Considerações preliminares sobre a filosofia contemporânea

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12/07/2024 às 20:59
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[1] Auguste Comte (1798-1857) foi um filósofo francês, considerado o fundador do Positivismo - corrente filosófica que propôs uma nova organização social. Foi o primeiro a empregar o termo sociologia. Isidore-Auguste-Marie-François-Xavier Comte, conhecido como Auguste Comte, nasceu em Montpellier, França, no dia 19 de janeiro de 1798, onde fez os seus primeiros estudos. Filho de família católica e monarquista, em 1814, com 16 anos, ingressou na Escola Politécnica de Paris, da qual foi expulso dois anos depois por liderar um movimento de protesto. Passou a colaborar com jornais e dar aulas particulares.

[2] Auguste Comte (1798-1857): precursor dos pensamentos positivistas e da Sociologia. Fundador da escola positivista de filosofia, Comte pauta suas ideias no desenvolvimento de uma ciência inspirada no progresso científico e na apresentação de dados.

[3] O processo histórico que transforma a força de trabalho em mercadoria possui dimensões e consequências objetivas e subjetivas, haja vista que se efetua por uma longa cadeia de relações históricas de expropriação ao mesmo tempo em que se dá início ao processo de subjetivação dos indivíduos em torno dos incipientes princípios jurídicos da liberdade e da igualdade formais. A esse processo histórico Marx (2017, p. 786) chama acumulação primitiva, e assim o define: O processo que cria a relação capitalista não pode ser senão o processo de separação entre o trabalhador e a propriedade das condições de realização de seu trabalho, processo que, por um lado, transforma em capital os meios sociais de subsistência e de produção e, por outro, converte os produtores diretos em trabalhadores assalariados. A assim chamada acumulação primitiva não é, por conseguinte, mais do que o processo histórico de separação entre produtor e meio de produção. Ela aprece como “primitiva” porque constitui a pré-história do capital e do modo de produção que lhe corresponde.

[4] O método materialista histórico-dialético caracteriza-se pelo movimento do pensamento através da materialidade histórica da vida dos homens em sociedade, isto é, trata-se de descobrir (pelo movimento do pensamento) as leis fundamentais que definem a forma organizativa dos homens durante a história da humanidade. Na concepção marxista, a dialética é uma ferramenta utilizada para compreender a história. A dialética marxista considera o movimento natural da história e não admite sua maneira estática e definitiva. Segundo Engels: “O movimento é o modo de existência da matéria”. Sendo assim, a história quando é analisada como algo em movimento torna-se transitória, que por sua vez, pode ser transformada pelas ações humanas. Nesse caso, a matéria possui uma relação dialética com os âmbitos psicológico e social. E assim, os fenômenos sociais são interpretados através da dialética. Por meio dessa relação dialética entre o ambiente, o organismo e os fenômenos físicos, os seres humanos, a cultura e a sociedade criam o mundo, ao mesmo tempo que são modelados por ele.

 

 

[5] Niilismo é a rejeição ou ceticismo quanto ao valor e propósito da vida e da existência. Surgiu como um movimento distintivo na Rússia do século XIX. Caracteriza-se pela rejeição de valores tradicionais, ceticismo em relação à verdade absoluta e descrença no propósito da vida. O niilismo se configura numa negação da vida. O niilista é o indivíduo que encara a vida com indiferença. Crítica o que há a sua volta, afirmando que tudo é falso porque é tudo artificial. Desta forma, para Nietzsche, o niilismo é o sintoma do adoecimento do homem. O filósofo é bem objetivo nessa interpretação, mas, como não poderia ser diferente para o filósofo do martelo, ele bate forte e bem na base. Isso porque atribui aos patronos da filosofia a culpa por essa negação. Mas, como Sócrates pode ser considerado niilista? Ora, vejamos. Aristóteles afirma sobre seus desacordos com Platão: “Sou amigo de Platão, mas sou mais amigo da verdade”. Ocorre que esse desacordo é exatamente a concepção de realidade entre eles. Aristóteles afirma que a existência está no mundo que vivemos, Platão (e Sócrates) negam o mundo material e afirmam que a realidade perfeita está em outro mundo. Nietzsche afirma que alguns pensadores na história da filosofia foram longe nos seus esforços para compreender o niilismo e produzir um efeito de evolução na humanidade, mas, segundo o autor, só é possível retornar dessa “viagem” mais saudável, viajando do seu jeito. Para ele, o niilismo é uma doença.

