Resumo: Não raramente somos surpreendidos com discursos que mais parecem cruzadas contra fatos apresentados como repulsivos ou com potenciais para destruir a sociedade como a conhecemos. Esses discursos inflamados, invariavelmente, são proferidos por figuras políticas que se valem do sensacionalismo como forma de ganhar projeção e assim angariar votos. Neste trabalho analisaremos esse fenômeno, seus vieses e como diferenciá-lo de discursos que, eventualmente, merecem nossa atenção.
Palavras-chave: Desserviço, Discurso, Dom Quixote, Eleição, Filosofia, Literatura, Oportunismo.
INTRODUÇÃO
Discursos enfáticos sobre fatos ou temas polêmicos, mas inverídicos ou que nada têm de relevante para a sociedade, há muito serve a propósitos eleitoreiros. Isso não é novidade. Ocorre que, mesmo que seja uma velha tática já muito batida e conhecida do eleitorado, ainda assim parece funcionar bem.
Neste trabalho, analisaremos os motivos por trás do funcionamento dessa velha estratégia e como identificar seu uso em discursos políticos inflamados, a fim de não darmos a eles atenção e amplitude tão almejadas por seus fazedores, bem como tentaremos diferenciá-los de discursos argumentativos, bem construídos e que contenham em seu cerne boas propostas ou que encerrem justas revoltas contra as verdadeiras mazelas sociais.
Fazendo alusão ao cavaleiro andante, Dom Quixote, buscaremos estabelecer parâmetros que nos permitam identificar esse tipo de comportamento na seara do discurso político, frisando-se, contudo, que, em termos éticos, nada têm em comum com as bravatas do romântico personagem da obra de Miguel de Cervantes, a não ser, é claro, pelo hábito, todavia, intencional e deliberado de alguns políticos, de enxergar monstros onde não existem e de declará-los inimigos da sociedade que apenas eles próprios podem derrotar.
Com a ajuda da literatura, da filosofia e da história, buscaremos demonstrar quão antiga e eficaz é essa tática. Daremos ainda alguns exemplos emblemáticos de seu uso, que tem sido severamente amplificado nos últimos anos com o advento das redes sociais.
TENHA A SOLUÇÃO E CRIE O PROBLEMA
Não, a frase não está ao contrário. É assim mesmo. Mas não há motivos para confusão, tudo ficará claro no final. Não é raro que, em diversas áreas do conhecimento humano, descobertas sejam feitas, por vezes, ao acaso, como felizes golpes de sorte ou coincidências (chamemos como quisermos). Daí surge exatamente o que se quer exprimir com o título desse capítulo.
Imagine, por exemplo, que uma empresa farmacêutica (totalmente hipotética e sem qualquer relação com a realidade), durante um ensaio qualquer, desenvolva um potente tônico capilar, mas que apenas faz crescer os cabelos em regiões anatômicas nas quais ninguém – ou quase ninguém – deseja tê-los. A empresa passa a ter um produto – solução – para uma demanda – problema – que ainda não existe. Como resolver a questão e vender o tal produto? Criando a demanda, óbvio! Mas como fazer com que as pessoas passem a querer cabelos onde, normalmente, elas não os querem? Eis que a propaganda, com discursos bem elaborados, entra em cena. Talvez lançassem uma moda que glorificasse e desse certo ar de charme ou glamour à abundância de cabelos em certas partes do corpo como sinal de virilidade para os homens ou, quem sabe, diriam se tratar de um símbolo de fertilidade nas mulheres. O fato é que pouco importaria o teor do discurso, se teria ou não relação com alguma verdade. Fato mesmo é que a propaganda se encarregaria de convencer o público da importância de ter cabelos em certas partes do corpo, já que a demanda para o tônico criado ao acaso precisaria ser criada, pois, do contrário, para quem venderiam?
Mas e se fosse ao contrário? E se os tal produto eliminasse os cabelos de onde os queremos em abundância, como na cabeça, por exemplo? A estratégia seria exatamente a mesma. Seriam criadas propagandas que nos fariam crer que ter cabelos volumosos é algo anti-higiênico e que traz doenças e outras coisas que não queremos, como caspas ou piolhos, por exemplo. Parece loucura e até simplista, mas é exatamente assim que funciona, senão vejamos:
O intelecto pode ás vezes parecer liderar a vontade, mas somente como um guia lidera o viajante; a vontade é um alentado cego que leva aos ombros um aleijado que enxerga. Nós não queremos uma coisa por que tenhamos razões para isso; descobrimos razões para isso porque queremos a coisa; chegamos até a elaborar teologias e filosofias para vestir nossos desejos.
