Juventude negra e o movimento de resistência frente aos desafios da cidade do Recife

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21/02/2024 às 23:50

Resumo:


  • Juventude negra enfrenta alta letalidade e marginalização em Recife, com 67,03% dos mortos sendo jovens negros em 2022, refletindo desigualdades sociais e racismo estrutural.

  • O Estatuto da Juventude busca garantir direitos e participação social, mas enfrenta desafios para efetivação, especialmente em áreas periféricas e para população negra.

  • Coletivos locais, como Iputinga Sociocultural e Juventude Negra Cara Preta, desempenham papel importante na resistência e promoção de cultura, arte e educação para a juventude negra.

Resumo criado por JUSTICIA, o assistente de inteligência artificial do Jus.

INTRODUÇÃO

O presente trabalho pretende estudar a juventude negra e o movimento de resistência na cidade do Recife.

De acordo com a Organização das nações unidas, há cada 23 minutos um jovem negro é assasinado no Brasil. Ao regionalizar esses dados obtém que no ano de 2022, 67, 03% dos mortos são de Jovens negros recifenses (Rede de obvservatório, 2023). Nesse sentido, é importante entender que essa alta letalidade ainda que atinja o país como um todo, revela que em determinadas cidades e municípios com a maior concentração populacional de pessoas pretas, principalmente devido às desigualdades sociais os quais estão inseridos, o assasinato dessa população é naturalizado.

Por isso, os estudos a cerca desse Genocídio da juventude negra entreleça com a classe social(Rizzini, 2009) e mostra que as dificuldades encontradas para esse público serem reconhecidos como sujeitos de direitos, advém da pauperização e da cor da pele.

Nisso, o Estado Brasileiro desde a sua formação social insiste em desumanizar esses jovens. É importante destacar que desde a infância preta até a juventude, essa população sofre e tem seu nascedouro na humilhação, isso se explica na roda dos expostos ou enjeitados no período de 1824 pela qual era entregue crianças indesejáveis ou mães que não podiam cuidar,sobretudo as mulheres negras as quais eram estupradas e não podiam arcar com as despesas e quando completavam a faixa etária de 07 anos eram postos nas ruas ou seriam escravizados. (Mendes,2021). Desse modo, junto a esse arcabouço histórico Brasileiro, uma sociedade marcada pelo sexismo, racismo, homofobia, ser jovem e negro diferencia-se de ser jovem e branco, onde a juventude negra encara desafios múltiplos e convive cotidianamente com a discriminação e o preconceito desde a fundação do país.

Portanto, justifica-se esse trabalho, porque se faz necessário um cenário social onde se abordam políticas baseadas em estudos científicos como meio de fortalecimento para prevenir e educar a sociedade uma vez que o acesso a essa informação ainda é falho e tende a não ser valorizado, além de contribuir para uma política antirracista que fortaleça a proteção e reconhecimento da juventude negra como sujeitos de direitos.

Neste trabalho foi utilizado o método dialético de Marx. A pesquisa tem como metodologia qualitativa descritiva que foi realizada através de buscas em livros, artigos científicos, entrevistas, sites onlines e autores os quais perpassam pela temática como Silvio Almeida, Aníbal Quijano, Cida Bento. Além disso, autores os quais discutem políticas sociais e o Estatuto da juventude e como se dá frente o reconhecimento dos direitos da juventude. Alinhando a legitimidade da pesquisa, pretendo utilizar os dados da que mostra como a Juventude negra se encontra.

Dessa forma, o objetivo desta pesquisa foi estudar a temática da juventude negra e o movimento de Resistências frente aos desafios da cidade do Recife. Por essa maneira, para compreender a complexidade das dificuldades da população juvenil na cidade, o primeiro capítulo buscou analisar a concepção da escravidão e como essa mazela se alastrou na sociedade e perdura no Brasil conteporaneo. Também buscou identificar como as primeiras políticas sociais se estabelecem na sociedade Brasileira. Por fim, o trabalho compreende como os coletivos podem contribuir com a luta antirracista.


