Resumo: A reeleição de Donald Trump em 2025 intensifica o protecionismo, com novas tarifas sobre importações da China, UE, Brasil e outros, sob o lema "America First 2.0". Essa medida, justificada como proteção ao emprego e soberania econômica, acirrou tensões comerciais e gerou retaliações. Este artigo examina os efeitos dessa nova guerra tarifária, articulando análises político-econômicas e geoestratégicas. O protecionismo, embora possa trazer ganhos internos, enfraquece a OMC, fragmenta cadeias de valor e aumenta custos. China, UE e Brasil reagiram com contramedidas e buscando diversificar parceiros. Conclui-se que a disputa transcende o comércio, comprometendo a cooperação internacional e exigindo a reformulação da arquitetura comercial global.
Palavras-chave: Guerra Tarifária. Reeleição de Trump. Protecionismo. Retaliações. Comércio Internacional. Multilateralismo. Cadeias Globais de Valor. China. Brasil. OMC.
1. Introdução
A eleição de Donald Trump para um segundo mandato em 2025 reavivou debates sobre política comercial, que retornou a princípios nacionalistas e protecionistas. Sob o lema America First 2.0, seu governo implementou medidas unilaterais, incluindo tarifas sobre importações estratégicas, iniciando uma "segunda guerra tarifária global".
Essa nova guerra emerge em contexto distinto de 2018-2020. O protecionismo atual articula-se com incerteza geopolítica, desaceleração econômica, rearranjos produtivos e crise de legitimidade das instituições multilaterais. A pandemia de covid-19 e a guerra na Ucrânia intensificaram a percepção de vulnerabilidade econômica global. O retorno de Trump reacende o debate sobre os limites da globalização e a viabilidade de políticas autárquicas.
Este artigo examina os desdobramentos dessa nova guerra tarifária. Analisa-se o protecionismo nos EUA como estratégia político-eleitoral. Investigam-se as reações de parceiros como China, UE e Brasil, que responderam com retaliações e reconfiguração de estratégias. Discute-se o impacto na estabilidade do sistema de comércio, com atenção à paralisia da OMC e ao surgimento de acordos paralelos.
A guerra tarifária contemporânea expressa uma transformação estrutural nas relações econômicas internacionais, revelando tensões entre interesses nacionais e compromissos multilaterais. O artigo busca contribuir para a compreensão desse fenômeno, que desafia normas vigentes e exige novas formas de cooperação, convocando atores emergentes como o Brasil a um papel proativo na governança global.
2. Antecedentes Históricos das Disputas Comerciais
A compreensão da nova guerra tarifária desencadeada pelos Estados Unidos em 2025 exige uma análise histórica abrangente das práticas protecionistas ao longo do tempo, especialmente no contexto das políticas comerciais norte-americanas. Desde o século XIX, os EUA oscilaram entre posturas de abertura e fechamento de mercado, guiados por ciclos econômicos, mudanças políticas e contextos geopolíticos. Esses ciclos revelam a persistência de uma tensão entre liberalismo e protecionismo, que ainda molda a política externa comercial do país.
2.1. As guerras tarifárias no século XX: o legado da Lei Smoot-Hawley
O caso paradigmático da Lei Smoot-Hawley, aprovada em 1930, é um exemplo clássico das consequências adversas do protecionismo extremo. Ao elevar substancialmente as tarifas sobre mais de 20 mil produtos importados, os EUA esperavam proteger sua economia durante o início da Grande Depressão. No entanto, essa medida provocou uma série de retaliações por parte de parceiros comerciais, agravando a crise e contribuindo para a contração do comércio global. A experiência serviu como alerta duradouro sobre os perigos do isolacionismo econômico e fundamentou, décadas depois, a criação de instituições como o GATT (General Agreement on Tariffs and Trade), precursor da OMC.
2.2. O protecionismo americano sob Trump (2017–2021)
Durante seu primeiro mandato, Donald Trump reviveu o espírito protecionista ao iniciar uma série de disputas comerciais sob a bandeira de “América em Primeiro Lugar”. Ele acusava a China de práticas desleais de comércio, como subsídios estatais, roubo de propriedade intelectual e manipulação cambial, e impôs tarifas sobre centenas de bilhões de dólares em produtos chineses. Simultaneamente, Trump estendeu tarifas ao aço e alumínio importados de diversos países, alegando razões de segurança nacional — um argumento controverso no âmbito jurídico internacional.
