Capa da publicação Agronegócio e leis sobre novas tecnologias
Capa: Dall-E

O uso de novas tecnologias no agronegócio.

Equilibrando as novas medidas legislativas com as necessidades de mercado

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Resumo:


  • A tecnologia está transformando o cenário agrícola, proporcionando maior precisão na aplicação de insumos, redução de custos operacionais e aumento da competitividade.

  • O desenvolvimento de projetos de engenharia para o agronegócio enfrenta desafios como a integração de novas tecnologias, a necessidade de produtos sustentáveis e a garantia de confiabilidade dos equipamentos no campo.

  • A Lei Geral de Proteção de Dados traz desafios e reflexões sobre a proteção dos dados no setor agrícola, incluindo a necessidade de conciliar a legislação com as práticas do campo e a importância da confiabilidade dos equipamentos para evitar prejuízos aos agricultores.

Resumo criado por JUSTICIA, o assistente de inteligência artificial do Jus.

A agricultura digital amplia a competitividade, mas gera desafios jurídicos sobre privacidade e inovação. Como a tecnologia impacta a engenharia de produtos?

Resumo: O novo mundo traz como escopo a tecnologia e suas ações, o cenário social está repleto de adaptações que devem acompanhar o novo ritmo de vida e as novas necessidades, o artigo é um breve descritivo de como essas modificações interferem no agronegócio e indistintamente no meio social, e de que forma o novo modelo de engenharia deve observar produto e tecnologia. Diante das novas medidas legislativas, as empresas devem proporcionar ao consumidor finalidade e transparência, ao passo que atravessam várias intempéries em relação ao segredo empresarial, trazendo novos questionamentos jurídicos. 

Palavras-chave: agronegócio, engenharia de produto, lei geral de proteção de dados, consumidor, tecnologia. 


TECNOLOGIA E ANÁLISE DE DADOS NA AGRICULTURA

Ao tratar de tecnologia, temos um conceito bastante amplo, principalmente quando essa temática é abordada dentro do direito. Portanto, é necessário visualizar o impacto que essas novas ações irão gerar no cerne jurídico. Aqui, tratamos especificamente da vertente comercial de produtos e inovações no agronegócio, a qual vem se atualizando por completo desde a inclusão digital, impulsionada pela integração de novas tecnologias, como, por exemplo, a telemetria. Esse uso intensivo de tecnologia está transformando o cenário agrícola, promovendo maior precisão na aplicação de insumos e reduzindo custos operacionais, o que, por sua vez, aumenta a competitividade do setor.

Um dos principais objetivos do monitoramento dos dados produzidos pelos sensores presentes nas máquinas é avaliar o comportamento dos componentes e identificar a intensidade e o esforço exigidos em diferentes condições de campo e solo no Brasil. Com isso, é possível avançar para uma manutenção preditiva, garantindo maior vida útil aos componentes, menor custo ao produtor e menor interrupção em sua operação agrícola.

Avaliando todo o contexto, pode-se ponderar que a tecnologia agrega valor às significativas modificações no campo. Por outro lado, quebra todas as barreiras empresariais já estabelecidas, pois amplia o campo de visão do empresário na implementação de melhorias em produtos ou serviços por meio da análise de dados. O desenvolvimento dessas ações ocorre por meio da agricultura de precisão, metodologia que utiliza informações para o manejo localizado de dados, aplicando-os na tomada de decisões estratégicas. Seu objetivo é detectar precocemente problemas no crescimento das plantas para permitir ações preventivas, além de aplicar a ciência de dados na identificação de riscos de infestação e no desenvolvimento de estratégias de controle.

A adoção de tecnologias de telemetria traz o alerta de que a coleta de dados está amplamente relacionada ao segredo empresarial. Portanto, todas essas informações devem ser mantidas sob confidencialidade, garantindo sua proteção no momento da monopolização desses dados, o que já é possível com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).