1. RACISMO E SUAS IMPLICAÇÕES NA JUVENTUDE

O presente capítulo busca refletir a construção, da juventude negra na sociedade brasileira, propõe examinar a história do país com os efeitos da escravidão. Ademais, procura correlacionar o pacto da branquitude e seu silenciamento que perpetua até os dias de hoje. Por esse cenário demonstra também que falar juventude negra é evocar os efeitos da escravidão e apontar como atravessa a juventude desde a sua constituição como povo e sua maneira de resistir.

Por esse motivo, a historicidade será discutida e retratada também acerca do pensamento incrustado da sociedade que tem início no projeto inicial do Brasil e desdobra nas estruturas de poder onde perpassa pelas relações sociais ao gerar desigualdades para a sobrevivência negra no Brasil. Almeida (2019)

D essa forma, elenca-se que na década de 1920 foi constituída a justiça e assistência para os menores viciosos e delinquentes como Irene Rizzini esboça em seu livro: a arte de governar crianças. É por essa criação que ocorre o recolhimento de crianças e adolescentes nesses abrigos e por isso começa na sociedade brasileira o extermínio da criança e adolescente com o objetivo de limpeza das ruas (Rizzini, pg 23)

Por essa perspectiva, consegue-se compreender os princípios das políticas públicas para a juventude. Nesse paralelo ao nascedouro do conceito do governo de iniciar o olhar aos adolescentes desvalidos a pesquisa abordará o contexto coercitivo e de cunho policial, como também o sistema escravagista cooperou para as expressões das questões sociais na juventude negra brasileira, além do esboço do pacto feito pela sociedade implicitamente de naturalizar as injustiças sociais e a baixa expectativa de vida de população de jovens negros no Brasil.

1.1. ESCRAVIDÃO, PÓS ESCRAVIDÃO E BRASIL CONTEPORANEO

A história do Brasil tem como marco a escravidão período que determina as relações do país, e desenha um cenário social da forma humana de se perceber na sociedade como também enxergar os semelhantes.

Por esse motivo, averiguar a conjuntura e consolidação da escravidão e a forma como ela perpetuou e ainda deixa resquícios, é a base central para entender o funcionamento do país brasileiro.

Nisso consiste que para além da sociedade, compreende-se o relacionamento fundante do mundo de acordo com o “descobrimento” das américas que tem seus primeiros passos na supremacia.

Isso tem relação de acordo com o filósofo Aníbal Quijano criador do conceito colonialidade do poder, relata que não existia o conceito de raça até os conquistadores intitular:

‘A idéia de raça, em seu sentido moderno, não tem história conhecida antes da América4. Talvez se tenha originado como referência às diferenças fenotípicas entre conquistadores e conquistados, mas o que importa é que desde muito cedo foi construída como referência a supostas estruturas biológicas diferenciais entre esses grupos (Quijano, 2005, p. 24)

Por isso, ao denominar essas questões acerca da compreensão de racialidade inicia-se por meio da colonização no centro do mundo a base das relações sociais que começam a ter seu nascedouro na superioridade e exclusão.

Ao trazer essa identidade racial, caracteriza-se em um primeiro momento a estrutura de dominação. Logo, ligado a essa idealização como menciona Quijano, (2005) “Na América, a idéia de raça foi uma maneira de outorgar legitimidade às relações de dominação impostas pela conquista.’’ Portanto, a racialidade é posta na dinâmica do mundo com o intuito de esvair a identidade humana e assim subjugar por meio da escravidão desses povos. Dado a esse processo de colonização e a conversão da raça, importa que para a ocorrência da escravidão por meio da exploração do corpo, há semelhança com o que o filósofo Michel Foucault (1999) elucida em sua obra “Vigiar e punir” a cerca da construção da estrutura de poder e seu controle pelos corpos que oprime a sociedade por meio da coerção, exploração e também o controle social.

