, Elizabeth. A parte obscura de nós mesmos: uma história dos perversos. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.

Sobre o autor
Diógenes Menegaz

Advogado. Mestre em Direito. Professor de Direito Administrativo. Especialista em Reurb. Especialista em Direito Público, Direito Eleitoral, Direito Público com Ênfase em Gestão Pública, Advocacia Pública Municipal, Direito Tributário e Direito Administrativo Municipal. Procurador Municipal.

Como citar este texto (NBR 6023:2018 ABNT)

MENEGAZ, Diógenes. O nazismo, a psicologia das massas e os bodes expiatórios. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 27, n. 6799, 11 fev. 2022. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/96341. Acesso em: 22 dez. 2024.

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