A retórica anti-globalização utilizada por Trump, frequentemente carregada de apelos nacionalistas, conectava as perdas industriais em estados-chave do cinturão da ferrugem (Rust Belt) ao que ele chamava de “traições” cometidas por governos anteriores em nome do livre comércio. O objetivo declarado era repatriar empregos e reduzir o déficit comercial, mas os resultados foram ambíguos: enquanto algumas indústrias locais se beneficiaram, consumidores e empresas que dependem de insumos importados enfrentaram preços mais altos e incertezas regulatórias.
2.3. Efeitos residuais no governo Biden (2021–2024)
Embora o presidente Joe Biden tenha adotado um discurso mais conciliador em relação à ordem multilateral, sua administração manteve parte significativa das tarifas herdadas da era Trump. O governo Biden priorizou uma política de “reindustrialização verde” baseada em subsídios domésticos, como a Lei de Redução da Inflação (IRA), que beneficiava empresas americanas em setores estratégicos como baterias, veículos elétricos e semicondutores. Embora menos agressiva do que a de Trump, essa abordagem também gerou tensões, principalmente com a União Europeia e aliados asiáticos, que viam nas medidas uma forma disfarçada de protecionismo industrial.
A permanência de tarifas e políticas industriais seletivas nos EUA ao longo da presidência de Biden demonstra que a virada protecionista norte-americana é, em grande medida, estrutural e não apenas conjuntural. A deterioração da confiança nas instituições multilaterais e o crescente desafio representado pela ascensão econômica da China contribuíram para sedimentar um novo consenso bipartidário nos EUA sobre a necessidade de proteção ativa da economia nacional, abrindo caminho para a nova escalada tarifária iniciada em 2025.
3. A Retomada do Protecionismo com a Reeleição de Trump
A eleição de Donald Trump em 2025 representou uma reafirmação do nacionalismo econômico como doutrina dominante da política externa dos Estados Unidos. Embora o mundo tivesse passado por múltiplas transformações desde seu primeiro mandato — incluindo os efeitos da pandemia, a intensificação da rivalidade sino-americana, a guerra na Ucrânia e a crise energética global —, os princípios do "America First" retornaram ainda mais fortalecidos sob uma nova roupagem, agora intitulada America First 2.0. A nova ofensiva tarifária foi rapidamente colocada em prática, com impactos diretos sobre o comércio internacional, o sistema multilateral e a geopolítica global.
3.1. A agenda America First 2.0
O programa comercial da nova gestão Trump foi apresentado como uma resposta às "falhas sistemáticas" do livre comércio, acusado de transferir riqueza e empregos norte-americanos para o exterior. A retórica presidencial enfatizou o argumento de que a globalização havia beneficiado desproporcionalmente países como a China, ao passo que comunidades industriais nos EUA haviam sofrido desindustrialização e estagnação salarial.
Com base nessas premissas, o novo governo lançou um pacote de medidas tarifárias focado em setores considerados vitais para a segurança nacional e a soberania econômica. Entre os alvos estavam os semicondutores, a indústria automotiva, o aço, os fertilizantes, produtos agrícolas e itens de energia limpa. A política foi acompanhada de incentivos fiscais para empresas que repatriassem fábricas aos EUA, além de penalidades para aquelas que mantivessem cadeias de produção no exterior.
3.2. Setores afetados pelas novas tarifas
A aplicação das tarifas foi seletiva, porém abrangente. Produtos provenientes da China voltaram a ser os mais afetados, especialmente nos setores de tecnologia da informação, equipamentos industriais e eletrônicos. Da União Europeia, as tarifas incidiram sobre veículos elétricos, painéis solares e alimentos processados. No caso do Brasil e de outros países latino-americanos, os principais impactos ocorreram nas exportações de aço, carne bovina, grãos e etanol.
As tarifas afetaram profundamente cadeias produtivas já fragilizadas por eventos recentes, como a pandemia e o conflito no Leste Europeu. Empresas multinacionais, acostumadas com fluxos logísticos eficientes e custos otimizados, viram-se obrigadas a reorganizar suas estratégias de fornecimento, realocando parte da produção para regiões consideradas "seguras", processo conhecido como friendshoring.
