14. Pesquisa Brasileira na Antártida
Diga-se que a Ciência é uma forma sistemática de aquisição de Conhecimentos, baseada em um método objetivo e bem definido, conhecido como Método Científico. A Ciência visa à descrição e à explicação de fatos e fenômenos da natureza, de maneira que seja possível formular Teorias, previsões e Leis como respostas do conhecimento humano. O Conhecimento Científico116 é aquele que procura descobrir as causas imediatas das coisas. Tem por objeto a busca da Certeza. O Conhecimento Científico vai além da visão empírica, preocupa-se não só com os efeitos, mas, principalmente, com as causas e as leis que o motivaram. Esta nova percepção do Conhecimento se deu de forma lenta e gradual, evoluindo de um conceito que era entendido como um sistema de proposições rigorosamente demonstradas e imutáveis, para um processo contínuo de construção, onde não existe o pronto e o definitivo, sendo uma busca constante de explicações e soluções e a reavaliação de seus resultados. Este conceito ganhou força a partir do Século XV, com Copérnico (1473-1543), Bacon (1561-1626), Galileu (1564-1642), Descartes (1596-1650), Newton (1642-1727), Einstein (1879-1955), Stephen Hawking (1942-2018), entre outros Cientistas e Pensadores.
Para o alcance da Ciência na sua plenitude, há necessidade de percorrer um conjunto de atos ou passos ou ainda, caminhos que deverão ser perseguidos até que os objetivos da Investigação e da Pesquisa sejam atingidos. Essas fases devem ser organizadas para que, sempre que necessário, o Investigador ou Pesquisador consiga repetir o processo, passando pelas mesmas etapas e alcançar os resultados esperados. Uma Investigação ou uma Pesquisa sempre tem início com uma pergunta. A partir desse momento, o Investigador ou Pesquisador implementará soluções capazes de resolver essa dúvida. Via de regra, a Investigação ou a Pesquisa segue certas etapas que caracterizam o denominado Método Científico que se consubstanciam em: observação do método, formulação de hipóteses, realização do experimento e aceitação ou rejeição da hipótese formulada, a saber: a) observação do método: com base na pergunta que se pretende responder, o Investigador ou Pesquisador inicia a revisão bibliográfica ou literatura já existente sobre o assunto; b) formulação de hipóteses: a partir do material obtido na revisão bibliográfica, o Investigador ou Pesquisador começa a formular hipóteses que tentam explicar o objeto de estudo; c) realização do experimento: nesta fase o Investigador ou Pesquisador irá verificar como o objeto se comporta em relação à hipótese formulada, d) aceitação ou rejeição da hipótese formulada: nesta fase na qual a Investigação ou Pesquisa Científica completa o Ciclo Científico com a obtenção do resultado. A partir da adequação ou não do objeto às hipóteses formuladas, na etapa da experimentação é possível formular afirmações cientificamente comprovadas. Quando superadas as todas as fases ou etapas que envolvem o Método Científico, as afirmações estabelecidas na Investigação ou na Pesquisa são denominadas de Teorias 117. No Pensamento do Racionalismo Crítico do Sir Karl Popper (1902-1994)118, Filósofo e Professor austro-britânico, afirma que as Teorias Científicas são Enunciados Universais. A Teoria consiste em duvidar dos pressupostos de determinada Teoria, o que consiste na essência da Natureza Científica. Se for possível provar que uma Teoria pode ser falsa, então ela é Científica. Assim, caso os resultados sejam testados diversas vezes e a resposta se mantenha sempre a mesma, essas afirmações se transformam em Leis (Físicas). Assim, o Programa Antártico Brasileiro (PROANTAR) se constitui num Programa de Pesquisa Científica que visa entender e compreender a Região Antártida e sua influência para os 29 Países, como atores globais, que, por suas Pesquisas podem fornecer ou sugerir respostas do comportamento do inóspito Continente Antártico à Sociedade Global.
