Símbolo do Jus.com.br Jus.com.br

Ícaro às avessas:

a história do juiz que pensou ser maior do que realmente era

Um pequeno relato comparativo do personagem da mitologia grega, com o então herói das elites e da grande mídia brasileira.

Durante a década dos anos 80, a música brasileira ainda encontrava-se em constante ebulição, presenteando os ouvintes com clássicos como Sonho de Ícaro, música de autoria de Cláudio Rabello e Piska, interpretada pelo cantor Byafra, contava a história do personagem da mitologia grega, que utilizava asas coladas com cera em seu corpo e que sentindo-se tão estonteante com a sensação de liberdade que conquistou, chegou perto demais do sol.

Em comparação com a história original, apenas o desfecho infeliz pode-se comparar com o personagem deste artigo. O nosso Ícaro não era um personagem que tentava fugir de um labirinto, mas sim, um dos causadores da instabilidade democrática que jogou o Brasil em um dos períodos mais lúgubres da nossa história, onde além das mazelas oriundas de uma pandemia, colaborou com um governo nazifascista que dificulta e piora a vida daqueles mais desalentados.

A história de Sérgio Moro (1972) começa quando este era Juiz Federal da 13° Vara Federal de Curitiba e junto do Ministério Público Federal, na figura de seu parceiro de acossa, foram os maiores responsáveis pela fantasiosa operação que ganhou as graças da elite brasileira conhecida como Operação Lava Jato, que condenou sem provas o Ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o retirando da disputa eleitoral de 2018, que acabaria dando a vitória para o candidato da Extrema Direita Jair Messias Bolsonaro.

Após a eleição de Bolsonaro, Sergio Moro, o nosso Ícaro às avessas, que até aquele momento, subia cada vez mais em direção ao sol, e gozava de status em sua Egotrip fomentada pela grande mídia, mesmo mostrando-se eventualmente uma pessoa com uma precária formação, mas que tinha como escudo a toga e as benesses do cargo que ocupava.

O céu não era o limite para as ambições do então Juiz, que de fato acreditava mesmo ser um real combatente da corrupção, de uma conduta ilibada e de sempre poderia apontar o dedo para dizer: Corruptos são eles.

 Eis que então, o Ícaro dos trópicos alcançou seu Sol, o mesmo Sol que ajudou a colocar na vida de todos os Brasileiros, deixou seu status de Juiz Federal, virou Ministro da Justiça do Governo Bolsonaro e com isso, suas asas coladas com cera, começaram a se desprender e as lembranças daquele verão de 2016, 2017, 2018, 2019 e 2020 vieram à tona.

De atropelos ao devido processo legal, decisões absurdas que colaboraram com a destruição da indústria de construção pesada no país, os escandalosos episódios da Vaza Jato[1], uma razia na política que a jogou nos escombros, emparedamento do judiciário e pôr fim a terra arrasada. Do sonho de um Juiz cortejado e que imaginava chegar ao Superior Tribunal Eleitoral após compactuar com os horrores de seu chefe, viu seus planos políticos frustrados, Moro se tornou persona non grata à direita e à esquerda, e até mesmo a extrema direita, que este se dedicou com tanto ardor, preferiu seguir com seu mais honesto expoente e o jogou à desgraça.

Após ser anunciado sócio-diretor da Alvarez & Marçal, empresa que administra a recuperação judicial da Construtora Odebrecht, uma das afetadas pelas moléstias da Lava Jato, viu um pedido do TCU para investigar eventuais conflitos de interesses.

Já sem todas as pompas de Juiz de Ferro, combatente da corrupção adorado pela elite, sem o tão sonhado cargo no STF e praticamente irrelevante no mesmo cenário político que sempre disse não pertencer, nosso Ícaro às avessas decide se filiar a um partido político para disputar as eleições, mesmo que, os números mostravam que nesta corrida eleitoral, o outrora herói das elites, via sua pré-campanha decolar, na mesma velocidade de um avião de papel no vácuo, mas nada pode impedir as ambições deste vanguardista da auto destruição involuntária.

Em poucos meses de filiação ao Partido Podemos, Moro trocou o pequeno partido, que investia em sua candidatura presidencial, pela grande e poderosa União Brasil, pensando que seria um grande nome da legenda, novamente viu seus planos frustrados.

A atual legenda, não só dispensou sua candidatura como apenas ofereceu uma modesta candidatura para a Câmara Federal e para a cereja do bolo, o então Algoz do Ex-Presidente Lula, que segue na liderança para as eleições presidenciais de 2022, viu a Organização das Nações Unidas (ONU) emitir um relatório onde aponta, a imparcialidade e concluiu que o ex-juiz foi imparcial em seus julgamentos.