3.3. Justificativas políticas e eleitorais da medida
Para além das justificativas econômicas e estratégicas, a nova rodada de tarifas teve um evidente cálculo político-eleitoral. Trump mobilizou uma narrativa de resgate da "grandeza americana" associada à independência econômica e à proteção da classe trabalhadora. O discurso foi bem recebido em estados industriais, onde o protecionismo é percebido como defesa legítima contra os efeitos negativos da competição global.
Além disso, a retórica de confronto com a China e com instituições internacionais — especialmente a OMC — foi utilizada para reforçar a imagem de um governo forte, disposto a enfrentar adversários externos e romper com o que Trump denominava como “concessões desastrosas” de administrações anteriores. Essa estratégia gerou dividendos políticos importantes, solidificando sua base eleitoral e ampliando o apoio entre setores tradicionalmente céticos em relação ao comércio exterior.
Contudo, essa abordagem também reacendeu críticas tanto internas quanto externas. Economistas advertiram para os riscos de inflação importada, escassez de produtos e perda de competitividade. Aliados históricos dos EUA demonstraram preocupação com a imprevisibilidade da política comercial norte-americana, o que levou a um movimento coordenado de busca por alternativas — tanto jurídicas, via OMC, quanto práticas, por meio de novos acordos bilaterais e regionais.
4. Reações Internacionais e Retaliações Multilaterais
A nova onda protecionista dos Estados Unidos, impulsionada pela reeleição de Donald Trump em 2025, desencadeou uma resposta internacional imediata, marcada tanto por retaliações comerciais unilaterais quanto por articulações multilaterais inéditas. Diferente do período 2017–2021, em que muitos países preferiram uma postura mais cautelosa e de contenção, o cenário atual se caracteriza por uma reação coordenada e estratégica por parte de diversos blocos e potências econômicas. Isso se deve ao acúmulo de frustrações, à perda de confiança na previsibilidade das políticas comerciais norte-americanas e à percepção de que a liderança tradicional dos EUA no sistema multilateral já não pode mais ser tomada como garantida.
4.1. União Europeia: liderança na reação diplomática e tarifária
A União Europeia assumiu um papel de destaque na resposta à nova guerra tarifária. Sob a liderança de Ursula von der Leyen, a Comissão Europeia classificou as novas medidas dos EUA como "violação grave dos compromissos multilaterais" e acionou imediatamente os mecanismos de solução de controvérsias da OMC. Em paralelo, foi anunciado um pacote de retaliações comerciais, que incluiu tarifas sobre produtos agrícolas, tecnológicos e bens de consumo americanos — como bourbon, jeans e motocicletas Harley-Davidson —, numa tentativa de atingir bases eleitorais republicanas.
Além das medidas retaliatórias, a UE intensificou seus acordos com países da Ásia e América Latina, buscando reduzir sua dependência econômica dos EUA e fortalecer cadeias produtivas alternativas. Um exemplo é a aceleração das negociações comerciais com o Mercosul, especialmente com Brasil e Argentina, além do aprofundamento da Parceria Econômica UE-Japão.
4.2. China: escalada da rivalidade estratégica
A China, principal alvo das tarifas norte-americanas, respondeu com uma estratégia mista de retaliação, diplomacia econômica e mobilização no cenário internacional. Pequim anunciou tarifas adicionais sobre produtos agrícolas norte-americanos, restringiu exportações de metais raros utilizados na indústria de alta tecnologia e intensificou investimentos em parceiros considerados estratégicos, como países africanos, latino-americanos e do Sudeste Asiático.
Mais do que uma simples guerra tarifária, a disputa sino-americana assumiu contornos geopolíticos, envolvendo temas como segurança tecnológica, inteligência artificial e supremacia industrial. Nesse sentido, a China fortaleceu mecanismos como o BRICS+, o RCEP (Parceria Econômica Regional Abrangente) e a Iniciativa do Cinturão e Rota (Belt and Road Initiative), promovendo uma nova ordem econômica multipolar, menos dependente das instituições dominadas pelos EUA.
