Capa da publicação Krav Maga em defesa dos direitos humanos
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O legado do Krav Maga na proteção dos direitos humanos

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A DIMENSÃO EDUCATIVA DO KRAV MAGA: CONSCIÊNCIA, EMPODERAMENTO E CIDADANIA

O papel do Krav Maga na sociedade contemporânea vai além da autodefesa. Como ferramenta pedagógica, ele atua na formação da consciência cidadã, contribuindo para o fortalecimento da autoestima, do senso de pertencimento e da capacidade de reação ética diante da violência. Nas aulas, o que se transmite não é apenas técnica de defesa, mas também valores como disciplina, respeito, autocontrole, prevenção e solidariedade.

Essa dimensão educativa se revela particularmente significativa em projetos sociais voltados a mulheres, jovens em situação de risco e profissionais da segurança pública. Nestes contextos, o Krav Maga promove não apenas a capacidade de reação física, mas também a transformação da postura psicológica diante do medo e da opressão, criando um caminho para o empoderamento e para o reconhecimento do próprio valor como sujeito de direitos.

Além disso, ao ensinar que “evitar o confronto é sempre a melhor escolha”, o Krav Maga não apenas reafirma os princípios dos direitos humanos, como contribui para uma cultura de paz, onde a força é compreendida como último recurso e não como resposta primária. Assim, o praticante aprende a reconhecer os limites do seu agir, tornando-se não um agente da violência, mas um defensor consciente de si e do outro.


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Optou-se, nesta etapa final, por uma abordagem reflexiva e experiencial, alinhada à metodologia qualitativa e à construção do conhecimento a partir de vivências concretas. A inserção do relato pessoal tem por objetivo ilustrar, a partir de uma trajetória real, os impactos subjetivos da violência urbana e o papel do Krav Maga como instrumento de reconstrução da autonomia, reforçando a análise teórica anteriormente apresentada.

Este artigo nasceu não apenas de uma inquietação acadêmica, mas de uma vivência real, marcada por experiências de medo, violência e ausência de amparo estatal. Como mulher, caminhar sozinha na rua, entrar em um ônibus vazio ou simplesmente voltar para casa à noite sempre foi um exercício de tensão constante. Após episódios traumáticos — como perseguições, tentativas de assalto e arrastões em transporte público (com faca e pistola) — percebi que a insegurança não era apenas uma sensação, mas uma realidade cotidiana que invadia o corpo, o pensamento e o direito mais básico: o de existir em paz.

Foi nesse contexto que conheci o Krav Maga. Mais do que uma técnica de autodefesa, o Krav Maga se apresentou como uma ferramenta de reconstrução da minha autonomia, da minha postura diante do mundo e da minha identidade enquanto mulher que se recusa a ser silenciada pelo medo. Cada treino tornou-se, para mim, um ato de resistência, de cura e de resgate. Com o tempo, compreendi que defender-se não constitui um ato de violência, mas sim um direito humano fundamental, profundamente ligado à dignidade, à liberdade e à vida.

Por meio do Krav Maga, pude entender na prática o princípio da proporcionalidade, o controle emocional e o respeito à vida — inclusive à do agressor, quando possível. Aprendi que evitar o confronto é sempre a melhor escolha, mas que, se ele for inevitável, tenho o direito — e o dever — de me proteger. Para mim, cada treino tornou-se um ato de resistência, de cura e de resgate. Cada golpe aprendido reafirmava: meu corpo não é frágil — ele me pertence, e sabe lutar. Descobri que não se trata de lutar, mas de escolher não ser mais a vítima passiva de um Estado ausente e de uma sociedade que se acostumou a nos culpar por sobreviver. A prática do Krav Maga ensinou-me o valor da firmeza gentil — a força que sabe quando avançar e quando cessar, que respeita meus próprios limites e os do outro. Aprendi que defender-se não é recuar: é erguer-se com firmeza, mesmo que isso exija atacar para sobreviver.

Concluo, portanto, com a convicção de que o Krav Maga pode e deve ser reconhecido como um instrumento legítimo de proteção dos direitos humanos, especialmente para aqueles que vivem à margem da proteção estatal. Ele devolve às vítimas a capacidade de agir, pensar e reagir com lucidez diante do caos. Para mim, foi mais do que uma técnica: foi a chance de respirar com alívio depois de muito tempo — e de finalmente sentir que minha vida não está mais nas mãos do acaso, mas nas minhas próprias mãos. Além do impacto individual, o Krav Maga também possui um valor coletivo: pode atuar como complemento às políticas públicas de segurança, oferecendo um caminho de empoderamento para populações vulneráveis em meio à ausência e ineficácia estatal. Hoje, ao escrever este artigo, não falo apenas como pesquisadora, mas como sobrevivente. É por isso que afirmo, com toda a força que agora carrego, que o Krav Maga é uma ferramenta de proteção dos direitos humanos porque devolve o que a violência tenta roubar: a autonomia, a dignidade e o direito de viver sem medo.

“Quando a vida está em jogo, não ouse desistir.”

— Grão Mestre Kobi Lichtenstein


REFERÊNCIAS

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FEDERAL. Governo. O que são direitos humanos? Disponível:< https://www.gov.br/mdh/pt-br/acesso-a-informacao/perguntas-frequentes/direitos-humanos/o-que-sao-direitos-humanos>Acesso em 05.JUL.2025

GLOBO. Jornal. Levantamento com 29 países coloca o Brasil entre as cinco nações com maior sensação de violência Disponível:<

https://g1.globo.com/jornal-da-globo/noticia/2023/06/14/levantamento-com-29-paises-coloca-o-brasil-entre-as-cinco-nacoes-com-maior-sensacao-de-violencia.ghtml> Acesso em 05.JUL.2025

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Abstract: The growing sense of insecurity in large Brazilian cities has driven many people, especially women, to seek alternatives for self-defense and physical and psychological strengthening in the face of urban violence. This article draws on a personal experience marked by traumatic episodes, such as assaults and pursuits, which revealed not only the everyday vulnerability of individuals to crime but also the lack of effective state responses regarding the protection of fundamental rights, such as life, physical integrity, and dignity. In this context, Krav Maga—an Israeli self-defense system, created with a focus on real survival—has emerged as not only a physical but also a symbolic instrument of resistance and the regaining of autonomy. This paper proposes a critical analysis of Krav Maga's legacy in protecting human rights, considering its practical application in urban contexts, its educational and preventive dimension, and the transformative impact it has on the subjectivity of its practitioners, especially when it comes to coping with situations of violence.

Keywords: Krav Maga. Self-Defense. Urban Violence. Human Rights. In Self-Defense.

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Sobre a autora
Sabrina Quint de Lima Lourenço

Perita Grafotécnica. Pós-Graduanda em Direito do Consumidor e Direito de Pessoas Vulneráveis pela I9.︎ Especialista em Direito das Mulheres pela I9. Especialista em Direito Penal e Processual Penal com Habilitação em Docência do Ensino Superior, Direitos das Mulheres, Direitos Humanos e Direito do Consumidor pela FACUMINAS. Graduada em Investigação Forense e Perícia Criminal pela Estácio de Sá.

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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