Ao demonstrar esse ponto dialoga com a realidade da colonização e o sentido animalesco desse processo, ao desumanizar o sujeito, pois, ao escravizar retira-se a alma e controla não apenas os corpos, como também a mente, assim sendo, a criação da superioridade como exposto acima esboça a crueldade da colonização europeia, que classifica como superior e inferior além de exercer o poder interno na mentalidade e assim dominar. Igualmente a isso no Brasil, na colonia ocorre com a catequização dos indigenas e negros que desarticula a população das suas origens por meio da idealização moral e superior da crença, nesse processo escravocrata a igreja operou e legitimou as ideias coloniais.

Em segundo plano, o produto da colonização resulta na escravidão globalizada por meio do que Cida bento, ilustra em sua tese o pacto da branquitude com o acordo entre os europeus e pessoas brancas que “tem seu discurso no tom de pele como a base principal para distinguir status e valor”(Bento,2022, p. 28) E é com isso, que a escravidão e pensamento eurocêntrico baseado na dominação tem sua interseção no tom de pele autodenominada pelos brancos e classificadas na subordinação para que ao afirmar como verdade universal instaure as desigualdades de um povo.

Em vista disso, a escravidão tem seus meandros na humilhação e conforme Bento, (2022) afirma “a natureza desigual dessa relação permitiu que os brancos estipulassem e disseminassem o significado de si próprios e do outro através de projeções, exclusões, negações e atos de repressão’’

A partir disso, alastra no imaginário e estrutura social a concepção de hierarquias no corpo social, esse movimento assemelha com o pensamento de Jessé Souza, em seu livro a elite do atraso que explicita o poder da superioridade europeia e seus efeitos no Brasil com a escravidão como “a questão do poder é a questão central de toda sociedade. A razão é simples. É ela que nos irá dizer quem manda e quem obedece, quem fica com os privilégios e quem é abandonado e excluído’’. É com esses moldes que a concepção do racismo europeu se introduz no Brasil. É através dessa força que o jugo de 350 anos pela qual a escravidão lançou o lugar do negro no Brasil e história, pela superioridade branca e sua sistematização de poder através de vários âmbitos, sobretudo, na divisão de trabalho.

A cerca dessa lógica escravocrata o autor Souza (2019) examina o racismo em várias nuances as quais não necessariamente baseia-se na aparência, mas também como ‘’hierarquizar individuo’’ e nessa ótica coaduna-se ao processo da estratificação do trabalho na escravidão explicado por Quijano (2005)”as novas identidades históricas produzidas sobre a ideia de raça foram associadas à natureza dos papéis e lugares na nova estrutura global de controle do trabalho.’’ Isso explica a respeito do trabalho escravo e a opressão cometida pelos senhores de engenhos e a base para escravizar, justamente com o pensamento autoritário homogêneo do Brasil colônia de projetar os negros na margem.

Por esse motivo, salienta-se no Brasil que a escravidão é apadrinhada pelo sistema colonial e n[Digite aqui]

essa organização como afirma o pensamento de Frantz fanon desumaniza o colonizado, tornando em pessoa escravizada e nesse contexto, no livro do autor Condenados da terra (1961) uma sociedade colonizada é uma sociedade dividida, importa frisar que em seus estudos o autor reflete aos leitores sobre a perversidade desse sistema opressor como balizador de espaços, pois ao revisitar essa discussão ele profere que com o pensamento colonial os negros eram comparados a animais e estigmatizado em sua identidade.

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Dessa forma, como afirma Moura (1983), excluir os efeitos da escravidão e seu sistema de coisificação humana é privar a sociedade de conhecer a própria história e resultados os quais perpetuam-se até os dias de hoje.