A seguir, estão elencados três tipos de gestão que podem ser aprimorados mediante monitoramento digital, permitindo a adoção de novos métodos para realizar as mesmas ações, além de possibilitar a criação de novas ideias e produtos, tornando-se um diferencial competitivo:

  • Gestão de riscos climáticos: Nesse caso, a tecnologia pode ser utilizada para prever condições climáticas adversas que impactam a condução saudável da lavoura, como secas ou inundações. Com isso, é possível estimar a probabilidade de ocorrência desses riscos, auxiliando na tomada de decisões sobre o plantio e a irrigação. Ao identificar áreas com maior risco de danos climáticos, torna-se viável a adoção de medidas preventivas, como a construção de diques ou o cultivo de culturas mais resistentes à seca.

  • Monitoramento da saúde animal: A ciência de dados pode ser aplicada para acompanhar a saúde dos semoventes por meio de recursos como a análise de imagens captadas por câmeras térmicas e sensores. Essa abordagem permite a detecção precoce de problemas de saúde, viabilizando a adoção de medidas preventivas, como a identificação de animais com febre ou outros sinais de doenças. Dessa forma, é possível iniciar o tratamento antes da disseminação da enfermidade. Além disso, o monitoramento do comportamento dos animais possibilita a detecção de mudanças sutis que possam indicar possíveis problemas de saúde.

  • Otimização do uso de insumos e manejo agrícola: A análise de dados permite identificar regiões com necessidades distintas de irrigação, fertilização ou aplicação de defensivos, ajudando os agricultores a otimizar o uso de insumos e aumentar a produtividade. Além disso, essa abordagem facilita a detecção precoce de problemas no desenvolvimento das plantas, possibilitando a implementação de medidas preventivas. Por meio da ciência de dados, também é possível localizar áreas com maior risco de infestação e desenvolver estratégias eficazes para o controle de pragas e doenças.

As atividades do agronegócio envolvem processos que se dividem em três fases. A primeira, chamada de "antes da porteira" ou "a montante", inclui a produção e o fornecimento de insumos agropecuários. A segunda fase, "dentro da porteira", refere-se à execução de diversas atividades no campo, como a agricultura e a pecuária. Já a terceira fase, conhecida como "depois da porteira" ou "a jusante", abrange etapas como processamento, industrialização, transporte, armazenamento, distribuição e comercialização dos produtos agropecuários. Nessas três fases, há uma grande quantidade de dados que podem ser utilizados para auxiliar na tomada de decisões, otimizar o uso de recursos, aumentar a produtividade e a rentabilidade, além de reduzir os impactos ambientais.

De acordo com uma pesquisa conduzida pela IHS Markit, em parceria com a AsBraAP, 36% dos produtores que ainda não utilizam agricultura de precisão indicaram a intenção de investir em tecnologias digitais nos próximos três anos. Além disso, apenas 2% demonstraram preocupações quanto à segurança dos dados, aplicativos e softwares empregados.

No campo, o uso de tecnologias avançadas deu origem ao conceito de "agricultura digital", na qual os dados se tornaram o principal motor dessa transformação. Esse fenômeno está convertendo as fazendas em verdadeiros laboratórios ao ar livre, impulsionando inovações e otimizando o manejo agrícola. Comumente referida como agricultura de precisão, a agricultura digital foca na aplicação de tecnologias para aumentar a eficiência e a produtividade, além de minimizar os impactos ambientais adversos. Isso ocorre por meio da coleta e análise de dados sobre os processos agrícolas, utilizando sensores, drones, GPS, sistemas de informação geográfica (SIG), imagens de satélite e outras tecnologias que fornecem informações sobre as condições do solo, clima, irrigação e demais variáveis ​​essenciais para a produção agrícola. Seu objetivo é promover uma gestão mais eficiente e produtiva, reduzindo custos e impactos ambientais negativos.

Apesar de contribuir significativamente para a inovação dos processos, a análise de dados também enfrenta desafios. Um deles é a estruturação do banco de dados, pois o volume de informações geradas é grande e abrange um amplo espectro de atuação. É essencial contar com profissionais capacitados para estruturar e converter esses dados em resultados concretos. Outro aspecto relevante é a predição de preços, uma vez que o mercado pode ser drasticamente afetado pelo valor dos insumos. Prever mudanças e identificar padrões de oscilação de preços pode otimizar as estratégias de compra e venda tanto para os produtores quanto para as empresas.

