Resumo: O presente artigo tem por finalidade estudar os modus operandi das organizações criminosas especializadas em roubo a bancos nas cidades que abrangem o 6° Batalhão de Polícia Militar- 6° BPM, destacar a ação policial frente a esses crimes e descobrir se eles possuem um plano de defesa/ plano de contingência ativo nas unidades. Portanto, tem como objetivo geral analisar a atuação policial frente a ataques do Novo Cangaço e os objetivos específicos consistem em identificar se há no batalhão e nas unidades subordinadas, tropa de segundo esforço e identificar se existe planejamento prévio para ataques desse porte. Para tanto, utilizou-se como metodologia referências literárias e foi feito um estudo de casos através dos dados que foram coletados. Os resultados indicaram que o modo de operação mais frequente dos criminosos é com o uso de explosivos e geralmente na madrugada; a utilização de reféns foi só durante o dia quando as agências bancárias estão abrindo e que a atuação policial e a colaboração da sociedade inibiram alguns crimes. Foi visto, também, que das unidades analisadas, apenas uma possui um plano de defesa e que mesmo assim não está ativo. Porém, na pesquisa com os comandantes, todos informaram que o plano de contingência é necessário na atuação policial para manter uma padronização nas operações desse nível.
Palavras-chave: Modus Operandi; Novo Cangaço; Plano de defesa/plano de contingência; atuação policial.
1. INTRODUÇÃO
Uma nova modalidade de crime que vem surgindo desde o final do século XX e se propaga até os dias atuais em cidades interioranas de todo o Brasil, tem como foco principal o roubo a instituições financeiras e a carros-fortes. Esses tipos de crimes, realizados por organizações/associações criminosas, são conhecidos como “O Novo Cangaço”.
Sendo comparado com o Antigo Cangaço-Lampião, essas organizações criminosas possuem um poderio de fogo pesado e uma organização logística gigantesca. Isso se dá ao avanço tecnológico que deixou as informações mais facilitadas. Possuem um modo de operar violento, deixando o rastro de destruição e pânico na população das cidades atingidas.
Com o passar do tempo, as Forças Policiais também foram se modernizando e estudando o modo como essas organizações operam. Sendo assim, conseguindo combater a cada dia atos criminosos dessa proporção.
Nesse contexto, este artigo visa discutir esse novo tipo de modalidade criminosa que vem surgindo no estado do Rio Grande do Norte há alguns anos, destacar a ação policial diante desses crimes que vêm sendo combatidos diuturnamente e, também, analisar se algum plano de contingência é aplicado nas ocorrências policiais.
Dessa forma, esse trabalho possui a seguinte problemática: Qual a atuação policial frente ao crime organizado de roubo a bancos e a carros-fortes na região do 6° Batalhão de Polícia Militar do estado do Rio Grande do Norte?
2. REFERENCIAL TEÓRICO
Em 1889, com a Proclamação da República, surgiram no Brasil e, principalmente, na Região do Nordeste brasileiro, problemas econômicos e sociais, os quais desencadearam a fome e o aumento da pobreza nessa região. No final do século XIX, já começava a aparecer alguns bandos de cangaceiros que eram grupos armados que se reuniam com um objetivo social. Porém, esse movimento só veio adquirir mais força já no século XX.
Nos dias atuais, começaram a surgir um novo movimento inspirado no antigo cangaço, O Novo Cangaço. Esses grupos andam fortemente armados, com estrutura de guerrilha e altamente organizados. O seu principal objetivo são os roubos às instituições financeiras e a carros-fortes.
2.1. A história do Cangaço
O cangaço é um movimento social conhecido como banditismo que se alastrou pelas áreas do sertão Nordestino. Como cita Ohara (2014), o cangaceiro era o homem sertanejo que vivia em bandos e que tinha objetivos em comum, lutar contra os problemas econômicos e sociais enfrentados na época. Agiam nas regiões interioranas onde o poderio dos coronéis era forte na população local. Eram grupos de homens que conheciam bem a caatinga (vegetação da região), não ficavam muito tempo no mesmo lugar, viviam uma vida nômade.
Mesmo com a vida nômade, os cangaceiros tinham apoio logístico. Esse apoio era conhecido por coiteiros, como cita Silva (2023) em uma matéria no site do Uol sobre o Cangaço: “os cangaceiros tinham aliados, conhecidos como coiteiros, que forneciam abrigo para eles quando fosse necessário. Os aliados do cangaço pertenciam a diferentes classes sociais, indo de pessoas humildes até poderosos, como políticos e coronéis.”