Diga-se que o Capitão de Corveta Luiz Antônio de Carvalho Ferraz (1940-1982), Oficial da Marinha do Brasil (MB), que foi um Engenheiro, Hidrógrafo, Oceanógrafo e Militar, que e chefiava o Departamento de Geofísica da Diretoria de Hidrografia e Navegação, foi incumbido em 1975, pela Marinha, a visitar o Continente Antártico na Expedição Britânica à Antártida, de dezembro de 1975 a março de 1976, a bordo do Navio de Pesquisa RRS (Royal Research Ship) Bransfield 119, sendo assim o pioneiro da Exploração Antártida logo após a Adesão do Brasil ao Tratado da Antártida. Não obstante, registre-se que entre os inúmeros e diversos Pesquisadores e Investigadores que atuaram nas diversas áreas do saber, destacam-se dois Cientistas que realizaram Pesquisas brasileiras na Antártida, a saber: o Prof. Rubens Junqueira Villela e a Profª Rosalinda Carmela Montone. E para saber mais sobre a Antártida e o Programa PROANTAR, há um Documentário disponível no Youtube, denominado, O Continente dos Extremos, realizado pelo Instituto Oceanográfico da USP em Convênio com a Secretaria da Biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente (MMA).
Diga-se que o Prof. Rubens Junqueira Villela (1945)120, que é Meteorologista e Professor, natural e residente em São Paulo (SP), possui graduação em B.S in Meteorology pela Florida State University (1957) e Mestrado em Meteorologia pela Universidade de São Paulo (USP) em 1985, que atuou principalmente nos seguintes temas: meteorologia aeronáutica, climatologia, meteorologia aplicada, projeto de aeroportos, entre outras. Foi Professor Docente na Universidade de São Paulo (USP), onde se aposentou como Professor. O Prof. Rubens Junqueira Villela foi o primeiro brasileiro a atingir o Polo Sul, em 17/11/1961, quando integrava a Expedição norte-americana Operação Deep Freeze (Operação Arca Congeladora) à Antártida, a bordo do Navio Quebra-gelo USS Glacier 121 . Como Cientista, participou em 9 (nove) Expedições do Programa Antártico Brasileiro (PROANTAR) e esteve presente na inauguração da Base Brasileira Comandante Ferraz, em 1984, no Continente Antártico.
Professora Rosalinda Carmela Montone (1961-2025) 122 . A Professora Doutora Rosalinda Montone do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IOUSP) desde 1996; foi bolsista de Produtividade em Pesquisa 1A do CNPq e teve uma trajetória Acadêmica e Científica notável, com destacada participação no Programa Antártico Brasileiro (PROANTAR) por mais de três décadas, tendo participado em 28 (vinte e oito) Expedições ao Continente Antártico. Coordenou a rede de monitoramento ambiental da área de influência da Estação Antártica Comandante Ferraz, desempenhando papel fundamental na avaliação dos impactos do incêndio ocorrido na Estação brasileira em 2012. Também foi Vice Coordenadora do Instituto Nacional de Ciências e Tecnologia Antártico de Pesquisas Ambientais (INCT-APA) entre 2008 e 2011 e da Rede-2 de Gerenciamento Ambiental da Baía do Almirantado, na Ilha Rei George, Antártida. Além disso, a Professora coordenou o Programa de Pós-Graduação em Oceanografia Química e Geológica da USP (2003-2011) e liderou o Departamento de Oceanografia Física, Química e Geológica do IOUSP (2009-2011). Sua contribuição para a Ciência brasileira transcendeu a Pesquisa Antártida, sendo uma das maiores referências no estudo de Poluentes Orgânicos Persistentes (POPs) em ambientes remotos, como a Ilha da Trindade, localizada cerca de 1.200 km à Leste da cidade Vitória (ES) (Coordenadas 20º31’29”S 29º19’29”), além de investigações em mamíferos e aves marinhas. Todavia, em 07/02/2025, faleceu a Profª. Rosalinda Carmela Montone, deixando um legado de Conhecimento para a Ciência, para a Comunidade Acadêmica e para o Brasil.