4.3. Reações latino-americanas: entre resistência e adaptação
Na América Latina, os efeitos da nova guerra tarifária foram sentidos com intensidade. Países exportadores de commodities, como Brasil, Argentina e México, viram seus produtos sofrerem novas barreiras para ingressar no mercado norte-americano. Em resposta, houve um movimento de diversificação de mercados e de busca por acordos regionais e extrarregionais.
O Brasil, por exemplo, ampliou suas exportações para a China e Índia, além de reativar negociações com a União Europeia. A diplomacia brasileira passou a priorizar fóruns como a Celac, os BRICS e a Unasul, buscando fortalecer a integração regional e a construção de uma voz latino-americana comum nas disputas comerciais internacionais.
4.4. Reação da OMC e crise do sistema multilateral
A Organização Mundial do Comércio voltou ao centro do debate global, não como árbitro neutro, mas como símbolo de um sistema sob ataque. A OMC já vinha fragilizada desde o primeiro mandato de Trump, que bloqueou nomeações para seu Órgão de Apelação. Em 2025, com o retorno das medidas unilaterais por parte dos EUA, a instituição enfrentou nova crise de legitimidade.
Apesar disso, uma coalizão de países liderada por UE, Japão, Canadá, Austrália e Índia propôs uma reforma emergencial da OMC, incluindo mecanismos de sanção mais rápidos e maior poder vinculante em disputas comerciais. Ainda que os EUA tenham demonstrado resistência, as articulações apontam para um esforço de resgate da governança multilateral, com ou sem a participação ativa de Washington.
5. Impactos no Multilateralismo e no Sistema de Comércio Global
A intensificação do protecionismo norte-americano não representa apenas um desafio imediato ao comércio internacional, mas uma ameaça estrutural ao próprio multilateralismo enquanto regime normativo. Desde a criação do GATT, em 1947, e sua posterior transformação em OMC, em 1995, o comércio global foi progressivamente organizado sob um arcabouço de regras que privilegiava a previsibilidade, a não-discriminação e a solução pacífica de controvérsias. A nova guerra tarifária liderada pelos EUA, no entanto, rompe com esse paradigma e inaugura uma fase de instabilidade, fragmentação e competição geoeconômica entre blocos.
5.1. Erosão das regras do comércio multilateral
As tarifas impostas unilateralmente pelos EUA, sem respaldo nos mecanismos da OMC, sinalizam um desrespeito aberto às normas do sistema multilateral. Isso gera um efeito cascata, estimulando outros países a adotar medidas similares, sob a justificativa de legítima defesa comercial. A tendência é que o comércio internacional se torne cada vez mais imprevisível, com aumento do uso de barreiras não tarifárias, subsídios disfarçados e acordos paralelos.
Esse cenário fragmentado enfraquece a confiança nas instituições internacionais, reduz a atratividade do regime da OMC e estimula a proliferação de acordos regionais com regras próprias, o que pode resultar em uma “balcanização” do comércio mundial.
5.2. Multipolaridade econômica e realinhamentos geoestratégicos
O declínio do multilateralismo liderado pelos EUA abre espaço para o surgimento de novas lideranças e coalizões econômicas. A China, por meio de sua inserção em dezenas de acordos comerciais regionais e bilaterais, e sua liderança no RCEP, busca preencher o vácuo deixado pelos americanos. A União Europeia, por sua vez, atua como defensora de um multilateralismo reformado, baseado em sustentabilidade, direitos humanos e regras claras.
Esses movimentos indicam um processo de realinhamento geoeconômico em curso, no qual a autoridade centralizada dos EUA como “árbitro” do comércio global perde força. Em seu lugar, emerge um sistema mais fluido e descentralizado, marcado por redes comerciais regionais, zonas de influência e novas formas de diplomacia econômica.
5.3. Atores privados e reorganização das cadeias produtivas
Além dos Estados, as empresas transnacionais também desempenham papel fundamental nesse novo contexto. A insegurança regulatória provocada pela guerra tarifária obriga grandes corporações a reavaliar suas cadeias de suprimento, priorizando resiliência em detrimento da eficiência. O modelo just-in-time dá lugar ao just-in-case, com estoques maiores, fornecedores diversificados e produção localizada em países considerados geopoliticamente “seguros”.