[6] Friedrich Nietzsche (1844-1900) foi um filósofo, escritor e crítico alemão que exerceu grande influência no Ocidente. Sua obra mais conhecida é “Assim Falava Zaratustra”. O pensador estendeu sua influência para além da filosofia, penetrando na literatura, poesia e todos os âmbitos das belas artes. A fase criativa de Nietzsche foi interrompida em 03 de janeiro de 1889, quando sofreu um grave colapso nas ruas de Turim e perdeu definitivamente a razão. Ao ser internado na Basileia, foi diagnosticado com paralisia progressiva, provavelmente em consequência da sífilis.

[7] A Escola de Frankfurt foi uma das instituições mais importantes para pensar a cultura e a sociedade. Ela surgiu no início do século XX e seus pensadores desenvolveram reflexões filosóficas e sociológicas que orientam a realização de estudos e de reflexões críticas até os dias de hoje, O contexto histórico em que surge a Escola de Frankfurt coincide com marcos acontecimentos importantes da história mundial. No início do século XX, nos 1920, acontece a Primeira Guerra Mundial e, ao final da década, o mundo irá sucumbir à crise de 1929. Nesse período, as discussões em torno da implementação de regimes socialistas ganhavam força, ainda que houvesse diferentes perspectivas acerca de como deveria ser feito. Uma das perspectivas era a defendida pelos intelectuais que, mais tarde, iriam integrar a Escola de Frankfurt. Para eles, era importante que as ideias de Marx foram implementadas tendo em vista o cenário observado no século XX. Essa foi uma das questões discutidas no Primeira Semana de Trabalho Marxista, que resultou na criação do Instituto de Pesquisa Social.

[8] No âmbito da política essa influência pode ser notada laicização do Estado, na Abolição da Escravatura e até mesmo na Proclamação da República, mas o maior símbolo dessa corrente no Brasil encontra-se na bandeira nacional criada por Raimundo Teixeira Mendes: A máxima "Ordem e Progresso" mostra uma busca por uma sociedade mais justa fraterna e progressista, baseada nos mesmos ideais da Revolução Francesa (Liberdade, Igualdade e Fraternidade), maior marco baseado no positivismo da história mundial.

[9]  A razão instrumental pode ser entendida como: “uma técnica para o cálculo das disponibilidades, dos meios, das possibilidades e das probabilidades, tendo em vista a consecução de determinado objetivo que não é racional em si, mas se torna, se o cálculo o estabelecer”. A razão instrumental no pensamento dos frankfurtianos, é o oposto daquilo que se pode chamar de razão crítica. Se a razão deixa de refletir sobre os fins e os valores da humanidade, ela se torna um simples instrumento, que tem função de alcançar determinado objetivo.

[10] Pós-estruturalismo é um termo amplo que abrange uma variedade de teorias e filosofias que surgiram em meados do século XX, predominantemente na França. Pode ser considerado como um movimento intelectual que se desenvolveu em resposta ao estruturalismo, um paradigma filosófico que defendia que a cultura humana pode ser compreendida em termos de estruturas. De modo geral, os pós-estruturalistas rejeitam definições que encerrem verdades absolutas sobre o mundo, pois a verdade dependeria do contexto histórico de cada indivíduo. O pós-estruturalismo instaura uma teoria da desconstrução na análise literária, liberando o texto para uma pluralidade de sentidos.

[11] O antipositivismo está intimamente ligado às ideias de Max Weber, um sociólogo alemão que enfatizava a importância dos valores que existem dentro de uma sociedade específica ou de um grupo subcultural. Junto com Georg Simmel, outro importante pensador alemão da época, Weber insistiu que qualquer pesquisa deveria se concentrar no entendimento interpretativo (ger., Verstehen). As diferenças entre a abordagem positivista e a antipositivista da pesquisa também podem ser encontradas nos métodos utilizados para conduzir o estudo. Uma abordagem positivista normalmente inclui métodos de análise estatística e experimentos, enquanto, por outro lado, uma abordagem antipositivista se concentraria em fazer pesquisa de campo, etnografia e análise de discurso (crítica). Os antipositivistas sustentam que não existe objetividade real. Os cientistas envolvidos em qualquer estudo devem sempre estar cientes de suas próprias crenças culturais, porque influenciarão as interpretações, quer queiram ou não. Uma visão antipositivista baseia-se no relativismo cultural, e pode-se argumentar que um olhar positivista é mais etnocêntrico.

