Capa da publicação Sísifo e o castigo eterno do povo brasileiro
Capa: Sora
Artigo Destaque dos editores

O efeito Sísifo: o cume inalcançável e a pedra chamada Brasil

15/06/2025 às 08:22

Resumo:


  • Os mitos antigos ensinam muito sobre nossa natureza, por meio de arquétipos humanos e máximas morais.

  • Neste trabalho, o mito de Sísifo é usado para representar o povo brasileiro, refletindo sobre a futilidade das esperanças em um futuro grandioso para o país.

  • Através da literatura e filosofia, são exploradas as causas da saga interminável em busca de objetivos inalcançáveis, questionando a realidade política e social do Brasil.

Resumo criado por JUSTICIA, o assistente de inteligência artificial do Jus.

Por que ainda acreditamos num futuro promissor que nunca se realiza? O mito de Sísifo representa o esforço cíclico e frustrado do povo brasileiro por progresso.

Resumo: Os mitos antigos, por encerrarem máximas morais em arquétipos humanos, ensinam-nos muito acerca de nossa natureza, em qualquer que seja o aspecto. Neste modesto trabalho, tomaremos emprestado o mito de Sísifo, mas não como representação individual do homem, mas tentaremos extrapolar seu significado para que represente o povo brasileiro. Nosso Sísifo tem uma tarefa, metaforicamente, tão árdua quanto ao do personagem mítico. Por fim, com sorte, agregaremos conhecimentos e, quem sabe, consigamos também algum conforto.

Palavras-chave: Castigo, Eternidade, Mitologia, Povo, Sísifo.


INTRODUÇÃO

Não é de hoje que o Brasil é retratado em discursos políticos como um país com vocação à grandeza e à representatividade globais proporcionais às suas dimensões territoriais que, afinal de contas, são continentais. Veremos neste trabalho que a promessa de que, algum dia, seremos o país do futuro tem, de fato, boas razões para ser crível. Todavia, esse tal futuro que nunca chega soa, há muito tempo, como uma promessa vazia e, neste sentido, sem qualquer garantia de que algum dia se verá efetivamente cumprida.

Buscaremos na mitologia, mais especificamente, no Mito de Sísifo, inspiração para ilustrar essa condição e também para compreender as causas que se ocultam por trás do não cumprimento dessa promessa de um futuro brilhante, que já nos parece uma profecia feita por charlatões, aos quais muito interessa que esse futuro nunca chegue.

Em complemento ao mito e ao que ele tem a nos ensinar, também nos socorreremos da literatura, a fim lançar luz sobre as causas e os efeitos dessa saga interminável em busca de um objetivo que nos parece, ao mesmo tempo, perto como se pudéssemos tocá-lo com os dedos, e tão distante que jamais poderemos alcançá-lo.

Por fim, não abdicaremos da boa e velha filosofia, pois, através dela, transmutaremos, a fantástica e abstrata mitologia, em lógica racional e aplicável às relações sociais, sobretudo, na seara política, a fim de removermos, tanto quanto possível, os véus que nos turvam a visão, bem como abafarmos os ruídos que confundem nossa audição, tudo para alimentar nossa ânsia de grandeza nacional, ao mesmo tempo em que nos impede de alcançá-la.


NOSSO PERPÉTUO CASTIGO

Neste trabalho usaremos do castigo eterno e, aparentemente, sem sentido imposto a Sísifo, rei da próspera cidade grega de Corinto, como forma de punição por haver enganado os deuses, para exemplificar o quão vã é a nossa esperança de que em algum dia veremos cumprida a velha e batida promessa política do Brasil conquistar representatividade global digna de suas dimensões territoriais. Para melhor compreendermos de que castigo, afinal, estamos falando e como ele se relaciona com nossas expectativas que há muito se vêm frustradas, vejamos:

Zeus condenou Sísifo a um castigo eterno no Tártaro, a região mais profunda do submundo. Lá, ele foi forçado a empurrar uma enorme pedra até o topo de uma colina, apenas para vê-la rolar de volta para a base sempre que estava prestes a alcançar o cume. Essa tarefa interminável simboliza a futilidade de suas ações e a inutilidade de tentar desafiar as leis divinas. O castigo foi projetado para ser não apenas físico, mas também psicológico, representando a essência do tormento perpétuo e sem propósito (CAMPOS).

