Juventude negra e o movimento de resistência frente aos desafios da cidade do Recife

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21/02/2024 às 23:50

Resumo:


  • Juventude negra enfrenta alta letalidade e marginalização em Recife, com 67,03% dos mortos sendo jovens negros em 2022, refletindo desigualdades sociais e racismo estrutural.

  • O Estatuto da Juventude busca garantir direitos e participação social, mas enfrenta desafios para efetivação, especialmente em áreas periféricas e para população negra.

  • Coletivos locais, como Iputinga Sociocultural e Juventude Negra Cara Preta, desempenham papel importante na resistência e promoção de cultura, arte e educação para a juventude negra.

Resumo criado por JUSTICIA, o assistente de inteligência artificial do Jus.

3. A IMPORTANCIA DOS COLETIVOS

No provérbio africano “É preciso uma aldeia inteira para criar uma criança" evidencia como uma rede de apoio junto a educação, afeto, segurança, proteção e ajuda pode auxiliar no crescimento infantil com a assistência e responsabilidade de todos ao redor . Partindo disso, pode se comparar este provérbio aos coletivos na cidade do Recife que auxilia essa juventude a enfrentarem os desafios e a resistir na cidade. Nisso, é pela rede de apoio proposta pelo próverbio que muitos jovens negros e periféricos conseguem amenizar as violações diariamente posta pelo próprio Estado com omissão e o racismo estrutural da sociedade que reverbera em suas implicações para viver de forma igualtária a toda juventude.

Para mais, o capítulo pretende mostrar como os coletivos que são uma extensão dos movimentos sociais promove a garantia dos direitos da Juventude negra e busca se atentar com coletivos como Iputinga Sociocultural e o Juventude Negra Cara Preta tem trabalhado com articulações e empoderamento dos direitos e a garantia da vida com promoção educacional, cultura lazer e entre outros.

3.1 A Historicidade dos coletivos e participação social:

Mano Brown, componente do Grupo Racionais Mc’s faz uma fala emblemática no ano de 2018 véspera das eleições. Frente a uma multidão de petistas, ele termina seu discurso com: “Deixou de entender o povão já era, volta para base”. Essa discussão do rapper em tempos de efervescências políticas, gera uma reflexão de que a participação coletiva nos interesses da base da sociedade precisa estar conectada à raça, à classe, ao gênero e aos desafios pelos quais a população enfrenta. Quando isso é desconexo, a luta popular perde o sentido. Com isso, grande parte dos movimentos sociais partidários perdem o senso do coletivo, devido à verticalidade da composição em si mesmo (Costa,2020).

Nessa perspectiva, ao historicizar Movimentos Sociais e a nova concepção que dá origem aos Coletivos, é necessário informar que a manifestação desse novo modelo de participação consiste na não hierarquização permanente (Costa,2020).

Os Movimentos sociais por sua vez, buscam “a mobilização, conscientização e organização de um povo” (Mendonça,2020 p.125, apud Miranda, 2010) atrelado às divergências produzidas pelo Estado. Nisso, muitas vezes os movimentos de participação social produziram a orientação e a articulação da sociedade em prol das garantias dos direitos sociais das classes menos abastadas de forma pedagógica. Contudo, estes movimentos possuem paredes, como a configuração de uma única autoridade, que grande parte das vezes não contempla todos os participantes.

Em contrapartida, os coletivos surgem no século XXI, sobretudo com adesão juvenil e intuito de proximidade, transformando as dificuldades produzidas pela estrutura do sistema capitalista: a desigualdade, racismo, sexismo, LGBT fobia e desmatamento, discutidas nos espaços democráticos propondo a horizontalidade e a multi hierarquização (Costa,2020)..

3.2 COLETIVO IPUTINGA SOCIOCULTURAL

O bairro da Iputinga, que fica localizado no Recife, na zona oeste, pertencente ao RPA4 baseado no Censo, IBGE de 2010, tem uma população de 52.200 habitantes, dentre eles cerca de 21.5% da população são jovens, segundo sem autor: População, 2010. Disponível: https://populacao.net.br/populacao-iputinga_recife_pe.html

Nesse sentido, as políticas públicas para a Zeis, precisam ser destinadas para o público juvenil .

No entanto, historicamente, o bairro é considerado uma das áreas mais pobres e com índices de alta criminalidade Souza ( 2012)

Como no capítulo explicado acerca das políticas sociais, elas estão atreladas ao viés do Estado. Pelo bairro ser um local de periferia e grande parte da população serem pretas, a operacionalização do EJ não chega à Juventude da Iputinga, conhecido como bairro dos artistas.

Com o objetivo de incluir a juventude como participantes da mudança social, o coletivo Iputinga Sociocultural é criado desde de 2020, onde articula cultura, arte, inclusão social e revitalização dos espaços públicos.