E prossegue:
Para convencer um homem temos que nos dirigir ao seu interesse, aos seus desejos, á sua vontade. Veja-se como é duradoura a lembrança das nossas vitorias e rápido o esquecimento das nossas derrotas; a memoria está a serviço da vontade (DURANT, pág. 311, 1942).
Os fragmentos acima foram extraídos da obra O Mundo como Vontade e Representação, do filósofo polonês Arthur Schopenhauer (1788 – 1860), que foi analisada em profundidade e amplitude pelo historiador e também filósofo estadunidense Will Durant (1885 – 1981), em sua obra História da Filosofia. Infere-se deles a dificuldade de convencer alguém por meio de argumentos lógicos e concatenados, sobretudo, quando o indivíduo ou grupo está tomado por sua própria vontade de acreditar em argumentos falaciosos ou sofistas, além de bem descreverem nossa característica inata de criarmos necessidades para coisas que temos – ou que nos são apresentadas – numa clara inversão lógica, que seria o surgimento do problema – demanda – e a posterior criação da solução – oferta.
É nesse ponto que surge o que chamaremos de Efeito Dom Quixote, nome da obra do escritor espanhol Miguel de Cervantes (1547 – 1616). No clássico livro, Dom Quixote de La Mancha é um cavaleiro andante que, na busca por firmar sua identidade e perdido em seus delírios de heroísmo, nobreza e ânsia de fazer justiça, envolve-se em diversos episódios cômicos, sempre ignorando seu fiel escudeiro, Sancho Pança, que, inutilmente, tenta alertá-lo de seus equívocos, especialmente quanto aos de enxergar inimigos ou monstros que, na verdade, não existem, sendo estes, portanto, meros frutos de seus desejos de grandeza e falsas crenças romantizadas:
A aventura vai encaminhando os nossos negócios melhor do que o soubemos desejar; porque, vês ali, amigo Sancho Pança, onde se descobrem trinta ou mais desaforados gigantes, com quem penso fazer batalha, e tirar-lhes a todos as vidas, e com cujos despojos começaremos a enriquecer; que esta é boa guerra, e bom serviço faz a Deus quem tira tão má raça da face da terra. — Quais gigantes? — disse Sancho Pança. — Aqueles que ali vês — respondeu o amo — de braços tão compridos, que alguns os têm de quase duas léguas. — Olhe bem Vossa Mercê — disse o escudeiro — que aquilo não são gigantes, são moinhos de vento; e os que parecem braços não são senão as velas, que tocadas do vento fazem trabalhar as mós. — Bem se vê — respondeu D. Quixote — que não andas corrente nisto das aventuras; são gigantes, são; e, se tens medo, tira-te daí, e põe-te em oração enquanto eu vou entrar com eles em fera e desigual batalha (CERVANTES, pág. 52, 1605).
O trecho acima, extraído da obra que empresta o nome a este trabalho, retrata bem as desventuras de Dom Quixote, bem como seu desdém dos alertas desesperados, porém, sempre ignorados, de seu fiel escudeiro, Sancho Pança. Notemos, contudo, que nosso pobre herói da obra não agia daquela forma de maneira proposital, pois ele realmente acreditava que as coisas eram como imaginava, ou seja, para ele, os moinhos de vento eram, de fato, gigantes a serem derrotados, quando, na verdade, não passavam de uma ilusão criada no âmago de suas fantasias alimentadas por seus sonhos de grandeza.
A relação com Dom Quixote que emerge quando falamos em oportunismo político, tange às fantasias tresloucadas do nobre cavaleiro, contudo, apenas no que dizem respeito às propagações e bravatas que fazia delas, mas, obviamente, não nas suas reais intenções, já que o personagem de Miguel de Cervantes se mostrava, apesar de completamente equivocado, sincero.
Por seu turno, alguns políticos se trajam – ardilosamente – como cavaleiros de armaduras reluzentes e se colocam com ferocidade ímpar a combaterem inimigos – imaginários e criados por eles mesmos – ou se apropriam de situações totalmente alheias a temas políticos, mas que são apresentados aos seus eleitorados como males surgidos de ideologias ou de grupos contrários e que só poderão ser debelados por eles próprios.