Sem drama, por favor. Sabemos que se trata de um mito e sabemos também o quão cruel seria impô-lo a qualquer ser humano, não importando a hediondez do crime cometido. O que nos importa é seu caráter de oscilar eternamente entre a expectativa e a excitação de chegar próximo de atingir um objetivo e o desespero e a amargura gerada pela necessidade de recomeçar a mesma jornada da estaca zero. Devemos compreender que essa frustração que, tanto para Sísifo quanto para nós, é facilmente notada em nível pessoal, ou seja, quando sofremos algum revés depois de muito haver trabalhado para conquistar algo. Muito de nós já experimentamos como é frustrante, por exemplo, estudar durante meses para uma prova que resulta em reprovação, ou quando trabalhamos e poupamos dinheiro para adquirir um bem, mas por algum motivo não o conseguimos. Mas essa frustação também se dá em escalas maiores, em escala nacional, atingindo a todos indistintamente, desde que partilhem do mesmo objetivo que, de alguma maneira, foi frustrado.

Podemos afirmar, portanto, que o castigo imposto a Sísifo é tão profundo quanto versátil, pois que nos faz refletir sobre algumas tarefas que eventualmente temos que desempenhar e que nos soa sem sentido, ao mesmo tempo em que é aplicável a diversos aspectos de nossas vidas cotidianas:

Os mitos são feitos para que a imaginação os anime. No caso deste, só vemos todo o esforço de um corpo tenso ao erguer a pedra enorme, empurrá-la e ajudá-la a subir uma ladeira cem vezes recomeçada.

E prossegue:

Este mito só é trágico porque seu herói é consciente. O que seria a sua pena se a esperança de triunfar o sustentasse a cada passo? O operário de hoje trabalha todos os dias de sua vida nas mesmas tarefas, e esse destino não é menos absurdo. Mas só é trágico nos raros momentos em que se torna consciente. Sísifo, proletário dos deuses, impotente e revoltado, conhece toda a extensão de sua miserável condição: pensa nela durante a descida (CAMUS, pág. 98, 2019).

Os fragmentos acima foram extraídos da obra O Mito de Sísifo, do filósofo existencialista de origem argelina, Albert Camus (1913 – 1960), publicada pela primeira vez em 1942. Nela, Camus faz uso da tragédia pessoal de Sísifo como forma de demonstrar a impotência dos homens diante das tarefas que a sociedade os impõe e às quais, inconscientemente, doam-se diariamente sem notar que são desprovidas de propósitos, apesar de exigirem esforços descomunais para serem realizadas.

Da mesma maneira que Camus se apoderou do sofrimento e do drama vivido por Sísifo, ampliando-o ao ponto de amoldá-lo a todos os homens, também amplificaremos os ensinamentos encerrados nesse mito para que abarque os sentimentos coletivos de nossa nação.

Mas antes que se pense em ufanismo ou em algum desejo de grandeza nacional e patriótico, deixemos o alerta de que não é disso que se trata. Este trabalho, aliás, não poderia estar mais distante de reforçar qualquer ilusão de grandeza nacional repetida eleição após eleição com o óbvio propósito de angariar votos. Clamar ao patriotismo e ao nacionalismo, não passa de uma velha tática eleitoreira. Afinal de contas, quem não sente o coração se aquecer ao ver tremular a bandeira ou entoar o hino nacional. O problema, contudo, não está em se orgulhar de ver a pátria amada no lugar mais alto do pódio em competições esportivas, por exemplo. O problema está em termos somente isso. Para que não restem dúvidas acerca do que estamos dizendo, invoquemos em nosso auxílio um grande pensador:

O tipo mais barato de orgulho é o orgulho nacional. Ele trai naquele que por ele é possuído a ausência de qualidades individuais, das quais poderia se orgulhar; caso contrário, não recorreria àquelas que compartilha com tantos milhões. Quem possui méritos pessoais distintos reconhecerá, antes, de modo mais claro, os defeitos da sua própria nação, pois sempre os tem diante dos olhos. Mas todo pobre diabo, que não tem nada no mundo do que possa se orgulhar, agarra-se ao último recurso, o de orgulhar-se com a nação à qual pertence; isso faz com que se sinta recuperado e, em sua gratidão, pronto para defender [com unhas e dentes] todos os defeitos e desvarios próprios à tal nação (SCHOPENHAUER, pág. 71, 1851).

Extraído da obra Aforismos para a Sabedoria de Vida, de autoria do filósofo polonês Arthur Schopenhauer (1788 – 1860), o fragmento acima bem descreve a pequenez do orgulho ufanista quando desacompanhado de reais motivos para senti-lo pulsar dentro peito. Mas, como Sísifo, rolamos com muito esforço nossa pesada pedra colina acima por quatro anos, num misto de esperança e dor, apenas para sentirmos essa energia renovada em nossos corações, seja por ocasião da Copa do Mundo de Futebol, seja por ocasião das eleições. Em ambos os casos, saímos às ruas, todos à caráter. O verde e o amarelo ganham vida e significados transcendentes, seja quando a Seleção entra em campo, seja no dia irmos às urnas para o sufrágio universal. Eis os ápices de nossas expectativas como brasileiros: ver a Taça levantada no lugar mais alto do pódio pelas mãos do capitão da Seleção Canarinho, e ouvir o anúncio da apuração dos votos, quando candidato preferido é aclamado vitorioso. Este é o mais perto que chegaremos do topo de nossa colina. De novo, como Sísifo, tudo será em vão, pois como a rocha do rei de Corinto rola, vez por vez, ao sopé da montanha, nossas esperanças de protagonismo global, melhorias nas condições de vida e avanços significativos, sobretudo na educação, base de qualquer nação que realmente pretenda se colocar de pé perante o mundo, esboroam-se como um castelo de areia sob a maré alta. Ah! Mas e no futebol? Lamentamos informar que nem esse é o mesmo.


TEMOS RAZÕES PARA CONTINUAR?

Apesar de toda a desesperança que o capítulo anterior possa ter causado, veremos os motivos pelos quais, apesar dos pesares, muito provavelmente, continuaremos empurrando nossa pedra morro acima. O primeiro deles é que, assim como Sísifo, não temos muita escolha, afinal, o voto no Brasil, como todos nós sabemos, é obrigatório:

Art. 6º O alistamento e o voto são obrigatórios para os brasileiros de um e outro sexo, salvo: I - quanto ao alistamento: a) os inválidos; b) os maiores de setenta anos; c) os que se encontrem fora do país. II - quanto ao voto: a) os enfermos; b) os que se encontrem fora do seu domicílio; c) os funcionários civis e os militares, em serviço que os impossibilite de votar (BRASIL, 1965).

Pois bem, como dito e comprovado pelo Código Eleitoral, exceções feitas às situações taxativas e previstas no próprio código, estamos condenados, por lei, ao voto, tal como Sísifo está, por decreto dos deuses, ao seu castigo. Mas vamos com um pouco mais de calma. Deve haver mais alguma coisa pela qual valha a pena continuar e que não estamos vendo. Afinal de contas, algum fundo de verdade deve existir nessa promessa de que o Brasil está fadado a se tornar o país do futuro. Não é possível que sejamos mais incautos que os peixes, já que, mesmo eles, apenas se deixam fisgar se o pescador encobrir o afiado anzol com uma bela e suculenta minhoca. Talvez possam ser nossas belas paisagens, clima acolhedor e solo fértil as coisas que nos animam a rolar nossa pedra colina acima. Afinal, tais qualidades foram, desde logo, notadas:

Pelo sertão nos pareceu, vista do mar, muito grande, porque, a estender olhos, não podíamos ver senão terra com arvoredos, que nos parecia muito longa. Nela, até agora, não pudemos saber que haja ouro, nem prata, nem coisa alguma de metal ou ferro; nem Iho vimos. Porém a terra em si é muito bons ares, assim frios e temperados, como os de Entre Doiro e Minho, porque neste tempo de agora os achávamos como os de lá. Águas são muitas; infindas. E em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo, por bem das águas que tem (CAMINHA, 1500).

Alguém mais se recordou das aulas de história? Esperamos que sim! Afinal de contas, o fragmento acima foi extraído da famosa carta redigida pelo escrivão português Pero Vaz de Caminha (1450 – 1500) e destinada a transmitir ao rei de Portugal as primeiras impressões que os exploradores tiveram ao aportar nas terras que séculos mais tarde seriam brasileiras. E sim, o termo a ser usado é exploradores mesmo, não descobridores. Afinal, como o próprio documento revela, já havia pessoas por aqui quando os primeiros europeus desembarcaram. Mas não delongaremos sobre isso, afinal, não é o objetivo buscado neste trabalho.

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Retomemos então o raciocínio sobre o que está por trás da nossa motivação para continuar empurrando nossa pesada pedra. Ao que parece, as belezas e riquezas naturais notadas de pronto por Caminha não constituem nossa motivação, já que, ao que tudo indica, não damos a devida atenção e, muito menos, cuidamos desse patrimônio como deveríamos.

No ano de 2024, o Atlas identificou uma perda de 14.366 hectares, ou 143,66 quilômetros quadrados, de florestas maduras (isto é, fragmentos com mais de 3 hectares) dentro do limite de aplicação da Lei da Mata Atlântica. A área foi quase a mesma do ano anterior, com uma queda de apenas 2% na taxa de desmatamento de um ano para o outro, o que denuncia a situação de vulnerabilidade do bioma, que precisa atingir o desmatamento zero e aumentar seus remanescentes. Apesar de já ser o bioma mais devastado do Brasil, os dados do último ano mostram que o desmatamento ainda representa uma grande ameaça para o futuro da Mata Atlântica e, consequentemente, de todos nós, já que abriga cerca de 70% da população brasileira e sustenta mais de 80% do PIB nacional (S.O.S. Mata Atlântica, 2024).

Inferimos assim, dos lamentáveis dados acima, revelados através do importante trabalho desenvolvido pelo Instituto S.O.S. Mata Atlântica e que se acham disponíveis no seu sítio eletrônico que, de fato, não é isso que nos move a rolar a pedra. Teremos que procurar mais. Será então que somos tão ingênuos – mais que os incautos peixes – para não percebermos a inutilidade de nossos esforços e também quão vazia é a esperança que depositamos nas urnas eleitorais a cada quatro anos, ou será que as promessas são tão encantadoras como aqueles que as fazem, de modo que não conseguimos perceber a cíclica repetição de nossa tragédia? Recorramos, portanto, novamente, à filosofia:

Custa tão pouco aos grandes dar apenas as palavras que dão, e sua condição dispensa-os tão facilmente de manterem as belas promessas que fazem, que é maravilha de sua modéstia que não façam ainda mais promessas para não as cumprirem (LA BRUYÈRE, pág. 160, 1688).

E complementa:

Um gesto de frieza ou de pouca consideração da parte dos que estão colocados acima de nós, é o que basta para despertar a nossa antipatia; mas também basta que eles nos sorriam ou nos dirijam um cumprimento para logo nos reconciliarmos com eles (LA BRUYÈRE, pág. 162. / 163, 1688).