Esse fenômeno de inflexão a respeito da perversidade do sistema escravista se dá porque como afirma o autor já mencionado rememorar escravidão no Brasil é falar da pessoa negra (Moura,1983, p. 04) Com isso, nos dias atuais é possível identificar quem está a margem na sociedade, os índices de desemprego, trabalho infantil, prostituição, morte e expectativa de vida, sobretudo o jovem negro. Segundo a ONU (Organizações das nações unidas) há cada 23 minutos morrem um jovem negro, por esse dado nota-se que não é acidentalmente essa rejeição da história do povo negro é com objetivo de manter a população no senso comum e naturalizar uma construção social:

Porque situá-lo historicamente é vê-lo como agente coletivo dinâmico radical desde a origem da escravidão no Brasil.{..}É finalmente, mostrar o lado dinâmico da escravidão no Brasil, ou seja, o chamado lado negativo: as insurreições, os quilombos e demais movimentos dinâmico radicais havidos durante aquele período. (Moura,1983, p. 2)

P aralelamente a negação das resistências como forma de resposta a colonização e escravidão, vale analisar o pensamento cartesiano de René Descartes (1650) que traz a dúvida como corrente filosófica e junto a essa ideia pode assemelhar a realidade do sistema de poder da violência colonial, pois, além de escravizar o corpo, houve também o processo de controle do pensamento e assim promovendo uma desumanização do negro na história do meio social.

Contudo, ainda que haja movimentos históricos para apagar a realidade dos escravos principalmente os negros, aconteceu trajetórias de tensões contra o colonialismo. Como afirma (Reis apud, Lara,1996) a mudança iniciada através dos quilombos teve planejamentos de aniquilamento dos negros seja por meio de coerção quer seja pelo controle dos fugitivos, por consequência surge o homem do mato com o objetivo de capturar os escravos, os quais amontoaram-se nos refúgios e se organizaram como potência a fim de resistir. Por conseguinte, a formação nos quilombos foi desempenhando um temor para os senhores e com a pretensão de desvalorizar para informar na colônia que eles ainda estavam no controle (Reis, 1996) afirma “não figuravam como ameaça efetiva à escravidão, eles passariam a representar uma ameaça simbólica importante” Isto posto, evidencia que apagar as representações de oposições foi importante para subverter a capacidade dos ainda que pequenos, porém significativos movimentos de forças.Para compreender a subsistência da juventude negra, é fundamental examinar como o quilombo surge de um processo de insurreições contra a escravidão e assim evidenciar que o sistema colonial perdurou por muito tempo, contudo, em nenhum momento as pessoas pretas ficaram estáticas frente a perversidade colonial.Diante disso, de acordo com o CONAQ (Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas) a etimologia da palavra quilombo oriunda do dicionário africano traz o local como ''sociedade formada por jovens guerreiros que pertenciam a grupo étnicos desenraizados de suas comunidades'' e é por essa força da juventude que ocorre a resistência quilombola e a forma disruptiva de criar um novo modelo de sociedade dado ao domínio colonial. Simone Rezende da silva, professora e que atua nas Unidades de Conservação, Populações tradicionais e Territórios Quilombolas, escreve no livro: conflito, territorialidade e desenvolvimento: algumas reflexões sobre o povo amapense

Quando um grupo se organiza em prol de territorializar-se, ele está negando o lugar que lhe fora destinado numa dada circunstância espácio-temporal, ou seja, está negando o lugar marginal que lhe fora designado pela sociedade abrangente (Rezende, 2014, p. 23)

Nesse entendimento, o quilombo é um local da não aceitação dos espaços os quais os portugueses indicavam como identidade negra, visto que, para os colonos, os escravos, pretos e indígenas eram intitulados como inferiores e nesse panorama eclode os mocambos, espaços de refúgios não apenas para os escravos, mas como também para os brancos e homens livres. Ademais, a configuração do quilombo é justamente um modelo social advindo da áfrica com o objetivo de recriar a existência negra no período colonial para reaver os próprios direitos e não perpetuar o pensamento dominante da época da exploração e com isso os quilombos trouxe impactos e produz até os dias atuais.

A invenção de identidadespolítico-culturais é recorrente,acontece sempre que determinado grupo se põe em movimento para reivindicar o que lhe é essencial – no caso das comunidadesquilombolas,a terra.(Rezende,2014,p.21).