A CRUZADA CONTRA O MONSTRO VERMELHO
No melhor estilo de Dom Quixote, inauguremos este capítulo aludindo a um monstro que parece jamais ter, de fato, existido ou nos ameaçado em algum grau que fosse digno de preocupação, mas que bem serviu aos fins políticos para os quais fora deliberadamente fabricado ou inflado para que nos parecesse ameaçador. Um dos mais emblemáticos exemplos e do qual falaremos aqui, tratou-se do famigerado Plano Cohen, que, em linhas gerais, consistiu numa farsa deliberada promovida no governo do então Presidente Getúlio Vargas. Agindo em alinhamento e em unidade de desígnios, Militares da alta cúpula, visando angariar o apoio popular e do Congresso Nacional para a decretação do estado de guerra, alardearam, falsamente, terem descoberto um documento que instruía um plano de tomada e expansão comunista no Brasil:
Com a ampla divulgação do Plano Cohen em 30 de setembro de 1937, inclusive pela Hora do Brasil, coagida pelo medo, a sociedade brasileira preparava-se para conviver com o Estado Novo. Assim, de forma surpreendente, apenas 24 horas depois de receber uma simples nota do Ministério da Justiça, a Câmara dos Deputados, por ampla maioria (2/3) concedeu o estado de guerra (MEZZAROBA, pág. 95, 1992).
O ardil, portanto, funcionou, pavimentando o caminho para o início do período que passaria à história como O Estado Novo. As medidas iniciais e premeditadas na farsa urdida pelos Militares incluíam a suspensão das eleições previstas para o início do ano seguinte, o que, automaticamente, mantinha Vargas no poder, além do fechamento do Congresso, censura, perseguições, encarceramentos e até assassinatos de opositores políticos e de pessoas ligadas a instituições tidas como conspiratórias pelo regime, como a Maçonaria e certos órgãos de imprensa.
A farsa do Plano Cohen, contudo, veio à tona somente em 1945, quando a ditadura varguista já se achava em evidente declínio. Na ocasião, o General Góis Monteiro (1889 – 1956) revelou que o documento noticiado em 1937 como tendo sido interceptado e que continha o tal Plano Cohen havia sido entregue ao Estado Maior do Exército Brasileiro pelo Capitão Olímpio Mourão (1900 – 1972), que era filiado à Aliança Integralista Brasileira – Partido político ideologicamente alinhado ao fascismo italiano e ao nazismo alemão – e no qual exercia atividades no serviço de informações. Com a descoberta da farsa, Mourão se defendeu com a alegação de não ter revelado o ardil, à época dos fatos, em respeito à hierarquia militar. Mas neste ponto o estrago promovido pela ditadura varguista já havia deixado suas marcas indeléveis na história do Brasil.
Mas essa não seria a última farsa promovida – ou o último monstro criado – na política brasileira para levar o terror e o medo aos corações das pessoas, ao mesmo tempo em que lhes seriam apresentas as soluções – ou os heróis – que debelariam as trevas e libertariam a sociedade. Outro episódio que entraria para a história como infame ficou conhecido como A Carta Brandi. Em apertada síntese, tratou-se de uma carta que teria sido apreendida em circunstâncias bastante controversas e que continha timbres de aparências oficiais e tudo mais, cujo teor dava a entender que havia sido enviada por Antônio Jesus Brandi, então deputado argentino peronista, para João Goulart (1919 – 1976), que era candidato à vice-presidente na chapa que tinha Juscelino Kubitschek (1902 – 1976) para presidente:
Na polêmica carta, que possuía timbre da Câmara dos Deputados da província de Corrientes, Brandi informava a Goulart sobre a entrega confidencial de “protocolos e recomendações sobre ‘brigadas de choque operárias’”, enviadas pelo justicialista Ángel Borlenghi, ministro do Interior. Este acreditava que seria útil a Goulart “aproveitar a experiência obtida na luta sindical argentina”. O documento comunicava também que o vice-governador da província de Corrientes, Clementino Forte, havia sido designado para dirigir todas as atividades de coordenação sindical entre Brasil e Argentina. Por fim, confirmava–se a compra de mercadoria na Fábrica Militar de Córdoba, que chegaria ao Brasil via Uruguaiana disfarçada de produtos alimentícios (SANTOS, pág. 145, 2017).
A suposta trama de João Goulart com Brandi para implantar um regime peronista – comunista no Brasil foi noticiada dias antes das eleições de 1955 pelo Jornal Tribuna da Imprensa, que tinha como proprietário o então Deputado Federal Carlos Lacerda, que compunha a oposição à JK e Goulart. Apesar de ter gerado muitos transtornos ao pleito, o ardil não surtiu o efeito que era esperado pelos seus arquitetos, tendo saído vencedora a chapa composta por Kubitschek e Goulart, todavia, a posse apenas se veria efetivada pela força das armas que, ao contrário do exemplo anterior, foram postas em defesa da democracia sob o comando do então Ministro da Guerra, o Marechal Henrique Teixeira Lott.