Os fragmentos acima, extraídos da obra intitulada Dos Poderosos, de autoria do filósofo francês Jean de La Bruyère (1645 – 1696), compõe, por sua vez, o livro Pensadores Franceses, publicado em 1952. Nele, o crítico literário brasileiro, José Brito Broca (1903 – 1961), compilou textos de diversos filósofos franceses, brindando-nos com uma espetacular coleção de escritos que, como os citados acima, muito podem contribuir – obviamente, desde que lidos – ao esclarecimento das sociedades sobre os seus governantes.

Mas fugindo um pouco do formalismo legal e das pesadas críticas filosóficas, como as e La Bruyère, afinal, nem todos conseguem suportar o peso da realidade nua e crua, como ele nos apresenta, busquemos refúgio na literatura. Assim, quem sabe, consigamos algum descanso na subida rumo ao cume da colina, enquanto teimamos em rolar nossa pedra:

E viu então lá em cima o castelo; viu no ar claro seu nítido contorno, mais nitidamente perfilado ainda pela neve estendida em fina capa por toda parte, reproduzia todas as formas. Mas, por outro lado, lá em cima, no cerro, parecia haver muito menos neve que na aldeia, pois nesta K, avançava sobre o caminho real tão penosamente como na véspera (KAFKA, pág. 8, 1926).

E continua:

E assim se pôs a andar de novo, caminho em frente; longo caminho foi, contudo. Porque essa estrada, essa rua principal da aldeia, não conduzia para o outeiro do castelo, apenas aproximava dele; e depois, como se o fizesse de propósito, dobrava, e ainda que não se afastasse do castelo, tampouco chegava a aproximar – se – lhe (KAFKA, pág. 11, 1926).

Se Albert Camus foi o filósofo do absurdo, Franz Kafka (1883 – 1924), por seu turno, foi o romancista que transformou o absurdo em literatura. Não estranhemos, contudo, que a publicação da obra O Castelo, da qual os fragmentos acima foram extraídos, seja datada de dois anos após a morte de Kafka. Isso se deu devido ao fato do escritor ter deixado suas obras como herança ao seu amigo e também editor, Max Brod (1884 – 1968), que, desobedecendo ao pedido e a vontade de Kafka, para a nossa sorte, publicou-as. Na citada obra, escrita bem ao estilo de várias outras do autor, somos conduzidos pelo protagonista do romance, cujo nome é, simplesmente, K, por uma interminável busca, na qual tenta, desesperadamente, chegar ao Castelo, onde acredita que se encontrará com o Conde que o contratara para prestar seus serviços como agrimensor. Acontece que, tal como ocorre com Sísifo em sua saga mítica, sempre que parece estar chegando ao objetivo, algo o faz retroceder ou desviar-se dele. Da trama, concluímos que o tal Castelo não é, de fato, um lugar físico, mas algo intangível e, portanto, inalcançável. Todavia, essa frustração não se deve à falta de esforços de K – ou à nossa – mas sim porque manter a busca é o objetivo e o triunfo final do Castelo, que bem podemos interpretar como sendo o Estado, em todo seu poder e fascínio exercido sobre o povo que o compõe e que o nutre, mas que por ele não se deixa tocar.


CONCLUSÃO

Esperamos ter ao menos demonstrado a inutilidade dos nossos esforços perante um sistema que deles se nutre repetidamente, sem que percebamos quão inócuas são nossas esperanças nesse prometido futuro radiante para o Brasil.

Em certa medida, a culpa por nós – Sísifos – não concluirmos nossa chegada com a pedra ao cume da colina, é nossa, mas é, em maior grau, da própria pedra – governantes – uma vez que a colina – desafios – é a mesma para todas as nações, já que nenhuma delas foi entregue acabada aos seus povos, mas tiveram de ser erigidas e organizadas por eles, e muitas delas, ao contrário de Sísifo, atingiram o cume.