Diga-se que desde 1982 o Programa Antártico Brasileiro (PROANTAR)123 promove, de forma multidisciplinar e interinstitucional, atividades de Pesquisas na Antártida. O Desenvolvimento de Pesquisas naquela região garante ao Brasil a condição de Membro Consultivo do Tratado da Antártida, assegurando assim o direito de participar plena e ativamente das decisões sobre o futuro do continente durante as Reuniões Consultivas do Tratado (ATCM, na sigla em inglês). Para conhecer mais sobre as atividades de Pesquisa na Antártida, os Projetos Científicos Nacionais desenvolvidos naquela região e outras informações relacionadas à Ciência Antártica, pode-se consultar o Programa Ciência na Antártida MCTI (Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação)124. Registre-se que o Plano Decenal Ciência Antártica 2023-2032 é um instrumento de Planejamento Estratégico Nacional elaborado pelo Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e pelo Comitê Nacional de Pesquisas Antártidas, o CONAPA (Decreto nº 10.603 de 2021125), Órgão colegiado para orientar ao nível estratégico Órgãos e Entidades responsáveis pela produção técnico-científica sobre a Região Antártida e suas conexões com o Oceano Atlântico, a América do Sul e o Ártico. Cabe destacar que a produção científica é a condição para permanência do Brasil como Parte Consultiva no Tratado da Antártida, promulgado pelo Decreto nº 75.963, de 11 de julho de 1975126. Além disso, este Plano oferece Subsídios Científicos às Ações do Governo Federal que estão em curso por meio de outros Planos, Políticas, Programas Federais concernentes aos Processos Polares, notadamente para Políticas Setoriais de Agricultura, Defesa, Meio Ambiente, Saúde, Turismo, e Política Externa.
14.1. Projetos e Linha de Pesquisas na Antártida
De forma breve, destaque-se que, ainda que existam inúmeros Projetos com Objetivos Específicos, a seguir registramos apenas os Projetos com Temáticas e com o Objetivo Geral das seguintes Linhas de Pesquisa, a saber:
Gelo e Clima. Investigar o papel da criosfera (a parte do Planeta Terra que é composta por água no estado sólido, como gelo, neve e permafrost), a massas de gelo e neve que cobre dez por cento do Planeta, no clima do Hemisfério Sul, com ênfase no Continente Sul-americano, no presente, no passado próximo e suas tendências para o futuro, assim como as mudanças na química atmosférica; Biodiversidade Antártida. Investigar a origem e evolução da biodiversidade polar, assim como sua distribuição e as relações entre os organismos e o ambiente, por meio de pesquisa interdisciplinar de longa duração nos ambientes terrestre e marinho, contribuindo tanto para a compreensão das conexões biológicas entre a Antártida, a América do Sul e o Ártico, como para as consequências perante as alterações antrópica recente; Oceano Austral. Investigar processos físicos e biogeoquímicos associados às mudanças na dinâmica do Oceano Austral e suas interações com a atmosfera, a cobertura de gelo marinho, ecossistema marinho e com as mudanças observadas no manto de gelo da Antártida que possam ter impacto no clima continental e no oceano adjacente ao Brasil; Geologia e Geofísica. Integrar estudos geocientíficos para entender os mecanismos que levaram à configuração geográfica atual da Antártida desde sua formação e posterior fragmentação do supercontinente Gondwana, seu isolamento atual, bem como as consequências ambientais para a América do Sul, resultantes das mudanças paleogeográficas, tectônicas e climáticas ocorridas ao longo do tempo geológico, em grande parte refletida por suas faunas e floras fósseis; Alta Atmosfera. Investigar a dinâmica e a química da média e alta atmosfera e o seu papel na depleção do ozônio estratosférico frente às condições do geoespaço, bem como definir o grau de importância desses processos nas alterações climáticas de longo período na Antártida e suas conexões com a América do Sul; Ciências Humanas e Sociais. Investigar os processos culturais, históricos e sociais que moldam a relação da humanidade com a Região Antártida de maneira ampla e incluindo temas como relações internacionais, política e direito internacional, defesa, economia, turismo, educação científica, formas de engajamento público com a pesquisa Antártica e exploração econômica de recursos naturais. Inclui o exame do crescente interesse de atores públicos e privados pela questão Antártida e as relações sociedade-natureza em um processo global de mudanças do clima.
