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PEC das domésticas: 10 anos depois.

O que mudou para os trabalhadores domésticos no Brasil?

09/12/2024 às 10:10

Resumo:


  • A PEC das Domésticas, aprovada em 2013, ampliou os direitos dos trabalhadores domésticos no Brasil, garantindo benefícios como jornada de trabalho limitada, descanso semanal remunerado e FGTS.

  • Dez anos após a promulgação da PEC, houve um aumento significativo na formalização do trabalho doméstico, passando de 25% para 50% de trabalhadores com carteira assinada.

  • Apesar dos avanços, persistem desafios como a desigualdade salarial, a resistência à formalização por parte de empregadores e a necessidade de fiscalização para garantir o cumprimento pleno dos direitos trabalhistas.

Resumo criado por JUSTICIA, o assistente de inteligência artificial do Jus.

O número de empregadores que contrataram trabalhadores domésticos caiu de 6,2 milhões em 2013 para 5,4 milhões em 2023.

Em 2013, o Brasil passou a reconhecer os direitos dos trabalhadores domésticos de maneira mais ampla, com a aprovação da PEC das Domésticas. A emenda constitucional, promulgada em abril daquele ano, ampliou uma série de direitos para os profissionais que atuam nessa categoria, antes muito precarizada em termos de garantias trabalhistas. A medida foi vista como uma grande conquista para as cerca de 7,2 milhões de trabalhadoras e trabalhadores domésticos que, até então, não usufruíam de direitos básicos como o 13º salário, férias, horas extras e FGTS.

Hoje, 10 anos depois, é momento de refletir sobre os avanços e desafios dessa transformação, analisando os impactos dessa reforma tanto na vida dos trabalhadores quanto no mercado de trabalho. A seguir, abordaremos as principais mudanças e um comparativo estatístico para entender como a PEC das Domésticas alterou a realidade dessa categoria.


Principais mudanças trazidas pela PEC

Com a aprovação da PEC das Domésticas, os trabalhadores domésticos passaram a ter direitos que antes eram exclusivos de outras categorias profissionais. Dentre as principais mudanças estão:

  1. Jornada de trabalho limitada: A PEC passou a garantir uma jornada máxima de 44 horas semanais para os trabalhadores domésticos, com limite de 8 horas diárias, além do pagamento de horas extras.

  2. Descanso semanal remunerado: Assim como em outras profissões, o trabalhador doméstico passou a ter direito ao descanso semanal remunerado, preferencialmente aos domingos.

  3. Férias e 13º salário: Os trabalhadores domésticos passaram a ter direito ao 13º salário e a férias anuais de 30 dias, com a remuneração correspondente.

  4. Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS): A PEC tornou obrigatório o depósito mensal de 8% do salário em uma conta vinculada ao FGTS.

  5. Seguro-desemprego: Trabalhadores domésticos que foram dispensados sem justa causa passaram a ter direito ao seguro-desemprego, algo inédito para a categoria.

  6. Equiparação a outras profissões: Direitos como auxílio-doença, aposentadoria e licença-maternidade também passaram a ser assegurados para esses profissionais.


O impacto 10 anos depois

Dez anos após a promulgação da PEC, é possível observar avanços significativos, mas também desafios persistentes.

Aumento da formalização

Um dos maiores impactos da PEC das Domésticas foi o aumento da formalização do trabalho. Em 2013, aproximadamente 25% dos trabalhadores domésticos estavam registrados, ou seja, com carteira assinada. Atualmente, o número de trabalhadores domésticos formalizados subiu para 50%, conforme dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD Contínua) de 2023. Este aumento da formalização reflete a maior fiscalização e os incentivos para que empregadores regularizem os contratos de trabalho.

O custo do trabalho doméstico

Entretanto, a formalização do trabalho doméstico não veio sem desafios. A PEC aumentou o custo do trabalho doméstico para os empregadores, que passaram a ter que arcar com a contribuição para o FGTS, além de pagar as férias e o 13º salário. Esses custos acabaram por gerar uma série de mudanças no comportamento dos empregadores. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de empregadores que contrataram trabalhadores domésticos caiu, de 6,2 milhões em 2013 para 5,4 milhões em 2023. Isso reflete uma certa resistência à formalização por parte de alguns patrões, que optam por reduzir a contratação de trabalhadores, contratando-os de forma informal ou com outras modalidades de trabalho.

Desigualdade salarial e direitos

Apesar das melhorias nas condições formais de trabalho, a disparidade salarial ainda persiste como um dos maiores desafios para os trabalhadores domésticos. Dados do IBGE de 2023 apontam que 80% dos trabalhadores domésticos são mulheres, e em sua maioria, negras. A disparidade de gênero e raça no setor reflete um cenário de desigualdade salarial ainda significativo. O salário médio de um trabalhador doméstico é 50% inferior ao de outras categorias profissionais, mesmo com os avanços garantidos pela PEC. A média salarial dos trabalhadores domésticos no Brasil é de R$ 1.400, enquanto o salário médio de outras categorias é de aproximadamente R$ 2.800.

Além disso, apesar da formalização, a implementação de todos os direitos garantidos pela PEC não é uniforme. Muitos trabalhadores, especialmente os que atuam em domicílios de famílias de baixa renda, continuam sem o cumprimento pleno de seus direitos, como férias e 13º salário, o que levanta discussões sobre a fiscalização das leis.


O caminho a seguir

Embora a PEC tenha sido um marco importante para a inclusão dos trabalhadores domésticos nas leis trabalhistas, ainda há um longo caminho a percorrer. A luta pela igualdade salarial, pelo combate à discriminação de gênero e raça, e pela garantia de que todos os direitos sejam efetivamente cumpridos continua sendo central. Além disso, a adaptação das famílias empregadoras à nova realidade legal tem sido desafiadora, e a formalização plena do trabalho doméstico ainda esbarra na resistência de parte dos empregadores.

Ao olhar para os próximos anos, é fundamental que o governo intensifique a fiscalização das novas leis, promovendo campanhas de conscientização tanto para empregadores quanto para trabalhadores. A formalização do trabalho doméstico pode e deve ser um caminho para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária, mas, para isso, é necessário que todos os direitos sejam respeitados de maneira plena e que as condições de trabalho melhorem de forma consistente.

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Conclusão

Dez anos após a aprovação da PEC das Domésticas, houve avanços significativos na melhoria das condições de trabalho dessa categoria. A formalização, o aumento dos direitos trabalhistas e o reconhecimento das condições de desigualdade foram pontos essenciais dessa transformação. No entanto, desafios como a desigualdade salarial e a resistência à formalização ainda precisam ser superados, e o caminho para garantir igualdade de oportunidades e de remuneração segue sendo uma prioridade para o futuro.

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Sobre o autor
Diego Maxwell Medeiros Dantas

Advogado-Ph.D em Ciências Jurídicas(OAB76229BA); Ph.D em Comunicação Social (DRT82902SP); Psicanalista e Neurocientista(CNP06/2036) Teologo-Ph.D em Ciências Religiosas (OTIB 2.024.442) Escritor; Colunista TV Estado; Graduando em Biomedicina

Como citar este texto (NBR 6023:2018 ABNT)

DANTAS, Diego Maxwell Medeiros. PEC das domésticas: 10 anos depois.: O que mudou para os trabalhadores domésticos no Brasil?. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 29, n. 7831, 9 dez. 2024. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/111860. Acesso em: 26 dez. 2024.

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