Alguns estudiosos tratam os cangaceiros como justiceiros (justiça com as próprias mãos), outros como bandidos impiedosos que utilizam a desigualdade como desculpa para a prática de crimes. Silva (2023) cita “Eles atacavam todos os seus alvos com muita violência e, geralmente, não faziam prisioneiros, preferindo, quase sempre, assassinar as vítimas”.
O cangaceiro mais famoso da história brasileira foi Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião. Artesão e alfabetizado, decidiu ingressar no cangaço após o seu pai ser assassinado devido uma disputa de terras. Era conhecido por ser um líder estrategista e organizado, por esse motivo gerava medo em quem o encontrava.
Segundo Andrade e Lopes (2017), no Rio Grande do Norte, Lampião deixou um vasto de destruição por onde passava, saqueava casas e comércios e fazia vítimas fatais. Até que um dia, 12 de junho de 1927, resolveu entrar na cidade de Mossoró-RN, o qual mandou uma carta para o então prefeito da época, Coronel Rodolfo Fernandes, onde pedia uma quantia em dinheiro para não atacar o município. O prefeito não atendeu a carta de Lampião que mandou outro recado, sendo retribuído mais uma vez pela negativa do prefeito.
Andrade e Lopes (2017) ainda citam que Lampião e seu bando invadem a cidade de Mossoró e são surpreendidos por uma volante formada por homens armados. Houve uma intensa troca de tiros e Lampião perdeu vários homens importantes do seu bando, sejam mortos ou capturados. Então, Lampião cede e retira sua tropa do município. Esse fato ficou conhecido até hoje como, “Chuva de Bala no país de Mossoró”. Após esse acontecimento, Lampião continuou deixando rastros de destruição pelo Nordeste brasileiro, sendo morto, anos depois, em 28 de julho de 1938, em Grota do Angico- SE. Dando um fim ao que se conhece por Cangaço.
2.2. O Roubo dos 94 milhões - O começo de uma desavença entre famílias por poder e prestígio social de uma cidade.
No Rio Grande do Norte, este tipo de crime começou a surgir em meados de 1980 em Caraúbas, que foi quando ocorreu um grande roubo a um carro-forte jamais visto no estado. Esse roubo ficou conhecido como “O Roubo dos 94 milhões”. Essa ação serviria para financiar a campanha do candidato a prefeito da cidade de Caraúbas –RN, Zimar Fernandes, que como acordado deixaria como seu sucessor o Doutor Benevides, da família Benevides Carneiro, conforme relata Silva (2022) em sua dissertação de mestrado - Valdetário Carneiro: a múltipla face da condição humana, “(...) o valor enfim é utilizado e o grupo consegue eleger Zimar, cujo compromisso firmado era tornar Doutor Benevides o seu sucessor ao final do seu mandato, que durou entre os anos de 1983 e 1988.”
Portanto, o acordo não foi cumprido pela parte de Zimar Fernandes que apoiou outro candidato, dando início a uma briga de família pelo poder e prestígio de uma cidade. Silva (2022), “Em uma reviravolta política e uma afronta ao pacto firmado entre os homens, Zimar Fernandes não cumpriu sua parte no plano (...) mesmo tendo participado do planejamento da ação criminosa para concretizar o assalto e tendo sido beneficiado pelo dinheiro roubado”.
O roubo ocorreu no dia 10 de novembro de 1982, o qual subtraiu um montante de 94 milhões de cruzeiros (moeda da época, hoje equivalente, aproximadamente, a 3,2 milhões de reais) que seria para pagar os trabalhadores rurais inscritos no programa de emergência contra as secas (Projeto do Governo Federal) do município do Umarizal-RN. Segundo o texto disponibilizado pela Procuradoria da República do Estado do Rio Grande do Norte - PRRN, do julgamento de um dos envolvidos no roubo, Francisco das Chagas Teixeira, diz:
O ‘roubo dos 94 milhões’, como ficou conhecido o caso, aconteceu entre os municípios de Caraúbas e Olho D'Água dos Borges e foi arquitetado pela quadrilha com participação de um gerente do Bandern, banco responsável pelo dinheiro. O dinheiro estava sendo transportado do aeroporto de Mossoró até o banco pelo então sub-gerente do Banco Econômico de Umarizal, acompanhado por um auxiliar e um vigilante, quando foi abordado por quatro homens dentro de um Corcel II azul. Os malotes foram levados e repartidos entre os criminosos.