Fique sempre informado com o Jus! Receba gratuitamente as atualizações jurídicas em sua caixa de entrada. Inscreva-se agora e não perca as novidades diárias essenciais!
Os boletins são gratuitos. Não enviamos spam. Privacidade Publique seus artigos

CONCLUSÃO 

Como diz a canção, o final para o personagem da mitologia grega não foi feliz. A diferença para o Ícaro é que a história guardou um lugar na literatura e também na música pop brasileira. O outro personagem, apenas ficará na crônica como a figura que melhor representa o que tem de pior na elite brasileira que pensa ser mais inteligente, mesmo não sendo e que irá terminar com o mesmo fardo, que o golpista Carlos Lacerda no século passado.

Voar, voar, subir, subir, descer até cair e não parar mais.


REFERÊNCIAS

AZEVEDO, Reinaldo. Contra os Missionários da destruição. Folha. Junho de 2019. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/reinaldoazevedo/2019/06/contra-os-missionarios-da-destruicao.shtml Acesso em 11 de maio.2022

___________. O juiz Moro já teria mandado prender o empresário Moro. Folha. Dezembro de 2020. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/reinaldoazevedo/2020/12/o-juiz-moro-ja-teria-mandado-prender-o-empresario-moro.shtml Acesso em 11 de maio. 2022.

METROPOLE. Sergio Moro decide trocar o Podemos pelo União Brasil. 31 de março. 2022. Disponível em: https://www.metropoles.com/colunas/igor-gadelha/sergio-moro-decide-trocar-o-podemos-pelo-uniao-brasil Acesso em 11 de maio. 2022.

UOL. Moro já se depara com sua real biografia; empresa nega pressão por seu nome. UOL. 22 de junho. 2021. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/colunas/reinaldo-azevedo/2021/06/22/moro-ja-se-depara-com-sua-real-biografia-empresa-nega-pressao-por-seu-nome.htm Acesso em 11 de maio. 2022.

________. Comitê da ONU conclui que Moro foi parcial e dá vitória para Lula. UOL. 27 de abril. 2022. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/colunas/jamil-chade/2022/04/27/comite-da-onu-conclui-que-moro-foi-parcial-e-da-vitoria-para-lula.htm Acesso em 11 de maio. 2022.


[1] Vaza Jato, foi uma série de reportagens feitas pelo jornal The Intercept Brasil, que revelou escandalosos movimentos antidemocráticos e antijurídicos da operação Lava Jato.

Sobre os autores
Vinicius Viana Gonçalves

Possui Bacharelado em Direito pela Faculdade Anhanguera do Rio Grande (FARG), Pós-Graduação em Ciências Políticas pela Universidade Cândido Mendes (UCAM), Pós-Graduação em Ensino de Sociologia pela Faculdade Única de Ipatinga (FUNIP), Pós-Graduação em Educação em Direitos Humanos e Mestrado em Direito e Justiça Social pela Universidade Federal do Rio Grande (FURG). Também possui formação como Técnico em Comércio Exterior pela Escola Técnica Estadual Getúlio Vargas (Rio Grande/RS), Tecnologia em Logística pela Faculdade de Tecnologia (FATEC/UNINTER). Como pesquisador, foi membro do Núcleo de Pesquisa e Extensão em Direitos Humanos (NUPEDH) e do Grupo de Pesquisa Direito, Gênero e Identidades Plurais (DIGIPLUS), ambos vinculados ao PPGDJS/FURG. Também atuou como pesquisador vinculado ao Programa Educación para la Paz No Violencia y los Derechos Humanos, no Núcleo de Pesquisa e Extensão em Direitos Humanos (Centro de Investigación y Extensión en Derechos Humanos) da Facultad de Derecho da Universidad Nacional de Rosario (Argentina), sob coordenação do Professor Dr. Julio Cesar Llanán Nogueira, com financiamento da PROPESP-FURG/CAPES.

Sheila Stolz da Silveira

Professora Associada do Curso de Direito e do Programa de Pós-Graduação em Direito e Justiça Social (Mestrado) da Universidade Federal do Rio Grande (FaDir/FURG/RS). Doutora em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC/RS), com bolsa do Programa de Doutorado Sanduíche no Exterior (PDSE-CAPES) realizado na Facultad de Derecho da Universidad Complutense de Madrid (UCM/Madri/Espanha). Mestre em Direito pela Universitat Pompeu Fabra (UPF/Barcelona/Espanha). Coordenadora Geral do Núcleo de Pesquisa e Extensão em Direitos Humanos (NUPEDH/FURG). Coordenadora do Curso de Pós-graduação em Educação em Direitos Humanos (PGEDH/FURG-UAB-CAPES). Lattes: http://lattes.cnpq.br/3038131556164688. Orcid ID https://orcid.org/0000-0003-3591-7153.

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

Mais informações

Papper

Publique seus artigos Compartilhe conhecimento e ganhe reconhecimento. É fácil e rápido!