O monitoramento de áreas agrícolas está relacionado ao sensoriamento remoto, que permite acompanhar os impactos das interações entre solo, planta e ambiente. Esse acompanhamento é fundamental para a tomada de decisão do produtor, pois pode impactar diretamente a produtividade e contribuir para uma previsão de safra mais precisa. Esse é o caminho para um planejamento agrícola ideal. Todas essas atividades podem ser estruturadas por meio do meio digital, tornando essencial a obtenção de informações precisas e em tempo real sobre as condições das culturas, do solo e do clima. No entanto, essa necessidade representa um desafio em regiões rurais e isoladas, onde a conectividade com a internet é limitada ou até inexistente. Além disso, a coleta e o processamento desses dados podem ser dispendiosos e complexos, especialmente para pequenos agricultores e comunidades rurais com recursos restritos. O investimento necessário em hardware, software, conectividade e capacitação pode se tornar um obstáculo significativo para a ampla adoção dessa tecnologia no setor agrícola.

Apesar desses desafios, o futuro da análise de dados na agricultura é promissor. Com a constante evolução tecnológica e sua crescente acessibilidade, espera-se que o uso de soluções de análise de dados se expanda para diversas regiões do mundo. Com o potencial de impulsionar a produtividade, reduzir custos operacionais e mitigar os impactos ambientais, a análise de dados está assumindo um papel fundamental na construção de um futuro mais sustentável e resiliente para a produção de alimentos em escala global.


OBSTÁCULOS NO DESENVOLVIMENTO DE PROJETOS E A INCLUSÃO DE NOVAS TECNOLOGIAS NA ENGENHARIA

O papel da engenharia de produto nesse contexto é fundamental, pois demanda uma integração entre desenvolvimento tecnológico e modificações no produto para atender às "dores" do produtor rural. Com a crescente demanda por tecnologias de precisão, os engenheiros estão cada vez mais focados na criação de produtos que não apenas supram as necessidades atuais do setor, mas que também sejam sustentáveis e alinhados às práticas de conservação ambiental. Além disso, o desenvolvimento de novas tecnologias, como a inteligência artificial aplicada ao maquinário agrícola, desafia o setor a repensar os modelos tradicionais de desenvolvimento de produto, integrando ferramentas de análise de dados para otimizar a performance e a durabilidade dos equipamentos.

Para acompanhar as novas mudanças no campo e atender às grandes demandas, a engenharia voltada à produção de máquinas e equipamentos para o agronegócio vem se estruturando para alinhar as necessidades do setor à inserção de tecnologias, possibilitando não apenas a comercialização do produto final, mas também a utilização dos dados coletados. Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), será necessário aumentar a produção de alimentos em 50% até 2050 para atender ao crescimento populacional. Nesse contexto, é imperativo desenvolver produtos que não apenas aumentem a produtividade no campo de forma sustentável, mas que também sejam confiáveis, acessíveis, duráveis e disponíveis a tempo de evitar crises de escassez.

A engenharia continua a fabricar equipamentos básicos, como plantadoras, pulverizadores e sistemas de irrigação. Entretanto, esses equipamentos tradicionais passarão por uma atualização tecnológica significativa. Sensores serão incorporados para coletar uma ampla gama de dados do campo, alinhando-se ao conceito de agricultura de precisão. Além disso, modelos matemáticos serão implementados para analisar esses dados rapidamente, permitindo que as máquinas forneçam insights e respostas altamente relevantes para melhorar a produtividade agrícola. Os desafios de engenharia para projetar esses equipamentos são imensos, principalmente devido aos rigorosos requisitos impostos pelo ambiente agrícola, tornando crucial a validação adequada desses produtos para garantir uma linha de produção que não apenas atenda, mas supere as expectativas dos clientes em termos de confiabilidade e durabilidade, mantendo um custo acessível.

