Capa da publicação Resistir ou ceder? O dilema Brasil x EUA
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O dilema entre resistir ou ceder: soberania do Brasil x poder dos Estados Unidos

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26/07/2025 às 11:05

Resumo:

- A soberania nacional do Brasil enfrenta desafios diante da hegemonia dos Estados Unidos, com pressões que demandam resistência ou concessão.
- A soberania é um conceito dinâmico e negociado, no qual o Brasil busca equilibrar sua autonomia com a interdependência global.
- O Brasil atua estrategicamente por meio de blocos regionais, diplomacia multilateral e soft power para preservar sua soberania em um mundo multipolar.

Resumo criado por JUSTICIA, o assistente de inteligência artificial do Jus.

5. A Soberania como Processo Negociado

5.1. Introdução: repensando a soberania na era da interdependência

A soberania, tradicionalmente concebida como um poder absoluto e indivisível do Estado, sofre transformações significativas no contexto da globalização e das relações internacionais contemporâneas. O Brasil, inserido em um sistema internacional marcado por desigualdades de poder e interdependência crescente, precisa compreender a soberania como um processo dinâmico e negociado, em que a autonomia plena é relativizada em prol da cooperação e da construção de consensos.

Este capítulo explora as formas pelas quais o Brasil pode — e deve — atuar para preservar sua soberania dentro desse quadro, utilizando blocos regionais, diplomacia multilateral e estratégias de soft power para aumentar seu espaço de manobra.

5.2. Blocos regionais como instrumentos de fortalecimento da soberania

5.2.1. Mercosul: desafios e potencialidades

O Mercado Comum do Sul (Mercosul), fundado em 1991, tem como objetivo a integração econômica e política dos países membros da América do Sul, incluindo Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai. A ideia central é que, unidos, os países da região possam negociar em bloco, ampliando seu poder de barganha perante potências externas.

  • Desafios: divergências internas, crises políticas, e diferenças econômicas entre membros enfraquecem a coesão do bloco, limitando sua eficácia na defesa da soberania coletiva.

  • Potencialidades: o MERCOSUL pode ser uma plataforma para negociações conjuntas em comércio, segurança e meio ambiente, reduzindo a vulnerabilidade individual dos países.

5.2.2. BRICS: cooperação entre países emergentes

O grupo BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) representa a cooperação entre potências emergentes com o objetivo de promover uma ordem mundial multipolar.

  • Objetivos: maior influência em instituições internacionais, desenvolvimento econômico conjunto e criação de alternativas ao sistema liderado pelos EUA e Europa.

  • Limitações: interesses divergentes e falta de institucionalização rigorosa impedem uma ação coordenada eficaz.

5.2.3. Outros blocos e alianças regionais

O Brasil também participa de organizações como a Unasul e a CPLP, que contribuem para a coordenação política regional e cultural, reforçando a identidade e capacidade coletiva.

5.3. Diplomacia multilateral e o papel do Brasil

5.3.1. Participação em organismos internacionais

O Brasil tem papel ativo em instituições como ONU, OMC, Organização Mundial da Saúde e outras, onde busca influenciar normas e decisões internacionais.

A diplomacia multilateral permite ao Brasil construir consensos, formar coalizões e defender seus interesses em fóruns globais.

Entretanto, o peso brasileiro nesses organismos ainda é limitado frente às potências tradicionais.

5.3.2. Diplomacia econômica e negociação comercial

No âmbito do comércio internacional, o Brasil negocia acordos bilaterais e multilaterais para expandir mercados e proteger setores estratégicos.

O equilíbrio entre liberalização e proteção é fundamental para manter a soberania econômica.

5.4. Soft power e construção da imagem internacional

O soft power, ou poder de persuasão e influência cultural, é um instrumento essencial para que o Brasil aumente seu prestígio e atraia cooperação.

  • Cultura e língua: a difusão da cultura brasileira, música, literatura e língua portuguesa amplia sua presença global.

  • Ciência e tecnologia: investimentos em inovação e parcerias acadêmicas fortalecem a imagem do país.

  • Meio ambiente e sustentabilidade: liderança em temas como preservação da Amazônia e energias renováveis pode consolidar o Brasil como ator responsável.

5.5. Soberania como negociação contínua

A soberania, portanto, não é um dado fixo, mas um processo constante de negociação, ajuste e equilíbrio entre autonomia e interdependência.

O Brasil precisa atuar estrategicamente para ampliar seu espaço de decisão, construindo alianças, dialogando e adaptando-se às realidades globais.

Essa postura pragmática não significa renúncia, mas sim a busca por maximizar ganhos e minimizar riscos no complexo jogo internacional.


6. Considerações Finais

A soberania nacional, tradicionalmente compreendida como o poder supremo e independente de um Estado dentro de seu território, tem enfrentado desafios crescentes na contemporaneidade, especialmente diante da atuação de potências hegemônicas como os Estados Unidos. A partir da reflexão sobre o dilema brasileiro — resistir ou ceder às pressões externas — compreende-se que a soberania deixou de ser um conceito absoluto para se tornar uma prática relativa, permeada por negociações, concessões e cálculos geopolíticos.

Quando um Estado como o Brasil se vê diante da imposição de sanções simbólicas, como o cancelamento de vistos de ministros de sua Suprema Corte, o que está em jogo não é apenas um gesto diplomático, mas a própria autoridade interna e o reconhecimento externo da legitimidade de suas instituições. Responder ou não a esse tipo de ação envolve ponderações delicadas entre o orgulho nacional e a realpolitik. Cedendo, o Brasil evita rupturas diplomáticas, prejuízos econômicos e tensões que podem impactar diretamente sua população. Por outro lado, resistindo, reafirma sua dignidade soberana e rejeita a condição de subordinação tácita que o sistema internacional por vezes impõe aos países do Sul Global.

Essa tensão revela o verdadeiro cerne da soberania no século XXI: trata-se menos de um direito inalienável e mais de uma disputa constante por reconhecimento, equilíbrio e sobrevivência em um sistema internacional assimétrico. Não há respostas fáceis. Mas é certo que, ao optar pela passividade absoluta ou pela resistência cega, o Brasil pode comprometer tanto sua segurança quanto sua autonomia. O caminho mais estratégico parece residir na capacidade de formular uma política externa autônoma, mas realista; firme, mas diplomática; soberana, mas não isolacionista. Em última análise, a soberania hoje é o resultado de uma equação entre força, legitimidade e diplomacia — uma equação que o Brasil deve aprender a resolver de forma inteligente, estratégica e nacionalmente orientada.

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Referências

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Sobre o autor
Silvio Moreira Alves Júnior

Advogado Especialista; Especialista em Direito Digital pela FASG - Faculdade Serra Geral; Especialista em Direito Penal e Processo Penal pela FASG - Faculdade Serra Geral; Especialista em Direito Penal pela Faculminas; Especialista em Compliance pela Faculminas; Especialista em Direito Civil pela Faculminas; Especialista em Direito Público pela Faculminas. Doutorando em Direito pela Universidad de Ciencias Empresariales y Sociales – UCES Escritor dos Livros: Lei do Marco Civil da Internet no Brasil Comentada: Lei nº 12.965/2014; Direito dos Animais: Noções Introdutórias; GUERRAS: Conflito, Poder e Justiça no Mundo Contemporâneo: UMA INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL; Justiça que Tarda: Entre a Espera e a Esperança: Um olhar sobre o sistema judiciário brasileiro e; Lições de Direito Canônico e Estudos Preliminares de Direito

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Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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