Mais uma edição do BBB (Big Brother Brasil) se inicia e, com ela, em breve saberemos quais questões referentes ao Direito serão pautadas pela sociedade brasileira a partir deste programa, conforme ocorreu nas 24 edições anteriores do reality show, exibido por uma emissora de TV de nosso país desde 2002, mediante a aquisição do formato criado por um grupo de mídia europeu.
Não podemos considerar o programa apenas como um mero entretenimento superficial, pois, desde a primeira edição, aspectos referentes aos Direitos Humanos, em geral, foram enfocados. Esses aspectos extrapolaram debates sobre ética da mídia, direitos de imagem e limites da autonomia da vontade, alcançando uma ampla reflexão sobre a dignidade da pessoa humana.
Além disso, a sociedade se enxerga nas ocorrências do programa e, não raramente, passa a discutir sua própria moral social, bem como valores como amizade, lealdade, solidariedade, alteridade e sororidade.
Temas como o patriarcado e o machismo ganharam destaque em diversas edições, como no BBB10, quando um participante fez referência ao "orgulho hétero"; no BBB12 e no BBB23, em que participantes foram expulsos após serem acusados de crimes contra a dignidade sexual de duas participantes; e no BBB17, com a expulsão de outro participante após a polícia identificar indícios de agressão contra sua namorada na casa. Especialmente no BBB20, o debate sobre machismo foi central, assim como já havia ocorrido em edições mais remotas, como a primeira, que abordou os limites impostos às mulheres na sociedade brasileira.
O racismo também esteve em pauta em várias edições. No BBB19, algumas declarações de participantes foram consideradas racistas nas redes sociais. No BBB21, houve hostilidade explícita contra um participante negro e, no BBB23, surgiram denúncias de racismo religioso. No BBB24, uma participante chegou a se referir ao próprio comportamento como um exemplo de "racismo estrutural". Desde edições mais antigas, como o BBB3, com a participante Juliana Alves, o tema já era abordado, mostrando que questões raciais fazem parte do debate promovido pelo programa.
A LGBTfobia, incluindo a transfobia, também foi um tema recorrente. Algumas edições contaram com participantes trans, como o BBB11 e o BBB22, além de diversos participantes homossexuais desde a primeira edição, trazendo visibilidade para a causa, gerando discussões sobre os desafios enfrentados pela comunidade LGBTQIA+ e promovendo respeito, inclusão e diversidade.
Contudo, a relação entre o BBB e o Direito não se limita à discussão sobre direitos e minorias ou aos contratos envolvendo os participantes, como veremos a seguir.
Advogados e advogadas vão ao BBB
Outra curiosidade envolvendo o BBB e o Direito é a extensa lista de participantes que entraram na casa como estudantes ou egressos de uma graduação em Direito, sendo que a maioria dos egressos atuava como advogados.
Na edição mais recente, de 2025, duas participantes — a influencer Gracyanne Barbosa e a policial Aline Patriarca — são graduadas em Direito. Gracyanne, aliás, é formada pela prestigiosa Faculdade Nacional de Direito da UFRJ, onde também estudaram outros egressos que acabaram não seguindo carreira jurídica, como Clarice Lispector, Jorge Amado e Vinícius de Moraes, cujas imagens estampam camisetas usadas por estudantes da instituição, celebrando os ex-alunos célebres.
Em retrospectiva, apesar de os egressos de Direito das últimas três edições do BBB (2024, 2023 e 2022) — Thalyta, Gustavo e Vinicius — não terem alcançado o mesmo sucesso meteórico de Juliette Freire (BBB21), foram participantes que, assim como a ex-advogada e maquiadora (hoje cantora e influenciadora), compartilhavam a mesma formação jurídica. Juliette, por sua vez, conquistou mais de 20 milhões de seguidores, graças ao seu apurado senso de justiça e sensibilidade social diante de situações ocorridas na casa, tornando-se uma das maiores campeãs do programa.