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Para isso, é necessário o desenvolvimento de projetos, e o termo "projeto" engloba uma variedade de significados. Sua origem remonta à palavra latina designare, que significa designar ou escolher. No contexto da engenharia, um projeto pode ser definido como o processo de aplicação de técnicas e princípios científicos para conceber um dispositivo, método ou sistema de forma suficientemente detalhada para permitir sua realização. Tal metodologia segue passos bem definidos: identificação da necessidade, pesquisa de suporte, definição dos objetivos, especificações de tarefas, síntese, análise, seleção, projeto detalhado, prototipagem e teste, culminando na produção. Dentro desse procedimento, o desenvolvimento de projetos pode incluir etapas adicionais, como definição do problema, declaração dos dados, elaboração de hipóteses, decisões preliminares, croquis do projeto, modelos matemáticos, análise e avaliação do projeto e documentação dos resultados.

Ao abordar o desenvolvimento de projetos de engenharia para o setor agrícola, identificamos uma série de desafios significativos. Um dos principais é lidar com as incertezas iniciais do projeto. No início, tudo o que se tem é uma ideia inovadora e poucas indicações de como essa ideia se comportará na prática. Transformar conceitos abstratos em soluções tangíveis requer disciplina, perseverança e um orçamento robusto para lidar com as incertezas inerentes a qualquer projeto. No contexto da tecnologia agrícola, os desafios se intensificam devido às condições adversas do ambiente rural. Os equipamentos devem operar sob intempéries, chuvas intensas, grandes variações térmicas, exposição prolongada à radiação solar, poeira e, frequentemente, em contato com substâncias químicas altamente corrosivas presentes em fertilizantes, o que dificulta a manutenção em campo devido à localização remota e à falta de infraestrutura adequada.

Os sensores ópticos, por exemplo, devem permanecer limpos para garantir leituras precisas, enquanto componentes eletrônicos precisam ser protegidos contra a umidade, pois eletricidade e água são uma combinação perigosa. Além disso, a variação de temperatura pode alterar a condutividade elétrica, comprometendo a precisão dos dados coletados. Outro desafio é a integração de componentes sensíveis em equipamentos agrícolas pesados, que podem pesar até 20 toneladas e são construídos majoritariamente em aço. Esses equipamentos enfrentam cargas extremas e devem ser projetados com tolerâncias específicas para viabilizar a produção em massa, sempre considerando o custo final.

Outro fator crítico é a vibração, pois os equipamentos agrícolas são frequentemente expostos a altos níveis de oscilação, especialmente quando um trator de 500 cv está rebocando uma plantadeira de 41 linhas em terrenos irregulares. Exigir regularidade ou baixas vibrações nessas condições é impraticável, tornando a robustez dos componentes um requisito essencial. No entanto, os desafios no desenvolvimento de projetos de engenharia para o setor agrícola são imensos e multifacetados. Os pontos abordados aqui representam apenas uma fração das complexidades enfrentadas pelos engenheiros ao projetar soluções para o campo.

Práticas eficazes de gerenciamento de projetos são essenciais para o desenvolvimento de tecnologias agrícolas. Atualmente, metodologias ágeis, como Scrum, são amplamente discutidas e aplicadas, especialmente no desenvolvimento de software, sensores e sistemas de gerenciamento de dados. Essas metodologias oferecem flexibilidade e fluidez, mas é importante destacar que o desenvolvimento de máquinas pesadas exige uma abordagem mais cautelosa, visto que a segurança é primordial. Esses equipamentos podem representar riscos significativos, incluindo ferimentos graves ou até fatais, se não forem projetados e construídos com rigor. Isso é alcançado seguindo todas as etapas do desenvolvimento de projetos, incluindo consultas a normas técnicas, como as da ABNT e ISO. Um exemplo é a norma ISO 4254, que estabelece requisitos internacionais de segurança para equipamentos agrícolas.

O gerenciamento desses projetos nem sempre é simples. Ele requer profundo conhecimento técnico e habilidade para influenciar o ambiente empresarial, assumindo a responsabilidade de desenvolver equipamentos complexos e potencialmente perigosos. Além disso, é crucial equilibrar o investimento em inovação com a manutenção e atualização de produtos já existentes no mercado, que frequentemente necessitam de revisões contínuas para corrigir eventuais falhas. Esse equilíbrio entre inovação e manutenção de produtos existentes é essencial para garantir que a indústria agrícola continue evoluindo e atendendo às necessidades presentes e futuras dos agricultores.