Ao todo são 19 (dezenove) Projetos de Pesquisas sendo desenvolvidos, considerando que eles foram aprovados pelo Scientific Committee on Antarctic Research (SCAR) ou Comitê Científico de Pesquisa Antártica. The Scientific Committee on Antarctic Research (SCAR)127 ou o Comitê Científico sobre Pesquisa Antártica (SCAR) que é uma Organização Temática do Internacional Sicence Coucincil (ISC) ou o Conselho Científico Internacional que foi criado em 1958. O SCAR é encarregado de iniciar, desenvolver e coordenar Pesquisas Científicas Internacionais de alta qualidade na região da Antártida (incluindo o Oceano Antártico) e sobre o papel da região da Antártida no Sistema Terrestre. O SCAR fornece aconselhamento científico, objetivo e independente para as Reuniões Consultivas do Tratado Antártico e outras Organizações, como a UNFCCC (United Nations Framework Convention on Climate) ou a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas e o IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change ) ou o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas sobre Questões de Ciência e Conservação que afetam a gestão da Antártida e do Oceano Antártico e sobre o papel da região da Antártida no Sistema Terrestre.
14.2. A Circum-Navegação Científica na Antártida (2024/2025)
Mapa: Rota da Circum-Navegação: Equipe de Cientistas percorreu mais de 20 mil km da Costa do Continente Antártico. Crédito de Imagem: UFRGS128.
A Circum-navegação Científica na Antártida129. Universidades Brasileiras integraram a maior Circum-navegação Científica à Antártida. O Navio Quebra-Gelo Científico russo Akademik Tryoshnikov 130 , denominação esta, em homenagem ao Professor e Explorador Polar Soviético, Alexey Tryoshnikov (1914-1991)131, possuindo a embarcação, 135m de comprimento e 30 metros de altura, que partiu do porto da cidade gaúcha de Rio Grande, no dia 22/10/2024, levando a bordo 61 Pesquisadores de diversas nacionalidades que participaram da Expedição Científica Internacional de Circum-navegação Antártida, desenvolvida no verão austral de 2024/2025. A Expedição foi uma ação do Instituo Nacional de Ciência e Tecnologia da Criosfera (INCT da Criosfera) e do Programa Antártico Brasileiro (PROANTAR), cujas Pesquisas são financiadas pelo CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e foi liderada pela Equipe do Centro Polar e Climático do Instituto de Geociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Conforme o Coordenador-geral da Expedição, Prof. Jefferson Simões, bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq e Professor titular de Glaciologia e Geografia Polar daquela Universidade, o objetivo principal da Expedição foi investigar a resposta das geleiras antárticas às mudanças do clima. Dos 61 Pesquisadores que participaram da Expedição, 34 são Cientistas convidados estrangeiros, provenientes do Chile, da China, da Índia, do Peru, da Rússia e da Argentina. Os 27 Pesquisadores da Equipe brasileira são Cientistas de instituições associadas ao Instituo Nacional de Ciência e Tecnologia da Criosfera (INCT da Criosfera) e a Projetos vigentes de Pesquisa do PROANTAR/CNPq, como a Universidade de Brasília (UnB), Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal do Rio Grande (FURG), Universidade Federal Fluminense (UFF), Universidade Federal do Paraná (UFPR), Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Universidade Federal de Viçosa (UFV) e Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Assim, depois de percorrer cerca de 29 mil km em mais de 70 dias, a Expedição Científica liderada pelo Brasil na Antártida, retornou ao País no 31/01/2025, atracando no porto da cidade de Rio Grande (RS). O materiais coletados pelos Cientistas da Expedição Internacional de Circum-Navegação Costeira Antártida serão analisados para tentar entender o impacto das mudanças climáticas nas geleiras e como isso afeta o clima no Brasil. A Antártida constituem as Geleiras que controlam o nível médio dos mares. Sabemos que está aumentando e a Antártida nem começou a contribuir. Essas eram as áreas que estávamos mais interessados, para entender como as Geleiras estão se modificando, explicou o Prof. Jefferson Cardia Simões, Glaciólogo da UFRGS e Coordenador da Expedição.