Muitas outras também, ainda que por caminhos, inicialmente, tortuosos, chegaram ao Castelo, mas nós, como K, ainda estamos perdidos em nosso interminável labirinto de corrupção e miséria, em grande parte, intencional e habilmente, construído com a argamassa da ignorância produzida pelo desdém para com a educação regular das últimas gerações e da que atualmente ocupa os bancos escolares.

Por derradeiro, depois de termos recebido, das mentes e das penas de sábios filósofos e de geniais escritores, os ensinamentos de que precisávamos para iluminar o caminho, seja até o cume da colina ou até os portões do Castelo, podemos, enfim, concluir, sem vacilação ou temor de estarmos equivocados que, afinal, se a miséria de nossa nação, em todas as suas formas, é a mãe de todos os males que assola o nosso povo, a ignorância, na qual ele é mantido pelos próprios governantes, só pode ser o pai.


REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei nº 4.737, de 15 de julho de 1965, Institui o Código Eleitoral. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4737compilado.htm. Acesso em 13 jun. 2025;

BROCA, José Brito. Pensadores Franceses, Tradução de Wilson Lousada, Editora Brasileira – Ltda, 1952;

CAMINHA, Pero Vaz. Carta ao rei de Portugal, 1500. Disponível em: https://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/Carta%20de%20Pero%20Vaz%20de%20Caminha%201500.pdf. Acesso em 13 jun. 2025;

CAMPOS, Tiago Soares. Mito de Sísifo; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/filosofia/o-mito-sisifo-sua-conotacao-contemporanea.htm. Acesso em 13 jun. 2025;

CAMUS, Albert. O mito de Sísifo, Tradução de Ari Roitman e Paulina Watch, Editora Record, 2019, ISBN 978-85-01-11742-7;

KAFKA, Franz. O Castelo, Prefácio e Tradução de Torrieri Guimarães, Capa de Claudio Martins, Editora Itatiaia – Ltda, 2000, ISBN 85-319-0345-9;

SCHOPENHAUER, Arthur. Aforismos para a Sabedoria de Vida, Editora Martins Fontes, Tradução, Prefácio e Notas de Jair Barboza, Revisão Karina Jannini, 2002, ISBN 85-336-1607-4;

S.O.S. Mata Atlântica. Atlas da Mata Atlântica 2024. Disponível em: https://sosma.org.br/iniciativas/atlas-da-mata-atlantica. Acesso em 14 jun. 2025.


The Sisyphus effect: the unreachable peak and the stone called Brazil

Abstract: It is not new that ancient myths, by enclosing moral maxims in human archetypes, teach us a lot about our nature, in any aspect. In this modest work, we will borrow the Myth of Sisyphus, but not as an individual representation of man, but rather we will try to extrapolate its meaning so that it represents the Brazilian people. If we achieve the desired objective, we will give our Sisyphus a task, metaphorically, as arduous as that of the mythical character. Finally, with luck, we will add knowledge and, who knows, we may also find some comfort.

Key words : Punishment, Eternity, Mythology, People, Sisyphus.

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Sobre o autor
Roanderson Rodrigues Coró

Bacharel em Direito pela União das Instituições Educacionais do Estado de São Paulo (UNIESP); Pós Graduado em Direito Penal pela Faculdade Venda Nova do Imigrante (FAVENI); Curso de Capacitação em Ação Penal pela Faculdade Venda Nova do Imigrante (FAVENI); Curso de Investigação Criminal pela Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP); Curso de Capacitação em Ciências Forenses e seus Avanços para a Persecução Penal pela Escola Paulista da Magistratura (EPM); Cursos de Extensão Filosofia: Principais Pensadores e Fundamentos pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e Filosofia I e II pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS); Subtenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo.

Como citar este texto (NBR 6023:2018 ABNT)

CORÓ, Roanderson Rodrigues. O efeito Sísifo: o cume inalcançável e a pedra chamada Brasil. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 30, n. 8019, 15 jun. 2025. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/114444. Acesso em: 14 jul. 2025.

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