[12] Anti-Édipo é um livro escrito à quatro-mãos, por Deleuze e Guattari, lançado em 1972. “Escrevemos o Anti-Édipo a dois. Como cada um de nós era vários, já era muita gente” (Deleuze & Guattari, Mil Platôs I). Mais um fruto de maio de 68, movimento libertário que ocorreu na França e no qual os dois autores participaram ainda sem se conhecer. este livro que procura dar conta de 1968 juntamente com todas as lutas culturais, estudantis, proletárias, as manifestações de contracultura, as barricadas, o movimento feminista, o black-power, a revolução nas drogas, as inúmera novas sensibilidades. Como efeito global, depois de 1968, sabemos que algo se passou e criou novas subjetividades, o livro de Deleuze e Guattari procuram entender “o que se passou”.  Mas ao mesmo tempo, o Anti-Édipo busca entender por que a revolução de maio de 68 falhou. Se a transformação está bloqueada, então deve haver algo de errado com os agentes de liberação! E é neste sentido que podemos trazer a explicação do título: o Anti-Édipo é uma reação à psicanálise de Freud e Lacan (ainda muito influente na França) e se propõe a explorar novos caminhos para o inconsciente e o desejo. No lugar do modelo neurótico, Deleuze e Guattari trazem o modelo do esquizofrênico, como aquele que resiste ao Édipo e busca novas possibilidades.

[13] A Filosofia analítica é uma vertente do pensamento contemporâneo, reivindicada por filósofos bastante diferentes, cujo ponto comum é a ideia de que a filosofia é análise - a análise do significado dos enunciados e se reduz a uma pesquisa sobre a linguagem. O Wittgenstein defendia sendo uma das figuras mais influentes na filosofia inglesa, produziu o sistema original da filosofia da linguagem. Defendia inicialmente que as palavras representam coisas, segundo acordo social. No entanto, acabou por rejeitar essa ideia. Passou a acreditar que o uso era mais importante do que a convenção

[14] Com outro ponto de vista a respeito da indústria cultural, o filósofo alemão Walter Benjamin descreve possíveis benefícios alcançados a partir da massificação da produção artística. Um de seus argumentos era a facilidade de acesso à cultura, que ficaria mais acessível para diferentes indivíduos, apesar das diferenças sociais ou econômicas entre eles.

[15] Habermas desenvolveu o conceito de ação comunicativa, modelo racional de interação, por meio de argumentação, debate, deliberação, para se alcançar acordos. Essa interação se daria na esfera pública, espaço de discussão que incluiria diversos grupos sociais, bem como agentes do Estado.  Habermas refere-se à possibilidade do ressurgimento autêntico e razoável do discurso público, na contramão da racionalidade instrumental que se manifesta na hierarquia, na administração, na tecnocracia, fundado em objetivismo e relativismo pós-moderno.

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[16] A Indústria Cultural é aquela que utiliza como base a cultura de determinados polos do mundo para fabricar seus produtos. Contudo, ela também promove uma mudança no estilo de cultura dos indivíduos, promovendo, assim, um comportamento muitas vezes considerado massivo em uma perspectiva de consumismo exacerbado. O conceito de indústria cultural foi desenvolvido por Theodor Adorno e Max Horkheimer no final do século XIX e início do século XX. Os estudiosos analisaram os impactos dos avanços tecnológicos proporcionados pela Revolução Industrial e o capitalismo no mundo das artes.

[17] De modo geral, os pós-estruturalistas rejeitam definições que encerrem verdades absolutas sobre o mundo, pois a verdade dependeria do contexto histórico de cada indivíduo. O pós-estruturalismo instaura uma teoria da desconstrução na análise literária, liberando o texto para uma pluralidade de sentidos.

[18] Foucault rompe com as concepções clássicas deste termo e define o poder como uma rede de relações onde todos os indivíduos estão envolvidos, como geradores ou receptores, dando vida e movimento a essas relações. Para ele, o poder não pode ser localizado e observado numa instituição determinada ou no Estado. Foucault define o poder enquanto ação: uma ação sobre outra ação possível (Foucault, 1982: 243). Ou seja, o poder não é substância ou faculdade, mas sim, a própria execução: o poder não se tem, se exerce. Ele se estabelece numa relação entre indivíduos: uma ação em relação à outra ação.