Um roubo nunca visto no estado do Rio Grande do Norte, tanto pela organização dos criminosos, como pela agilidade do serviço que contavam com uma equipe bem dividida e articulosa. Surgindo assim o que hoje é conhecido como o “Novo Cangaço”.
2.3. O Novo Cangaço do Rio Grande do Norte – O bando de Valdetário Carneiro.
O novo cangaço ficou conhecido mundialmente devido a grande divulgação das mídias sociais. Esse novo tipo de banditismo tem como objetivo o roubo a instituições financeiras e a carros-fortes. São operações cinematográficas que mobilizam um grande número de pessoas no ato criminoso. Segundo Cruz, Cardoso e Sousa (2022), “eclodiu uma nova modalidade criminosa violenta que vem aterrorizando pequenas e médias cidades do interior de todo o Brasil. De modo de agir semelhante à atuação dos cangaceiros, o ressurgimento da nova prática tem sido denominado de Novo Cangaço”.
As pesquisas do Novo Cangaço têm partido de uma comparação com o cangaço acontecido no Brasil, no final do século XIX e no século XX, destacando o período de Lampião. Segundo Pontes e França (2020):
A comparação central entre os dois tipos de criminalidade baseia-se no fato de que ambos os grupos de criminosos atuam em cidades interioranas, mobilizando o medo dos residentes locais. Dada a participação de muitos indivíduos atuantes tanto no cangaço como no novo cangaço, essa condição possibilita a vitimização de toda uma cidade que se torna refém da ação criminosa do grupo de assaltantes que, tanto no caso do cangaço como do novo cangaço agem através do uso de armas de fogo.
Com o avanço da tecnologia e a informação ainda mais acessível, esses bandos possuem um acesso a um poder de fogo ainda mais forte e rápido, e também, possuem mais acessibilidade a uma estrutura ainda mais organizada, superando os modus operandi (modo de operar) dos antigos cangaceiros. Filho e Silva (2017), “Estas, têm se capitalizado e adquirido armamentos, equipamentos e explosivos, exigindo uma intervenção policial emergencial e não rotineira, ou seja, necessita de um planejamento prévio bem definido”.
Esses grupos de criminosos operam sempre com um grande número de pessoas, de forma extremamente organizada e com um apoio logístico. Nessa espécie de banditismo moderno, o grupo é dividido em partes específicas, cada componente possui uma função fundamental no ato criminoso. Começa pelo planejamento seguido da parte investigativa, onde pessoas específicas visitam o local por diversas vezes, coletando dados precisos (quantos policiais têm na cidade, as saídas mais rápidas, entradas específicas, locais do cofre, rotas dos carros-fortes, entre outros) que irão ajudar a consumar o ato, sendo numa espécie de olheiro. Outra equipe é responsável pelo apoio logístico, o lugar que o grupo irá se estabilizar antes e após o crime. E, por fim, a equipe operacional que são os indivíduos que irão estar na linha de frente do ato criminoso.
Filho e Silva (2017) citam o modo de operação desses grupos criminosos para neutralizar a polícia local e não atrapalhar os seus planos:
Os criminosos iniciam a ação com a neutralização das ameaças, invadindo delegacias, unidades policiais-militares, bem como dominando os policiais em suas próprias residências. Somado a isso, bloqueiam vias de acesso ao alvo e espalham grampos nas rodovias, impossibilitando a ação de reforços policiais. Pessoas são feitas de reféns, geralmente formando um cordão humano em frente a agência e tiros são disparados a todo momento, intimidando a população e servindo como demonstração de força aos que por ventura venham a combatê-los.
No momento do ato criminoso é fácil de identificar a organização e a divisão de tarefas de cada integrante. Uns ficam fora das agências bancárias para vigiar a chegada da polícia ou observar algo fora do plano de ação, outros entram na agência e rendem o gerente, vigilante e quem se encontrar no local e os demais vão em direção ao cofre para retirarem o numerário existente. Geralmente, esses grupos fazem reféns quando a ação é durante o dia e, na maioria das vezes, é durante a abertura das agências bancárias, sempre atirando para o alto para intimidar os reféns e a população. Quando a agência é invadida no período noturno ou na madrugada, não se emprega o uso de reféns e sim de explosivos, pois é uma entrada e saída mais rápida, quando acontece de ter reféns é uma coincidência na desenvoltura do plano. Já no roubo a carro-forte, a ação se dá fora da cidade, pois é um crime mais elaborado e necessita de armamentos ainda mais sofisticados e carros blindados.