Por fim, no livro mocambos e quilombos de uma história do campesinato negro no Brasil Flávio dos santos (2015) que “Outras experiências tiveram aqueles que escaparam (muitas vezes coletivamente) e formaram comunidades, procurando se estabelecer com base econômica e estrutura social própria.”A comunidade quilombola reformula a organização social frente aos desafios do sistema escravocrata ao mostrar o seu funcionamento saudável e seguro.Por outro lado, em 1888 realiza-se a abolição da escravatura, com esse feito origina-se um estágio de massacre em massa para o povo preto, isso porque, se antes com a exploração dos corpos e mão de obra barata dessa população que hoje ainda se encontra resquícios deixada por essa herança cultural portuguesa agora nesse ciclo, os negros passarão pelo que podemos denominar como diáspora brasileira para a sobrevivência etnica e cultural.

Ao expor esse pensamento, consta como a abolição não tinha planejamento de reparação e sim de engendrar pela elite uma sociedade embranquecida e junto a isso outra tentativa de assolar o povo negro como inferior e subalterno, a exemplo disso com a imigração europeia que representa a ideologia de branqueamento e a articulação de extirpar o negro da sociedade como afirma o autor supacitado clóvis moura “Ruy Barbosa manda queimar os arquivos e o governo entra em entendimentos com países europeus para conseguir substituir a nossa população egressa da senzala por outra branca”. (Moura, 1983, p.20)

Na sequência, o projeto de embranquecimento pós escravidão perpassa com o objetivo de exclusão total da população “entra, então, em funcionalidade a ideologia do branqueamento, que nada mais é do que uma tática para desarticular ideológica e existencialmente o segmento negro a partir da sua autoanálise” (Moura, 1983, p.24)

Nesse contexto, como Simone Rezende afirma em seus estudos referente a trajetória do negro no Brasil e a territorialização indica que ainda voraz a pós escravidão, os negros encontram outras formas de existências nos territórios e um exemplo contra a frente da elite brasileira foram as favelas, outro território de resistencia

Territorializar-se ou reterritorializar-se é um processo que impõe a construção de identidades políticas e culturais que entrarão em conflito com as territorialidades impostas e identidades estabelecidas e, em geral, dominantes no tempo e no espaço. a trajetória do negro no brasil e a territorialização (Rezende, 2012, p.23)

Portanto, em um primeiro momento de exclusão do povo negro houve na casa grande a tentativa de aprisionamento e com isso ocorre os quilombos, outro momento com a abolição providencia-se a exclusão dos espaços e ocupam-se as favelas. Nisso consiste, que na sociedade brasileira quase sempre historicamente quiseram enjeitar os espaços ocupacionais da população negra que é majoritariamente demográficamente racial.

Logo, pensar Brasil moderno interessa questionar o funcionamento e as condições de sobrevivência da população negra e com isso, importa reavaliar que temos 388 anos após a escravidão e 523 de país, ao quantificar esse número, percebe que os resquícios do sistema escravocrata e a subjugação do povo negro é pouco superada, devido a herança cultural herdada dessa composição do país e não haver reparação e também uma reversão do lugar do negro na sociedade brasileira, assemelha-se essa constatação no que cida bento expõe: “a não indenização da população escravizada após o fim da escravidão é um traço marcante da história” (Bento, 2022, p. 32) Dessa maneira, ao não propor a superação da cultura criada nas relações sociais, origina-se no matadouro da existência e sobrevivência étnica.

Simultaneamente a herança cultural racista constituída, desliza as implicações na atualidade e a comparação dos dados com a expectativa da vida negra porque de acordo com a UNICEF (fundo das nações unidas para infância) 80% das mortes do país são de negros, principalmente os jovens. Isso por sua vez, testifica com dois filósofos e suas conceituações acerca da morte e vida de corpos.