Na edição anterior (BBB20), a advogada criminalista Gizelly Bicalho também ganhou destaque ao se unir a outras mulheres do elenco contra atitudes machistas de alguns participantes, que acabaram eliminados pelo público.
Por outro lado, o público elegeu campeã a advogada Paula Von Sperling, no BBB19, mesmo diante de críticas nas redes sociais a comentários controversos feitos pela participante em suas interações na casa.
Não obstante no BBB18 não ter havido nenhum participante egresso do Direito, no BBB17 tivemos Vivian Amorim e Ilmar Fonseca, sendo que Vivian se tornou apresentadora após o fim de sua edição.
Nenhum dos participantes mencionados, entretanto, parece ter continuado advogando após o término de sua edição, como o fez a Dra. Adélia Soares (BBB16). Atualmente, Adélia atua como advogada estratégica, oferecendo soluções jurídicas especialmente para influenciadores digitais e artistas, entre os quais participantes ou ex-participantes de reality shows. Um exemplo é a advogada Deolane Bezerra, ex-participante do reality "A Fazenda", que, porém, não é objeto deste breve artigo.
A participação de Dra. Adélia gerou curiosidade também pelo fato de o campeão da edição anterior (BBB15) ter sido outro bacharel em Direito, Cezar Lima, que se tornou o favorito do público. Na mesma edição, o participante Dilson também era bacharel em Direito.
No BBB14, a advogada Angela Munhoz chegou ao vice-campeonato, perdendo o prêmio principal para outra participante. Após o programa, abandonou a atuação jurídica para investir em sua carreira como atriz, seguindo um caminho similar ao de Fernanda Keula, campeã do BBB13, que se tornou apresentadora após sua vitória. As edições BBB12 e BBB11, entretanto, não contaram com nenhum participante egresso do Direito.
Em edições anteriores, advogados como Alex Vilanova (BBB10), Ana Madeira e Mirla Prado (BBB9) participaram do reality, mas sem alcançar o mesmo sucesso dos advogados que viriam depois, como campeões ou vice-campeões. Participações discretas também marcaram outros advogados, como Carlos Issa (BBB6) e Viviane Oliveira (BBB3), esta última sendo a primeira advogada a participar do programa e alcançando o 3º lugar naquela edição.
As duas primeiras edições do reality (BBB1 e BBB2) não tiveram advogados entre os participantes. O mesmo ocorreu no BBB7 (que contou com duas estudantes de Direito) e no BBB8.
Enfim, vemos como o BBB se relaciona com o Direito de forma dupla: tanto pelo levantamento de questões referentes a direitos — especialmente no campo dos Direitos Humanos, mas também no Direito Civil ou até no Direito Penal — que a sociedade passa a debater enquanto acompanha a edição, seja pelas redes sociais, programas televisivos ou em conversas informais sobre o programa; quanto pela participação de bacharéis em Direito no elenco do reality show. Muitos desses participantes vêm da advocacia, embora a maioria acabe abandonando a profissão após o programa, optando por outras carreiras artísticas que se abrem a eles.
Que as bacharéis em Direito da edição de 2025 tragam orgulho aos colegas da área de formação, com senso de justiça e ética inabalável em suas atuações no BBB, como se espera de qualquer egresso de uma graduação em Direito, independentemente do campo em que atue na sociedade.
Referências bibliográficas
MIGALHAS. BBB: Veja participantes do mundo jurídico que passaram pelo reality. Disponível em: https://www.migalhas.com.br/quentes/399861/bbb-veja-participantes-do-mundo-juridico-que-passaram-pelo-reality. Acesso em: 14 jan. 2025.
O GLOBO. BBB: 9 vezes em que o programa escancarou o machismo e o racismo do Brasil. Rio de Janeiro, 21 jan. 2020. Disponível em: https://oglobo.globo.com/celina/bbb-9-vezes-em-que-programa-escancarou-machismo-o-racismo-do-brasil-24192052. Acesso em: 14 jan. 2025