Esse modo de operar dos bandos parece até cena de filme, mas é uma realidade que aconteceu com mais rotina nas cidades do interior do Rio Grande do Norte. Segundo Pontes e França (2020) citam em seu artigo, “foi a partir da concentração do poder do uso da força por parte do Estado moderno, que passou a controlar de forma geral um determinado território, que o banditismo em suas características rurais, epidêmicas ou endêmicas, foi eliminado”. Logo, observa-se que com o passar dos anos, o Estado foi também se modernizando e se articulando com novos estudos e estratégias sobre a atuação dessas organizações criminosas e com isso estão conseguindo controlar o número de casos.
Dentro desse contexto, o estado do Rio Grande do Norte protagonizou no início do século crimes desse tipo, a principal família responsável por tais atos era a “família Carneiro” que tinha como principal líder José Valdetário Benevides “Carneiro”, vulgo Valdetário Carneiro, como cita Araújo, Costa e Ramos (2016):
(...) no Estado do Rio Grande do Norte, a ‘família Carneiro’ tinha no final do século passado assumido esse caráter, com mortes violentas de autoridades públicas a fim de consolidar sua influência regional, grupo criminoso este que foi fortemente combatido pelo Estado potiguar, onde o principal integrante e líder do bando da ‘família Carneiro’, foi José Valdetário Benevides Carneiro (...).
Em uma reportagem realizada pelo programa Linha Direta no ano de 2014 (disponível no YouTube no canal de Jonathan Benevides) cujo nome é “Valdetário Benevides Carneiro- Linha Direta”, relata a vida de Valdetário Carneiro. Valdetário foi um indivíduo que ficou muito conhecido no banditismo moderno (Novo Cangaço), porém, antes de entrar para o mundo do crime ele era mecânico, vivia na cidade de Caraúbas-RN. Aos 20 anos de idade, foi preso por um roubo de carro, o qual afirmava ser inocente. Após quatro anos preso, ele se vinga e mata o dono do então carro, o qual o acusou de ter roubado. E assim começa a sua vida de crime.
Em dezembro de 1999, Valdetário Carneiro e seu bando assaltaram o banco da cidade de Augusto Severo-RN e se esconderam em uma fazenda, porém, foram vistos por um vaqueiro que trabalhava para um médico chamado João Pereira - da família Simões -, o mesmo denunciou essa movimentação à polícia e Valdetário, sabendo disso, jurou matar o vaqueiro e o médico, pois entendeu que ele apoiou o que o vaqueiro fez. No dia 06 de dezembro de 1999 e no dia 23 de dezembro de 1999, Valdetário mata o vaqueiro e o médico, respectivamente.
Ainda no documentário, é mostrado que após o crime Valdetário liga para a rádio da cidade de Caraúbas-RN assumindo o crime e ameaçando o resto da família Simões, ele ditou as seguintes palavras: “Simão são tudo é ladrão... Sem vergonha. Só tem um homem na família de Simão, viu? Que é Dr. Agnaldo. Mas o resto é tudo ladrão safado, é pilantra”. Esse Dr. Agnaldo era o prefeito de Caraúbas-RN na época.
O repórter do Linha Direta fala que após seis meses da morte do médico, Valdetário Carneiro foi preso pela Polícia Federal na cidade de Monteiro-PB junto com seu primo e braço direito Francimar Benevides Carneiro, vulgo Cimar. Os dois ficaram presos na penitenciária estadual de Alcaçuz e no dia 04 de novembro de 2000 o bando de Valdetário fortemente armados resgataram os dois principais integrantes do grupo e mais 30 presos.
Um ano após a fuga de Alcaçuz, no dia 07 de novembro de 2001 na inauguração do centro de tratamento de água de Caraúbas-RN, o então reeleito prefeito da cidade Agnaldo Pereira sofre uma emboscada do grupo de Valdetário Carneiro que impiedosamente assassinaram o prefeito, a sua esposa, o caseiro e dois policiais militares do Estado do Rio Grande do Norte. Essa vingança se deu pelo fato de Valdetário Carneiro achar que o Prefeito Agnaldo Pereira passava informações para a Polícia Federal de onde se encontrava o seu grupo e quais eram os seus planos. Após a vingança, o bando volta ao seu foco principal, roubo a banco.
No dia 04 de junho de 2002, a cidade de Macau-RN foi palco do maior roubo a banco da história do Rio Grande do Norte. O bando de Valdetário Carneiro rendeu policiais na entrada da cidade, a população foi feita refém e foram mais de duas horas de terror, relatou a reportagem do Linha Direta. Esse roubo mobilizou uma ação conjunta das polícias do Rio Grande do Norte, Pernambuco, Piauí e Alagoas, na busca incansável para prender Valdetário Carneiro.