Em uma primeira análise da caracterização desse pensamento é apresentado pelo filósofo Michel Foucault (1976) no livro em defesa da sociedade, onde os parâmetros os quais podem fomentar nas discussões atuais como a biopolítica e biopoder, respectivamente significa o controle do corpo pelo estado e os resultados dessas ações na dinâmica da vida dessas pessoas.

Ao elencar alguns conceitos Foucault explica que numa sociedade pré-capitalista os soberanos tinham poder sobre a vida:

Em certo sentido, dizer que o soberano tem direito de vida e de morte significa, no fundo, que ele pode fazer morrer e deixar viver; em todo o caso, que a vida e a mortes não são desses fenômenos naturais, imediatos, de certo modo originais ou radicais, que se localizariam fora do campo do poder político (Foucault, 286)

Dessarte, nesse período mencionado pelo autor os reis tinham controle sobre quem era digno de viver e morrer, atrelado à noção de biopoder, pois impactava no curso de vida das pessoas com políticas de mortes com o “fazer morrer e deixar viver”

Ao mudar a conjuntura de acordo com o pensamento foucaultiano o dispositivo de controle social altera e cria-se um outro direito “E eis que agora aparece um poder que eu chamaria de regulamentação e que consiste, ao contrário, em fazer viver e em deixar morrer” (Foucault, 286) Por essa ideologia, conclui-se que essa norma social é semelhante ao que paira na sociedade atual, pois o racismo é fundamental para a manutenção dessa biopolítica:

A raça, o racismo, e a condição de aceitabilidade de tirar a vida numa sociedade de normalização. Quando vocês tem uma sociedade de normalização, quando vocês tem um poder que e, ao menos em toda a sua superfície e em primeira instância, em primeira linha, um biopoder, pois bem, o racismo e indispensável como condição para poder tirar a vida de alguém, para poder tirar a vida dos outros. A função assassina do Estado só pode ser assegurada, desde que o Estado funcione no modo do biopoder, pelo racismo (Foucault, 306)

No livro, “E eu não sou uma mulher?”de Bell Hooks, (2020) ela expõe como nos Estados Unidos a mulher negra foi caracterizada e subalternizada, a autora elenca que o sexismo junto ao racismo fundamentou a mulher negra o apagamento da existência e a exclusão dos direitos humanos durante toda a história social das mulheres. Ao comparar com a juventude negra esse pensamento, faz menção ao elo que renega a valorização das pessoas pretas e é justamente o racismo e sua operacionalização que em diferentes contextos e roupagens,perpetua-se violentamente. Para isso, o racismo e suas especificidades na opressão do ser para que ocorra a legitimação, ele é atrelado a uma política de morte.

Atrelada a essa conjunção, Achille Mbembe propõe pensar o estado e sua tecnologia com a necropolítica que é exatamente a fomentação da morte onde é fundamentada pela raça e subalternidade na sociedade. Sendo assim, a necropolítica é:

Com efeito, em um sistema escravista, “a humanidade de uma pessoa é dissolvida até o ponto em que se torna possível dizer que a vida do escravo é propriedade do seu senhor.” E, na medida em que a vida do escravo se transmuta em “coisa” que é passível de ser possuída por outra pessoa, “sua existência é a figura perfeita de uma sombra personificada” (Mbembe 2018a, p. 30).

Com base na escravidão e constituição do ser social na sociedade, o genocídio do povo negro é exatamente por considerá-lo insignificante e destituídos de direitos, nisso, para Mbembe ´´ “a vida do escravo, em muitos aspectos, é uma forma de morte-em-vida.” (Mbembe, 2018a,p. 28-29 apud, Wermuth, Marcht e Mello) é dessa resistência que se vive no Brasil, frente aos desafios da lógica assassina da política que a juventude na cidade sobrevive.

Merece destaque a essa concepção o fetiche da ´´segurança brasileira´´ ser uma das mais violentas como fica claro abaixo na imagem

Figura 1: Tabela do número de mortos pela polícia em Estados da Região Nordeste em 2019

[IMAGENS NÃO DISPONÍVEIS]

Fonte: Rede de observatório de segurança, CeSec(2020)

A política da morte no estado de Pernambuco é legitimada pelo racismo, como evidencia os dados, justificando que quem mais morre no estado de Pernambuco é a população periférica negra.