Essa reconfiguração tende a encarecer os custos globais de produção e distribuição, podendo gerar inflação estrutural, repasse de custos aos consumidores e desaceleração da globalização econômica. Ao mesmo tempo, surgem oportunidades para países emergentes que souberem se posicionar como polos de estabilidade produtiva, respeitadores de contratos e dotados de infraestrutura logística confiável.
5.4. Perspectivas para a governança global do comércio
O futuro do sistema multilateral depende da capacidade das instituições internacionais de se adaptarem às novas realidades. Propostas de reforma da OMC, como a criação de um mecanismo de solução de controvérsias mais ágil e acessível, a inclusão de normas sobre economia digital e meio ambiente, e a ampliação da participação de países em desenvolvimento, estão no centro do debate global.
É necessário construir uma nova legitimidade para o comércio internacional, baseada em valores como equidade, sustentabilidade e transparência. Para isso, será preciso repensar o papel das grandes potências, fortalecer os países do Sul Global e criar mecanismos inclusivos de deliberação e enforcement.
6. Estratégias Nacionais e Regionais de Adaptação à Nova Guerra Tarifária
Com a intensificação das tensões comerciais e o enfraquecimento das instituições multilaterais, diversos países e blocos regionais têm desenvolvido estratégias para proteger suas economias, diversificar mercados e mitigar os efeitos da guerra tarifária liderada pelos Estados Unidos. Tais respostas variam de acordo com os interesses geopolíticos, capacidades econômicas e grau de inserção nas cadeias globais de valor.
6.1. Diversificação de parceiros e mercados internacionais
Uma das principais estratégias adotadas tem sido a diversificação de mercados de exportação. Países tradicionalmente dependentes dos Estados Unidos passaram a buscar alternativas comerciais no Sul Global e em economias emergentes. O Brasil, por exemplo, intensificou as relações comerciais com China, Índia, Emirados Árabes Unidos e países africanos. A Argentina, em paralelo, tem buscado maior integração com o Sudeste Asiático e ampliado acordos com a União Europeia.
No caso do Sudeste Asiático, economias como Vietnã, Indonésia e Malásia têm se beneficiado da realocação de cadeias produtivas que antes estavam concentradas na China e nos EUA, oferecendo mão de obra competitiva e estabilidade política relativa.
6.2. Fortalecimento de cadeias produtivas regionais
A regionalização das cadeias produtivas ganhou impulso como forma de reduzir os riscos associados à guerra tarifária. A União Europeia reativou políticas industriais integradas para setores estratégicos, como semicondutores, baterias verdes e produção de insumos médicos. No Mercosul, embora com mais lentidão, há movimentos para estimular a industrialização regional e acordos de livre comércio intrabloco, como forma de garantir maior resiliência econômica.
Nos Estados Unidos e na China, políticas de incentivo à produção doméstica também resultaram em medidas de reshoring e nearshoring — ou seja, trazer de volta ou aproximar geograficamente as etapas de produção — para garantir o abastecimento interno e reduzir a dependência externa.
6.3. Acordos comerciais alternativos e alianças estratégicas
Frente à imprevisibilidade do governo Trump, países e blocos passaram a priorizar acordos comerciais que excluem os EUA. O RCEP (Parceria Econômica Regional Abrangente), liderado pela China e incluindo países da Ásia-Pacífico, representa o maior acordo de livre comércio do mundo, e está sendo consolidado como contrapeso ao isolacionismo norte-americano.
Ao mesmo tempo, o TPP-11 (atual CPTPP), que sobreviveu após a saída dos EUA, ganhou fôlego renovado com a adesão do Reino Unido e o interesse demonstrado por economias latino-americanas como Chile, Peru e México.
6.4. Incentivos à inovação tecnológica e independência industrial
Outra resposta relevante tem sido o investimento em autonomia tecnológica. A UE estabeleceu planos de soberania digital, priorizando setores como inteligência artificial, nuvem e cibersegurança. A China, por sua vez, ampliou os subsídios para a produção de chips, equipamentos de telecomunicação e carros elétricos, em um esforço para se tornar autossuficiente e menos vulnerável a embargos comerciais ou tarifários.
Essas medidas evidenciam uma nova fase do capitalismo global, em que a eficiência econômica passa a dividir espaço com a segurança estratégica e a soberania industrial.