No dia 24 de junho de 2002, o grupo de Valdetário foi surpreendido por mais de 100 policiais. Houve uma grande troca de tiros e a polícia consegue prender Cimar Benevides, Agnaldo Benevides Carneiro (o Galego) e o Almir José da Costa (Paraguaio). Com a fuga de Valdetário, a polícia ainda continuou as buscas e no dia 10 de dezembro de 2003 através de uma denúncia anônima, José Valdetário Benevides “Carneiro” foi morto em uma troca de tiros com a Polícia Civil no seu esconderijo, sítio Pau de Leite em Lucrécia-RN.
2.4. Associação Criminosa e Organização Criminosa
Esse crime organizado recebeu por muito tempo a nomenclatura de quadrilha. Com as atualizações no Código Penal Brasileiro passaram a ser tratados como Associações Criminosas ou Organizações Criminosas. Associação criminosa é assim como descrita no Decreto Lei n° 2.848 de 07 de dezembro de 1940 no seu art. 288:
Art. 288. Associarem-se 3 (três) ou mais pessoas, para o fim específico de cometer crimes:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos.
Parágrafo único. A pena aumenta-se até a metade se a associação é armada ou se houver a participação de criança ou adolescente.
Logo, até o ano de 2013, esses tipos de crimes onde era empregado um número igual ou superior a três indivíduos era considerado Associação Criminosa com a pena aumentada, já que os seus modus operandi, diga-se de passagem, era com o emprego de um grande poderio de arma de fogo.
A partir de 02 de agosto de 2013 foi criada a Lei n° 12.850 de 02 de agosto de 2013 que trata em seu caput das Organizações Criminosas, no seu art. 1° §1°.
§ 1º Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou mais pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional.
Observa-se que esses grupos armados de roubo a banco se encaixam perfeitamente nesse crime, pois tem como principal característica a divisão de tarefas para que obtenham indevidamente uma coisa móvel alheia. Como também, é preciso que os crimes praticados por essas organizações possuam pena máxima superior a quatro anos.
Logo, o Código Penal Brasileiro, Decreto- Lei 2.848, traz no seu art. 155. o crime de furto que é “Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel. Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa”. E também trás em seu parágrafo § 4° o furto qualificado:
§ 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é cometido:
I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa;
II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza;
III - com emprego de chave falsa;
IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas.
§ 4º-A A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, se houver emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum.
Como é de se observar nos últimos acontecimentos desses tipos de crime, as associações e as organizações criminosas utilizam explosivos, maçaricos ou ferramenta de corte para conseguir subtrair o bem valorado. Quando o fato acontece durante a noite ou madrugada não é comum haver reféns, portanto, os juristas poderão interpretar o crime como um furto qualificado, sendo assim, menor a penalidade.
Ainda no Código Penal, o art. 157. traz no seu caput o crime de roubo e no seu § 2° a sua forma qualificada:
Art. 157. - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência:
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa. (...)
§ 2º A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até metade:
(...)
III - se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal circunstância.
(...)
V - se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade.
VI – se a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibilitem sua fabricação, montagem ou emprego.
Outro modelo de modos de operação desses criminosos é o roubo a carro-forte, como mostra no § 2°, inciso III do art. 157. do Código Penal, a pena é aumentada em 1/3 até a metade se esse crime for praticado a vítima (os vigilantes dos carros-fortes) que esteja em serviço de transporte de valores. Outro modo que entra na qualificadora é o roubo que utiliza de reféns para prosseguir com o plano - esse se diferenciando do furto - também entra na qualificadora do art. 157. § 2°, dessa vez no inciso V. Por fim, o uso de explosivo também qualifica esse crime, como mostra no inciso VI.
2.5. Planejamento de contingência e atuação policial
Os planos de defesa, também conhecidos como planos de contingência, são ações integradas entre a Polícia Militar, as instituições financeiras e a população, com o intuito de minimizar a possibilidade de confrontos e fugas do grupo criminoso. Segundo Filho (2021), as respostas imediatas a situações com crimes violentos contra o patrimônio quando envolve ações integradas entre as forças de segurança pública, as instituições financeiras e o apoio voluntário da sociedade, acabam distribuindo missões específicas no sentido de frustrar o planejamento de fuga ou descobrir a rota de fuga dos criminosos.