1.2 RAÇA,RACISMO ESTRUTURAL E O PACTO DA BRANQUITUDE

Adiante disso, a tríade raça, racismo estrutural e o pacto da branquitude, apresenta complexidade de entendimento, no entanto, se cruzam para um objetivo comum os quais tem finalidade nos impactos de morte, desigualdades, encarceramento em massa da população negra e invisibilidade. Tais afirmações começam a ser minuciosamente observadas com o que Almeida (2019) afirma “A raça é um elemento essencialmente político” Isso porque em seu produto final que é o racismo, sistema de opressão pelo qual objetiva lucros com a exploração do trabalho e também da subjetividade do indivíduo na sociedade capitalista.

Nessa ótica, o segundo aspecto do tripé para a mazela social é o que fortalece o racismo, a estrutura. Pois, segundo Djamila ribeiro em sua celebre obra o manual pequeno antirracista “Falar sobre racismo no Brasil, é sobretudo, fazer um debate estrutural” ao exemplificar essa ideia assimila a estrutura com o que Silvio almeida vai tratar em seu livro com três tópicos, sendo eles, individual, institucional e estrutural.

A ideia de racismo individual desqualifica a gravidade da problemática, porque: “a concepção individualista pode não admitir a existência de “racismo”, mas somente de “preconceito”, a fim de ressaltar a natureza psicológica do fenômeno em detrimento de sua natureza política´´ Almeida, (2019) com este viés trata a temática com normalidade desarticulado da realidade de morte e crimes diariamente.

A nível de aprofundamento e entendimento da ideologia dominante nos dias atuais, a estrutura só é potencializada devido ao racismo institucional. Pois instituições são:

instituições de absorver os conflitos e os antagonismos que são inerentes à vida social. Entenda-se como normalizar, no sentido de estabelecer normas e padrões que orientarão a ação dos indivíduos. Em outras palavras, é no interior das regras institucionais que os indivíduos se tornam sujeitos, visto que suas ações e seus comportamentos são inseridos em um conjunto de significados previamente estabelecidos pela estrutura social. (Almeida, 2019, p. 26)

Atrelado a esse pensamento instituições são os determinantes para as normas societárias e comportamentais, com essa concepção de racismo institucional em primeira instância para se debruçar com o que hoje temos com o Relatório da Anistia internacional estampa que a força policial brasileira é a que mais mata e ao fazer o recorte racial é cerca de 80% de pessoas negras.

Dessa forma, o racismo se retroalimenta das instituições de poder, porque no exercício do Estado é elencado a segurança pública que ocorre diariamente a banalização da morte negra como Hannah Arendt esboça acerca do conceito.

Nessa perpetuação do racismo e produzido pela estrutura que é usada para viés de uma parcela da sociedade “mas fundamentalmente porque as instituições são hegemonizadas por determinados grupos raciais que utilizam mecanismos institucionais para impor seus interesses políticos e econômicos.” e só é legitimada por um pacto silencioso como Bento (2022) traz no Pacto da branquitude: “as instituições públicas, privadas e da sociedade civil definem, regulamentam e transmitem um modo de funcionamento que torna homogêneo e uniforme” Conclui-se, então, que esses três eixos configura na atualidade a morte da população negra.

Figura 2: panorama de vitimas por raça

[IMAGENS NÃO DISPONÍVEIS]

Conforme a percentagem acima a população negra é vítima do maior genocídio de todos os tempos dado ao silenciamento do Estado e omissão.

Nessa perspectiva de violação a vida da juventude negra é importante que haja medidas para a sobrevivência, contudo,elas perpassam pelo Estado que retroalimenta o racismo na sociedade. Dessa forma, os princípios das políticas sociais para a garantia da vida dos jovens.

Sobre a autora
Adriana da Silva Farias

Bacharel em Serviço Social

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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