[19]  Hannah Arendt (1906-1975) foi uma cientista política e filósofa alemã. De ascendência judaica, vítima do racismo antissemita, tornou-se um dos grandes nomes do pensamento político contemporâneo por seus estudos sobre os regimes totalitários. A liberdade, o abandono das tradições culturais e a administração tecnocrática da sociedade foram alguns de seus temas principais. Hannah Arendt nasceu no subúrbio de Linden, em Hannover, Alemanha, no dia 14 de outubro de 1906. De ascendência judaica, "Johannah Arendt" mudou-se com a família para a Prússia quando tinha três anos de idade. Hannah Arendt, foi uma menina precoce. Tinha sete anos quando o pai morreu, mesmo assim procurou consolar a mãe: “Pense – isso acontece com muitas mulheres”, disse ela para espanto da viúva. Com 14 anos leu a obra de Immanuel Kant, Crítica da Razão Pura.

[20] Judith Butler é uma filósofa estadunidense nascida numa família judia, em Ohio, em 24 de fevereiro de 1956. Sua companheira é a cientista política Wendy Brown (1955). Juntas, elas compartilham a parentalidade de Isaac, homenageado em alguns de seus livros (a dedicatória de Precarious Life: The Powers of Mourning and Violence, por exemplo, diz “Para Isaac, que pensa de outra forma”). Cursou Filosofia na Universidade de Yale, hoje é professora de Literatura Comparada no Departamento de Retórica da Universidade da Califórnia, em Berkley, onde também é fundadora do Critical Theory Program (Programa de Teoria Crítica) e do International Consortium of Critical Theory Programs (Consórcio Internacional de Programas em Teoria Crítica). É professora titular da cátedra Hannah Arendt na European Graduate School, Suíça. Integra diversas organizações sociais, como a American Philosophical Society, o Jewish Voice for Peace e o Center for Constitutional Rights.

[21] O século XXI pode ser chamado de “Era da Incerteza”, ou também de Era da Ansiedade, já que as pessoas sentem falta de ter “certezas” para ficarem tranquilas. Nos últimos quarenta anos, a globalização, viabilizada pela extraordinária revolução nos transportes e, sobretudo, nas comunicações, esteve combinada com a hegemonia de políticas de Estado neoliberais, favorecendo um mercado global irrestrito para o capital em busca de lucros. No setor financeiro, isto ocorreu de forma absoluta, o que explica porque a crise do desenvolvimento capitalista ocorreu ali. Apesar do fato de que o capitalismo sempre — e por natureza — opera por meio de uma sucessão de expansões geradoras de crises, isto criou uma crise maior e potencialmente ameaçadora para o sistema, comparável à Grande Depressão que se seguiu a 1929, mesmo que seja cedo para avaliarmos todo o seu impacto.

[22] Ciências Sociais é uma área científica destinada a estudar a organização das sociedades e culturas atuais. Para isso, é preciso entender suas origens e desenvolvimento, bem como as características de indivíduos e grupos. A Ciência Social, como disciplina científica, se consolidou no século XIX, com o objetivo de compreender e explicar as transformações pelas quais passava a sociedade moderna, tais como a revolução industrial, a urbanização, a expansão dos mercados, a colonização na África e na Ásia, a revolução científica. As ciências sociais podem dividir-se naquelas dedicadas ao estudo da evolução das sociedades (arqueologia, história, demografia), à interação social (economia, sociologia, antropologia) ou ao sistema cognitivo (psicologia, linguística). Também se pode falar das ciências sociais aplicadas (direito, pedagogia) e de outras ciências sociais agrupadas no genérico grupo das humanidades (ciências políticas, filosofia, semiologia, ciências da comunicação).

 

[23]  As principais características da estreita relação  entre hermenêutica e vida que surgiu no final do século XIX e se manteve até meados do século  passado, culminando no deslocamento do elemento textual, outrora a característica hermenêutica  mais evidente.

Sobre a autora
Gisele Leite

Professora universitária há três décadas. Mestre em Direito. Mestre em Filosofia. Doutora em Direito. Pesquisadora - Chefe do Instituto Nacional de Pesquisas Jurídicas. Presidente da Seccional Rio de Janeiro, ABRADE Associação Brasileira de Direito Educacional. Vinte e nove obras jurídicas publicadas. Articulistas dos sites JURID, Lex Magister. Portal Investidura, Letras Jurídicas. Membro do ABDPC Associação Brasileira do Direito Processual Civil. Pedagoga. Conselheira das Revistas de Direito Civil e Processual Civil, Trabalhista e Previdenciária, da Paixão Editores POA -RS.

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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