Esses planos de defesa também servem para designar uma padronização nas abordagens a esses crimes. Borges e Brandão (2016) dizem que os planos de contingência devem estudar padrões de atuação, adaptar essa atuação as circunstâncias do ambiente e organizar possíveis hipóteses para assim ser colocado em prática.
No plano de defesa, é possível se ter uma ação de prevenção que visa abastecer as instituições financeiras de procedimentos que permitem a continuidade das operações após eventuais ocorrências que impossibilitem a utilização dos seus recursos, seja parcialmente ou totalmente. Sendo assim, Beuren e Fiorentin (2014) dizem que nessas situações a atividade policial é indispensável, pois diante dessas ocorrências o policial fica em uma situação de limitação parcial ou total de reação.
Assim, a atuação policial deve focar nos problemas que irão lidar, por isso é de extrema importância a cooperação das instituições financeiras e da própria sociedade. Com um plano de defesa feito corretamente e executado pelas instituições, fica mais fácil e rápida a ação policial. Pois, é através de uma análise bem elaborada que a resposta é dada de forma preventiva e sem causar maiores danos.
Em algumas instituições de força de segurança pública, além das tropas de primeiro esforço que é a primeira equipe a chegar ao local do crime, a que faz o patrulhamento de rotina e é a que é mais vista pela população. Essa ação é chamada de presença de polícia. Portanto, existe nas forças de segurança uma tropa de segundo esforço, que no Rio Grande do Norte, nas cidades interioranas, é conhecido como Grupo Tático Operacional – GTO. Uma reportagem do Agora RN cita que o GTO é uma tropa especializada que possui treinamento e armamento diferenciados para operações em caatinga, combatem o crime organizado e desarticulam grupos de roubos às instituições financeiras e carros-fortes.
Também no interior do estado do Rio Grande do Norte, dispõe de outra especializada em combate a roubos ao patrimônio, a PATAMO (Patrulhamento Tático Móvel). Segundo o site da Polícia Militar do Distrito Federal, essas equipes de patrulhamento são treinadas para agir em situações de alto risco, atuando também em apoio as demais tropas da polícia militar. Visam o ataque com maior agressividade aos focos de criminalidade por meio de um patrulhamento objetivo, constante e eficiente.
Portanto, a atuação policial e o treinamento contínuo são de suma importância para a prevenção e o combate a crimes de alto risco. Sendo assim, Filho (2021) realizou uma simulação de roubo a banco na modalidade novo cangaço na cidade de Caicó-RN a qual durou 24 horas, desde o acionamento das forças de segurança até a captura da organização criminosa. Relata a importância do plano de defesa e da colaboração das instituições financeiras e da população para fazerem um acionamento rápido e para o plano de defesa ser colocado em prática com o máximo de eficiência e o menor confronto possível.
2.6. Metodologia e Método
Portanto, o presente estudo buscou analisar os casos de roubos praticados por Organizações Criminosas na região do Seridó, no estado do Rio Grande do Norte, e como as forças de Segurança Pública estão combatendo tais atos criminosos que ficaram nacionalmente conhecidos como “Novo Cangaço”. Logo, foram coletados dados com a Divisão Especializada em Investigação e Combate ao Crime Organizado do Rio Grande do Norte – DEICOR/RN e realizado uma pesquisa com os comandantes do 6° Batalhão de Polícia Militar do Rio Grande do Norte (6° BPM) e das suas unidades subordinadas – 1° CIA, 2° CIA e 3° CIA - através do Google Forms.
Sendo assim, para atingir o objetivo principal desse trabalho, foram realizadas pesquisas literárias de natureza aplicada, tendo uma abordagem quantitativa e exploratória do número de casos do modelo “Novo Cangaço” que ocorreram na região do 6° BPM. Com isso, foi utilizado um estudo de caso nessas regiões e, além disso, foi utilizado o método dedutivo, o qual buscou analisar o Modus Operandi (modo de operação) dos criminosos, a atuação policial frente a esses crimes e se as unidades possuem um plano de defesa para esses casos.
Os dados coletados foram dos anos de 2010 a 2022. Esses dados foram organizados em tabelas e gráficos. Nessa organização foram observados o número de crimes ocorridos nesse período, quantos foram tentados e consumados, os modus operandi da organização criminosa usada nos roubos e as cidades afetadas. Também foi analisado se nas cidades existem tropa de segundo esforço e plano de contingência, as ações realizadas pelas forças de segurança pública e a resposta dada ao ato criminoso.