Em apuração posterior, ficou comprovada a inautenticidade da mencionada carta, que terminou por revelar uma confusa trama envolvendo jornalistas argentinos e brasileiros, além de políticos que se veriam diretamente beneficiados com uma eventual derrota de Kubitschek e Goulart. Em suma, tratou-se de outro monstro fictício criado para atender a interesses políticos escusos, ao mesmo tempo em que os conspiradores se vendiam ao eleitorado como os únicos paladinos capazes de afugentar do Brasil os inimigos do povo.
Mas nem é preciso tanto esforço ou tramas tão elaboradas para que os Dom-Quixotes de plantão desçam de suas belas montarias e se lancem contra monstros imaginários. Recentemente a imprensa repercutiu algumas falas e declarações de alas políticas que se mostraram revoltadas com uma suposta alteração nas cores da camisa da Seleção Brasileira de Futebol, que passaria a ostentar o vermelho e o preto como predominantes, em substituição aos tradicionais verde e amarelo. Precisou que a Confederação Brasileira de Futebol – CBF emitisse uma nota informando que não há planos oficiais para alterar as cores do uniforme para acalmar os ânimos.
Ainda mais recentemente foi noticiado outro fato, notoriamente despido de qualquer teor ideológico – político, mas que acabou sendo dessa maneira interpretado e difundido. Tratou-se da infundada polêmica criada acerca figurino usado pela cantora americana Lady Gaga em sua magnífica apresentação havida na praia de Copacabana no dia 03/05/2025. O verde e o amarelo usados em algumas das peças, em clara homenagem às cores da bandeira do Brasil, bastaram para que o belo gesto de apreço pelo país e seu povo, carinhosamente expressado pela cantora, terminasse sendo bizarramente politizado.
FIÉIS ESCUDEIROS DE NÓS MESMOS
É preciso, portanto, que sejamos vigilantes, a fim de não nos permitir enxergar certas circunstâncias ou fatos de maneiras equivocadas ou desvirtuadas, servindo aos interesses pouco republicanos dos Dom-Quixotes de plantão.
Tenhamos então o senso de realidade e a prudência de Sancho Pança, mas não para em vão tentarmos alertar aqueles que, a todo custo, tentam nos amedrontar com falsos monstros por eles mesmos criados ou nutridos.
Busquemos, na boa, velha e sagrada filosofia, os ensinamentos que poderão nos servir de alertas e, dessa forma, prevenir que sejamos enganados e mergulhemos nesses infortúnios, senão vejamos:
Estava em sua casa Eupator, cidadão tebano e canastreiro, tecendo cestos no quintal, quando seu vizinho Filágoros foi chegando aos gritos: Eupator, Eupator! Larga os cestos e ouve! Coisas terríveis estão acontecendo!... Trata-se de uma coisa importantíssima - Filágoros se esforçava em explicar. Os oradores estão se revezando; uns dizem que ele é culpado; outros, que é inocente. Vem ouvi-los!
E prossegue:
Nicômaco é inocente ou culpado? A balança pode indicá-lo, desde que esteja em ordem. Se, no entanto, desejamos pesar as coisas de maneira correta, não podemos soprar sobre os pratos da balança, para que pendam para este ou aquele lado... Que um raio vos fulmine, Filágoros; porque eu não sei se Nicômaco é culpado, mas sei que vós todos sois terrivelmente culpados por ofender, assim de pronto, a lei e a verdade (CAPEK, pág. 21 / 23, 1994).
Os fragmentos acima foram extraídos da obra intitulada Histórias Apócrifas, do escritor tcheco Karel Capek (1890 – 1938), na qual reuniu contos filosóficos que encerram grandes ensinamentos, mas cujas autorias permanecem ignoradas. Os trechos aqui transcritos pertencem ao conto chamado Como nos bons e velhos tempos, que nos narra um diálogo havido, ao que tudo indica, na Grécia antiga, entre dois cidadãos, sendo o entusiasmado Filágoros, e o prudente Eupator, acerca de acusações que pesam sobre Nicômaco.
Os pequenos fragmentos nos permitem inferir diferenças comportamentais bastante significativas entre ambos diante da mesma notícia. Enquanto Filágoros se deixa envolver emocionalmente pelos acontecimentos, querendo deles se aproximar a todo custo, Eupator os toma com muita reserva, sem atribuir culpa ou inocência ao acusado e muito menos se deixando tomar pelo furor que solapa a razão e o senso crítico das pessoas. Sejamos, portanto, diante de discursos raivosos ou de fatos apresentados como estarrecedores, como Eupator.
