A recente prisão de MC Poze do Rodo e a repercussão em torno de Oruam reacendem um debate crucial: a glamorização do crime na cultura popular brasileira, especialmente no universo do funk.
O funk ostentação, surgido em São Paulo em 2008, destaca-se por exaltar o consumo de bens de luxo, como carros, roupas de grife e joias, associando-os ao sucesso e ao respeito social. Essa narrativa pode influenciar jovens em situação de vulnerabilidade a buscar esses símbolos de status por meios ilícitos, como o roubo e o tráfico de drogas, na tentativa de alcançar reconhecimento e admiração.
A teoria das subculturas criminais, desenvolvida por Alessandro Baratta, oferece uma perspectiva relevante para entender esse fenômeno. Segundo essa teoria, determinados grupos sociais desenvolvem valores e normas próprios, que podem entrar em conflito com os valores predominantes na sociedade. Assim, comportamentos considerados criminosos pela sociedade em geral podem ser vistos como aceitáveis ou até desejáveis dentro dessas subculturas.
Além disso, a espetacularização do crime na mídia e nas redes sociais contribui para a normalização da violência e da criminalidade. A exposição constante de figuras criminosas como celebridades pode levar à identificação e à emulação por parte de jovens que buscam reconhecimento e status.
Diante desse cenário, é fundamental que a sociedade, especialmente aqueles com maior acesso à informação e educação, adote uma postura crítica em relação à glamorização do crime. É necessário promover valores que incentivem a busca por sucesso e reconhecimento por meios lícitos e éticos, além de investir em políticas públicas que ofereçam oportunidades reais de desenvolvimento para os jovens em situação de vulnerabilidade.
A reflexão sobre esses temas é essencial para construir uma sociedade mais justa e segura, onde o sucesso não esteja associado à criminalidade, mas sim ao esforço, à educação e à integridade. Quando o brilho do ouro ofusca a ética, a sociedade paga o preço da cegueira coletiva.