Segundo o Estatuto, ao jovem é legalizado a participação social e política (Brasil, 2013) Dessa maneira, com o intuito de produzir conhecimento referente a arte e reflexão pelas violências que rodeiam Iputinga, o coletivo produziu um documentário com o tema “ Salve os artistas” (2022) disponível no youtube o que impulsiona a juventude ser coparticipantes da própria história e mostrar que para além da violência e percalços, nas periferias existem arte e cultura como forma de vencer o tráfico de drogas e fomentar a cultura do bairro. Exercendo então, o pensamento político ao pensar em uma nova configuração para ás futuras gerações.

No curta-metragem, é narrado a história do coletivo, as intervenções realizadas pelo mesmo, além disso, é proposto a arte como resistência e resiliência frente aos desafios do bairro com o grafite, hip hop e desenvolvimento financeiro para a localidade.

Figuras: 7 e 8 a história do coletivo

[IMAGENS NÃO DISPONÍVEIS]

Fonte: instagram, 2023

Nas imagens acima mostra a transformação que a juventude da iputinga realiza nos espaços abandonados contribuindo com a renovação do lugar e com o engajamento dos participantes e moradores.

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3.2 COLETIVO JUVENTUDE NEGRA CARA PRETA

No livro, O Perigo de uma história única de Chimamanda (2019), ela abordará como reduzir uma pessoa desumaniza e invisibiliza, um povo. Nesse sentido, durante muito tempo a juventude negra sofreu com estereótipos e estigmas, ocasionados pelo preconceito da sociedade e com isso legitimou-se violações ao longo da história.

A trelado a essa perspectiva compreende porque muitos jovens hoje se reúnem por meio de coletivos, articulações via redes sociais e engajamento com a luta antiracista, pois ao escreverem a própria história, necessitam de redes de apoio frente ao racismo estrutural.

N essa conjuntura, se dá a descrição do coletivo juventude negra cara preta que foi fundado no dia 17 de fevereiro de 2016, localizado na cidade do Recife, com o trabalho junto ás comunidades e também engajamento com as mídias.

De acordo com o capítulo sobre o Estatuto da juventude entre o legal e a precarização, foram constatados alguns dados sobre as desigualdades e marginalização dessa juventude. Visando esses desafios enfrentados por essa população e alinhados à temática relações etnico raciais, o coletivo busca por meio de oficinas empoderar por meio de atividades com a arte, Hip hop e ensino acerca dos direitos.


CONSIDERAÇÕES FINAIS

A discussão com a temática Juventude negra na cidade do Recife é complexa, mas que é um assunto pelo qual muitos movimentos negros, coletivos, intelectuais e pesquisadores acerca do assunto tem se debruçado para que ganhe mais visibilidade o assunto. Obviamente existe uma omissão por parte estadual e segurança pública.

É Imprescindível perceber que os desafios os quais a juventude negra do Recife enfrenta advém da história social do Brasil e seu lastro com a escravidão e perpetuação do racismo. Pois, o processo de escravização desumaniza, logo, o genocídio da juventude negra e a banalização ao ter políticas públicas não tão eficazes vem dessa estrutura. Além disso, fica claro que o Estatuto da Juventude no país é um marco, contudo, na cidade do Recife existem alguns entraves mostrando precarização justamente aos jovens das periferias com a falta de acesso muitas vezes e as violações do que é posto na legislação. A cidade do Recife junto a secretaria de desenvolvimento social da juventude fomenta algumas ações em combate ao racismo e o enfrentamento da juventude, além disso, existem ações políticas que fazem alusões na discussão do encarceramento da juventude e programas sociais, entretanto, ainda existe muito a se caminhar para que a juventude negra esteja a frente do debate, que haja mais discussões nos espaços periféricos e investimentos nas escolas públicas o que estão no entorno das comunidades.

Entendo que como resistência e embate frente ao racismo estrutural e institucional a juventude em pleno século XXI e suas efervescências políticas, digitais com acesso a informação produz uma descentralidade dos debates e propõe a coparticipação com os ajuntamentos nos coletivos a fim de resistir as perversidades do racismo e que colabora para o genocídio dessa população. Embora o estatuto esteja na sociedade brasileira e seja um ganho para o reconhecimento desses sujeitos como pessoas de direitos, o estatuto é recente e tem apenas 13 anos, logo, há poucos aprofundamentos acerca da história do EJ, bem como não fazendo o recorte geracional sobre os jovens. Por isso, é importante o aprofundamento tanto dos coletivos, movimentos, professores e sociedade no debate da juventude negra e sua expectativa de vida para não petrificar os dados de alta letalidade.

Sobre a autora
Adriana da Silva Farias

Bacharel em Serviço Social

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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