CONCLUSÃO
Os esforços sinceros despendidos no presente trabalho tiveram como objetivo lançar luz sobre o tema nele abordado, ou seja, como eventos, muitas vezes surgidos de forma aleatória são usados por políticos oportunistas com a clara intenção de ganhar projeção midiática com potencial para angariar popularidade e assim aumentar o que se convencionou chamar de capital político.
Vimos também que nem sempre os eventos de que políticos oportunistas fazem uso são aleatórios ou obras do acaso, mas acabam sendo cuidadosamente fabricados para atender a determinados fins eleitoreiros.
Estejam elencados na primeira ou na segunda hipótese, ou seja, eventos aleatórios ou fabricados, em ambos os casos alguns políticos ardilosos não tardam em deles se apoderarem como bandeiras para subirem em seus palanques prontos para se autoproclamarem defensores invioláveis e inabaláveis desta ou daquela causa, como se embarcassem em verdadeiras cruzadas épicas do bem contra o mal.
Em última e derradeira análise, notemos que não importam as origens dos monstros a serem combatidos, pois em nenhuma das duas hipóteses aqui abordadas eles são reais, mas sempre fictícios. Destarte, sendo frutos dos imaginários vis que os produzem e os nutrem com ardente entusiasmo, jamais poderão ser derrotados. Mas é justamente nisso que consiste o verdadeiro ardil político oportunista, pois dessa forma, ano após ano, eleição após eleição, sempre nos parecerá necessário que existam Dom-Quixotes para derrotá-los em troca de votos.
REFERÊNCIAS
CAPEK, Karel. Histórias Apócrifas, Tradução de Aleksandar Jovanovic, Editora 34 – Rio de Janeiro, ISBN 85-85490-51-9, 1994;
CERVANTES, Miguel. Dom Quixote. Tradução de Francisco Lopes de Azevedo Velho de Fonseca Barbosa Pinheiro Pereira e Sá Coelho, Edição eBooksBrasil.com, 1605. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/eb00008a.pdf. Acesso em: 06 mai. 2025;
DURANT, Will. História da Filosofia, Ed. Companhia Editora Nacional – São Paulo, Tradução de Godofredo Rangel e Monteiro Lobato. 1942;
GAMA, Rafaela. Líder do PL comenta roupa verde e amarela usada por Lady Gaga em Copacabana: 'Nossa bandeira jamais será vermelha’, Jornal O Globo, 04 mai. 2025. Disponível em: https://oglobo.globo.com/blogs/sonar-a-escuta-das-redes/post/2025/05/lider-do-pl-comenta-roupa-verde-e-amarela-usada-por-lady-gaga-em-copacabana-nossa-bandeira-jamais-sera-vermelha.ghtml. Acesso em: 06 mai. 2025;
HIGA, Carlos César. Plano Cohen. Portal Educacional Brasil Escola, 2021. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/historiab/plano-cohen.htm. Acesso em: 06 mai. 2025;
MEZZAROBA, Orides. Plano Cohen: a consolidação do anticomunismo no Brasil. Revista Sequência, 1992. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/sequencia/article/view/16143/14696. Acesso em: 06 mai. 2025;
Políticos de direita criticam camiseta vermelha da seleção, Jornal Poder 360, 29 abr. 2025. Disponível em: https://www.poder360.com.br/poder-congresso/politicos-de-direita-criticam-camiseta-vermelha-da-selecao/. Acesso em: 06 mai. 2025;
SANTOS, Rodolpho Gauthier Cardoso dos. Uma missiva contra o peronismo tupiniquim - Carlos Lacerda, Tribuna da Imprensa e a carta Brandi (1955), Revista Antíteses, 2017. Disponível em: https://ojs.uel.br/revistas/uel/index.php/antiteses/article/view/27855. Acesso em: 06 mai. 2025.
Don Quixote Effect: opportunism in politics
Abstract: Not infrequently, we are surprised by discourses that seem more like crusades against facts presented as repulsive or with the potential to destroy society as we know it. These inflammatory speeches are invariably delivered by political figures who exploit sensationalism as a way to gain prominence and thus garner votes. In this work, we will analyze this phenomenon, its biases, and how to differentiate it from discourses that may eventually deserve our attention.
Keywords: Disservice, Speech, Don Quixote, Election, Philosophy, Literature, Opportunism.