Diante do exposto, a engenharia enfrenta diversos obstáculos no desenvolvimento de projetos, lidando tanto com incertezas quanto com a aplicação de novas tecnologias. O grande desafio das ações que vêm sendo realizadas é identificar como essa realidade pode ser transformada com o auxílio da tecnologia. Há uma grande diferença entre ter acesso fácil a essas inovações e conseguir implementá-las de forma eficaz para adaptar e aprimorar os produtos.


CONFIABILIDADE NO CAMPO

As operações agrícolas exigem um alto nível de confiabilidade dos equipamentos, uma vez que a natureza opera de maneira imprevisível e fora do nosso controle. Os equipamentos devem estar prontos para desempenhar suas funções a qualquer momento e sem falhas, a fim de evitar prejuízos significativos para os agricultores.

Nas empresas, temos a vantagem de analisar cada componente dos equipamentos em um ambiente controlado, permitindo testes exaustivos de funções específicas, como a taxa de erro de leitura de um sensor a cada 1.000 leituras, por exemplo. Embora essa seja uma estratégia eficaz, é igualmente crucial que esses produtos em desenvolvimento sejam testados no ambiente real em que serão utilizados. No entanto, a diversidade de condições no Brasil, devido às suas proporções continentais, apresenta um desafio adicional. Com uma variedade de tipos de solo, condições de transporte, umidade e temperatura ao longo do ano, o ideal seria que todos os componentes das máquinas, como plantadoras, distribuidores de fertilizantes, irrigadores, drones e colhedoras, fossem validados em todos os cenários possíveis. Contudo, enfrentamos limitações de mão de obra, tempo e investimento nessa área, assim como em muitas outras atualmente.

Diante dessas limitações, frequentemente recorremos a inferências, tirando conclusões baseadas em dados e semelhanças observadas. No entanto, o objetivo da validação de projetos é justamente revelar o que não conseguimos prever. Esse desafio reforça a necessidade de maior atenção e dedicação à confiabilidade dos equipamentos no campo.

Falhas comuns ocorrem, por exemplo, quando se assume que um ambiente ou solo é homogêneo, e os componentes projetados são testados apenas para as situações previstas. O cotidiano agrícola, no entanto, frequentemente revela uma ampla gama de situações adversas. Podemos prevenir ou mitigar essas falhas mantendo um contato mais próximo com a rotina agrícola e utilizando ferramentas de prevenção de falhas, como a Análise dos Modos de Falha e seus Efeitos (DFMEA). Essa abordagem sistemática ajuda a identificar potenciais falhas antes que ocorram, garantindo que os equipamentos atendam aos padrões de confiabilidade exigidos pelos agricultores e descritos no escopo legislativo que protege esse consumo.


TECNOLOGIA E LEGISLAÇÃO

É indispensável que, ao tratar dos dados no campo, observemos algumas vertentes que vão além do consumidor final, pois tudo é informação (dado) que, ao ser revelada, pode expor um segredo empresarial, possibilitar o melhoramento de produtos, impulsionar inovações ou ainda revelar dados de clientes e terceiros envolvidos nos processos. A LGPD alerta para um problema que há muito já vinha sendo discutido. Enquanto a sociedade se preocupava em manter em sigilo a mão de obra bruta, acabou ignorando que a evolução do modelo de trabalho social ocorreu de maneira acelerada. Com isso, surgiram modificações efetivas não apenas no campo, mas também em outros âmbitos da esfera pública e privada, gerando impactos legislativos.

Com a LGPD e o Marco Civil da Internet, estabeleceu-se um novo modelo legislativo para julgar e avaliar os novos comportamentos, tanto aqueles classificados em pecúnia quanto os que visam à proteção do indivíduo, conforme elencado na Constituição Federal. Dessa forma, reconhece-se que os dados também possuem valor de mercado.

A legislação tem como objetivo direcionar seus esforços para a proteção de dados pessoais e dados pessoais sensíveis, sempre resguardando os direitos dos titulares, que, ao final de qualquer processo, são os maiores prejudicados quando suas informações não são tratadas de forma correta. Há muito a se explorar nesse tema, visto que a lei ainda é relativamente nova e continua se adequando aos meios sociais e às suas inúmeras possibilidades de aplicação. Entretanto, quando tratamos das empresas que também estão respaldadas pela legislação, observa-se uma grande preocupação com a quantidade de dados coletados ou trocados entre si, além da forma como essas informações são armazenadas e utilizadas.

O agronegócio é uma potência que movimenta informações de forma expressiva, desde a área de desenvolvimento e tecnologia até a fabricação de produtos voltados para o avanço do plantio. Com o volume massivo de dados, surgem questionamentos sobre titularidade e privacidade: a quem pertencem essas informações? Como e por quem devem ser manipuladas? Quais os critérios para o compartilhamento? Com a entrada em vigor da LGPD, o setor agropecuário, assim como diversos outros, encontra dificuldades para se adequar às novas exigências.

O próprio órgão responsável pela fiscalização da LGPD, a Agência Nacional de Proteção de Dados (ANPD), reconhece alguns dos desafios em sua implementação. Durante o período de vacância da lei, deve-se observar sua adaptação social. No entanto, além dessa adaptação, a norma deve abranger a todos sem distinção, o que ainda não ocorre de forma efetiva. Um dos grandes entraves para sua aplicação é o fato de que muitas de suas diretrizes foram pensadas para o meio urbano, onde a informação, a tecnologia e as novas ideias circulam de forma recorrente e acelerada, amparadas por recursos e investimentos. Geralmente, grande parte do lucro social é direcionada para o que está em evidência, mesmo que essa não seja a prioridade do momento.

Por outro lado, outras realidades estão presentes na sociedade, interagindo dentro e fora do país, transportando e recebendo dados de diversas formas. Muitas vezes, essas informações são tratadas apenas como um meio para a conclusão do produto, ignorando-se que, em muitos casos, o próprio dado é o produto principal. Esse cenário ocorre devido à diversidade de modelos de negócios. O direito no agronegócio está distante dos tradicionais escritórios de advocacia, e os profissionais que atendem a esse setor podem perder a sensibilidade de distinguir outras necessidades que um contrato formal muitas vezes não abarca.

Os exemplos acima refletem realidades distintas que a LGPD ainda não compreende plenamente, como acordos realizados de forma informal e solicitações de atendimento consumerista que não seguem um padrão definido. Isso acontece porque o foco está em suprir as necessidades do plantio e do produto, sem que haja uma percepção clara dos dados envolvidos nesses processos.

É evidente que muitas fazendas atualmente contam com um forte respaldo jurídico para suas ações de compra e venda. No entanto, é necessário considerar também os pequenos produtores, que, embora tenham menor estrutura, desempenham um papel essencial no atendimento às demandas sociais. Seja em grandes ou pequenas empresas, o destaque está em dois grupos distintos: aqueles que reconheceram o valor do mercado informacional, vendendo mais do que apenas o produto bruto, e aqueles que, por negligência ou desconhecimento, deixam de proteger os dados da empresa, de seus dependentes e da própria entrega do produto.

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Sobre os autores
Cecília Andreoli Marinho

Bacharel em Biblioteconomia Centro Universitário - Claretiano Bacharel em Serviços Jurídicos e Notariais (tecnólogo) Centro Universitário - Claretiano Cursando Direito Centro Universitário - Claretiano Cursando aluno ouvinte mestrado – USP Universidade de São Paulo Cursando pesquisa na área: Direito do Trabalho/ Direito Penal/ Políticas Públicas – USP Universidade de São Paulo. Especialização em Difusão em Advocacia Criminal e Teoria da Pena – USP Universidade de São Paulo. Pós-Graduada em LGPD, Lei Geral de Proteção de Dados; Direito Penal e Processo Penal; Direito do Trabalho e Processo do Trabalho e Direito Digital – LEGALE

Giovani Papa

Engenheiro Agrônomo (ESALQ-USP)

Marco Aurélio Banionis

Engenheiro Mecânico - Universidade Paulista (UNIP)

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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